Elizandro Mesquita Magalhães¹

 

1. INTRODUÇÃO

 

As Normas Internacionais de Relatórios Financeiros (IFRS) para pequenas e médias empresas (PMEs) foram emitidas pela International Accounting Standards Board (IASB) em 2009 para introduzir uma versão simplificada do IFRS completo com princípios de reconhecimento e mensuração e requisitos de divulgação significativamente reduzidos. Examinamos o viés de confirmação nos julgamentos de relatórios dos contadores ao aplicar o IFRS para Pequenas e Médias Empresas (PMEs).

Em particular, o objetivo geral do estudo é de analisar a probabilidade de que o conhecimento prévio e crenças sobre IFRS completo influenciar os julgamentos de relatórios dos contadores ao aplicar o IFRS para PMEs. Também examinamos a probabilidade de que os requisitos de justificativa de julgamento e a disponibilidade de auxílios à decisão ajudem a mitigar a confirmação viés que surge de conhecimento prévio e crenças sobre IFRS completas.

Julgamentos de relatórios dos contadores sobre IFRS para PMEs pode ser tendencioso quando os requisitos de reconhecimento e mensuração do IFRS para PMEs diferem daqueles do IFRS completo. Por exemplo, contabilizando como despesas todas as pesquisas e custos de desenvolvimento e custos de empréstimos quando incorridos, reconhecendo receita de contrato de construção de imóveis, e o amortização de ágio ao longo de sua vida útil em uma combinação de negócios, são alguns dos desvios significativos das disposições das IFRS completas.

Os contadores profissionais afirmam realizar suas funções com o devido zelo profissional. No entanto, a pesquisa sugere que mesmo a maioria os preparadores conscienciosos das demonstrações financeiras precisam estar cientes de vieses aos quais os humanos são suscetíveis. O Professional Judgment Framework publicado pela KPMG (2011) identifica cinco vieses frequentes que podem afetar os julgamentos de negócios: disponibilidade, ancoragem e ajuste, excesso de confiança, confirmação e pressa para resolver. Um dos mais comuns é o viés de confirmação.

O viés de confirmação é o tendência dos tomadores de decisão de buscar ou interpretar evidências de maneiras que apóiem crenças ou expectativas pré-existentes. Contadores podem exibem essa tendência ao selecionar as normas contábeis e aplicar seus julgamento profissional. Se os contadores querem aumentar seu profissional ceticismo, é importante para eles mudarem de mentalidade para buscar ou interpretar evidências de maneiras que refutam crenças ou expectativas anteriores.

Em conformidade com a literatura psicológica sobre a tendência para a decisão criadores de buscar ou interpretar evidências de maneiras que apoiem crenças pré-existentes ou expectativas, o presente estudo demonstra o poder do viés de confirmação que distorce os julgamentos no contexto de decisão do IFRS para PMEs.

 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

O presente trabalho é baseado em estudos sobre a lembrança e recuperação de experiências anteriores ao julgamento de tomada de decisão, baseado na experiência processo de aquisição de conhecimento, o qual desenvolve estruturas cognitivas que organizam um conhecimento declarativo e procedimental do indivíduo na memória de longo prazo. O conhecimento declarativo do contador de princípios de reconhecimento, mensuração e divulgação é adquirido por meio do sistema de educação formal.

A aplicação do conhecimento declarativo na prática contábil transforma esta conhecimento em conhecimento procedimental. A adaptação de um contador de conhecimentos procedimentais adquiridos por meio de aplicações ou experiências repetidas resulta em o desenvolvimento de esquemas fortes sobre diferentes transações contábeis. Esses esquemas auxiliam na organização da experiência e na criação de atividades cognitivas, tais como compreensão, lembrança, explicação e previsão. (CLARKSON; EMBY; WATT, 2012).

A Figura a seguir mostra que os esquemas agem como crenças ou hipóteses que orientam o seleção e compreensão de estímulos ambientais através dos quais o conhecimento prévio é recuperado em um novo contexto experiencial. Na validação dde ajuste entre esquemas que refletem crenças ou hipóteses e evidência experiencial, os esquemas tendem a confirmar ao invés de desconfirmar o evidências. (CLARKSON; EMBY; WATT, 2012).

 

Ao recuperar evidências e dados da memória de longo prazo, a ativação inicial da memória, provavelmente, recupera principalmente crenças anteriores, enquanto a busca de memória deliberada recupera material que refuta argumentos que são incompatíveis com a anterior crenças, resultando em um viés de confirmação nas conclusões do indivíduo.

