Em coautoria com Jade Suelen Silva Vaz

 

Este artigo visa a análise dos discursos feitos entre quatro linhas e dentro dos gramados – e, por que não, fora deles? Nossa análise se pauta por uma, provável, similaridade e um padrão pré-determinado realizado pelos jogadores de futebol e técnicos. Demonstraremos com exemplos práticos como há uma espécie de “discurso padrão” que é adotado com norteador para muitos profissionais do ramo e efetuado de diversas formas, mas passando a mesma mensagem. De certa forma, não seriam tais discursos padronizados uma estratégia de objetividade e imparcialidade?

         As partidas de futebol datam de mais de 100 anos e foram iniciadas pelo inglês Charles Miller (1874-1953) no Brasil. Depois da popularização deste esporte, principalmente quando ele veio para o Brasil, diversos campeonatos são disputados pelo mundo todo e competições de âmbito regional até mundial são disputadas.

Dessa forma, é importante observar como esses discursos se comportam, por que são estabelecidos de maneiras similares entre os jogadores brasileiros. Utilizaremos, assim sendo, como recurso de pesquisa a Análise do Discurso (ou “Análise de Discursos”, como bem reitera a Editora Contexto[1]), que está atrelada ao campo da Linguística. Como seu enfoque está na análise de textos, nada mais plausível que seguir essa linha de estudos.

         Com o maior interesse do grande público por este esporte, a cobertura televisa e jornalística passou a divulgar maiores informações in loco e a buscar as sensações e as emoções dos atletas durante a prática do futebol. Tendo presença maciça nos quatro cantos do mundo, a imprensa passou a entrevistas os mais variados atletas da modalidade (em diversas categorias) para saber quais aspirações os circundavam seja antes, durante ou no final da partida disputada.

         As respostas passaram a se tornar, em alguns frequentes casos, com menções ao respectivo credo da pessoa e/ou mensagens de agradecimento a familiares e afins. Nossa explanação busca frisar justamente esta mensagem central passada por tais atletas. Observando bem, o discurso futebolístico tem um foco em metáforas ou outras figuras de linguagem, principalmente as de cunho popular; a exemplo disso, temos o ex-atacante (e atual Senador) Romário em algumas das suas falas mais marcantes e provocadoras[2]:

 

 

“’Entrou no ônibus agora. Não está nem em pé e já quer sentar na janela’, após atrito com o treinador Alexandre Gama, do Fluminense, na temporada de 2004”.

 

"’Agora, a corte está toda feliz: o Rei, o Príncipe, e o Bobo’, em 2000, em resposta a Edmundo, que na ocasião havia dito que era o príncipe da corte vascaína”.

 

“’O Pelé calado é um poeta. Como jogador foi o nosso Rei, nosso Deus, mas tinha que colocar um sapato na boca’ ao comentar a declaração do Rei do Futebol, que pedia sua aposentadoria”.

 

 

  

 

 

        Nota-se que os discursos tendem a possuir elemento central similar e presente nos demais discursos de forma a incutir a imparcialidade. Ao analisar mais a fundo, a presença de tais elementos se faz presente e denota que os conteúdos tendem a mesma mensagem, ainda que a situação e o contexto sejam diferentes. Abaixo, temos mais um exemplo de como esse tendência à repetição de comportamento linguístico tornou-se um hábito no meio futebolístico[3]:

 


Jogadores de Futebol,em entrevistas no intervalo do jogo.
SE O TIME ESTA GANHANDO,O REPORTER VAI FALAR COM O ATACANTE.
*Reporter.-E ai,como foi o primeiro tempo na sua opiniao?
*Atacante.-É,conseguimos marcar o gol,mas ainda falta o segundo tempo,temos q continuar com o mesmo ritmo,pois estamos enfrentando um grande adversario.

AGORA O REPORTER FALA COM O GOLEIRO DO TIME Q ESTA GANHANDO.
*Reporter.-Como foi o jogo,esta dificil?
*Goleiro.-É,conseguimos marcar o gol,mas ainda falta o segundo tempo,temos q continuar com o mesmo ritmo,pois estamos enfrentando um grande adversario.

