Zé ninguém.
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 25/06/2012 | PoesiasZé Ninguém.
O bom sábio.
É aquele que procura.
Iluminar se por dentro.
Escurecer por fora.
Escurecendo por dentro.
Ao iluminar por fora.
Fica-se absolutamente escuro.
Ser escuro é a propriedade.
Da nossa intuição.
O bom sábio.
Procura não ser sábio.
Procura ser bobo.
Para poder ser sábio.
Sendo sábio, torna-se incompreensivo.
Com efeito, tem que ser sábio.
Sendo bobo.
Por isso o bom sábio.
Entende se que não sabe.
O que sabe.
Comporta-se com sobejidão.
O saber é apenas o fundamento.
Naturalmente da ignorância.
Quem caminha, vacila no incerto.
No perdido mundo desértico.
A vida é sinérgica.
A sabedoria de vez em quando.
Manca, trava-se, enlouquece.
Completamente.
Encontra se no caminho errado.
Quem fala sempre em sabedoria.
Não fala sério.
Reflete bobologia.
É mais sábio falar.
Em idiotologia.
O sobestar no mundo.
Desvanece.
Revela muito mais.
O absurdo.
Diz se a poeta.
Quem se ilumina.
Por si, no deserto.
Caminha perdidamente.
Entorta para lá.
Entorta para cá.
Quebra-se ao meio.
Fica dividido.
Vitupério aos sinais.
Torna-se varias partes.
Sem ter nenhuma delas.
Canso-me com isso.
O homem é inteiramente torto.
Em todas suas variáveis.
Do mesmo modo suas sínteses.
Parece-me que no universo.
Só existem as curvaturas.
Aquelas as quais os cilindros.
Não compreendem.
Porque prelibar ao destino.
E quem diria ser uma sinopse.
Quanto ao homem.
Costuma-se.
Ter os seus olhos.
Presos na escuridão.
E quem progride.
Por fora.
É um retrógrado por dentro.
Por dentro ilumina se.
Por fora fica cheio de reflexos.
Por dentro cheio de focos.
Por todos os lados.
Um refratário, filaucioso.
E quem parece ser realizado.
Costuma-se ser um alienado.
Torna-se um homem imprescritível.
Segue-se sua luz interna.
E quando se encontra com a luz externa.
Apaga-se, por fora e por dentro.
Do lado também.
Apaga tanto. O próprio oposto.
Torna-se.
O mais lastimável abismo.
Nega-se o mito.
Ao negar o mundo.
Afirma à metafísica.
Nega a si mesmo.
Apaga-se a luz interna.
E sem luz interna o sol.
Perde seus reflexos de raios.
E quem conserva tudo puro.
Torna-se bobo e simplório.
Quem torna.
Paciente, tolerante.
Torna-se.
Sem caráter.
Fútil e vazio.
Não sendo mais útil.
A sociedade.
Quem vive.
Com seu eu espiritual.
Torna-se enigmático.
Transforma-se num quadrado.
Infinito, sem ângulos.
Sem renuir seus conteúdos.
O mundo é o destino comum.
Igual a um tacho.
Ilimitado.
Sem nenhum conteúdo.
Parece um som.
De infinita vibração.
Mas quem ninguém escuta.
Quem não pode ser visto.
Não corre o risco.
Embora não seja incognoscível.
E muito menos numerável.
Realiza-se tudo.
Entretanto, tudo.
Fica por fazer.
E perde o que foi feito.
Mas quando omite.
Torna-se mefistofélico.
Perde-se a ira.
Num vai e vem
Desdenhosamente.
Esquece o mundo.
E ao dizer tudo.
Não diz quase nada.
Torna-se.
Um Zé ninguém.
Um Zé ninguém.
É o mundo.
Edjar Dias de Vasconcelos.