FILOSOFIA MEDIEVAL:UM OLHAR SOBE A ÉTICA CRISTÃ

 

  • Flavio José Ricarte Da Silva

 

 

Artigo como requisito para obtenção

de nota, para a segunda unidade da

disciplina de ética II

 

RESUMO

O presente artigo trata sobre a ética dentro da perspectiva medieval cristã. Sabendo que a ética é um conjunto de normas e valores de uma sociedade, traremos aqui considerações de grande relevância que propiciam uma olhar mais sistemático e dialógico, acerca da ética, procurando fazer uma abordagem com os maiores nomes da ética cristã a começar pela patrística com Santo Agostinho,e suas influências neoplatônicas, como também sob os escolásticos com, santo Anselmo e o argumento ontológico, fazendo um fechamento com o pensamento de Tomás de Aquino, considerado um dos mais importantes nomes da escolástica e de grande importância  para a teologia e a filosofia cristã.

PALAVRAS-CHAVE: Ética. Patrística. Escolástica. Cristianismo. Filosofia.

ABSTRACT

This article deals with the ontological argument from the perspective of Saint Anselm. It is known that the existence of God today is the subject of great discussions, seeking arguments that prove such an existence. From this problem we will expose the most important parts of the argument Anselmiano, which is authentic and free of pluralism, from this we will bring comments and points of view of some philosophers who refuted this argument, as well as some who accepted it even making some modifications . Anselm was the first to deal with the existence of God in the ontological perspective, his method is a priori. Thus we will bring relevant points of this argument in order to understand its influence in contemporaneity and Christian philosophy.

KEYWORDS: Ontology. Truth. Existence. God. Anselmo

 

  1. INTRODUÇÃO

 

O presente artigo tem por objetivo fazer uma abordagem panorâmica a cerca do pensamento ético cristão da era medieval. Trataremos de aspectos mais relevantes, a fim de fazermos uma reflexão analítica e crítica acerca das visões atuais da sociedade em que vivemos. Inicialmente conceituaremos etimologicamente a origem da palavra, para posteriormente tratarmos da ética como um conjunto de valores de uma sociedade, trazendo para a discussão a ética agostiniana e as influências que ela recebeu do neoplatonismo.

Posteriormente discutiremos a perspectiva ética no pensamento anselmiano, a importância de seu argumento, suas contribuições para os escolásticos posteriores e para a filosofia contemporânea, tendo em vista analisar os pontos importantes de seu método para uma filosofia cristã mais conceituada e racional. Finalizando nossa discussão abordaremos também a ética tomista, como uma ética de raízes aristotélicas, porém com sua marca. Santo Tomás de Aquino, doutor da igreja expõe o senso ético cristão a luz da razão enfatizando as sensações sensíveis e inteligíveis como fatores reais na vida do ser humano, ressaltando a importância do mesmo e destacando a liberdade como uma dadiva de Deus para cada indivíduo, sendo que as virtudes teologais e adquiridas é que permitirão uma escolha autentica e prudente a este ser que é livre, racional e vive em sociedade.

  1. .Alguns conceitos acerca da ética

 

            Para discutirmos a ética cristã antes devemos tratar mesmo que superficialmente sobe o conceito de ética na forma geral. Etimologicamente a palavra ética vem do grego ethos,

Segundo Meucci 2013 Definir o que é um agir ético, moral, correto ou virtuoso é se travar numa disputa social por uma definição de legitimidadede uma boa conduta. De uma conduta autêntica e de necessidade. Avaliar a maneira de agir pode ser visto de pontos de vistas diferentes. Sejam Marxistas, liberais, mulçumanos, psicanalistas, jornalistas ou políticos pois agem e valorizam as ações humanas de diversas maneiras. Porém todos eles lutam pela definição mais legitima de uma “ação boa” ou de uma “ação correta”.[2]O autor evidencia nesta citação o valor da ética dentro de cada cultura, e sua importância como caminho que conduz o homem ao bem ou a prática do bom costume.

