Dentro do onibus, a caminho do trabalho, Maria olhava o sol nascendo por entre os predios.
Era um sol alaranjado, sem brilho. O sol de uma manhã fria de inverno.
Não transmitia nem calor e nem frio, mas ainda assim era o sol.
A cor daquele sol, fez com que ela se lembrasse de um vestido que comprou e nunca usou.
Lindo ! Caia perfeitamente bem em seu corpo.
Mas era decotado demais, insinuante demais, vistoso demais.
Não tinha nada que combinasse com aquele vestido e tampouco teria uma ocasião para usa-lo.
Desculpas aceitaveis para não admitir que, aquela peça de roupa transmitia vida, alegria, paixão, coisas que Maria acreditava não ter mais.
A insistente permanencia do vestido em seu armario a lhe sorrir toda manhã, lhe oprimia.
Por incontaveis vezes ela pensou em jogar fora ou dar a alguem o vestido com flores alaranjadas. Mas alguma coisa a impedia.
Então, tirava o vestido do cabide e o vestia e em frente ao espelho, sentia uma força, uma energia estranha lhe dominando.
Sentia-se bela, corajosa, poderosa!
Olhava para os olhos daquela mulher refletida no espelho e via neles a felicidade.
O sol agora, já estava acima dos predios.
Sua cor havia mudado e começava a brilhar lentamente.
Maria lembrava do dia em que comprou o vestido. Deveria ter sido uma ocasião especial, um encontro que poderia ter mudado sua vida.
Pronta e de saida, parou para dar uma ultima olhada em si mesma diante do espelho e algo aconteceu. Mudou de ideia.
Ligou para Eduardo desmarcando o encontro com uma desculpa qualquer.
Ainda na frente do espelho, sentia-se aliviada por ter tomado aquela decisão, pois sabia onde o encontro os levaria e como iria acabar.
Mais cedo ou mais tarde, ela e a esposa de Eduardo iriam sofrer.Então, melhor nem começar.
Este pensamento, fez com que se sentisse decente, generosa e vitoriosa por evitar a dor e o sofrimento que viria com certeza, para essas duas mulheres.
Mas hoje, a caminho do trabalho, olhando o sol que agora tinha uma cor vibrante e espalhava seu calor; lembrando do vestido "vivo", escondido em seu armario, ela se questionava.
Será que tinha feito a escolha certa? Não teria sentido medo de ter aguns momentos de felicidade, de paixão, carinho?
Em algum lugar dentro de Maria, havia a certeza de que a felicidade vem sempre em doses pequenas e que são temporarias. Então porque deixou passar essa chance?
Sentiu-se covarde, mas era tarde demais pra voltar atráz.
Consolou-se ao lembrar do vestido no armario, esperando, esperando, esperando.....................