PROJETO A PRAÇA É DO POVO
(Pronunciamento político de cinco minutos, numa gincana em 29/09/1992,
em São João do Paraíso/Mascote/BA)
Professor Raul Santos

Em 1940, no Recôncavo baiano, Clóvis Amorim escreveu:

"Sai sumana, entra sumana,
Nego não larga trabaio,...
Passa má, morre de fome...
E cadê treze de maio?"

"Cala a boca, nego besta,
É mio fica calado,
Treze de maio pra nóis
É desejo de capado..."

Hoje, cinqüenta e dois anos depois, as lágrimas de desespero não param de rolar pelas faces envelhecidas precocemente dos pais e mães de família, quer sejam pretos, quer sejam brancos, cansados do sacrifício sobre-humano nas lutas do cotidiano, só para comprarem um quilinho de feijão ou de carne para os pobres filhinhos que choram num quarto miserável de barraco que molha mais quando chove, dentro do que fora.
Oh! Senhores! Donos do poder! Tende piedade nos vossos corações. Pensai que há exatamente cento e vinte e nove anos o garoto Castro Alves, com apenas dezoito anos, bradou, em Recife, referindo-se aos escravos:

O século é grande... no espaço,
Há um drama de treva e luz;
Como Cristo, a Liberdade
Sangra no poste da cruz.

Mas, basta!... Basta, porque um ano depois ele bradou novamente:

"A praça, a praça é do povo!
Como o céu é do condor!
É antro onde a Liberdade
Cria a águia ao seu calor".

E, convidou:

Ó soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o Mundo Novo
Manda aos tronos e às nações.

E disse que a solução só pode estar nos jovens do Espírito e da Educação, em qualquer idade, quando aplaudiu:

Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros a mancheias...
E manda o povo pensar!
O livro caindo nalma
É gérmen ? que faz a palma,
É chuva ? que faz o mar.

Não é mais possível, senhores, que, como disse o grande jurista baiano Rui Barbosa, tenhamos vergonha de ser honestos, porque enquanto os engravatados enriquecem desregrada e impunemente às custas dessa multidão de pobres e famintos miseráveis, só vão para a cadeia na verdade aqueles que começam com a letra p, ? o pobre, o preto e a prostituta, considerados os rebotalhos da sociedade.
É uma pena, mas esta é a mais pura verdade, e todos sabemos e nada fazemos, pois temos medo, muito medo dos poderosos, mas quem tomba violentamente abatido pelo braço vigoroso da tirania, repousa suavemente, embalado pelos braços acolhedores da HISTÓRIA.
Muito obrigado!...
* * * * *
Menos de quatro meses depois de haver escrito este pronunciamento para uma gincana, o autor teve o pagamento bloqueado pelo prefeito Fernando Nunes da Silva, do município de Mascote, na Bahia, empossado no dia primeiro de janeiro de 1993, sob a alegação de que a contratação de professores pela Consolidação das Leis Trabalhistas não tinha amparo legal.
No dia onze de janeiro ouviu pela Rádio Nacional da Amazônia, no programa Show da Tarde de Carlos Moreira e Artemiza Azevedo que o município de Castanheiras estava precisando de dez professores de nível superior, e a conseqüência foi seu deslocamento para Rondônia em vinte e um de fevereiro do mesmo ano, onde já pegou até a presente data (12/07/2003) quatro malárias e muita felicidade por haver conhecido um Estado tão maravilhoso de se viver.
Portanto, viva RondAh!...

Ah!... No dia primeiro de janeiro de noventa e nove o governador José de Abreu Biancoo tomou posse e no dia primeiro de março despediu oitocentos e cinqüenta e dois professores, entre os quais, mais uma vez, estava ele. Os Contratos Emergenciais de professores são como um Fantasma do Desemprego, mas estão sempre na linha de frente das contratações.

Hoje (10/07/2006), aos sessenta e um anos, com quarenta e dois de serviço (com muito orgulho), ainda acha que é muito cedo para aposentadoria. Afinal, "quem se aposenta aos cinqüenta anos de idade é vagabundo..." (F.H.C.)

Hoje é dia dez de junho de dois mil e dez, com sessenta e cinco anos, e a batalha está sendo de ser aposentado e indenizado pela Energia Sustentável do Brasil, construtora da hidrelétrica do Jirau, no Rio Madeira, cujo lago artificial atingira o povoado de Mutum Paraná, Porto Velho, Rondônia, onde reside atualmente.