Com um tempo a filosofia precisou separar o conceito entre ética e moral, sendo que a moral não está fora do conceito de ética, sejam elas quais forem, todas existe uma moral inserida e vivida. Conceituar ética é pensar em abrangência, pois há diversos conceitos que a definem, o que se sabe é que a ética está presente na vida social desde tempos remotos, por exemplo no período helenístico, existiu diversas escolas que propagaram sua ética, é interessante que no período em que viveram, eles delimitaram sua ética conforme a crise em que estavam passando, em uma Grécia dominada e que a polis já não era o centro da vida dos cidadãos gregos, tanto o epicurismo quanto outras escolas desse período desenvolveram costumes que direcionavam o homem a procurar a felicidade a partir da Ataraxia[3]desta forma este tipo de ética já não buscava inserir o homem no exercício da polis ou na política, mas o afasta-lo para viver uma vida desapegada e ascética.

Assim discutir a ética medieval é pensar em um costume conduzido pela fé e pela doutrina da igreja católica. Muitos criticam a era medieval ou a intitulam como um período de alienação, mas esquecem que muitos costumes que na atualidade vivemos foram estruturados neste período, desde as leis as formas de viver. A igreja católica em grande parte não alienava ninguém, mas o período era marcado pela fé e doutrinação, as leis da igreja eram usadas para toda sociedade.

  1. .Um olhar sob a ética cristã medieval

            Na época em que vivemos enxergar a ética cristã medieval não é tarefa fácil, porém, quando discutimos determinados conceitos tratados pelos medievais, é como se eles estivessem aqui e agora nos dando respostas que nos permitem trazer uma reflexão em uma sociedade pluralista e cética que temos hoje. O que se sabe é que os medievais tinham suas regras e seus costumes que não se desvinculavam da matéria da fé nem dos costumes da igreja.

Gilson vai dizer acerca da filosofia que, os medievais não somente trataram de problemas deixados pelos filósofos antigos, como também desenvolveram problemas próprios de sua época e deixaram uma herança para os contemporâneos, no qual a maioria deles se apropriaram para tratarem dos problemas atuais.[4] Essa fala de Gilson deixa em evidencia a existência de uma filosofia medieval, até então questionada por muitos.Esse argumento prova com autenticidade a existência de uma filosofia cristã, pois coloca em evidência uma continuação da filosofia, uma herança e o uso da razão para tratar dos problemas da fé.

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Lima reflete sob um fator de extrema relevância para a nossa compreensão acerca da ética cristã, o racionalismo e o modo de julgar naquela época tem sua peculiaridade, assim como em outros tempos existia uma ética a seu modo e aseu costume, com os medievais não poderia ser diferente. Lima ainda vai dizer:

“Nem é preciso fazer uma investigação profunda para responder a esses questionamentos. É sabido que as ações humanas eram julgadas apenas do ponto vista cristã, baseado nos dogmas estabelecidos pela Igreja Católica. E o que não estivesse em consonância com os dogmas teológicos cristãos da época era considerado fora do padrão ético estabelecido pela Igreja. Assim, podemos afirmar que a ética nesse período estava a serviço dos preceitos do cristianismo, e o que não estivesse de acordo com a escritura sagrada era julgado como antiético.[6]

 

O fato é que a ética não estava em serviço da igreja, pois aquela época todos pensavam sem uma separação da fé, os costumes o modo de conceber as ideias, não se desvinculava da matéria da fé. Portanto aqueles que em algum momento transgredissem a fé daquele povo que, também era a fé da igreja, estavam desobedecendo os costumes da maioria, portanto deveriam receber punições, essas punições estavam estabelecidas pelos reis em consonância com a igreja.

Na ética medieval não pode se chegar as conclusões das coisas meramente pela razão, mas ao contrário, a fé é quem guia essa razão para se chegar as conclusões de maneira coerente e autêntica. Desde Santo Agostinho a São Tomás de Aquino é possível ver uma ética firmada sob a revelação de Deus para a humanidade, são eles quem irão tratar filosoficamente e teologicamente sobre os aspectos da fé.

3.1 As influências do neoplatonismo na ética cristã.

Ao tratarmos da ética cristã é sabido que há duas divisões dentro desta perspectiva, uma é a patrística e outraa escolástica, ambas tem suas peculiaridades, desde a forma de agir, a de pensar, mas o interessante é que nenhuma delas se desvinculam da fé da igreja, ao contrário eles afirmam os dogmas da fé com o método racional filosófico.