A doutrina existente averiguou amplamente a existência de confirmação de viés nos julgamentos de indivíduos que é compatível com seus conhecimentos e crenças em vários contextos. Algumas pesquisas que investigam julgamentos tributários mostram consistentemente que profissionais apresentam viés de confirmação em relação ao seu conhecimento prévio e crenças sobre clientes e leis tributárias relevantes. (MOORE; BAZERMAN; LOEWENSTEIN, 2012).

Clarkson, Emby e Watt (2012) fornecem evidências de que antes o conhecimento e as crenças sobre os clientes e a legislação tributária relevante afetam a pesquisa de informações dos profissionais tributários e os comportamentos de avaliação de evidências ao realizar um imposto tarefa de pesquisa.

Vários estudos documentaram que os auditores contam com conhecimento prévio e crenças sobre várias questões quando eles exercem julgamentos. Em particular, o anterior conhecimento de experiências armazenadas na memória de longo prazo e suas implicações para o julgamento da auditoria ao recuperar informações para situações atuais é evidente. (CLARKSON; EMBY; WATT, 2012).

Kopp e Odonnell (2015) também mostraram que repetidos trabalhos de auditoria instigam nos julgamentos de auditoria devido aos auditores confiança em evidências anteriores. Conforme exposto nos estudos ora referenciados, é evidente que muitas das informações que os indivíduos usam é armazenado na memória e recuperado conforme necessário, e que este o conhecimento baseado na experiência é fundamental para o exercício do profissional julgamento em muitos contextos de tomada de decisão.

Julgamentos associados a lembrança e recuperação de informações encontradas anteriormente (principalmente antes conhecimento e crenças gerados através da experiência) no julgamento e o processo de tomada de decisão também é evidente. Embora os estudos tenham sido conduzidos em psicologia, auditoria e contextos tributários, pesquisas que investigam o viés associado ao conhecimento prévio e crenças no contexto de relatórios de IFRS é ausente. (KOPP; ODONNELL, 2015).

O presente trabalho preenche esse vazio examinando se os contadores anteriores o conhecimento e as crenças sobre IFRS completo irão influenciar seus julgamentos de relatórios quando interpretação e aplicação do IFRS para PMEs. Analisar-se-á, melhor, no tópico acerca resultados e discussões.

 

3. METODOLOGIA

 

 O método pretendido para a criação e elaboração do estudo será qualitativo e, para que haja uma real clareza e entendimento do tema, buscar-se-á investigá-la por meio de pesquisa bibliográfica e documental, com o uso de referências teóricas, como livro, artigos científicos, monografias, dissertações, teses, ensaios virtuais e documentos conservados em arquivo de instituições púbicas e privadas, seja de forma virtual ou física. 

 A pesquisa não tem como objetivo enumerar ou medir eventos, mas sim obter informações descritivas que expressem as possíveis soluções acerca das lacunas apresentadas no presente trabalho e, para isso, faz-se necessário um levantamento de fontes relevantes sobre o tema para analisar as viáveis respostas da problemática aqui apresentada.  

Ademais, para compreender as estruturas arraigadas do tema, a abordagem da pesquisa deverá ser feita de forma investigatória, dado aos meios de busca de referências, bem como conhecimento acerca do assunto. A técnica utilizada para a pesquisa será qualitativa, visto que será necessária uma vasta investigação acerca do conteúdo a fim de correlacionar suas abordagens e perspectivas.  

No tocante à utilização dos resultados, a pesquisa irá buscar, precipuamente, conhecimento acerca das vantagens que o tema abrange, tanto para conhecimento didático, como para a uso diário, pois buscará aprimorar ideias que descrevem a situação do momento em que se ocorre a investigação, classificando e interpretando fatos. Quanto aos fins, a ampliação do conhecimento sobre a temática também se inclui nesta obra, tendo em vista sua importância no mundo atual.

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

A subjetividade envolvida em uma abordagem baseada em princípios para IFRS enfatiza a necessidade para induzir uma forma de exigência de justificação no julgamento dos preparadores. Por exemplo, os princípios da nova estrutura de julgamento profissional desenvolvida pelo Institute of Chartered Accountants of Scotland (ICAS) enfatiza a necessidade de uma documentação adequada no julgamento pelos preparadores, exigindo-lhes justificar apropriadamente por qual motivo eles concordaram com a solução final, em vez das opções alternativas disponíveis. (CHAND; PATEL; PATEL, 2010).

