Você ficou sabendo?

   Estava um tanto irritado porque havia pisado numa gosma de chiclete que algum ser humano  achou   no direito de emporcalhar no asfalto. Sem considerar a ida ao  trabalho, o idêntico percurso, o sobe e desce do coletivo ao  encontro do mesmo edifício, dando de cara com os mesmos semblantes para bater o ponto. O ponto do dia. Embora não fosse o ponto que eu gostaria de bater naquele dia  e sim  a fechadura da sala daquela  porta que estava emperrada.

   E por ter a audição privilegiada  e não usar fone de ouvido, ouvi vozes. Necessitava ouvir   exaltadas vozes?

   Partiu. Partiu  de quê? De raiva. Discutiu com o patrão e no minuto seguinte recebeu o ingresso para o sono profundo. Tão profundo que nem um  moderno celular  foi  capaz de  despertá-lo.

 Não  recordo o semblante. Mas posso verificar no  facebook.

Mas a estridente  voz eu lembrava – dizendo que num futuro muito distante gostaria que as suas cinzas  fossem lançadas no asfalto. Talvez o mesmo asfalto grudento de chiclete.