Que Novidades Colombo Trouxe da Sua Primeira Viagem? Por Que Colombo Não Comunicou a Perda da Nau Santa Maria e a Insubordinação do Comandante do Navio Pita? Por Que Colombo se Tornou Alvo de Ridículos?

 

Em meados de 1493, ao regressar da sua 1ª viagem, Cristóvão Colombo escreveu seu relatório e apresentou-o a Santagel – um funcionário da coroa espanhola que persuadiu a rainha Isabel a apoiar sua empresa das Índias. Tal relatório foi impresso em Barcelona em abril desse ano, traduzido para o latim, reimpresso em Roma e, rapidamente, se tornou um best-seller

Lentamente, a Europa foi tendo conhecimento da proeza de Colombo, pois a famosa “Crônica de Nuremberg” – história mundial ilustrada desde a Criação até o presente – não fazia qualquer menção à viagem de Colombo. E, somente em fins de 1496, encontramos notícias dele na Inglaterra. Mas, que novidades trazia Colombo? A 1ª edição latina ilustrada do seu relatório (1493) apresentava xilogravuras bem toscas – que já tinham sido utilizadas em livros suíços – que não tinham nenhuma relação com Colombo, com as Índias ou com o Novo Mundo. 

Depois de ter convencido a si mesmo que uma viagem através do oceano ocidental o levaria às Índias, Colombo agora pretendia persuadir uma audiência ainda mais vasta. Nesse 1º anúncio da sua importante viagem teve o cuidado de não mencionar catástrofes acontecidas como a perda da sua nau Santa Maria e a insubordinação do comandante da nau Pita. 

Obedecendo às normas de segurança daquela época ele omitiu informações sobre as rotas ou a distância percorrida, a fim de evitar que concorrentes fossem aonde ele fora primeiro. Embora admitisse que não viu realmente Gengis Khan, ele  descrevia em detalhes indícios que reforçavam sua convicção de que estivera mesmo na costa da China. O esplendoroso Khan seria encontrado, tinha certeza, na sua próxima viagem. 

Apesar de ser um bom observador de ventos e ondas, no tocante à questão do lugar aonde chegara Colombo continuava escravo das suas esperanças. Estava decidido a encontrar sinais de que chegara às imediações da Ásia. A botânica – cujas imagens ainda não tinham sido padronizadas pela imprensa – foi o seu terreno preferido e, a partir do momento em que tocou a costa de Cuba na sua 1ª viagem, ele não teve problema nenhum em encontrar a flora asiática. 

A um arbusto que cheirava a canela, apressou-se a chamar logo de “canela”, transformando-o numa insinuação de incalculáveis tesouros em especiarias. O hibisco aromático das Índias devia ser uma forma asiática da aroeira do Mediterrâneo, a qual produzia resina. Uma pequena noz não comestível – por exemplo – foi apressadamente considerada por ele como o “coco”, descrito por Marco Polo. 

Na mente de Colombo essas pistas se ajustavam à tese que lhe permitiria apoio às empresas das Índias. Sua 1ª expedição a Cuba foi um exemplo do seu estado de espírito e de suas técnicas de exploração e, em outubro de 1492, as caravelas entraram na baía de Bariay em Cuba. Aí, os nativos que levara como intérpretes falaram com os índios locais que disseram haver muito ouro em Cubanacan (que significava média Cuba).

 

Colombo se convenceu de que eles disseram “El Gran Can” (o Grande Khan) e, imediatamente, mandou uma embaixada ao encontro desse oriental. Um sábio que falava árabe foi encarregado de chefiar a embaixada, acompanhado de um marinheiro que anos antes encontrara um rei africano na Guiné e, por isso, deveria saber lidar com a realeza exótica. 

Levaram equipamento diplomático como passaporte latino, uma carta dos Reis Católicos para Sua Majestade Chinesa e um presente valioso para o Grande Khan, além de contas de vidro e bugigangas a fim de comprarem comida no caminho. Mas, encontraram apenas 50 cabanas com telhados de palmeiras, onde o cacique local banqueteou-os como a mensageiros do céu e as pessoas beijaram-lhes os pés. Mas não obtiveram notícia alguma do Grande Khan. 

                

Regressando ao porto, os dois embaixadores de Colombo tiveram um encontro com um grupo de índios a pé com um tição na mão e ervas para fumarem. O comprido charuto era aceso a cada parada e, depois de passado de mão em mão, cada membro do grupo inalava a fumaça, constituindo-se no primeiro registro existente do encontro dos Europeus com o tabaco

Entretanto, no porto, Colombo estudava os números para confirmar sua convicção de que Cuba era a província referida por Marco Polo e, por isso, ocupava seus momentos livres colhendo espécimes botânicos que julgava só poderem ser encontrados na Ásia. 

A primeira viagem de Colombo teve muitas características de um cruzeiro pelo Caribe, pois ele apreciou as vistas, os sons e as curiosidades que podia observar da costa. Navegara velozmente através das Bahamas, continuou nas costas de Cuba e, decorridos somente 3 meses depois de ter avistado pela 1ª vez a terra “das Índias” – na Ilha de São Salvador –, suas caravelas atracaram na baía de Samaná (Espanha) em janeiro de 1493. 

