O Bem está onde não está o mal. Encontra-se em todos os lugares, em todas as horas. O Bem é a Ordem, a Harmonia, a Vida que pulsa e vibra ininterruptamente. O Bem não está na mídia porque é a normalidade. O mal está nas manchetes e se difunde pelo assombro que provoca; ele não é ordem, não prevalece, e, sempre, perecerá.

Todas as coisas se submetem a uma mesma lei, a lei do equilíbrio, da termodinâmica, da ação e reação. O mal é da ordem da desordem, mas, mesmo ele, compulsoriamente, submete-se a um sentido; à Ordem, em um Espaço-Tempo, transcendente à limitação do nosso parco conhecimento humano.

A vida no planeta transcorre celeremente num rodopio incessante que a Terra faz em torno de si mesma há milhares de anos, há milhares de quilômetros por hora. Assim, a lentidão do dia, entre a alvorada e a hora crepuscular, é ilusória; na verdade, nesse espaço de tempo, nada mais fazemos do que rodopiar loucamente pelo cosmo, e, coletivamente, somos todos um.

O dia, em si, nada mais é do que produto de um facho que nos chega pela parcimônia de uma estrela de terceira grandeza, que, por nosso rodopio, ao seu redor, nos inunda de sua luz. Nossa verdadeira realidade cosmológica é a imensidão inexpugnável do cosmo, pontilhado pela ilusão emitida por luzes estelares que nos alcançam depois de mortas. Nossa realidade peculiar e cotidiana é a permanente escuridão visitada, de quando em vez, pelo facho de luz que se faz manhãs e tardes, em parciais e ilusórios períodos momentâneos de nossa escuridão.

Mesmo assim – e por isso - a vida é ordem; a desordem é entropia e morte. Todas as manhãs, enquanto o Sol nos fita e ilumina nosso pedaço de chão, bilhões de seres, como nós, reiniciam sua caminhada em harmonia com a simetria da vida; trabalham, amam, semeiam, vivem e morrem. Muitas vidas silenciosas assinalam essa caminhada entre o berço e o túmulo, sem interferir na ordem estabelecida e sistemática da vida. Cumprem sua travessia, calmos como a brisa, no ritmo que a vida tem de ter. Estes são maioria.

O mundo majoritário é o da paz, da observância dos costumes e compartilhado em conformidade com as peculiaridades culturais. Onde, aparentemente, parece imperar o caos, nada mais se faz presente do que um instante passageiro que superado será, oportunamente, para o estabelecimento de um novo patamar na Linha do Tempo e da Ordem. Todo mal é passageiro.

As convulsões, as deflagrações são instantes paradigmáticos para novos possíveis, quer o seja na singularidade de nossas vidas, quer, no da coletividade. O passado não volta, mas, suas pegadas invadem o presente e deixam marcas indeléveis no futuro, porque tudo se submete as mesmas leis, da inexorável marcha do progresso, assim como, a do fluxo e refluxo (das marés) das ações. Depois do ontem, que se foi,  nada mais poderá ser como antes. No caminho da vida só há uma via; a via do futuro; do patamar alterado. Então, mesmo que tudo pareça soçobrar, em fervilhante turbilhão em favor do mal, embora nos pareça impossível, a vitória do Bem, logo ali estará se refazendo a Ordem, a Harmonia, que, permanentes e imperecíveis, vêm, nos alcançam e nos resgatam, provenientes do próprio Bem.  E essa lei, que se apresenta em tudo e que emana de Deus, só pode ser sentida, percebida e entendida, por aqueles que já têm olhos de ver, e ouvidos de ouvir. Logo chegará setembro e com ele, de novo, o desabrochar das flores, ad eternum. Basta nos conectarmos com o espetáculo da natureza, e, calmamente, olhar e sentir a resistência vicejante do cerrado. Caminhemos.

Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

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