VIDAS PARALELAS

Não sei bem quando foi a primeira vez, mas sei que faz tempo que sinto, faz tempo que percebo. Tenho uma vida paralela, tenho muitas vidas paralelas. Não consigo ainda vivê-las duas ou mais ao mesmo tempo, mas as percebo. São relances em que vejo uma seqüência grande de fatos que eu vivi – tenho certeza – mas ao mesmo tempo tenho certeza que esses fatos não foram vividos por mim nesta dimensão. É isso a outra – as outras vidas são paralelas em outra dimensão. Algumas delas – a maioria – os personagens a minha volta são as mesmas, mas em outras seqüências, elas o são em outras cidades, em outras situações. Em algumas outras, alguns personagens estão presentes mas também há outros que não os conheço – pelo menos nesta dimensão ´- mas na outra elas fazem parte totalmente da minha vida. Porque? Como é isso? Como acontece?

O mais estranho é que é apenas um lapso de memória, uma raio rápido, durante o qual tento lembrar, tento registrar, mas é tão rápido que não consigo, alías é tão rápido que nem consigo lembrar em momentos seguintes. Ficam só aqueles flash.

Tenho pesquisado na internet, tenho conversado com algumas pessoas (somente aquelas que tenho certeza que não me pensariam em me internar), mas não tenho encontrado quase nada a respeito, muito menos informações de fatos semelhantes.

Isso me tem feito pensar na vida minha e verificar em quantos momentos dela houve encruzilhadas, em que eu tomei um caminho, mas haviam outros e se eu tivesse tomado um dos outros caminhos como seria a minha vida? Seria talvez essa uma das minhas vidas paralelas? Será que cada encruzilhada se cria mais uma vida paralela? Ou várias vidas paralelas quando há mais de uma opção naquele momento?

Mesmo quando a opção ainda não era minha, era dos meus pais, será que também estava sendo criada uma outra paralela. Nos inícios, meu pai tinha a opção de morar na cidade ou morar no sítio. Claro, que em cada uma dessas opções eu teria uma vida diferente, amigos diferentes, professores diferentes e portanto talvez outras perspectivas profissionais, políticas, etc. Teria outras namoradas...

Quando brincava com minhas primas, e seu tivesse engravidado uma delas, como seria a minha vida, seria outra com certeza, ou outras ou até nenhuma se um tio – pai de uma delas – me desse um tiro.

Quando brincava com as empregadinhas, e seu tivesse engravidado uma delas, como seria?

E seu tivesse aceitado trabalhar na prefeitura no emprego que meu pai havia arrumado? Estaria lá até hoje na cidadezinha do interior, tal como o meu amigo que foi trabalhar naquela vaga existente?

E seu eu não tivesse engravidado a minha namorada? Com certeza não teria me casado com ela, e aí não teria os meus filhos de hoje (isso não posso aceitar), ou talvez eles viessem a mim mesmo que eu tivesse casado com outra pessoa, mas aí eles não estariam na vida da minha primeira mulher. Ou então essa minha vida que eu sinto seria ela uma paralela?

Louco, muito louco, mas que há alguma coisa há, eu sinto, eu cheiro, eu percebo.

Quantas opções de trabalho eu deixei de lado em toda minha vida? Seria cada uma dessas opções uma outra vida?

Quantos mudanças de cidade? E se eu tivesse me negado a mudar para Rio Preto? Eu podia – claro que podia. E aí, não teria conhecido a Teresa, ou ela viria meu encontro de outra forma. Ou, novamente, essa vida atual com Teresa se eu não tivesse ido a Rio Preto seria uma vida paralela?

E seu eu tivesse engravidado a Eli?

E se eu concordasse em passar os domingos em Ponta Grossa com a Márcia?

E se eu tivesse ficado em definitivo com a Lú?

E se eu tivesse me envolvido mais com a Priscila?

E se, e se....

Tudo isso seriam novas Vidas Paralelas?

O interessante é que também tenho – ou tinha – sonhos repetitivos que parte dessa vida paralela também surgia, sem que eu entendesse ou sem que entenda ainda. Quando acordava, a sensação é que aquele sonho fazia parte de alguma coisa que tinha acontecido de fato e eu até ficava tentando me lembrar se tinha ou não acontecido. É claro que não. Não nessa vida. Mas com certeza em outra vida paralela.