Durante os 12 anos seguintes, Colombo empreendeu mais 3 viagens às Índias que chamou de “viagens de descoberta”, embora tivesse sido mais apropriado chamá-las de viagens de confirmação. Mas, como elas não estabeleciam ligação com o Grande Khan nem descobriram os esplendores orientais, tornou-se mais difícil convencer as pessoas. Embora fosse engenhoso explanando suas ideias, à medida que suas explicações foram se tornando menos concebíveis, Colombo voltou a ser alvo de ridículos. 

Decorridos apenas seis meses do regresso da sua 1ª viagem partiu novamente. Só que, desta vez, com uma armada de 17 navios e 1200 homens, incluindo 6 padres o trabalho de conversões, vários funcionários públicos para a manutenção da ordem e tratarem da escrituração daqueles interessados em fazer fortuna nas Índias, além de centenas de tripulantes. 

O regresso de Colombo à Espanha em março de 1496 foi tudo menos um triunfo e, apesar de ser recebido calorosamente na corte, a descoberta de Ilhas das Índias no oceano ocidental já não causou sensação. O feito foi minimizado por demonstrar que podia ser repetido e, a notícia dessa viagem, acabou sendo recebida com indiferença. Uma das razões residiu no fato de o retorno comercial de tão grande investimento ter sido tão insignificante. 

Alguns colaboradores de Colombo começavam a duvidar de que as Índias fossem realmente a Ásia e, Juan de la Costa que fora mestre no navio Santa Maria na 1ª viagem, assinara a exigida declaração de que “Cuba não era uma ilha”. No entanto, quando fez seu famoso mapa do Mundo em 1500, mostrou Cuba como sendo uma ilha. Duvidosos autores de mapas europeus mostraram – durante anos – duas Cubas: _ uma como sendo uma ilha e outra como sendo o continente do sul da China. 

Depois disso e após 2 anos de intensa atividade promocional, Colombo reuniu 6 navios para uma 3ª viagem que se iniciou em maio de 1498. Ele se deparou com alguns enigmas geográficos que lhe suscitaram fantasias e o desacreditariam entre os melhores cartógrafos do seu tempo. 

A fé dos geógrafos cristãos ainda estava muito viva na mente de Cristóvão Colombo. Nesta viagem a sua grande “descoberta” foi a ilha que deu o nome de Trinidad – em honra à Santíssima Trindade – e, depois disso, deparou-se com a baía formada pelo delta do grande rio Orenoco. 

O fanático Colombo não estava desprevenido para alguma nova revelação sobre a forma do planeta. “Deus fez de mim o mensageiro do novo céu e da nova terra de que Ele falou no Apocalipse de São João, depois de ter falado deles pela boca de Isaías; e mostrou-me o lugar onde encontrá-los”. 

A localização do Paraíso Terrestre nesse inesperado continente encontrado a sul não era nenhuma fantasia ao acaso, mas sim a única explicação racional capaz de conciliar a existência de uma vasta fonte de água doce com sua doutrina cristã, a sua geografia ptolomaica, a identificação asiática de Cuba e a certeza de uma passagem direta para o oceano Índico. 

A fim de compreendermos bem o problema de Colombo e o motivo pelo qual procurou refúgio no “seu” Paraíso Terrestre, temos que nos recordar da visão ptolomaico cristã das terras do planeta. Acreditava-se que todas as partes habitáveis da Terra – que incluía a Europa, a Ásia e a África – era rodeada por uma quantidade enorme de água, relativamente pequena.

 

Outra vasta massa de terra como as Américas – separada em 2 lados da ilha da Terra – não se ajustava na imagem. Tal possibilidade sugeria a existência de mais água do que seria possível haver. Além disso, terras desse gênero impediriam a concretização da grande esperança de Colombo: _ uma passagem direta pelo ocidente para a Índia.

 

Do seu ponto de vista ortodoxo, outra objeção à existência de novos continentes era que a doutrina cristã se recusava a admitir a possibilidade de terras habitáveis abaixo do equador. Continentes soltos não contínuos com a continental ilha da Terra, embora sugeridos por muitos autores pagãos, eram negados pelos padres da Igreja. Confrontado com a possibilidade de uma imensa massa de terra onde a doutrina cristã teimava que ela não podia existir, Colombo encaixou-a na sua fé com o Paraíso Terrestre.

 

No entanto, Colombo não podia dar credibilidade ao seu argumento, confirmar sua fé cristã e nem concretizar sua obcessão de chegar às Índias pela simples descoberta do caminho marítimo à volta de Quersoneso de Marco Polo. Com esse objetivo específico ele iniciou sua 4ª viagem em abril de 1502, partindo de Sevilha com 4 caravelas. Estava resolvido a encontrar algo entre Cuba – que continuava convencido de que era a China – e o Paraíso terrestre a sul. 

Um bom vento o levou através do Atlântico, das Canárias para a Martinica, em apenas 21 dias. Colombo, que tinha 51 anos quando partira, chamou a sua 4ª viagem de “Alta Viagem”. Mais uma vez sem descobrir que Cuba era uma ilha, ele navegou de lá para sudoeste até tocar no litoral atlântico da atual República das Honduras. 

E, em vez de abandonar sua hipótese asiática, parece ter chegado à conclusão de que na realidade existiam duas penínsulas da áurea Quersoneso. Ele morreu convencido de que, embora tivesse descoberto acidentalmente algumas ilhas e penínsulas asiáticas que ainda não tinham aparecido nos mapas, estivera sempre a percorrer a costa oriental da Ásia. 

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