Almanaque Esotérico 4
Quando alguém trata a Natureza com calor gentil e agradável, ela faz e produz tudo de si mesma, o que, para o suprimento de um Creati ou para a introdução de uma nova forma, e objeto de necessidade: pois o Verbo Divino Fiat ainda resiste em todas as criaturas e em todas as plantas, e tem sua poderosa força nestes tempos, assim como teve no início.
Existem, entretanto, quatro principais Virtutes e potentias, das quais a nobre Natureza faz uso em cada ebulição; através disso ela completa sua obra e a leva a um final.
A primeira Virtus: É, e se chama, appellativa ET attractiva, pois lhe é possível atrair para si, de longe ou de perto, alimento pelo qual se mostre desejosa de resultados e lugares agradáveis à sua natureza, e ela pode crescer e aumentar. E aqui ela tem um poder magnético, tal como o de um homem por uma mulher, o Mercurius pelo Sulphur, o seco pelo úmido, a Matéria pela forma. Por isso o axioma dos Filósofos é: natura naturam amat, amplectitur prosequitur. Omnia namquam crescentia, dum radices agunt ET vivant, succum ex Terra attrahunt, atque avide arripiunt illud, quo vivere ET augmentari sentiunt, isto é, a natureza ama a natureza, a envolve e a segue, pois todas as plantas, quando lançam raízes e começam a viver, tiram a seiva da terra e a sugam avidamente, pois sentem que deste modo elas podem viver e multiplicar-se. Onde há fome e sede, alimento e bebida serão recebidos com avidez e estas Virtus e potentia serão despertadas; elas provém do calor e da seca mediana.
A segunda Virtus e Potentia: É, e é chamada natura retentiva ET coagulativa, pois a Natureza em si não somente é útil a ela e serve a ela por sua continuação, sendo vantajosa quando ela carece daquilo que é avidamente produzido de si mesma, mas tem também com ela o lado com o qual ela tira e traz e a segura a si mesma. Sim, a Natureza até se muda em si mesma pois, como tem ela escolhido destas duas, as mais puras partes, ela separa o resto e as leva à boca e a faz crecer, e não está carecendo de qualquer outra calcinação ou fixação: A natureza retém a natureza, e tal habilidade provém de sua secura, pois o frio constringe as partes obtidas e formadas e as reduz, por secura, na Terrae
A terceira Virtus e Potentia naturae in rebus generandis ET augmentandis: Est Virtus digestiva, quae fit per putrefactionem seu in putrefactione (é a força digestiva, que ocorre por meio da putrefação ou na putrefação), em calor e umidade moderados e temperados, pois a Natureza dirige, muda e introduz um tipo e qualidade e imperfeição é eliminada, o amargo é adoçado, o austero é abrandado, o áspero é feito liso, o imaturo e selvagem é domado, o que era anteriormente incapaz é agora habilitado e tornado eficiente, e leva à execução finalmente pretendida e perfeição da Obra, e representa os Ingredientia da Compositio,
A quarta Potentia Naturae: Est virtus expulsiva mundificativa, segregativa (a força expelente, purificante, separadora) que separa e divide, que purifica e purga, que lava durante a Sublimação ou Decocção.
Ela parte do Sordibus e da escuridão e traz consigo um Corpus ou substância pura, transparente, poderosa ou iluminada, ela reúne as Partes homogeneis, é gradualmente liberada do heterogeneis, repele a Vitia e tudo o que for estranho, inpeciona o rude e dá a cada parte um lugar especial. Isto é causado por, e é proveniente de, agradável calor, constante em umidade apropriada, e isso é a Sublimação e fruta madura que agora cairá da casca. Por isso foi no início designado pela Natureza e pelos artesões, ou seja: o Patiens é liberado do Agente e será aperfeiçoado. Nam liberatio illa a partibus heterogeneis est vita ET perfectio omnis Rei, isto é, pois a liberação de todas as coisas. Para o Agens e Patiens que até agora estiveram em contenda um com o outro, de modo que cada um afetava e oferecia resistência de acordo com a resistência de seu oponente, não se devem unir durante o tempo de sua Decocção, porém a melhor parte deverá obter a vitória, expelir o impuro e subjugá-lo.
Agora, quando todas as Naturalis potentia tiveram desempenhado seu Officium, então virá o novo nascimento e como a fruta madura se apresenta em todas as outras plantas, assim também agora sucederá em nosso Subjecto e obra natural que, quando aperfeiçoada, surpreendentemente em nada mais parece com seu primeiro início e não tem mais qualidade, e não é nem frio nem seco, nem úmido nem quente e nem masculus nem foemina. O frio é por si mesmo transformado em calor, o seco em úmido, e o pesado em leve, pois ela é uma nova Quinta Essentia, um Corpus Spirituale, e tornou-se um Spiritus corporales; tal Corpus é claro e puro, transparente e cristalino; tal como a própria Natureza jamais poderia ter produzido enquanto existisse o mundo. O Artifex e o homem iluminado, entretanto, auxiliante Deo ET natura (pela ajuda de Deus e da Natureza), produziu por meio de seu intelecto e arte e ele o coloca lá por si mesmo. É assim que subsequentemente ele encontra a Miracula e que é chamada: unguentum anima, aurum Philosophorum, flos auri (o ungüento, a alma, o ouro do filósofo, a flor do ouro). Theophrastus e outros o chamam de Gluten aquilae.
