A IDOLATRIA E A CONFIANÇA ABSOLUTA NO CRIADOR

Henrique Lima (www.henriquelima.com.br)

Muitos acreditam não cometer o pecado da idolatria pelo fato de não adorarem imagens. Porém, como procurarei demonstrar, ainda que de maneira singela, a idolatria é bem mais abrangente e, por isso, fácil de ser cometida. Em resumo, podemos dizer que sempre que se coloca a esperança, a confiança ou a fé em qualquer coisa, pessoa, atitude ou situação que não seja unicamente em Deus, está-se praticando a idolatria.

A base da fé verdadeira (emuná) é que tudo, absolutamente tudo, provém do Criador, tanto o que reconhecemos como bom, como também aquilo que pensamos ser ruim. Como consequência, não devemos dar crédito, força ou colocar expectativas em nada além do Todo Poderoso.

Existem situações aparentemente banais do dia a dia mas que têm o potencial de serem consideradas idolatria, por exemplo: colocar uma fita vermelha no carro, acreditando que afastará o “mal olhado”; acreditar que se chegou a um lugar privilegiado na vida social-financeira porque se é bom, talentoso ou esforçado; confiar que um bom patrimônio é garantia de uma velhice tranquila; confiar que seu processo será vitorioso apenas porque está representado por um bom advogado; sentir-se seguro por ter cerca elétrica, sensor de presença, alarme, monitoramento, residir em condomínio ou por ter carro blindado; crer que a cura veio por conta da medicação de alto custo; que seu emprego está garantido pelo seu esforço pessoal;  isso porque se está colocando a fé e a esperança não no Criador, mas em situações criadas, permitidas ou outorgadas por Ele.

Uma advertência aqui é necessária: o fato de tudo provir dEle, não significa que não devamos ser cautelosos, esforçados, dedicados, equilibrados etc., pois Deus usa essas características para agir. O que não podemos é depositar nossa fé, nossa CONFIANÇA nisso, acreditando que serão essas qualidades e atitudes que garantirão algum resultado.

Então, por conta dessas e inúmeras outras situações é que muitas vezes descumprimos logo o primeiro dos mandamentos: “não terá outros deuses além de mim” (Êxodo 20:3).

Existe algo chamado Divina Supervisão Individual, significa que Deus, em sua onipotência, está no controle até dos mínimos detalhes de nossas vidas. O propósito dEle para nós vai muito além desta curta existência terrena, por isso está muito mais empenhado em nosso aperfeiçoamento espiritual do que simplesmente no bem estar material. Então, por vezes, Ele nos faz vivermos situações que nós, em nossa pequena compreensão do todo, achamos que não é bom, mas que se tivéssemos pleno entendimento do mundo espiritual, bem como do passado e do futuro, consideraríamos que aquilo foi não apenas bom, mas necessário. Aliás, acredito que o leitor tenha algumas experiências pessoais de momentos que acreditou ser ruim em sua vida, mas que depois de algum tempo, anos as vezes, percebeu como “tudo se encaixou” e que te fez crescer.

Imagino que para as pessoas que não creem na Eternidade seja difícil compreender esta visão, pois, para quem não crê num Deus Criador de todas as coisas, tudo acabaria aqui neste plano. Entretanto, aquelas que sabem que esta vida é apenas uma passagem para algo muito maior no plano espiritual, compreendem com mais facilidade que Ele está no controle de tudo e que até mesmo as piores desgraças da humanidade (guerras, assassinatos, roubos, enganos etc.) estão debaixo do controle do Pai e que tudo é para o bem, se não for para nossa vida terrena, será nossa alma imortal, para nosso aperfeiçoamento, pois “sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam...” (Romanos 8:28). Por isso, não devemos rejeitar aquilo que não parece bom aos nossos olhos, por mais difícil que isso possa ser, e muitas vezes é...

Nisso entramos no ensinamento do Rabino R. S. Arush de que a fé apresenta três níveis: [1] tudo ocorre pela vontade do Criador; [2] tudo é para nosso bem e [3] em tudo há uma mensagem, um significado e um objetivo, e devemos nos conectar a Ele para, se for a vontade dEle, compreendermos.

O Rabino R. S. Arush ensina que atitudes como: pelejar contra alguém que nos persegue; tomar medicamentos ou realizar qualquer tratamento médico; ingressar com processos judiciais; estudar muitas horas a fio; acumular patrimônio para ter segurança financeira; fazer seguro de veículos, casas ou empresa; realizar exercícios físicos e ter uma dieta controlada para garantir saúde; serão inúteis se existir um decreto divido determinando que passemos pelas situações que procuramos evitar.

Por isso, o principal a se fazer, sempre, é buscar o Criador, por meio de um relacionamento pessoal com Ele, através de [1] orações (abrir o coração numa conversa franca e particular, agradecendo por tudo, dando-Lhe glória e fazendo seus pedidos – isso demonstra sua dependência); [2] leitura de Sua palavra (para tentar compreender aquilo que agrada e que desagrada o coração do Pai) e [3] esforço genuíno (Ele julgará a sinceridade) em viver segundo aquilo que Ele fala em seu coração e que você compreende por meio da leitura de seus ensinamentos.

Então, se é Deus quem está no controle de todas as coisas, devemos ter consciência de que “nossa vida está em nossas próprias mãos e não na dos outros, pois podemos dirigir-nos e falar com o Dono do Mundo” (Rabino R. S. Arush – En el Jardín de la Fe – Guía Practica para la Vida).

O estado de constante ansiedade em que muitos vivem é um reflexo da falta de fé absoluta no Criador do Mundo. É certo que essas pessoas não reconhecem que lhes falta esse profundo nível de confiança, ao contrário, acreditam ser alguém de “fé” porque vão a igreja, porque rezam, oram, fazem jejum etc., mas seu estado emocional revela o contrário. Sobre a preocupação com as coisas futuras, Jesus disse:

Assim, não andeis ansiosos, dizendo: que havemos de comer? Ou: que havemos de beber? Ou: com que nos havemos de vestir? (Pois os gentios é que procuram todas essas coisas); porque vosso Pai celestial sabe que precisais de todas elas. Mas buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não andeis, pois, ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado; a cada dia bastam seus próprio males. (Mateus 6:31-34)

Cuidemos, portanto, para que não pequemos logo contra o primeiro mandamento – não terá outros deuses além de mim (Êxodo 3:21) – colocando fé e esperança fora do Deus Todo Poderoso, acreditando que nossa salvação depende de nossas habilidades, coisas ou circunstâncias, ou, ainda, reclamando, pois isso revela que não acreditamos que Deus saiba o que é melhor. Devemos nos esforçar e fazer o melhor em tudo, porém sempre reconhecendo que é Ele quem está no controle e que qualquer coisa só acontecerá, se Ele assim quiser.

Duas passagens das Escrituras para meditarmos nelas:

“de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento” (1 Coríntios 3:7).

“Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aprece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Em vez disso deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tiago 4:13-15).

Que o Criador dos céus e da terra nos abençoe para que consigamos viver com a confiança plena e absoluta na sua palavra, sua bondade, sua misericórdia e em sua sabedoria em cuidar de todas as coisas, crendo em pensamentos, sentimentos e atitudes que o Senhor é único e que não existem outros deuses além dEle. Amém.