Violência Contra a Mulher em Pernambuco
Por sandra albuquerque | 29/04/2009 | HistóriaPesquisadoras: Sandra Albuquerque
Tatiana Moura
A
violência contra a mulher remonta à
Antigüidade, a história da humanidade é
uma história de lutas pelo poder, pelo domínio. A
mitologia greco-romana nos oferece relatos dessas lutas em todos os
níveis. Os mais fortes subjugam os mais fracos que devem ser
servis, humildes e obedientes. As mulheres não ficam fora
desse contexto. Muito são os relatos de
sedução, de estupro e de violência
contra a mulher. Os deuses se disfarçam e descem
até os campos com o fim de seduzir as ninfas ou
estuprando-as. Conta a mitologia grega criação
dos homens por Prometeu e da mulher pelos deuses do Olímpio
que, sentindo-se ameaçados de perder seu poder, tiveram a
brilhante idéia criarem a mulher para levar os homens
à perdição. Por esta razão
foi criada, a partir de uma estátua de bronze uma forma
humana, capaz de sensibilizar e encantar o homem e que recebeu de cada
deus um dom. Recebendo dons que a deixavam cada vez mais formosa, foi
criada Pandora. De Zeus, recebeu uma caixa que deveria entregar aos
homens, como já se imagina começa a surgir o mito
de que a mulher esta abaixo dos homens, depois com a bíblia
dizendo que a mulher dando aos homens a mesma resposta de que Eva foi a
perdição de adão e por isso as
mulheres teriam que sofrer pelo o maior dos pecado, e outros casos em
cada cultura, ao longo da historia quase em toda ela, há a
submissão da mulher perante o homem e a sociedade.
E com
isso se edificou ao longo dos séculos, discurso em que
colocava a mulher em situações inferior,
não só perante o homem, mas perante toda
sociedade. Na França no século XVIII, as mulheres
eram na maioria das vezes eram chamadas de bruxas, pois segundo a lenda
elas enfeitiçavam e seduziam os homens, os gatos eram
associados as mulheres, segundo a lenda os gatos se transformavam em
mulher para hipnotizá-los, costumava-se queimar os gatos e
as mulheres em praça publicas, as vezes jogavam mulheres no
fundo do rio, se ela subisse era bruxa e então iam para a
fogueira se afogassem, é que não eram bruxas.
Brasil inicio do século XX surge o regime feminista que
começava junto com as transformações
desta época, como por exemplo a
industrialização, surge então
confrontos com os homens , onde a instituição (o
Estado), dizia que mulher trabalhando fora de casa iria desestabilizar
a família. Logo os maridos, tiraram do casamento, o lado
romântico união por amor, substituindo-a pelo amor
"civilizado", dotado de razão, excluindo a
paixão, responsável pelos "crimes passionais
sanguinários"
Em Pernambuco, a violência contra
a mulher é gritante, se comparado a algumas cidades maiores,
é em média 2 mulheres assassinadas ou violentadas
pór dia no Estado. Em janeiro passado foram assassinadas em
Pernambuco 31 mulheres, o mês contem exatos 31 dias, ou seja,
no mínimo 1 mulher por dia morta.Pesquisas apontam o
porquê da violência ser tão expressiva
especificamente no nordeste, deve-se ao fato do homem nordestino ter no
sangue um sentimento de machismo que lhe foi é herdado, e
infelizmente é fato histórico. A Secretaria da
Mulher de Pernambuco promoveu no ultimo domingo de janeiro (25/01), a
partir das 9h, em 14 municípios do litoral pernambucano
(Goiana, Itamaracá, Igarassu, Paulista, Olinda, Recife,
Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca,
Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré, São
José da Coroa Grande e Barreiros) e às margens do
Rio São Francisco, em Petrolina, a
ação educativa da Campanha: Basta de
Violência contra a Mulher. Cerca de 170 mil panfletos,
contendo informações sobre a Lei Maria da Penha,
foram distribuídos entre a população.
A proposta é alertar a sociedade para o fato de que a
violência contra a mulher é crime.As educadoras
saíram em caminhada sensibilizando os banhistas e orientando
as mulheres que sofrem ou já sofreram violência
dentro de casa. A Secretária da Mulher de Pernambuco,
Cristina Buarque, esteve na praia de Boa Viagem, em frente ao
Edifício Acaiaca, conversando com a
população. A proposta deste trabalho é
informar a sociedade para a sociedade, o que é importante
para uma reeducação no seio da família
de ambos tanto com relação a mulher como com
relação ao homem, fazer ambos pensarem qual o seu
verdadeiro papel para a família e para a sociedade.
“Mostrar para mulher que ela tem direitos como pessoa que
deve ser respeitada em todos os sentidos, não só
perante seu companheiro, mas também perante seus filhos,
como cidadã, fazendo valer as leis para elas igualmente
são para os homens, não ter medo e impor seus
direitos de maneira clara para que possa ser entendida e respeitada. O
homem por sua vez tem que ser reeducado para respeitar a mulher como
deve ser, e por quem curiosamente se reeduca o homem para que ela seja
respeitada como no começo dos tempos,que era tratada como
uma Deusa? Pela Mãe, isso mesmo pela própria
mulher ela tem o poder de dizer a seu filho em seu seio materno o
quanto é importante se respeitar a mulher porque na verdade
ela é uma Deusa, ela tem o poder de dar a vida, e isso
ninguém mais tem a não ser ela”
.Então, o que realmente esta faltando é uma
reeducação e esta, é
imprescindível para que comece na família, na
educação dos pais, onde ambos o pai e a
mãe tem papel fundamental na formação
do caráter da criança, o pai deve mostrar para
seus filhos como a sua esposa e mãe deve ser tratada com
carinho amor e principalmente respeito, a criança aprende o
que ver em casa, não é mesmo? Então um
bom começo é este, a família e depois
a sociedade que por ter uma forte influencia machista não
só por conta do cristianismo, por que outras
religiões também dizem que a mulher deve ficar
abaixo dos homens, mas também do Estado, que redigem leis
onde nem todas as mulheres são aceitas. Em nosso
país e no ocidente as mulheres ainda têm
espaço, mesmo contra a vontade dos homens, mas elas assumem
cargos importantes tomam decisões que geralmente
é “dever do homem” enfim, vai tentando
se impor, mas em países do oriente por exemplo, ela
não pode nem ousar em desacatar a família, e isto
é real.Aqui ainda podemos e iremos conseguir nos impor, de
que forma?tentando nos reeducar temos que começar a mudar
dentro da nossa casa com nossos filhos, fazendo um respeitar o outro e
mostrando que ninguém é melhor do que
ninguém e muito menos o homem por ser fisicamente mais forte
tem necessariamente que ser melhor do que as mulheres, criando assim um
outro tipo de ser humano, mais compreensível e fazendo haver
um respeito mútuo entre seres humanos.
Segundo as
pesquisas da Professora e doutora em História,
Marcília Gama, A História da violência
à mulher se insere numa ordem de fatos, cuja tecitura paira
entre duas realidades aparentemente opostas - a
tradição e a modernidade, um "novo" que segundo (
Rezende,1998) "Não são sinônimos de
moderno ou pós-modernidade, mas que permite
múltiplas percepções e
representações da vida, preenche de sentimentos o
olhar, leves ou pesados, talvez novos, ou velhos e novos ao mesmo
tempo,,."
Falamos de um espaço vazio de direito, presente
tanto no passado como no presente, que permite, abre brechas, para a
insurgência de práticas arbitrárias de
violação e violência voltadas contra a
mulher em seu aspecto mais aviltante, e para a não
punição ou punição parcial
dos que exercem os delitos, justificados como medidas extremas: De
"proteção" ora à honra, ora
à família. É nessa indefinibilidade e
a esse não-lugar que responde a idéia de uma
violência cada vez mais intensa e multifacetada contra a
figura feminina. Procuramos buscar os elos que ligam as
ações de violência contra mulher no
passado e no presente e nesse contexto, num primeiro olhar
às fontes documentais, percebemos que na atualidade
inaugura-se a era de uma periculosidade calculada contra a mulher, que
na percepção de Foucault,
“Saem do
campo da percepção quase cotidiana e entram no da
"consciência abstrata": é a era da "sobriedade
punitiva", quando não é mais para o corpo que se
dirige a punição, mas para a alma, devendo atuar
"profundamente sobre o coração, o intelecto, a
vontade, as disposições*. Assim, a premissa
básica dos tempos modernos é: "que o castigo fira
mais a alma que o corpo". (Foucault, 1993, p. 21).
Ao
analisarmos livros escritos de vários autores estrangeiros
no âmbito do século XX, o qual é
abordado, pontos de vistas muito interessantes no que diz respeito
à mulher, temos boas referencias como por exemplo, Simone de
Beauvoir que expressa muito bem à mulher como segundo sexo
na visão de uma sociedade criada para homens. Entre outros,
no qual irá contribuir imensamente em termos de analise
teórica para o aprimoramento deste projeto,outro autor,
Giorgio Amgabem, que se enfoca na vida nua, ou seja, o autor tem uma
visão do homem separada da política e que , ao
mesmo tempo é inseparável dela.
“Agambem se utiliza da linha de pensamento de Focault, ao
relatar: O individuo enquanto corpo vivo, se torna inerente
à estratégias
políticas”(AGAMBEM,1998.p.176)
O
objetivo do autor é revelar a vida nua como uma obscura
figura do direito romano, em que a vida humana é
incluída na ordem jurídica, sob a forma de sua
exclusão, ou seja, ao mesmo tempo em que se insere na ordem
jurídica, se excluí como estado de
exepção .” A tortura é como
uma modalidade de campo de concentração adaptada
à realidade moderna do Estado” (AGAMBEM,1998).
As
mulheres de hoje estão destruindo o mito da feminilidade,
com dificuldades. Conseguem viver integralmente em
condição de ser humano. Educadas por mulheres em
um seio de um mundo feminino seu destino é o casamento que
ainda as subordina ao homem. O prestigio viril esta longe de ser
apagado e se afirma em solidas bases econômicas. (DE
BEAUVOIR, 1980).
Fátima Quintas faz um embasamento da
importância da família e principalmente
até que ponto a mulher está envolvida
emocionalmente com tais laços, pois a família
para a mulher traz historicamente, uma grande responsabilidade em que
é a mulher o pilar desta familia, então ela sente
a obrigação de manter a família
estruturada ou então será recriminada pela
sociedade e até por si própria. (QUINTAS, 2005).
Johnson,
faz uma abordagem de mito ao longo dos séculos , como um
produto da imaginação mas que são
reais.Os mitos eram criados para explicar as bases estruturais da
personalidade humana. Tentando explicar a psicologia feminina, ele Faz
uma relação de dois mitos o surgimento de
Afrodite, se baseando no mito de que ela teria nascido das ondas para
se entender o descobrimento da sexualidade feminina e mais tarde na
idade média a Psiquê, que teria nascido da gota de
um orvalho, porem mais delicada e sensível, para entender o
que se passa no interior da alma feminina. Um livro de uma abordagem
inteligente sobre a sensibilidade da mulher,e o autor cita:”
Quando o homem descobre Afrodite, em uma mulher e sabe o que deve
fazer, ele esta em uma situação
privilegiada”. (JOHNSON, 1987).
Monique
Dumais, em seu livro, Os direitos da mulher, onde relata as
dificuldades que as mulheres ao longo dos séculos
têm conquistado seus direitos a duras penas em uma luta
permanente desde seu nascimento,” onde em uma
situação circunscrita em uma jaula triangular
cuja base é a dependência econômica que
as leva à pobreza, violência e a
exploração sexual” ( DUMAIS,1998).
O
Arquivo Público é um segundo maior no Brasil e
abriga mais de nove kilometros em documentos, nele esta guardada a
memória do Estado, um patrimônio rico e raro,
daí a sua importância para a sociedade e para o
estudo da história de Pernambuco. Sua
documentação, uma das mais importantes do
país, contém preciosas
indicações para a compreensão da vida
administrativa, econômica, política, moral e
religiosa de Pernambuco através de suas diversas fases de
capitania, província e estado. A respeito do acervo do IML,
o APEJE reúne Laudos desde sua criação
e até de antes do surgimento do IML, como
instituição autônoma. Antes eram feitos
por médicos de preferência autoridades da
câmara e as perícias eram feitas no Hospital Pedro
II. No Arquivo Público, são encontrados volumes e
volumes do IML até a data atual, portanto a
importância da pesquisa e a responsabilidade com a mesma
são de grande valor e enriquece cada vez mais o projeto e a
pesquisa do historiador. O Arquivo è o único
órgão do Estado, a reunir Laudos e
perícias tão antigas e de grande utilidade para o
historiador, para pesquisador, ou para qualquer pessoa que queira fazer
algum projeto ou trabalho cientifico a respeito deste
órgão. Teremos um projeto grandioso e o mais
importante de uma utilidade muito grande para a sociedade, pois este
é o nosso grande desafio e o nosso desejo como
historiadores, servir a sociedade, para que haja uma
conscientização, e estes pontos negativos com
relação à mulher, se transforme em
respeito, como a qualquer outro ser humano, independente de cultura ou
religião. A seguir mostraremos alguns laudos pesquisados nos
arquivos do APEJE, onde estamos fazendo levantamento dos dados desde do
começo do século, porem é apenas o
começo de nossa pesquisa tem muita coisa ainda para ser
pesquisada e com certeza enriquecer nosso projeto, que já
é muito rico em fontes textuais e documentais.
Segue abaixo alguns Laudos levantados na pesquisa:
FICHA DE IDENTIFICÇÃO – ACERVO DO IML
Tipo de documentação – laudo do IML
Volume – 188
Assunto – agressão física
Descrição
– Houve atentado ao pudor, representado pela lesão
descrita, e violência para fins libidinosos.
Data –04/03/1918
Nome – Julieta Barros
Idade – 9 anos
Estado Civil – **
Profissão – **
Tipo de documentação – laudo do IML
Volume – 188
Assunto – agressão física
Descrição
– Vitima encontra-se com hímen anular
despeço, com retalhos cicatrizados e vulvita com corrimento,
defloramento. Violência com fins libidinosos
Data –01/02/1918
Nome – Antonia Silvestre dos Santos
Idade – 10 anos
Estado Civil – **
Profissão – **
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO – ACERVO DO IML
Tipo de documentação – Laudo do IML
Volume – 186
Assunto – Agressão física
Descrição
- Lesão no globo ocular direito 2 cm, de bordas regulares,
esquimose na pálpebra inferior esquerda de cor violeta.
Houve agressão fisica
Data – 24/04/1923
Nome – Elvira Barbosa
Idade –18 anos
Estado civil – casada
Profissão – domestica
Tipo de documentação – Laudo do IML
Volume – 86
Assunto – Agressão física
Descrição
– Não houve conjunção
carnal, notando-se, portanto a presença de um liquida
amarela, na vulva e no próprio hímen. Houve a
tentativa de estupro.
Data – 03/09/1942
Nome – Baromea Albuquerque
Idade –3 anos
Estado civil –
profissão
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO – ACERVO DO IML
Tipo de documentação – Laudo do IML
Volume – 86
Assunto – Agressão física
Descrição
– Houve a tentativa de violência, pois o
hímen encontra-se com pequenas lesões.
Data – 29/07/1942
Nome – Amara Pereira da Silva
Idade –4 anos
Estado civil –
Profissão –
Tipo de documentação – Laudo do IML
Volume – 86
Assunto – Agressão física
Descrição
– Não houve conjunção
carnal, porem houve a indução ao ato violento,
para fins libidinosos.
Data – 31/03/1942
Nome – Eliseber Rodrigues da Silva
Idade – 8 anos
Estado civil –
Profissão –
BIBLIOGRAFIA
AGAMBEM, Giorgio. O Poder Soberano e a Vida Nua. : Homo Sacer. Lisboa. Editorial Presença, 1998.
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. A Experiência Vivida.3ª
Edição; Tradução: Sergio Mille. Edt. Nova Fronteira. RJ. 1980.500p.
DUMAIS, Monique. Os Direitos da Mulher. Edt Editions Paulins. Montreal, 1992. Tradução: Paulistas. 1993.
FOCAULT, Michel. Vigiar e Punir. RJ. Edt. Vozes, 1993
JOHNSON,
Robert. A. She. A chave do entendimento da psicologia
,feminina.Tradução: Maria Helena Oliveira.SP Edt.
Mercúrio.1987.
QUINTAS Fátima. A mulher e a Família. 2ª edição. FUNDARJ. Edt. Massangana. 2005.
REZENDE, Antonio Paulo. Des(encantos) Modernos.RECIFE.PCR.1998.