Nardoni e o espetáculo midiático.

De acordo com a televisão brasileira o julgamento mais famoso ou pelo menos o que teve maior repercussão nos últimos tempos foi que convencionarei a chamar doravante de "Caso Nardoni". É perda de tempo repetir o acontecido porque a mídia jaó fez a exaustão. Aliás, abusaram da nossa paciência fazendo menção ao caso nos programas jornalísticos, de culinárias, de auditórios, esportivos ou de qualquer outra modalidade, todos os canais, foi uma verdadeira enxurrada sem precedentes. Exceto com o "Mensalão", o original, que tinha como protagonista o Jeferson – que por sinal era simpaticíssimo- a televisão não tinha martelado tanto em um caso. Mas isso não é pecado apenas da mídia falada, a escrita também tem parte nesse espetáculo. A imprensa tem o direito de noticiar, aliás, é seu dever, mas não isso é isso que está em questão. Sobre o caso teve ter milhares de horas de gravação, o povo se manifestou, claro, onde há câmeras há papagaios tentando aparecer na televisão, logo posso suspeitar de o clamor público não é legitimo, antes, foi induzido pela ganância na busca dos 15 minutos de fama a que todos têm direito. Promotores, juízes, juristas renomados, jornalistas, peritos criminais e toda uma gama de profissionais se promoveram a custa dos Nardonis. Quanto a estes –o casal Nardoni- não sei até que ponto faz parte do espetáculo, ou se foram posto para espetáculo. Vivemos em uma sociedade do espetáculo e exatamente por isso sobra pouco tempo para reflexão e o que observamos nesse caso é a constatação de um fato que nem sempre está evidente: a loucura está na multidão. Multidão de pessoas, de evidencias matérias do crime, multiplicidade de ponto de vista, multidão de câmeras de TV ociosa cobrindo o evento e por ai afora vai e ninguém sabe onde vai dar. Vamos analisar alguns pontos desse caso e ver se os procedimentos se justificam e por que se justificam ou não.

Primeiro veremos o clamor popular em torno do caso. É legitimo, visto que em uma metrópole igual a São Paulo há sempre gente sobrando para "engrossar o caldo" em qualquer evento. Prova disso são os jogos de futebol que lá se realizam e uma multidão converge aos estádios e depois se matam na saída. Podemos então deduzir que os paulistas, povo que se gaba da civilidade, formadores de gosto, ou melhor, indicadores de gosto, porque o que se gosta em São Paulo é apontado como gosto de todo o Brasil, são fáceis de ser tangidos como todos os outros. Então o clamor popular é legitimo, mas isso não justifica a repercussão estrondosa do caso. Afinal o que eles buscam? Justiça? Um bom juiz não dá o veredicto baseado no clamor popular um povo civilizado como os paulistas deveriam saber disso. Estão chocados com a ocorrência? Quantas pessoas foram jogadas pela janela depois da Isabela? Várias. Ai mesmo em São Paulo, no sul do país. Mas só esse caso merece repercussão na memória do povo.

Por que a televisão cobriu maciçamente o caso? Renato Machado da Globo chegou a dizer que o Brasil todo deveria se interessar pelo caso porque é um dos mais importante da história jurídica do país. De onde ele tirou essa idéia? As leis mudarão pós julgamento do "Caso Nardoni"? as construtoras instalarão dispositivos nas janelas que evitarão que crianças sejam atiradas por ela? Quanto a jurisprudência que precedente esse caso poderá instaurar depois veredicto? São coisas que poderemos observar só a longo prazo. Mas enquanto isso onde a importância do caso. Me parece que tal fato só foi revestido de tanta relevância em decorrência de alguns fatores: o caso foi em São Paulo onde há maior número de câmeras ociosas e as maiores mídias do Brasil concentra seus escritórios. O fator geográfico foi preponderante. E também pelo fato de que os Nardonis te poder aquisitivo, caso contrário seriam lançados no calabouço e as calendas.

Uma última pergunta: qual a importância desse caso para toda a comunidade? Para o cidadão médio pagador de impostos, para o agricultor que trabalha na zona rural, para o desempregado que sonha com um futuro melhor e para os outros tantos setores da sociedade que convive diariamente com o "panis et circenses" promovido pelos setores mais representativos da mídia em torno caso. É doloroso constatar que pessoas estão sofrendo, os Nardoni sofrem, a mãe biológica da menina também, mas a mídia, ah! a mídia, essa quer espetáculo, grotesco espetáculo.