RESUMO

As espécies Ginandropsis gynandra R.Br. (Sirra) e Ruthalícia Sp (Mukungure) são hortalíças alimentares não-convencionais, utilizadas pela população da zona sul de Niassa. Apesar da importância e do potêncial alimentar das folhas destas espécies, pouco se conhece sobre elas, principalmente sobre sua composição bromatológica. Estudos revelam que plantas alimentícias não-convencionais são mais ricas nutricionalmente do que plantas domesticadas. Assim, Com o objectivo de prospectar o potencial alimentício e contribuir com dados sobre os teores de macro e micronutrientes, foram usadas várias técnicas padronizadas internacionalmente, como: aquecimento das amostras em estufa a 105oC para o cálculo da humidade e matéria seca, extração por soxhlet para determinação de gordura total, o método kjeldahl para o nitrogénio total convertido à proteínas na base do factor de conversão de 6,25 e método de weende para fibra bruta. Na caracterização dos minerais, usou-se o método de complexometria para Ca e Mg; fotometria de chama para Na e K e colorimetria usando o espectrofotómetro UV-vis à 882 nm para o P. Concluiu-se que as folhas das hortalíças não-convencionais em estudo são ricas em proteínas, fibras, potássio (K), Cálcio (Ca) e fósforo (P) e pobres em lípidos. A Ruthalícia Sp é rica em Magnésio, ao passo que a Gynandropsis gynandra é fonte deste mineral. Com estes resultados, justifica-se a valorização e  inserção das folhas destas plantas não-convencionais na dieta das populações. Constatou-se a presença de antinutricionais, facto que recomenda-se a realização de outros estudos com vista a avaliar a biodisponibilidade destes nutrientes e componentes alimentares.

Palavras-chave: Avaliação Nutricional, Fitoquímica, Ruthalícia Sp., Gynandropsis gynandra R.Br

1.0.INTRODUÇÃO

Moçambique, em função de sua extensão territorial, diversidade geográfica e climática, abriga na sua flora mais de 5500 espécies (MARTINS, et al., 2007). Existe a possibilidade de muitas dessas espécies serem usadas na alimentação, mas, são subutilizadas, seja pela falta de conhecimento acerca do seu potencial produtivo e alimentar, ou por serem consideradas “espécies invasoras” (http://majaliwa.tripod.com/geral.htm). Segundo a informação oral obtida pela população local, as folhas das espécies Ruthalícia Sp e Gynandropsis gynandra R.Br são usadas desde há muitos anos na dieta alimentar pelas comunidades daquela parcela do País na forma de carril guisado, cuja preparação segue procedimentos básicos de cozinha de hortaliças convencionais e acompanhado geralmente de massa de farinha de milho “xima”. Entretanto, até no momento da realização desta pesquisa e com base nas revisões bibliográficas, pouco se fez em Moçambique com vista a promover o conhecimento destas e de outras plantas nativas e muito menos esforços existem no sentido de avaliar o seu poder nutricional. Por isso, este trabalho teve como objectivo prospectar o potencial alimentício e contribuir com dados sobre os teores de macro, micronutrientes e metabólitos secundários antinutricionais presentes nas folhas, mediante a realização de análises laboratoriais, e consequentemente, contribuir para minimização da desnutrição e segurança alimentar das populações.