Portanto, a justificativa obriga os preparadores a avaliar a precisão dos julgamentos que têm feito. Averigua-se que os requisitos de justificativa podem desempenhar um papel importante no aumento da capacidade dos contadores de escolherem o tratamento contábil que reflete melhor a substância econômica de uma transação ao aplicar o IFRS para PMEs baseado em princípios. (RAM; NEWBERRY, 2017).

O processamento cognitivo dos profissionais aumentará, visto que os requisitos de justificativa criarão o estímulo para a recuperação imparcial a fim de comprovar e processar todas as informações pertinentes a respeito do contador e sua decisão nos relatórios financeiros, buscando defender seu resultado optado. (WHEELER; ARUNACHALAM, 2018).

 

Auxiliares de decisão podem ajudar um tomador de decisão na coleta, processamento e analisar informações e seu uso tem sido amplamente defendido como um julgamento e ferramenta de melhoria da tomada de decisão. Vários tipos de ajudas de decisão estão disponíveis, variando de simples instruções por escrito a sistemas complexos de apoio à decisão baseados em computador. Independentemente do tipo de auxiliares de decisão empregados, pesquisas anteriores em geral fornecem evidências de que eles impacto positivo no desempenho de julgamento. (LISIC; MYERS; SEIDEL; ZHOU, 2019).

Alguns estudos examinaram o papel dos auxiliares de decisão na melhoria da qualidade de tomada de decisão e julgamento na auditoria. O julgamento de auditoria é, muitas vezes, equipado com muitas formas de auxílios à decisão e muitos estudos nesta área têm analisado que estes melhoram a precisão e consistência dos julgamentos dos auditores. Alguns estudos atentaram-se, inclusive, que a tomada de decisão pode ser melhorada por vários tipos de auxílios a essa tomada, como uma lista de verificação instruções claras e diretrizes mais detalhadas. (SHANKAR; TAN, 2016).

Considera-se que um auxílio à decisão pode mitigar o viés de confirmação que surge dos efeitos do conhecimento prévio e crenças das normas contábeis sobre o comportamento de relatórios financeiros dos contadores. Emprega-se uma diretriz de interpretação escrita como um auxílio à decisão para examinar seu efeito sobre a mitigação do viés de confirmação no julgamento e na tomada de decisão. Instruções escritas reduzem os efeitos do viés cognitivo que ocorrem como resultado mantidos na memória por evidências associadas a crenças e hipóteses. (SHANKAR; TAN, 2016).

Por outro lado, contadores sem as diretrizes de interpretação podem não conduzir uma cuidadosa pesquisa de memória para escolher os princípios de reconhecimento e medição apropriados do IFRS para PMEs; em vez disso, eles podem confiar em evidências que confirmarão sua conhecimento prévio e crenças sobre IFRS completas. Consequentemente, espera-se que o viés de confirmação decorrente do conhecimento prévio e efeito de crença sobre julgamentos sejam mitigados como resultado da orientação de interpretação fornecida para os contadores. (CLARKSON; EMBY; WATT, 2012).

Em outras palavras, o presente estudo busca analisar o efeito do viés de confirmação decorrente de conhecimento prévio e crenças em relação ao IFRS completo sobre os julgamentos de relatórios de contadores ao aplicar o IFRS para PMEs. Por conseguinte, percebe-se, através do levantamento bibliográfico, que a mentalidade dos profissionais por trrás das demonstrações feitas mudam dependendo das hipóteses, isto é, os contadores possuem uma tendência em confirmar conhecimento prévio acerca do IFRS, o que torna improvável destes profissionais optarem pelo tratamento contábil que melhor reflete a substância economia de uma transação na aplicação do IFRS em PMEs.

Os resultados do estudo sugere, por conseguinte, que induzir uma forma de justificação quando os preparadores fazem julgamentos de relatórios para as PMEs podem eliminar o viés de confirmação associado ao conhecimento prévio e crenças. Reportar a superiores ou autoridades externas, principalmente, seria uma forma possível de justificativa para preservar a responsabilidade dos preparadores das demonstrações financeiras das PME.

