Karl Marx: O Grande Reformador do Capitalismo

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/10/2025 | Filosofia

Conceitos são subjetivos. Mas, quando submetidos ao crivo público, podem suas significações variar, conforme tornam-se partes do senso comum e-ou da história da humanidade. E um deles é a definição de capitalismo.

A gênese desse sistema nasceu na Baixa Idade Média, quando, primeiramente, houve a difusão da moeda cunhada e centralizada na Europa, dando vazão à unificação da unidade facilitadora de troca (numa alternativa ao escambo, feudalismo, servilismo e escravidão, embora estes ainda viessem a existir no século XIX). E, sobre sua consolidação, doutrinas foram escritas, medieval e modernamente, de modo que a mais famosa é a publicada em 1776, de autoria do teórico britânico Adam Smith, e denominada “A Riqueza das Nações”.

Na sua obra, globalmente considerada, Adam Smith e seu amigo David Ricardo, oriundos de uma nação de industriais e negociantes, argumentam que o capital investido nos meios de produção privados, por seus proprietários, também serve à coletividade quando, ao explorar o egoísmo dos indivíduos (focados, na sua maioria, nas necessidades básicas próprias, e para cuja produção não são autossuficientes), coage, de facto, a sociedade a produzir bens e serviços em troca da unidade de valor. Como os desejos dos indivíduos são uma constante, não têm eles alternativas ao labor, que temporalmente se prolonga para gerar lucro aos proprietários, e tem como consequência a obtenção de uma remuneração para quem neles trabalha.

Ocorre que, sem surpresa, tal sistema é considerado cruel, vez que, na hipótese de temporária estabilidade das leis da oferta e da procura (em razão de uma referida “mão invisível” equilibradora do mercado) e conseguinte manutenção, por ora, dos postos de trabalho, os salários pagos pelos proprietários dos meios de produção são, quase sempre, insuficientes às necessidades dos por eles empregados, numa histórica injustiça que o marxismo encarregou-se de tentar corrigir, por meio do chamado “socialismo científico”.

O socialismo científico é discorrido por Karl Marx em “O Capital” e “O Manifesto Comunista”. Neles, Marx substitui parte do egoísmo que, na obra de Adam Smith, é fundamental ao funcionamento do sistema capitalista: afinal, a propriedade dos meios de produção passa ao Estado, antecessor do estágio comunista e, também, composto de humanos, cuja missão é maximizar o lucro dessas entidades ao pagarem, como administradores, uma contrapartida aos produtores (que têm, portanto, a parte de seu egoísmo respeitada, diante das remunerações).

Como se percebe, em ambos os sistemas os cidadãos trabalham em troca da obtenção da unidade de valor e facilitadora de troca. Se um é mais justo, ou injusto, que seu dialético, não é uma questão objetivamente fácil. Mas, se o egoísmo nas duas esferas prevalece, perante a realidade de que, enquanto existir Estado, a sociedade trabalha em troca de dinheiro, pode-se afirmar que o socialismo científico seria mais adequadamente conceituado se o identificássemos num único vocábulo composto, tido por “capitalismo material protestante”, em analogia ao ateísmo de Marx e ao fato de, como a Reforma Protestante de Lutero, seus escritos representarem majoritários pontos de ruptura com uma antiga ordem, não por readaptação ao deus cristão, mas em contraposição a ele (se a história é tecida de ironias, é essa que proponho).