A Nuvenzinha Branquinha
Publicado em 12 de junho de 2010 por Raul Santos
A NUVENZINHA BRANQUINHA
Raul Santos
Branquinha era uma nuvenzinha muito alegre
Um dia, Branquinha resolveu fazer um passeio com o Senhor Vento, que a convidara para conhecer os lugares distantes por onde ele passara nas suas intermináveis viagens,
Branquinha divertia-se a valer por cada lugar que passava, prestando bastante atenção em cada explicação que lhe dava o Senhor Vento, até que percebeu ao longe um barulho muito forte que a intervalos irregulares estrondava, parecendo que lhe estourariam os tímpanos. Pálida de terror, perguntou ao Senhor Vento o que estava acontecendo naquele local. O Senhor Vento explicou que eram suas irmãs mais velhas, as Senhoras Cúmulos-Nimbus, que estavam preparando uma nova tempestade, e que ela, por ser muito jovem não deveria aproximar-se do local, pois poderia ser atingida por um raio.
– Que é raio, Senhor Vento?
– O raio, Branquinha, surge quando as Senhoras Cúmulos-Nimbus estão muito nervosas e aborrecidas. Elas se aproximam umas das outras e, como ficam muito zangadas, querendo passar para o outro lado, não cedem lugar e começam a lutar. A raiva que elas sentem é tão grande que até saem enormes faíscas de fogo ou descargas elétricas que são os raios, acompanhados de enormes estrondos que são os trovões. Quando um raio cai numa floresta, pode causar enormes incêndios, destruindo casas e plantações, matando pessoas e causando prejuízos.
– Oh, mas que maldade, Senhor Vento!... Por que elas fazem isso?...
– É porque não são educadas como você, Branquinha! Se tivessem a sua educação, não fariam tal coisa!...
– Ah, eu quero conversar com elas e dizer que devem sempre ser boazinhas e educadas, e nunca fazer maldade com nada e com ninguém!... Vamos lá, Senhor Vento?!...
– Não se arrisque, Branquinha!... Você pode ser afetada e absorvida pela ira das suas irmãs. Veja, estão vindo para cá!... Venha, esconda-se aqui atrás da Senhora Montanha. Depois que a tempestade passar, quando elas se acalmarem, eu prometo que vou lhe apresentar para elas!...
– Oh, obrigada, Senhor Vento!... Eu sabia que podia confiar no senhor!... O Senhor é tão bonzinho!... Por que elas não são também como o Senhor?...
– Nem tudo na casa da Senhora Natureza é como gostaríamos, Branquinha!... Se assim fosse, não haveria necessidade de se trabalhar pelo progresso!... Somente através do trabalho é que conseguimos criar as coisas que pretendemos. Venha, elas estão chegando!...
Branquinha contornou a Senhora Montanha e ficou escondida entre as árvores, estremecendo cada vez que um trovão deixava escapar o rugido vindo do fundo das entranhas e fechando os olhos cada vez que um relâmpago deixava escapar a sua faísca incandescente.
A batalha entre as Senhoras Cúmulos-Nimbus durou mais de meia hora, enquanto Branquinha observava os detalhes, redobrando o interesse de instante a instante.
Depois de finda a luta, pediu ao Senhor Vento que a levasse a conversar com suas irmãs mais velhas e dizer-lhes que estava muito envergonhada com o que acabara de presenciar. Relutante, porém condescendente, o Senhor Vento cedeu aos rogos, temeroso de que algo pudesse acontecer à sua amiguinha, o que ele jamais se perdoaria.
– Senhoras Cúmulos-Nimbus, esta é minha amiguinha Branquinha que deseja conhecê-las! – Disse o Senhor Vento, conciliador.
– O que deseja, garota, não vê que acabamos de sair de uma dura batalha?...
– Nada que vocês já não saibam!... Apenas acho que se vocês fossem um pouco menos egoístas não haveria necessidade de causar tanta destruição como a que fizeram agora. Vejam lá embaixo, se é que ainda não repararam!...
– E o que nos importa a destruição?!... Cada qual que se salve como puder!... Nós é que não vamos nos preocupar!...
– Ah, é?... E o que me dizem do trabalho de meses e mais meses que vocês destroem com os incêndios que causam às plantações, fazendo os pobres lavradores até passarem fome, enquanto preparam outra colheita?...
Enquanto elas falavam, em silêncio, Branquinha percebia que suas irmãs pouco a pouco, à medida que as lágrimas iam secando, elas também foram clareando até ficarem da cor de Branquinha. O Senhor Vento serpenteava alegremente por entre as palmas dos coqueiros e o Senhor Sol que por ali passava no momento, matreiramente, piscou um olho, filtrando seus raios por entre as lágrimas que ainda caiam em forma de chuva, apontando lá longe, na casa do Senhor Horizonte, o belo arco-íris que, soberbamente, resplandecia num colorido maravilhoso.