AGORA O REPORTER CORRE PRA FALAR COM JOGADORES DO TIME QUE ESTA PERDENDO.
*Reporter.-Vc acha que dá pra virar o placar?
*Jogador.-Vacilamos né,mas vamos ao vestiario ouvir as instruçoes do professor,e se Deus quiser vamos virar este jogo

AGORA O REPORTER CORRE PARA OUTRO JOGADOR DO TIME QUE ESTA PERDENDO.
*Reporter.-Vão virar ou não este jogo?
*Jogador-Tomara né,vacilamos né,mas vamos ao vestiario ouvir as instruçoes do professor,e se Deus quiser vamos virar este jogo.

FIM DO JOGO,O REPORTER VAI FALAR COM JOGADORES DO TIME Q PERDEU.
*Reporter.-Num deu né,e agora,é pensar na proxima partida?
*Jogador.-Vamos treinar forte durante a semana,para na proxima partida para que a gente não cometa os mesmos erros deste jogo.

REPORTER FALA COM JOGADOR DO TIME Q VENCEU.
*Reporter.-Bela vitória hein?
*Jogador.-É.graças a Deus,enfrentamos um grande adversario,mas vamos treinar forte durante a semana,para que no proximo jogo tambem conseguirmos a vitoria,se Deus quiser.

REPORTER FALA COM TÉCNICO DO TIME PERDEDOR.
*Reporter.-A que vc atribui a derrota?
*Técnico.-Fomos prejudicados pela arbitragem,o juiz deveria ter levado o jogo até os 48 do segundo tempo,e terminou o jogo aos 47 do segundo tempo,se não fosse isso,teriamos vencido.Mas vamos treinar forte,para no proximo jogo vencermos.

REPORTER FALA COM O TECNICO DO TIME VENCEDOR.
*Reporter.-Grande jogo hein,bela vitoria?
*Tecnico.-Bela vitoria,nosso time correu o jogo todo,o juiz atrapalhou,mas vencemos,o juiz deu muito acrescimo,mas soubemos administrar e vencer o jogo,vamos continuar treinando forte,para no proximo jogo,sairmos vencedores mais uma vez.

 

         Com frequência nos deparamos com mensagens de resiliência e resignação quando o atleta em questão está passando por algum revés no campo, seja individual ou coletivo. Paralelo ao tal, quando se está em vantagem, nota-se mensagens de júbilo e gratidão. Esse tipo de discurso pode ser facilmente associado à Teoria da Polidez Linguística, da qual pode ser extraída a ideia de uma “face pública”. Abaixo, para exemplificar, encontram-se trechos dos discursos de despedida dos jogadores Ronaldo (Fenômeno) e Wayne Rooney

 

"Como vocês devem imaginar, estou aqui para... Fiz uma cola tremenda e não vou conseguir falar nada. Eu viu aqui para falar hoje que estou encerrando minha carreira como jogador profissional, e dizer que essa carreira foi linda, foi maravilhosa, foi emocionante, tive muitas derrotas, infinitas vitórias, fiz muitos amigos, não lembro de ter feito nenhum inimigo... enfim, estou antecipando o fim da minha carreira por alguns motivos importantes[4]."

 

"Aconteceu como eu esperava. Foi uma linda maneira de encerrar minha carreira pela seleção, e os meninos foram brilhantes. O futuro (da seleção) está em boas mãos depois de tudo que vi nessa última semana[5]".

 

 

         Há exceções a regra, tais como Túlio Maravilha (ex-atacante com passagem por vários clubes, destaque para os cariocas do Botafogo), Marinho (atacante atualmente no Santos), Renato Gaúcho (ex-atacante e atualmente técnico do Grêmio), Vampeta (ex-volante que se destacou pelo Corinthians), Gil (ex-atacante com passagem por diversos clubes, com destaque para Corinthians e Cruzeiro) e Amaral (volante que se destacou pelo Palmeiras) que em declarações deveras autênticas e com a marca dos tais, acabaram fugindo do “senso comum” que tentamos frisar durante este artigo.

 

         Podemos concluir que há uma espécie de “métrica comum” para os discursos dados durante as partidas de futebol. Os jogadores tendem a responder de maneira uniforme e os discursos dos tais no ambiente que rege esta modalidade acaba tendo os mesmos teores de mensagens de outrora, seja para ânimo ou para regozijo.

 

 

 

REFERÊNCIAS: