Ao começar esta leitura você poderia perguntar se estou recorrendo a um tema ou fazendo a apologia da violência?

Nem uma coisa nem outra!

Apenas reafirmo seu crescimento em nosso meio. Crescimento não só porque ela tem aumentando em volume e intensidade, mas principalmente porque mais facilmente a percebemos. Além disso, houve muita reação – agressiva – em relação ao que coloquei em discussão há algum tempo neste espaço do jornal Folha da Mata e no portal webartigosos, especificamente no endereço www.webartigosos.com/articles/26239/1/contra-violncia-violncia/pagina1.html. Naquele texto havia colocado em discussão o tema da violência. Como gosto de títulos chamativos, apelei e tasquei: "Contra violência, violência". E aí o motivo desta reflexão. Ali procurava mostrar que o ser humano, ao longo da história tem criado mecanismos violentos para combater a violência.

Minha preocupação era afirmar, com todas as letras, que somos amantes não só da violência, como criamos a sociedade da violência; uma sociedade que, cruelmente, se diverte com a dor alheia.

Para fazer essas afirmações procurei ajuda de Nietzsche e Maquiavel. Poderia ter apelado para Hobbes, Rousseau, ou pensadores. Abstive de muita filosofia clássica para me deter na observação cotidiana. Posso dizer que não só nos clássicos como no cotidiano constatamos a confirmação e reafirmação de que o ser humano é violento, mesquinho e cruel...

Meu objetivo não é reiterar a afirmação de que somos violentos e maldosos, da mesma forma que não pretendo afirmar que somos mesquinhos e cruéis. Legitimamente pretendo apenas me defender de algumas violências verbais contra mim proferidas, confirmando o que eu dizia. Recebi comentários cruéis dizendo que estou equivocado em afirmar a índole não só violenta como cruel, do ser humano.

Meus críticos tentam afirmar que o ser humano não é tudo aquilo que digo. Mas então lhes pergunto: se não somos maus, cruéis e mesquinhos, porque nos criamos todas as religiões, princípios morais e normas jurídicas e, inclusive, força policial de um Estado capaz de administrar, criar leis e punir os transgressores? Como podemos explicar o aumento da violência, que nos caracteriza como cruéis e maldosos?

A resposta: Pela não resolução de problemas cruciais e antigos. Porque é que continuamos a entulhar os rios e ruas com o nosso lixo de cada dia, uma vez que ele se voltará contra nós? Porque é que cada um de nós e todos ao mesmo tempo não nos empenhamos, concretamente, com a preservação ambiental e melhoria das condições de vida no planeta? É por sermos bonzinhos? Não é porque somos maus. Sabemos das conseqüências de nossos atos, mas, por sermos cruéis, não estamos "nem ai" para o futuro do planeta e da humanidade.

Isso sem falar de pais e mães matando os próprios filhos; ou, por outro lado, filhos assassinando ou tramando seqüestro ou assaltando os pais, como nos mostram seguidamente os noticiários. Além disso, você já percebeu como, cada dia mais, estamos erguendo mais nossos muros e criando mais mecanismos de proteção? Isso e muito mais só nos indica uma coisa: a maldade humana está crescendo e evidenciando a nossa face cruel

E não sou eu quem o diz. Pessoas respeitáveis afirmam nossa maldade:

Então vejamos: o que ensina Jesus? A sermos bondosos, caridosos... Mas se fossemos bons e atenciosos para com as necessidades dos outros haveria necessidade de ensinar esses valores? Além disso, sai da boca de Jesus, em Mt 12,34 "Víboras que sois! Como podeis falar coisas boas, sendo maus? A boca fala daquilo de que o coração está cheio". De que o coração está cheio? De maldade! Além disso, falando da bondade de Deus, em Lc 11,13, Jesus diz que "se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo". O espírito que ensinará a bondade onde ela não existe. Notemos que Jesus está afirmando a necessidade de desenvolvermos capacidades e principios de bondade. Por quê? Porque constata a maldade que move as pessoas. Além do mais, se o mestre nos chama de "víboras" e "maus" isso se deve ao fato de sermos anjinhos?

No capitulo 17 de "O Leviatã" T. Hobbes afirma que: "as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou em resumo, fazer nos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de as levar a ser respeitadas, são contrárias às nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar segurança a ninguém. Portanto, apesar das leis de natureza (que cada um respeita quando tem vontade de as respeitar e quando o pode fazer com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para a nossa segurança, cada um confiará, e poderá legitimamente confiar, apenas na sua própria força e capacidade, como proteção contra todos os outros"

Então o que realmente é o ser humano? Violentamente cruel.

E isso vem crescendo em nossa sociedade. Cada dia que passa a violência de nossa crueldade se emaranha mais em nossas entranhas sociais.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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