A fortuna de Minas
Por josé maria couto moreira | 22/03/2016 | CrônicasEstamos no reino da jabuticaba. No reino climático, é claro, embora esta prodigiosa fruta reine no espírito de homens e mulheres, principalmente os grandes, em cujo coração também reinam a generosidade e a tolerância. Está na hora de retirarmos todo o proveito que a natureza pura e fantástica entrega ao prazer dos terráqueos. Podemos apontar uma série interminável de celebridades que elegeram a jabuticaba como seu fruto preferido, a começar do inesquecível JK, ícone da brasilidade, aquela figura mágica que, de sua dimensão, ainda exala para os brasileiros virtudes que muitos apenas invocam mas nada semeiam, pois que, à exemplo da jabuticaba, para a prática das virtudes são precisas décadas para germinar - provém de nossos antepassados - e outras décadas para a cada ano entregar seu sabor à prova deliciosa e farta de infantes e adultos.
Esta mirtácea (classificação científica), nativa da Mata Atlântica, é predominante em planícies pluviais e baixadas da mata pluvial, e suas ocorrências se registram na América do Sul e Central. No Brasil constitui referência especial as frutas colhidas em Sabará – alguns lembram também em Contagem – e é ritualístico comprazer-se com seu sabor, voluptuosamente, por meio da locação das árvores nas estações do fruto, quando famílias e grupos animados se reúnem em torno de seu tronco. O mais atraente para seu consumo, além do sabor, são suas propriedades medicinais, acentuadamente antioxidantes, superior às encontradas na uva !!!, segundo revela recente pesquisa da UNICAMP, além de encerrar complexo vitamínico de alto teor, conforme atesta a Universidade de Santa Catarina.
Sabará, uma comuna incrustada num outrora riquíssimo veio de ouro, teve-o, por completo, exaurido em proveito da colônia. Mas, em compensação, a terra foi prodigiosa, nos presenteando com esta riqueza sazonal, um ouro negro, que é nossa apreciada jabuticaba. Quem for a Sabará à cata de jabuticabas não se conformará somente com as frutas, mas a história o seduzirá com os chafarizes, com o acervo deslumbrante do barroco das igrejas e com as pedras da Rua Direita, onde se encontra o casario testemunha das visitas de D. Pedro I e II e os ecos de outros inconfidentes, ainda a lembrar do odiado fanfarrão Minésio, personagem nada poupado das Cartas Chilenas. O meigo Teatro Municipal, recuperado em sua originalidade, elizabethano, como dizem alguns, é uma prova da sensibilidade do povo de Sabará, que o custeou. Sabará, decisivamente, contribuiu para a formação cultural e política de Minas.
O tema é jabuticaba e a digressão é válida quando se encontram valores energéticos materiais e espirituais à conciliação das almas, um tanto perdidas neste mundo de Deus, à procura possivelmente de um tempo perdido. Vamos encontrá-lo, é a palavra de ordem do reino das jabuticabas.