O papel que os auxiliares de decisão desempenham na mitigação do viés de confirmação no julgamento dos contadores ao aplicar o IFRS para PMEs fornece novas evidências. Esses auxílios à decisão ajudam a atrair profissionais longe de seu quadro de referência original e os incentiva a fazer mais julgamentos precisos e imparciais, independentemente de seu conhecimento prévio e crenças sobre IFRS.

Tal resultado justifica uma investigação mais aprofundada para explorar por qual motivo os preparadores de demonstrativos ainda não estão dispostos a aceitar o IFRS para PMEs como um conjunto autônomo de normas. Estudos futuros podem examinar por qual motivo existem diferentes níveis de viés de confirmação entre os preparadores das demonstrações financeiras e como isso se relaciona com as diferentes estratégias cognitivas que estes podem desenvolver em contexto de aplicação do IFRS para PMEs. Essa pesquisa forneceria mais visão sobre o papel que o viés de confirmação decorrente de conhecimento prévio e as crenças sobre IFRS completas diminuem a qualidade dos relatórios financeiros das PMEs práticas.

 

REFERÊNCIAS

 

CHAND, Parmod; PATEL, Chris; PATEL, Arvind. Interpretation and application of “new” and “complex” international financial reporting standards in Fiji: implications for convergence of accounting standards. Advances In Accounting, New Delhi, v. 26, n. 2, p. 280-289, dez. 2010. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/271883905_Interpretation_and_application_of_new_and_complex_international_financial_reporting_standards_in_Fiji_Implications_for_convergence_of_accounting_standards. Acesso em: 02 nov. 2020.

 

CLARKSON, Peter M.; EMBY, Craig; WATT, Vanessa W.‐S.. Debiasing the Outcome Effect: the role of instructions in an audit litigation setting. Auditing: A Journal of Practice & Theory, Washington, v. 21, n. 2, p. 7-20, set. 2012. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/43442032_Debiasing_the_Outcome_Effect_The_Role_of_Instructions_in_an_Audit_Litigation_Setting. Acesso em: 02 dez. 2020.

 

KOPP, Lori S.; O'DONNELL, Ed. The influence of a business-process focus on category knowledge and internal control evaluation. Accounting, Organizations And Society, Dallas, v. 30, n. 5, p. 423-434, jul. 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/223332809_The_influence_of_a_business-process_focus_on_category_knowledge_and_internal_control_evaluation. Acesso em: 02 dez. 2020.

 

LISIC, Ling Lei; MYERS, Linda A.; SEIDEL, Timothy A.; ZHOU, Jian. Does Audit Committee Accounting Expertise Help to Promote Audit Quality? Evidence from Auditor Reporting of Internal Control Weaknesses. Contemporary Accounting Research, Maryland, v. 36, n. 4, p. 2521-2553, 31 ago. 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/333083552_Does_Audit_Committee_Accounting_Expertise_Help_to_Promote_Audit_Quality_Evidence_from_Auditor_Reporting_of_Internal_Control_Weaknesses. Acesso em: 01 dez. 2020.

 

MOORE, Don A.; BAZERMAN, Max H.; LOEWENSTEIN, George. Why Good Accountants Do Bad Audits. 2012. Disponível em: https://hbr.org/2002/11/why-good-accountants-do-bad-audits?cm_sp=Article-_-Links-_-Comment. Acesso em: 01 dez. 2020.

 

RAM, Ronita; NEWBERRY, Susan. Agenda Entrance Complexity in International Accounting Standard Setting: the case of ifrs for smes. Abacus, Austin, v. 53, n. 4, p. 485-512, dez. 2017. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/abac.12122. Acesso em: 01 dez. 2020.

 

SHANKAR, Premila Gowri; TAN, Hun-Tong. Determinants of Audit Preparers' Workpaper Justifications. The Accounting Review, New York, v. 81, n. 2, p. 473-495, 1 mar. 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/299082478_Determinants_of_audit_preparers'_workpaper_justifications. Acesso em: 30 nov. 2020.

 

WHEELER, Patrick R.; ARUNACHALAM, Vairam. The Effects of Decision Aid Design on the Information Search Strategies and Confirmation Bias of Tax Professionals. Behavioral Research In Accounting, Rosemont, v. 20, n. 1, p. 131-145, 1 jan. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/247874651_The_Effects_of_Decision_Aid_Design_on_the_Information_Search_Strategies_and_Confirmation_Bias_of_Tax_Professionals. Acesso em: 30 nov. 2020.