Na patrística começamos com Tertuliano que defende a maneira de viver dos cristãos, com o método apologético, ele é o primeiro no período medieval a usar esse método, mesmo utilizando uma linguagem jurídica, Tertuliano utiliza-se da razão para a defesa dos cristãos, que até então eram perseguidos pelas suas crenças e modo de viverem. Olhando Tertuliano sob a perspectiva ética, ele defendia os valores dos cristãos, o modo ético que eles estavam estabelecendo, e que a sociedade da época não aceitava. Criticar a ética cristã sem olhar essas variáveis talvez seja fácil, mas quando verificamos percebemos que para se estabelecer uma ética cristã na sociedade da época, teve seus sacrifícios.

Ainda na patrística vemos um grande nome de destaque, Santo Agostinho doutor da igreja. Foi ele quem tratou de diversos problemas filosóficos desde a existência do mal, ao problema do tempo. A ética agostiniana tem grandes influências neoplatônicas, ele antes pertencendo a seita dos maníqueos percebia ideias que não tinha muita lógica, é daí que o agostinho ainda jovem conhece o pensamento neoplatônico, este pensamento que acreditava num ser que regia o universo, e que considerava o mal como ausência de bem. O agostinho mais maduro e convertido pega essa ideia e acrescenta no pensamento cristão, adicionando a hipótese de que este mal não é somente ausência de bem, mas que ele não é criatura, pois se Deus criou tudo de bom não poderia criar algo mal, a existência desse não ente para agostinho é justamente a consequência do uso errado do livre arbítrio. Ele chega àpercepção de que esse mal foi concebido pelos homens, que mesmo sendo criaturas boas e criadas por Deus, pelo fato do mal-uso do livre arbítrio e a tendência de buscar o pecado, estes geraram o mal. Nessa ideia agostiniana há uma junção da concepção cristã de pecado original e a ideia neoplatônica, muitos filósofos questionam a ética cristã como uma reprodutora da ética antiga, na verdade o fato ocorrido aqui não é reprodução, mas adequação e aceitação, os medievais veem no conceito ético antigo valores de verdade e implementam dentro da ética cristã. É importante destacar que agostinho tem sua própria ideia, e acha necessário complementa-la com aspectos neoplatônicos.

Na escolástica temos muitos que também aceitam as ideias de agostinho, porém acham relevantes o pensar ético com a ideia aristotélica. Santo Anselmo foi o primeiro a utilizar-seo método ontológico e implementa-lo dentro da ética cristã.Anselmo é considerado pai da escolástica, nasceu em 1033 em Aosta, Itália, de família nobre preferiu não viver o luxo, mas, ingressar na vida monástica, entrou primeiro em três mosteiros e posteriormente no mosteiro de Bec onde mais à frente se torna prior e abade. A ética beneditina sempre esteve arraigada pela dedicação dos monges aos diversos ofícios, mas acima de tudo os mosteiros beneditinos sempre foram considerados berços da cultura e da literatura.  

Anselmo é fiel a regra de vida de seu fundador, ele não descarta o lema ora et labora[7]o respeita rigorosamente. São Bento, considerado pai do monaquismo ocidental, redigiu a ética monástica através de uma regra com setenta e três capítulos, nela ele exige de seus monges a dedicação ao trabalho e a oração, enfatizando os estudos não somente das sagradas escrituras, como de outras áreas de conhecimento que pudesse contribuir para o avanço de seus mosteiros.

Não podemos negar que a igreja católica é rica no campo dos costumes, a ética normativa está presente nos modos de viver dos cristãos, desde os diocesanos com seus costumes na vida pastoral, aos monges que vivem uma vida mais reclusa voltada a clausura com dedicação ao trabalho e a oração. É visível que a igreja não determina apenas um costume, pois nela há diversos, sendo que todos os costumes diversos estão voltados as sagradas escrituras que é considerada a súmula da ética cristã.

