Adendo histórico 3

Cada vez mais mercadores e artesãos judeus tornaram-se fornecedores dos exércitos; beneficiam-se de uma situação cada vez mais invejada e ao mesmo tempo ameaçada. Os incidentes entre comunidades se multiplicam, a recessão e o desemprego acentuam a concorrência. Alguns banqueiros judeus, surpreendidos pelos massacres, já não podem reembolsar os investimentos que cristãos lhes confiaram. Em 1659, traumatizados pelas perseguições, o Conselho dos Quatro Países proíbe todos os sinais exteriores de riquezaaa: cada judeu deve limitar o número de convidados às suas festas em função dos impostos que paga à comunidade.

Diante dos ataques de senhores e camponeses que têm de enfrentar, os monarcas apóiam e protegem os judeus. Em 1669, o rei Miguel Wisniowiecki confirma o estatuto dos judeus da Lituânia. João Sobieski III, o sucessor, concede-lhes uma moratória de suas dívidas (desta vez, pelo menos, não ocorre o contrário!) e obriga as cidades a se comprometerem com a proteção de suas comunidades. Em 1674, ele até proíbe Cracóvia de aumentar os impostos sobre os judeus locais. A nobreza polonesa denuncia então seu governo como um “junta israelita” (Cunha e ascletas). Em 1683, alfaiates cristãos acusam concorrentes judeus de desonestidade. Novos massacres. Em 1694, destiladores cristãos se recusam a vender álcool a taberneiros judeus.

As ameaças da Rússia fazem-se cada vez mais pesadas sobre uma Polônia cada vez mais enfraquecida. O vasto império ortodoxo continua não abrigando judeus. Quando, em 1665, Smolensk volta a ser russa por conquista, os judeus locais devem escolher entre o exílio sem seus bens e a conversão (Tio Germa, o eterno retorno). A maioria se converte e cria linhagens de marranos. Um certo Samuel Vistrizki, que se converte, continua a rubricar em hebraico os contratos que assina. Outro, chamado Chafir (saphir, em hebraico: “belo”, “soberbo”), torna-se grande mercador. Pouco mais tarde, encontramos seu neto, sob o novo nome de Pavel Filippovitch Chafirov, marrano de corte, como tantos outros antes e depois dele. Longe dali, na Rússia, também encontramos ortodoxos de nomes estranhos, vindos, segundo se diz, daquele reino cazar cuja aristocracia se teria convertido ao judaísmo no século VII. Eles têm por sobrenome Kazarinov, Chaldeev, e Brandes..