VIDA E MORTE DE MANCHINHA

Autor: Francisco Silva Júnior

I

O relato que hoje conto

É de cortar o coração

Criou comoção geral

Indignou uma nação

Manchinha a protagonista

A triste história de um cão

II

Dois mil e quinze é o ano

Fogos, gritos e animação!

Uma família surpreendida

Pela chegada de um Cão

Assustada em desespero

Pelo imenso barulhão

III

No colo da Mariana

Grunhindo se aconchegou

Procurando por abrigo

Carinho, afeto e amor

Amparada e protegida

Rapidinho se acalmou

IV

Pai, Mãe, olha o presente!

Que o ano novo me deu!

Vou chama-la de Manchinha,

Chamou e ela atendeu

Obrigado meu Senhor

Pelo que me concedeu

V

Casa nova, vida nova!

Finalmente um novo lar

Comida, vacina e cama

Não há do que reclamar!

Cuidado, amor proteção

Manchinha a comemorar.

VI

Passear bem à tardinha

Rolar na grama, brincar!

Grudado em Mariana

Os outros cães implicar!

Voltar correndo pra casa

Parece nunca cansar

VII

Da casa logo Manchinha

Protege, torna-se a guardiã

Todos com seus compromissos

Saem cedo, de manhã

O Pai segue rumo ao trabalho

Mariana para o divã

VIII

As sessões de psicanálise

Deixaram de ser uma rotina

Mariana está mais feliz

Tudo graças a Manchinha

Que trouxe felicidade

Onde antes já não tinha

IX

Numa tarde de sexta feira

Tão logo abriu o portão

Foram todos surpreendidos

Pelo ataque de um ladrão

Com uma arma em Mariana

Deixou a todos sem reação

X

Manchinha vendo aquela cena

A Mariana buscou proteger

Mordendo a mão do ladrão

Deu tempo a todos correr

O bandido pegou a arma

E atirou por malquerer

XI

Manchinha fugiu ferida

O bandido também correu

A família em prantos chorando

Sem saber o que aconteceu

Só quando a polícia chegou

Foram ver o que se deu

XII

Tentaram de todo jeito

Manchinha localizar

Jornal, rádio e internet!

Buscaram em todo lugar

Compreenderam ser difícil

Da cadela escapar.

XIII

Machucada e agonizante

Manchinha foi encontrada

Embaixo de um viaduto

Onde ali foi resgatada

Por um catador de lixo

Sendo por ele tratada

XIV

Os ferimentos sofridos

Sequelas também deixou

Manchinha não conseguia

Lembrar aonde morou

Resquícios de um passado

De tudo bom que passou

XV

Andando junto ao anjo

Que a sua vida salvou

Todo dia uma aventura

Sofrimento e muita dor

Buscando a sobrevivência

E a família que a criou

XVI

Passaram-se três longos anos

E dois mil e dezoito chegou

Indo embora a esperança

Que Manchinha sempre guardou

De um dia voltar pra família

Que lhe deu muito amor

XVII

Dormindo pelas calçadas

Comendo o que o lixo dá

Lembranças da Mariana

Saudades do antigo lar

Dia a dia as boas lembranças

Manchinha ainda a guardar

XVIII

Entrou num supermercado

Buscando água e comida

À noite num canto qualquer

Procurava por guarida

E em cada um que passava

Buscava encontrar sua amiga

XIX

No outro dia cedinho

Foi acordada a pauladas

Um segurança malvado

Seguia as ordens lhes dadas

Para Manchinha expulsar

Pra longe, pra outras quebradas.

XX

Chorando, gritando de dor!

Por muitos foi amparada

Por um cinegrafista amador

Toda a cena foi filmada

Colocada nas redes sociais

Foi por milhares compartilhada.

XXI

Tentaram de toda forma

A Manchinha ajudar

Mas dessa vez o destino

Já estava a se desenhar

Manchinha se despediu

Sem Mariana encontrar

XXII

À noite o noticiário

Mostrava a atrocidade

Promovida pelo vigilante

A mando da autoridade

E o Carrefour recebeu

A fúria de uma cidade

XXIII

Ao ver aquela matéria

E a foto de Manchinha

Mariana caiu em prantos

Que falta de sorte a minha

A poucos metros de casa

Estava minha cachorrinha

XXIV

Como gesto humanitário

O seu corpo foi buscar

Dar-lhe um enterro digno

Pra Manchinha descansar

Recompensar as alegrias

Que ela trouxe ao nosso lar

XXV

Manchinha tornou-se símbolo

De proteção ao animal

Uma grande manifestação

De repercussão nacional

Para que nunca esqueçam!

Não é só uma vida! Não desmereçam!

É a vida de um animal!

 

Descanse em paz Manchinha.