VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – UMA QUESTÃO DE EGOÍSMO CONTRA A VIDA

(Autor: Wallas Cabral de Souza) / Gênero: Crônica / Tipo de texto: narrativo-discursivo

                A “violência” é uma palavra abstrata. Ela existe no conceito, no pensamento, na intenção de quem pratica. Logo, quando ela se manifesta, provoca um mal, com marcas profundas, que já foi alimentada na mente antes mesmo de acontecer. Seja qual for o motivo, é destruidora! Como diz o papa João Paulo II “A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.” E considerando isso como um “constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, que obriga essa pessoa a fazer o que lhe é imposto: violência física, violência psicológica” (Dicio on line), assim, começo a narrar uma história que aconteceu, de um tipo muito comum, mas nunca normal, de violência: a violência doméstica.

            Uma professora; já experiente e marcada pelas contraversões da vida, era pequena quando seu pai comete o primeiro ato violento. O seu avô era dono de muitos gados. Ela Considerava que seu pai, portanto, casou com a sua mãe por um certo interesse de bens materiais. Tempos passaram. Seu pai fugiu para não ser preso, após ter roubado o avô dela. Foram todos juntos. No Rio, a professora presenciou uma cena de violência doméstica que marcou a sua vida: a mãe dela, grávida, era insultada pelo seu pai, constantemente, com um revólver apontado para a cabeça dela e na barriga dela. A professora dizia “A gente morria de medo do meu pai. Chegava bêbado, e a gente se escondia debaixo da cama com medo dele. Quando estava com raiva, batia em nós. Não podíamos nem falar um ‘ai!’. Além de alcoólatra, era muito ignorante”.

            Parecia um hábito já marcado na família. Depois, foram para o Rio Grande do Sul e, em seguida, para Petrolina-PE. Não importava onde, a violência doméstica sempre continuou. Nessa época, o seu irmão já tinha completado 18 anos. Um certo dia, o irmão dela resolveu agredir o pai para defender mais uma vez a sua mãe. Cresceram vendo essa cena. Repetidas vezes. A professora tinha aí 14 anos. Já adulta, chegando em Parnamirim-RN, onde a família fazia “marmita” para sobreviver, ali, foi a última vez que seu pai agrediu a sua mãe. Relatava “Minha mãe sempre estava cozinhando para preencher as marmitas. Era em torno de mil delas por dia; e a gente trabalhava junto. E ele chegava bêbado e batia em minha mãe de novo, jogando as marmitas no chão. Fazíamos tudo de novo. Nossa vida, assim, era um ‘inferno’. Isso aconteceu até que em um dia, numa última surra que deu nela, minha mãe ainda estava chorando quando falei para uns empregados ‘segura a onda aí’ que eu vou levá-la para a Paraíba novamente pra que nunca mais agredisse ela.”

            Como o ato de violência, gerou na professora uma fúria, pensou logo em partir para cima do pai, mas logo regrediu da sua ação. Então pegou a sua mãe e foi para a Paraíba. Passaram um mês lá. E quando ela retornou para casa, ele parecia outra pessoa. Foram morar em Natal-RN, onde seu pai conseguiu decepcioná-la mais uma vez: teve amante bem mais nova. Isso foi motivo para A professora expulsar o pai da sua casa. “Nesse tempo, já adulta e casada, estava grávida do meu primeiro filho. Então, eu peguei as coisas dele e coloquei dentro de uma caixa de marmita e disse ‘Vai embora morar com a sua quenga’ que era sobrinha de minha mãe”. Ele foi, então, morar em Parnamirim-RN com ela. Resultado: essa amante também apanhava dele. E todos nós tínhamos medo de ele abusar das suas enteadas. Por isso, mesmo não gostando da amante, a professora teve que se aproximar dela, a fim de alertá-la diante do que poderia acontecer com as suas filhas.

            Então, o seu pai adoece. A família se dispôs em cuidar dele. Como diz platão “A velhice é um estado de repouso e de liberdade no que respeita aos sentidos. Quando a violência das paixões se relaxa e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidão de furiosos tiranos.” Diante disso, ele ainda doente, no leito de um excelente hospital em Natal-RN...faleceu. Todo mundo ainda deu suporte para ele. A professora, diante dos últimos dias de vida de seu pai, perdoou-lhe. E apenas em sonho ele se desculpou. Assim, desde criança, ela e seu irmão viram a mãe deles ser agredida, e sempre eles tomaram as rédeas da situação, buscando ser livre e feliz. A professora mostrou que diante da perversidade do pai, algo ali no seu pensamento transbordava de fúria, desgosto, talvez uma frustração... Enfim, algo que gerava a violência que só foi combatida quando se percebe o que deixa de alimentar esse ódio na mente. Martin Luther King dizia que “uma das coisas importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la.” Se a professora não transformou seu pai em vida, no fim, pela sua teimosia, libertou-o nem que fosse por alguns últimos instantes de paz.

            Assim, reflito quanta raiva, às vezes ou somente isso, sem causa concreta, carrega-se em uma ideia tão tóxica como essa que é a “violência doméstica”. E é doméstica porque lá existe pessoas que sentem e que se convivem com proximidade. Lá, existe um pai que se sente um chefe agressor, acima de sua esposa e filhos; destruindo sonhos, corações, seja da mulher; às vezes de um(a) jovem pela sua condição sexual; seja pelo ciúme ou seja pelo simples fato de não saber que precisamos um do outro. A violência é doméstica, mas a vergonha na cara é para todos serem domesticados, nem que seja no leito do seu último suspiro, nem que seja na sua última vontade de liberdade. E junto a esse tipo de violência, temos a violência sexual, religiosa, política, urbana, psicológica; tudo porque não dialogamos, não nos preocupamos, mas sim, ‘nos’ impomos aos outros ser e fazer algo que não podem. Violência é uma atitude egoísta!  Mas uma coisa é fato: Ninguém deve tirar a dignidade de ser feliz, inclusive dos que estão em sua própria casa, perto de você. A violência doméstica fede!