            O Doutor magníficos, segundo Medeiros, constrói provas que partem de fatos, tendo como resultado a causa, esta causa é justamente a existência de Deus, tendo como características provas cosmológicas, elas proporcionam um caminho que se chega a Deus. Ele enfatiza quatro provas, partindo dos conceitos de bondade, grandeza, ser e perfeição. O arcebispo de Cantuária não se conforma com estas provas e parte para apenas uma, utilizando-se de outro método, desta vez da ontologia, que significa estudo do ser. Ele denomina sua obra como Proslógium[8]. Não se pode dizer que ele foi o único que tratou de problemas relacionados a existência de Deus. Sabe-se que o santo beneditino tinha grande perspicácia. Ele se torna pai da escolástica posteriormente, a sua ideia torna-se motivo de discussões por outros filósofos, para o santo era possível demonstrar toda sua crença por meio da filosofia.

            Gilson afirma, que Anselmo segue tradição Bhoencia-agostiniana[9]. Não é difícil percebermos coisas comuns entre os dois, desde a maneira de escrever e também a metodologia pela qual tratam determinados problemas. No livro das confissões Santo Agostinho trata de diversos problemas utilizando-se de um diálogo entre ele criatura e criador, refutando argumentos que seriam contra a fé cristã. Por ter pertencido a seita dos maniqueístas ele vai de encontro a teses que, segundo ele seriam sem verdade em sem fundamento a respeito de Deus, Cristo e do Espírito Santo. No Proslógium de Anselmo há essa mesma marca, no início ele entra em um diálogo de contemplação da criatura e seu criador, Deus. No discorrer da obra ele continua em diálogo, trazendo argumentos que provam tal existência. Segundo Gilson: 

“Foi ele que marcou o início daquela poderosa corrente espiritual da idade média, que empreendeu a penetração especulativa do patrimônio da fé, pela dialética primeiro e pela filosofia mais tarde”.[10]

O filósofo tenta provar a existência de Deus pelo princípio da fé com o uso da dialética, ou seja, da racionalidade. Mesmo tendo influências agostinianas como falávamos antes, é a partir da especulação do monge beneditino que, a dialética ganha espaço dentro da ética medieval cristã.A ética cristã convida todo cristão a crer para conhecer e não o contrário. A dialética se configura dentro da perspectiva anselmiana sendo o ponto crucial para se entender a existência verdadeira de Deus, pois ela permite distinguir o pensamento da realidade, ela auxilia o pensamento a priori.

3.2 Ética tomista e as influências aristotélicas.

                 Falávamos anteriormente das influências do neoplatonismo no pensamento ético cristão, sobretudo na linha agostiniana, mas o próprio Anselmo mesmo tendo influência de agostinho utilizou-se de um método que nenhum da patrística havia utilizado, é a partir de Anselmo que a corrente escolástica abre suas discussões acerca de uma ética cristã mais racionalista. Um dos grandes destaques deste período foi São Tomás de Aquino. Para Aquino não pode haver uma ética sem uma metafisica, é aí que percebemos a influência aristotélica contida na ética tomista.

O aquinate concorda com Agostinho que o mal é ausência de bem e que não é criatura. Aquino ainda enfatiza a questão do mal em dois aspectos: o mal pena e, culpa. Para ele o homem tem consciência do que é o mal e o bem e tem capacidade de escolher qual caminho seguir. A ética tomista se configura com um olhar sob as virtudes que são naturais do homem. Não podemos esquecer que o tomismo bebe da fonte aristotélica, e que tudo está nas sensações, o aprendizado depende da apreensão das coisas ao redor das criaturas, tanto é que Tomás de Aquino fala dos fantasmas, ou seja das imagens que são captadas pelo sensível e levadas ao inteligível, capacitando o ser humano dotado de razão a projeta-las quando necessário.

O Santo Doutor ainda destaca as virtudes teologais, dentre elas está a caridade. A caridade na perspectiva cristã é o reflexo do discípulo, do imitador de Jesus Cristo, Paulo Apóstolo vai dizer que o amor tudo suporta, tudo espera e tudo aceita.[11] Esse amor na terminologia cristã é um amor que renuncia a si próprio em prol do outro, sem interesse de receber algo em troca, nesse amor está presente a caridade. Se cristo amou o mundo e foi capaz de se entregar por amor a todos, cristo foi o caridoso, aquele que não precisava fazer essa entrega, mas viu a necessidade de se fazer pelo outro. Fazer pelo semelhante, se colocar no seu lugar é caridade plena, isso para o cristianismo é a plena experiência com a pessoa de Cristo.

