Resumo 

Este artigo, faz uma abordagem económico financeira do Xitiki, para além da questão social de que é mais conhecida na sociedade, isto é, olhando mais para o contexto urbano onde certos factores económicos financeiros são mais visíveis. Com este artigo, quer se trazer a questão do valor do dinheiro no tempo olhando concretamente para os 4 factores que o afectam, como forma de transformar o Xitiki em investimento e não apenas rotação de valores e ou bens entre os participantes ou praticantes deste. Palavra Chave: Transformação, Xitiki, Urbano, Poupança. 

Introdução

Várias vezes ouvimos falar do xitiki como uma forma de poupança, olhando para aquilo que é a sua forma de actuação dentro das comunidades praticantes desta, porém vários questionamentos se colocam a esta prática com décadas no nosso país com formas diferentes de ser denominada variando de região para região. É neste contexto, que respeitando todos os pressupostos de actuação desta actividade de “poupança” que nos indagamos olhando para os dias de hoje se esta é praticável ou não, tendo conta o custo de vida, que a cada dia que passa vem aumentando, o que faz com que o poder de compra dos cidadão baixe a cada ano e que a Inflação vai tomando conta do mercado de bens e serviços assim como financeiro. Para dizer que devia se olhar para esta prática de “poupança” juntamente com as oscilações do mercado, mesmo sabendo que o seu propósito não seja este, esta deve ser um instrumento de empoderamento financeiro, material e instrumental dos seus integrantes tornando em uma verdadeira poupança e não apenas um processo rotativo de valores e bens materiais no seio dos seus membros. Razão pela nos propusemos a trazer o Xitique a ser um instrumento que possa habilitar aos seus fazedores principalmente das zonas urbanas a uma verdadeira poupança já que na banca por aquilo que se aufere não é possível prosseguir com os preceitos económicos da renda que são o consumo, a poupança e o investimento. Xitiki Nas comunidades moçambicanas há práticas realizadas em forma de solidariedade, ajuda mútua, confraternização entre outras, porém uma tem se destacado mais que é o Xitike, que muitas das vezes é feita com base em valores monetários, porém esta tem tomado outras formas, mas sempre com um objectivo, suprir com certas dificuldades dos seus membros. Esta, parte de uma combinação, isto é, um acordo informal, nada é escrito em muitas das vezes apenas é por confiança dos membros da mesma. Referir que nesta combinação há determinação de um valor e ou um bem material a ser desembolsado e ou entregue periodicamente de uma forma rotativa a cada membro do grupo, essa periodicidade depende ainda do que os membros de uma forma informal o desejarem, isto é, pode ser semanal, mensal, trimestral. O Xitike aparece conforme explica Nhatsave (2011) citando Cruz: 2002, que para além de ser uma prática de já a bastante tempo em Moçambique e vem sido realizada nas zonas urbanas assim como rurais e que esta aparece como forma de colmatar as situações de crises, assim como a situações de insegurança alimentar e ou de poupança, apoio financeiro. É uma forma de financiamento ou empréstimo de dinheiro baseado na confiança mútua, sem necessidade de juros acrescidos, Macua Blog (2018). Como se pode compreender este aparece como uma alavanca que vem suprir com as questões de insegurança alimentar quando esta for em géneros alimentícios, ou em apoio financeiro se este for em moeda monetária e que esta é efectuada nas zonas rurais e nas urbanas. Só que há aqui novas formas desta acontecer principalmente nas zonas urbanas com mais enfoque nos mercados onde esta prática é maioritariamente praticada por senhoras, como afirma Trindade (2019), mas também temos os Xitikes familiares aqueles que acontecem entre famílias/familiares, temos os Xitikes de louça, blocos, viaturas, computadores e até bebidas e carnes entre amigos, para dizer que esta prática veio ganhando diferentes formas de manifestação pelo passar do tempo, e aliás passou de uma questão simples de guardar para uma questão de investimento, só que este que não é valorizado e ou não percebido dessa forma, para tal vamos nos aliar ao conceito de Cunha (2011), quando traz para além da palavra poupança a palavra crédito, repara se que se formos a tentar perceber o conceito de crédito é quando um individuo entrega seu capital ao outrem e sobre este cobra alguma coisa extra, isto é, taxa de juro que segundo Brigham e Houston (1999), seria o preço por ter levado o capital de