Agora, o que foi mostrado sobre as quatro potentiis naturae foi efetuado por meio do fogo, que deve ser incombustível, agradável à Natureza, e de acordo com a Natureza deve continuar estável e deve também ser vantajoso à Obra: porém nesta Obra dois tipos de fogos são particularmente bem tratados, a saber: o fogo elementar externo que o Artifex produz e o qual aplica à Obra, e depois deste o fogo natural, inato e interno das substâncias. Ainda que em todas as coisas primárias, ou genera, seja encontrado um fogo natural, como nos Animalibus, Vegetabilibus e Mineralibus, de onde a vida surgiu, ela se desenvolveu e foi mantida, e depois fortificada e ampliada e pode continuar a exercer seu poder inato de originar e estabelecer a virtude conforme o caráter de cada um.
Mas o fogo que se encontra em nosso Subjecto em si mesmo não é mínimo entre as criaturas e os minerais. Ele tem oculto dentro de si o mais maravilhoso e mais potente fogo, confrontando com o qual o fogo externo e semelhante à água, pois nenhum fogo elementar comum pode consumir e destruir o puro ouro, que é a mais durável substância entre todos os metais, por mais intenso que o fogo possa ser, mas apenas os essenciais dos filósofos o podem conseguir.
Se tivéssemos hoje este fogo com o qual Moisés queimou o bezerro de ouro e o triturou em pó e o espalhou sobre a água de que então fez os Filhos de Isral beber (Exodo, cap. 32), que obra alquímica de Moisés, o homem de Deus isto seria! Pois ele foi instruído na arte egípcia e nela habilitado. Ou o fogo que o profeta Jeremias escondeu sob o pé da montanha, da qual Moisés avistou a Terra Prometida e onde ele morreu, o fogo que foi recuperado setanta anos mais tarde pelos Sábios, os descendentes dos antigos sacerdotes, após o retorno do cativeiro babilônico. Porém, no entretempo, o fogo da montanha foi mudado e se transformou em água (II Macabeus, cap. 1 e 2). O que pensas tu? Não nos deveríamos aquecer nele e manter afastado de nós o frio do inverno?
Tal fogo dormita em nosso Subjecto calma e pacificamente, e não se move espontaneamente. Para que este secreto e oculto fogo possa auxiliar seu próprio Corpori, de modo que possa elevar-se, ter seu efeito e manifestar seu poder e força, para que o Artista possa alcançar o final desejado e predestinado, este fogo devera ser estimulado pelo fogo elementar externo, ser ativado e ser trazido para seu curso. Este fogo pode estar em lâmpadas ou em qualquer outro lugar que desejares ou engendrares, pois ele sozinho é suficientemente capaz de executar a atividade com facilidade, e tal fogo e calor externos devem ser cuidados e mantidos durante todo o tempo, até o final da Sublimação, para que o fogo essencial e interno seja mantido acesso, para que os dois fogos mencionados possam ajudar-se um ao outro e o fogo externo possa dignificar o fogo interno, até que em seu tempo apropriado ele se torne tão forte e intenso que rapidamente reduzirá a cinzas, pulverizará, reverterá a si mesmo e igualará a si tudo aquilo que for nele colocado, mas que é, todavia, de sua própria espécie e natureza.
Todavia, é necessário a todo Artifex, à custa do final desejado, saber que entre estes dois fogos mencionados ele deve manter determinada proporção entre o mais externo e o mais interno, e que ele atice o fogo apropriadamente, pois se o deixar fraco então a Obra será paralisada, e o fogo mais externo não é capaz de aumentar o interno; e desde que ele o atice moderadamente por várias vezes, produzirá um vagaroso efeito de processo muito longo, e quando tiver esperado com tal paciência e obtiver seus dados, então finalmente alcançará seu objetivo. Porém, se alguém fizer um fogo mais forte do que o adequado a este processo, e este for apressado, então o fogo interno padecerá e será inteiramente inepto; a Obra certamente será destruída e o apressado jamais alcançará seu fim.