O doutor angélico como qualquer outro medieval, jamais irar negar a máxima do cristianismo. Segundorocha

O tratado das virtudes de Tomás de Aquino, tendo como base a ética de Aristóteles que é um verdadeiro tratado sobre moral e a tradição cristã, tem como objetivo esclarecer qual a finalidade do homem em suas ações. No tratado das virtudes, Tomás faz uma distinção entre virtudes morais e virtudes intelectuais. Segundo ele, as virtudes intelectuais aperfeiçoam o intelecto especulativo e prático, enquanto que as virtudes morais aperfeiçoam a potência apetitiva. Ambas funcionam como motores com a função de aperfeiçoar o homem.[12]

 

Na concepção tomasiana o homem deve entender qual sua finalidade enquanto criatura, a partir de suas ações, essas ações devem ser auxiliadas pelas virtudes, sejam elas no inteligível ou no sensível. Podemos citar a prudência como uma virtude potencial ou moral, no pensamento tomista ela faz o homem ter medida sob aquilo que faz. Se formos para a ética antiga, por exemplo o epicurismo, a prudência faz o homem ter a medida e distinção dos prazeres que deve viver, mesmo sendo uma ética que preza pelo prazer como alcance da Eudaimonia[13]e totalmenteinversaà ética cristã, a virtude também auxilia do mesmo modo.

“A virtude designa certa perfeição da potência. Mas a perfeição de uma coisa é considerada, principalmente, em ordem do seu fim. Ora, o fim da potência é o ato. Portanto, a potência será perfeita na medida em que é determinada por seu ato. As potências racionais próprias do homem não são determinadas a uma coisa só, antes se prestam, indeterminadamente, a muitas coisas. Ora, é pelos hábitos que elas se determinam aos atos. Por isso as virtudes humanas são hábitos.”[14]

 

Para Tomás a virtude está como condutora do homem para uma vida feliz que lhe proporcione o bem, sendo que ele ainda define em sua ética as virtudes como sendo adquiridas e outras que nascem conosco, que são inatas do ser humano. Para o tomismo a virtude deve ter como fim a razão, por isso Aquino enfatiza a mesma como hábitos de vida, ou seja, a virtude faz parte do cotidiano do homem em sua experiência da práxis. Partindo desta experiência o indivíduo sabe distinguir o que lhe é lícito ou ilícito praticar.

“...para compreender a sindérese é preciso considerar que o raciocínio humano, sendo uma espécie de movimento, procede da intelecção de algumas coisas naturalmente conhecidas sem pesquisa racional como um princípio imóvel e termina igualmente em uma intelecção , na medida em que, mediante princípios naturalmente conhecidos por si mesmos (hábito natural), julgamos as conclusões que encontramos raciocinando, no caso da razão prática, sobre as coisas que tem relação com a ação.”[15]

 

Em síntese a ideia de Tomás de Aquino é de que algumas virtudes foram concedidas por Deus e que estão distintas da consciência, mas mesmo estando distinta o individuo raciocina através da razão a partir de sua ação. É como se no momento em que algo contrário o homem venha a praticar, existisse um alarme dentro do intelecto que sinalizasse que tal situação fosse contra a tal virtude. Em suma o doutor da igreja ao falar de um princípio imóvel ele enfatiza sua atuação neste processo de sinalização, pois a virtude teologal pertence a este motor imóvel que nada mais é que Deus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao discutir a ética cristã e sua perspectiva nos deparamos com uma diversidade e ao mesmo tempo com uma unidade jamais vista. Agostinho, Tomás de Aquino, Bernardo, Boaventura, Anselmo, Scotus e tantos outros medievais apresentam os seus pontos divergentes e concordantes, de maneira objetiva sem se desvincularem da fé da igreja. Ao certo a ética cristã tem influências bem significativas, mas tem sua autenticidade de maneira única e diferenciada.