terceiros. Olhando por este ângulo, tinha que olhar o Xitiki, não como apenas um processo de poupança, mas sim como uma estratégia de investimento, ou uma estratégia de poder os integrantes desses grupos poderem obter algumas vantagens pelo facto de ter hipotecado os seus bens e ou capital, pois que nesse momento que não dispuserem desses mesmos eles estariam estagnados ou parados nos seus projectos, é daí que iremos ainda nos apoiar no Brigham e Houston (1999), quando falam dos 4 factores fundamentais que afectam o dinheiro que são: oportunidade de produção; preferência de consumo; risco e inflação. No contexto urbano, estes factores são muito visíveis tendo em conta a dinâmica do mercado, ora vejamos: se entrego os meus bens/ dinheiro hoje para receber daqui a 5 meses a mesma quantia é como se tivesse enterrado o mesmo, pois com esse dinheiro hoje poderia ter feito mais coisas que no dia que vá receber, poderia ter adquirido mais equipamento, material, comida em quantidades superiores que as de hoje, poderia ter tido as melhores preferências de consumo que as de hoje, o risco que uma coisa inerente a próprio processo de crédito e que nos Xitikes muitas das vezes não é observado a ocorrência de algo desfavorável, como por exemplo a morte de um dos integrantes que já tenha se beneficiado deste mesmo, pois funciona mais na base de confiança e já inflação que é um dos grandes problemas que afectam o poder de compra que aliado ao risco devia ser observado neste tipo de negociações, desde o momento que esta vai influenciar naquilo que seria o valor do dinheiro ou dos bens no tempo. Estratégias de fazer Xitiki em um contexto urbano Sendo esta uma prática realizada em um contexto de amizade, colegas de serviço, da turma, família e que podemos como afirma Trindade (2019), e que tudo é com base na confiança, isto é, não olhando para as questões jurídicas, urge a necessidade de olhar para esta mesma prática como um instrumento de mais valia para os praticantes da mesma. Não obstante, o membro ou praticamente receber uma quantia maior de valor de uma só vez, esta prática deve ter em conta as questões dos 4 factores que afectam o dinheiro no tempo. Pois, só assim que poder-se-á no contexto urbano capitalizar esta prática e quiçá transformá-la um dia em mais uma forma de se autofinanciar, visto que o crédito bancário está cada vez mais longe dos cidadãos, isto devido as elevadas taxas de juros cobradas por estas entidades. Oportunidade de Produção Visto que o Xitiki aparece como uma forma de poder dispor hoje de bens materiais e ou financeiros que poderia se levar muito tempo para poder ter e esses mesmo são lhes dados ou entregues por outras pessoas onde lhes garante a sua devolução em período combinado. Está se dizendo de uma outra forma, que se por exemplo nas comunidades onde se vive de comércio informal/formal se a Senhora Joana quisesse e ampliar e ou aumentar o seu stock, teria que ir falar com os outras colegas de profissão e ou do mercado para que fizessem o Xitiki e que ela fosse a primeira a receber e depois devolveria a estas mesmas segundo o seu combinado. Se estas pessoas aceitarem retirar a parte do seu valor para a senhora Joana conseguir os seus objectivos isso estaria a constituir uma poupança, essa poupança que seria investida na aquisição e ou reforço do stock da senhora Joana e que passaria a ter mais vendas e consequentemente mais lucros que será o retorno do investimento. Para dizer que, quanto mais vendas a senhora Joana tiver maior será o retorno esperado sobre o investimento e mais ela pode pagar aos investidores neste caso que são as pessoas que fizeram as suas poupanças. É neste âmbito que Brigham e Houston (1999), chamam de oportunidade de produção como sendo os retornos disponíveis obtidos através de investimento. Percebe-se logo aqui que o Xitiki passa ao lado desta teoria pois, não se olha para esta questão de o que é que a pessoa que vai recolher as poupanças hoje irá ter como retorno e o que isso significa para os poupadores que passam a ser os investidores deste mesma pessoa, sabendo que quem investe sempre quer ter retorno. Então, ao se pensar no Xitiki não só se pode olhar pela entrega e devolução do mesmo valor mas sim por aquilo que poderia gerar e assim podermos ter algo acrescido no momento de ser a vez minha ou dos outros a receber de volta o poupado pois, percebe se que um investimento que estamos a fazer para o que o outro integrante possa realizar as actividades, sonhos, negócios em momento em que não poderia realizá-los. [...]