Se após a duradoura Decocção e Sublimação as nobres e puras partes do Subjecti forem gradualmente, e com a vantagem de um tempo calculado, separadas e liberadas da rústica substância terrosa e imprestável, o impulso em tal atividade deverá ser de acordo com a Natureza e deverá ser ajustado com moderação que seja agradável, complacente e vantajosa ao fogo interno, a fim de que o fogo interno essencial não seja destruído por calor demasiadamente intenso, ou mesmo extinguindo e tornado imprestável. Não, antes ele será mantido em seu grau natural, será fortificado, enquanto as partes puras e suti se ajuntam e se reúnem, sendo o imperfeito separado, de modo que as partes puras combinem e o melhor alcance o objetivo em vista. Portanto, tu deves aprender da Natureza sobre o grau deste fogo que a Natureza usa em suas operações até que ela faça amadurecer seus frutos, e disso conhecer a Razão e fazer os cálculos, pois, o fogo essencial interno é realmente aquele que leva o Mercurium Philosophorum à aequalitaet; mas o fogo externo estende-lhe uma mão, para que o fogo interno não seja impedido em sua operação. Portanto, o externo deverá estar em concordânciaa com o interno e deverá ajustar-se de acordo com o mesmo, e vice-versa. Então, em tal uso do fogo elementar universal, ele deverá ser levado ao calor natural interno e o calor externo será ajustado a ele, para que este não exceda no Creato a força do Spiritus unido e quente, o qual é inteiramente sutil; de outra maneira, a natureza quente de tal Spiritus seria rapidamente dissolvida, não poderia mais manter-se unida e não teria mais potência. Segue daí que um fogo mais intenso do que for necessário para reviver e manter o fogo natural interno implantado em nossa Materiae não pode ser mais do que o impedimento e a deterioração. In natura ET illius Creatis ET generationibus sit tua Imaginatio, isto é, na natureza e no que foi criado ou trazido por ela deveras mediar. Por isso, leva o Spiritum úmido para a terra, faze4-o secar, aglutina-o e solidifica-o com um suave fogo. Assim deverás tu também levar o Animam para o Corpus morto e restaurar o que tiveres levado embora, e tu restaurarás o que não tem alma e o que é morto para a vida, para que se eleve e se equipe novamente; porém, qualquer que seja a sua causa, não suportará o calor, pois este não se tornará constante como no caso de ter sido recebido espontaneamente de si mesmo com boa vontade, com alegria e com desejo, ficando profundamente impressionado.
E isto é sicci cum humido naturalis unio ET ligamentum optimum (a unificação natural do seco com o úmido, e também a melhor ligação), Sim, se alguém realmente deseja discutir este assunto: os Sábios mencionam três tipos de fogo, cada um dos quais encarregado do operis magni; assim é que cada melhor forma em particular deve em sabedoria e boa prontidão tê-lo também em governo. Assim, ele não trabalhara como um sego, mas de maneira entendida e prudente, como é adequado a um Philosophus inteligente.
O primeiro é o fogo externo, feito pelo Artista ou vigia, o qual os Sábios chamam de ignem frontem, do qual Regimen depende a segurança ou a ruína da Obra inteira, e isto de dois modos: nimium fumiget cave (tome cuidado para que não fumegue demais), mas também é dito: combure igne fortíssimo (queime-o com o mais forte fogo).
O segundo fogo é o ninho no qual a Phoenix dos Filósofos tem sua morada, e lá choca ad regenerationem. Isto não é nada mais que o Vas Philosophorum. Os Homens Sábios o chamam de ignem corticum, pois está escrito que a ave Phoenix morreria de frio e não alcançaria a Perfeição. Sulphura Sulphuribus continentur (os enxofres são mantidos pelos enxofres), pois o ninho deve proteger, assistir, nutrir e vigiar a descendência do pássaro até o final.
O terceiro, entretanto, é o verdadeiro fogo inato do nobre Sulphuris, o qual deve ele mesmo a ser encontrado in radice subjecti. E é um Ingrediente, e ele acalma o Mercurium e lhe dá forma; este é o verdadeiro Mestre. Sim, o verdadeiro Sigillum Hermetis. Em relação a este fogo, Crebrerus escreve: In profundo mercurii est Sulphur, quod tandem vincit frigiditatem ET humiditatem in Mercurio. Hoc nihil aliud est, quam parvus ignis occultus in Mercurio, quod in mineris nostris exitatur ET longo temporis successe digerit frigiditatem ET humiditatem in Mercurio, isto é: Na essência do Mercurii está um enxofre que finalmente sunjuga a frieza e a umidade no Mercúrio, que é despertado em nosso Mineris e que, na integridade do tempo, ele absorve a frieza e a umidade do Mercúrio; ou as remove, e isto também é dito sobre o fogo.

Referência Bibliográfica:
1 .IOCHAI, Rabi Shimon bar. Zôhar. Trad. Diego Raigorodsky. São Paulo: Annablume, 2013.
2 MALLON, Brenda. Os Símbolos Místicos. Trad. Eddie Van Feu. São Paulo: Larousse, 2009.
3. MacNulty, W. Kirk. A Maçonaria (Símbolos, segredos, significado. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. Revisão técnica Z. Rodrix. São Paulo:Martinsfontes, 2007.