Quais Foram os Principais Significados Místicos e Românticos Sobre a Lua na Antiguidade? Qual a Importância da Lua na Elaboração do Calendário Humano? Como os Egípcios Elaboravam Seu Calendário?

Do noroeste da Groelândia até a ponta da Patagônia as pessoas saúdam a Lua Nova, cantando, bebendo ou orando. Os esquimós faziam um banquete, apagavam as luzes e trocavam de mulheres. Alguns africanos entoavam a prece da “Lua Jovem” e, até hoje, ao luar todos querem dançar. Há 2000 anos Tácito disse que as comunidades germânicas efetuavam suas reuniões na Lua Cheia ou na Lua Nova, pois eles acreditavam ser uma “época mais auspiciosa para iniciar negócios”. 

Em toda parte encontramos significados místicos e românticos sobre a lua: _ em “aluado”, “lunático” e em “luar” e até nos cenários iluminados pelo luar dos encontros dos namorados. E, mais profundamente, encontramos a relação da Lua com a medição, pois a palavra “moon” (em inglês) – e suas cognatas em outras línguas – estão enraizadas na base “me” que significa “medida”, recordando-nos o serviço primitivo da Lua como a primeira medidora universal de tempo. 

Por causa do seu fácil uso como medida do tempo, a Lua revelou-se uma armadilha para a humanidade, pois embora as suas fases fossem ciclos práticos que todos podiam ver, eram também um “beco sem saída”. Na verdade, do que caçadores e agricultores mais precisavam era de um calendário das estações do ano; ou seja, uma maneira de prever a chegada da chuva, da neve, do calor ou do frio. Quanto faltava para semear? Quando seria de esperar a primeira geada? E as grandes chuvas? 

Dessa forma, a Lua pouco ajudava no tocante a essas necessidades. É verdade que os ciclos da Lua tinham uma estranha coincidência com o ciclo menstrual das mulheres, pois o tempo necessário para a Lua regressar à mesma posição no CE era de 28 dias e, uma mulher grávida, podia esperar o nascimento de seu filho após 10 desses meses lunares. 

Como sabemos agora, as estações do ano são governadas pelos movimentos da Terra à volta do Sol e, cada sucessão das estações, assinala o regresso da Terra ao mesmo lugar. Daí, o homem precisava de um calendário para se orientar nas estações. Como começar? 

Os babilônicos começaram pelo calendário lunar e, sua obstinação em agarrar-se aos ciclos lunares para fazer o seu calendário, teve consequência importantes. Ao procurarem uma forma de medir o ciclo das estações por múltiplos de ciclos lunares, acabaram por descobrir o “ciclo metônico” de 19 anos. Verificaram que se usassem um ciclo de 19 anos, destinassem a 7 desses anos 13 meses e aos outros 12 anos apenas 12 meses, eles poderiam utilizar as fases visíveis da Lua como base do seu calendário. 

A sua inserção de meses extras evitava a inconveniência de um ano “errante”, em que as estações erravam gradualmente através dos meses lunares, de tal forma que não havia nenhum modo fácil de saber que mês traria a nova estação. Daí, este calendário era excessivamente complicado para uso quotidiano. 

De algum modo os egípcios escaparam da tentação à Lua, pois eles foram os primeiros a descobrirem a duração do ano solar e a defini-la de uma forma útil e prática. Como aconteceu com muitas outras realizações humanas, sabemos o quê, mas continuamos intrigados quanto ao porquê, o como e até o quando

O primeiro enigma é: _ por que foram os egípcios? Eles não possuíam instrumentos astronômicos que não fossem conhecidos, não evidenciavam nenhum gênio para a matemática e sua astronomia era incipiente quando comparada aos gregos e a outros povos do Mediterrâneo. 

No entanto, parece que no ano de 2500 a.C. eles descobriram uma forma de predizer quando o Sol nascente (ou poente) douraria a ponta do obelisco, o que os ajudava a acrescentar uma aura às suas cerimônias e aos seus aniversários. O esquema babilônico era pouco prático e os caprichos locais prevaleciam. 

Na Grécia cada cidade-estado fazia seu próprio calendário, intercalando de forma arbitrária o mês suplementar para assinalar um festival local ou para satisfazer necessidades políticas. Mesmo sem a ânsia grega pela matemática, os Egípcios resolveram o problema inventando um calendário que satisfazia as necessidades quotidianas em toda sua região. Já no ano 3200 a. C. o vale do Nilo estava unido ao delta num único reino que durou 3000 anos, até o século de Cleópatra. Como os próprios corpos celestes, o Nilo apresentava um ritmo natural e regular. 

O ritmo do Nilo era o ritmo da vida egípcia e a subida anual das suas águas estabelecia o calendário de semear e colher com as suas três estações: inundação, crescimento e colheita. As cheias – do fim de julho a fins de outubro – traziam sedimentos ricos em que as sementeiras eram feitas e cresciam de outubro a fevereiro, a fim de serem colhidas de fevereiro até o fim de junho. Sendo assim, o calendário egípcio era “nilômetro”; isto é, uma escala virtual em que o nível da cheia era anualmente marcado. 

Mas, os Egípcios descobriram muito cedo que 12 meses de 30dias cada poderiam proporcionar um calendário útil das estações se lhes fossem acrescentados mais 5 dias no fim, para fazer um ano de 365 dias. Foi este o “ano civil”, ou “ano do Nilo” que os Egípcios começaram a utilizar já em 4241 a. C.

Sabendo-se que o ano solar não tem exatamente 365 dias, o ano Egípcio de 365 dias tornar-se-ia (com o correr dos séculos) um “ano errante”, com cada mês nomeado a ocorrer numa estação diferente. A discrepância era tão pequena que eram precisos muitos anos, muitos mais do que os de vida de qualquer pessoa, para que o erro perturbasse o quotidiano dos egípcios. 

Apesar disso, este calendário egípcio era muito melhor do que qualquer outro conhecido ao tempo, tanto que foi adotado por Júlio Cesar para elaborar o seu calendário Juliano. Ele sobreviveu à Idade Média e ainda foi usado por Copérnico nas suas tábuas planetárias – no século XVI. 

No tocante ao seu próprio calendário, os Egípcios conseguiram declarar a sua independência da Lua – mesmo continuando a conservar seu grande fascínio – e muitos povos (incluindo os próprios egípcios) tinham um ciclo lunar para reger seus festivais religiosos e aniversários místicos. 

Os Judeus, por exemplo, conservam seu calendário lunar e cada mês judaico continua a começar pelo aparecimento de uma lua nova. Para manterem o seu calendário lunar sincronizado com o ano sazonal, eles acrescentavam um mês extra por cada ano bissexto. Daí, o ano judaico foi feito para compreender 12 meses, cada um de 29 ou 30 dias, totalizando cerca de 354 dias. A fim de preencher o ano solar, os anos bissextos judaicos acrescentaram um mês extra nos 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º anos de cada período de 19 anos. 

Acompanhando os Judeus na maioria dos aniversários religiosos, o Cristianismo manteve o seu laço com o calendário lunar. As “festas móveis” da Igreja foram deslocadas no calendário solar a fim de coincidi-las com os ciclos lunares. O mais importante desses festejos cristãos regidos pela Lua é a Páscoa, a qual “é celebrada sempre no 1º domingo depois da Lua Cheia que calha no 21º dia de março; e, se a Lua Cheia calhar num domingo, o dia de Páscoa será no domingo seguinte”. Uma dúzia de outras festas são fixadas em relação à Páscoa, resultando daí que a Páscoa controla 17 semanas do calendário eclesiástico. Por isso, a fixação da data da Páscoa se tornou uma questão da extrema importância. 

Ora, consta que Jesus foi crucificado no Passover e, daí, o aniversário da ressurreição da Páscoa dependeria dos cálculos lunares pelos quais o Sinédrio definia o Passover. Obedecendo à sua própria interpretação da Bíblia, os primeiros cristãos fixaram a morte de Jesus numa sexta-feira e a ressurreição da Páscoa no domingo seguinte. 

Mas, se o aniversário da festa obedecesse ao calendário lunar judaico, não haveria nenhuma garantia de que a Páscoa ocorreria num domingo. A disputa levou a um dos maiores cismas entre a Igreja Ortodoxa Oriental e a Igreja de Roma. Obedecendo ao calendário lunar, os cristãos orientais continuaram a observar a Páscoa no 14º dia do mês lunar, independentemente do dia da semana e, logo no 1º Concílio Ecumênico Mundial (em Niceia, no ano de 325) uma das questões unificadoras a decidir foi a data da Páscoa. Ela foi fixada numa data tal, a fim de permanecer no calendário lunar tradicional e, simultaneamente, garantir que a Páscoa seria sempre celebrada em um domingo. 

Mas isto não resolveu o problema, pois alguém tinha de continuar a prever as fases da Lua e situá-las num calendário solar. O Concílio de Niceia confiou esta tarefa ao Bispo de Alexandria que deveria prever as fases da Lua para todos os anos futuros. O desacordo quanto ao modo de predizer esses ciclos originou uma divisão na Igreja, donde resultou que diferentes partes do Mundo continuassem a festejar a Páscoa em domingos diferentes. 

Dessa forma, a reforma do calendário efetuada pelo Papa Gregório XIII foi necessária porque o ano que Júlio Cesar fora buscar aos Egípcios – e que regera a civilização ocidental até então – não era uma medida exata do ano solar. Ou seja, o tempo necessário para a Terra completar uma órbita à volta do Sol (365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos), equivalia a cerca de 11 minutos e 14 segundos menos do que os 365,25 dias do ano Egípcio. Em consequência disso, as datas do calendário perdiam sua relação com os acontecimentos solares e com as suas estações. 

O Papa Gregório XIII foi um reformador enérgico e decidiu colocar o calendário na ordem, pois em 1582 ele ordenou que ao dia 4 de Outubro se seguisse o dia 15 de Outubro. Isso significava que no ano seguinte o equinócio ocorreria em 21 de março, como o calendário solar das estações exigia. Desse modo, o ano sazonal regressou ao que fora no ano de 325 e os anos bissextos do antigo “Calendário Juliano” foram reajustados. 

E, para evitar a acumulação de outra discrepância de 11 minutos por ano, o “Calendário Gregoriano” omitiu o dia intercalado dos anos seculares (ou os anos terminados em 00), a não ser que fossem divisíveis por 400. Daí, isso resultou no calendário moderno, pelo qual o Ocidente ainda se rege. Mas, pelo fato de a reforma ter vindo de Roma, a Inglaterra protestante e suas colônias americanas se recusaram a adotar essa norma até 1752. 

Outros contratempos também foram notados quando, em 1582, o Papa Gregório retirou 10 dias ao calendário e houve protestos dos servos, os quais exigiam o seu pagamento mensal pelo mês encurtado e os patrões se recusavam pagar. Na verdade, o mundo jamais aceitou inteiramente a reforma gregoriana. A Igreja Ortodoxa do Oriente, avessa a se submeter a qualquer norma romana, manteve-se fiel ao calendário Juliano para calcular a Páscoa. E assim, o mundo cristão, supostamente unido por um profeta da paz, não conseguiu sequer estar de acordo quanto à data da ressurreição do seu Salvador.