O olhar contemporâneo e analítico atual, não tem poder de rebaixar a ética cristã, pois como colocamos no início o que faz o pensamento cristão se tornar filosófico não é somente a influência que os medievais herdaram do pensamento grego antigo, mas, porque trataram de aspectos inéditos e deixaram uma herança para a filosofia, sobretudo os filósofos contemporâneos.

Portanto a ética cristã constitui o senso ético em que a sociedade vive, hoje na atualidade é de grande valor ético para nós entendermos a importância da ética cristã para a ética universal em que estamos inseridos, assim compreender este senso filosófico medieval é entender a sociedade atual e suas peculiaridades a cerca da ética.

 

, Arthur.O Conceito de Ética,2013

LIMA,JoséMaria Maciel.Artigo Científico A ÉTICA NA IDADE MÉDIAPublicado em 16 de março de 2017.

BRAGA. O. A Ética segundo S. Tomás de Aquino.

ROCHA, Paulo Roberto da. AS VIRTUDES NO PENSAMENTO DE SANTO TOMÁS DE AQUINO, resumo revista síntese nova fase. Belo Horizonte, v.20 n. 62, PP. 365-385, 1993.

Suma Teológica, Iª seção, IIª parte, q. 55 a.1

(Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª Iªe, V.II, Q. 79, a. 12. São Paulo: Loyola, 2004)

Anselmo de Cantuária, Santo, 1033-1109. Proslógio/tradução de Sérgio de Carvalho Pacha, edição de Renan Santos. – Porto Alegre, RS: Concreta,2016.

História da filosofia cristã. BOEHNER, Philotheus, GILSON, Étiene. Santo Anselmo de Cantuária, pai da escolástica. Editora vozes, 1970 Pg. 254

LANDIM FILHO, R. Argumento ontológico. A prova a priori da existência de Deus na filosofia primeira de Descartes. Discurso, n. 31, p. 115-156, 9 dez. 2000.

Sexta-feira, 12 setembro 2008.

Disponível em: https://espectivas.wordpress.com/2008/09/12/a-etica-segundo-s-tomas-de-aquino/

Acesso em: 01.06.2019, disponível em:http://meucci.com.br/o-conceito-de-etica/

Acesso em: 03.06.2019

 

[1]MEUCCI, Arthur. O Conceito de Ética, 2013

Acesso em: 01.06.2019, disponível em:http://meucci.com.br/o-conceito-de-ética/

[2]Idem

[3]Em grego antigo: Ἀταραξία ataraxia) traduz-se por "ausência de inquietude/preocupação", "tranquilidade de ânimo".

[4] História da filosofia cristã. BOEHNER, Philotheus, GILSON, Étiene. Santo Anselmo de Cantuária, pai da escolástica. Editora vozes, 1970 Pg. 254

[5]LIMA, José Maria Maciel. Artigo Científico A ÉTICA NA IDADE MÉDIA Publicado em 16 de março de 2017.

[6]LIMA, José Maria Maciel. Artigo Científico A ÉTICA NA IDADE MÉDIA Publicado em 16 de março de 2017.

 

[7](«reza e trabalha»), súmula da vida que cada monge deve levar.

[9]História da filosofia cristã. BOEHNER, Philotheus, GILSON, Étiene. Santo Anselmo de Cantuária, pai da escolástica. Editora vozes, 1970 Pg. 254

[10]História da filosofia cristã. BOEHNER, Philotheus, GILSON, Étiene. Santo Anselmo de Cantuária, pai da escolástica. Editora vozes, 1970 Pg. 254.

[11]1Cor 13, 4-7 Edição Bíblia Ave Maria

[12]ROCHA, Paulo Roberto da. AS VIRTUDES NO PENSAMENTO DE SANTO TOMÁS DE AQUINO, resumo revista síntese nova fase. Belo Horizonte, v.20 n. 62, PP. 365-385, 1993.

[13]É um termo grego que literalmente significa "o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom gênio", e, em geral, é traduzido como felicidade ou bem-estar. 

[14] Suma Teológica, Iª seção, IIª parte, q. 55 a.1

[15] (Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª Iªe, V.II, Q. 79, a. 12. São Paulo: Loyola, 2004)