A história é um grande tabuleiro de xadrez. E sempre existem alguns adversários que se enfrentam, provocando alterações das peças numa incrível partida ainda sem vencedor.

O fato é que quando olhamos para a Europa de mais de 1500 anos atrás, percebemos que há muito tempo tudo estava mudando, no Velho Continente. Desde o sec. XI, a religião, os saberes, a concepção de mundo, a geografia, a economia… o mundo já não era o mesmo. E todas essas mudanças e transformações juntaram-se forjando mais uma novidade histórica: o Renascimento, que se concretizou entre os séculos XIV e XVI.

No grande jogo de xadrez da história, o Renascimento foi consequência de uma sucessão de jogadas entre dois mundos, caracterizando dois jogadores: a Europa cristã e o Oriente islâmico.

Mas antes disso muita coisa aconteceu. Vejamos algumas dessas jogadas que provocaram grandes mudanças até chegar a esse importante ponto, chamado de Renascimento.

Até o século XI, e pouco depois, a Europa era um emaranhado de sistemas feudais (sistemas feudais porque não havia somente um modelo de feudalismo). Nesse universo, havia pequenos reinos e nobres brigando entre si para dominar um pedaço de terra a mais. A Igreja, tirava vantagem disso, pois quase todos esses reinos eram católicos e os nobres respeitavam, acatavam ou pelo menos temiam o poder do Papa com seu exército e a possibilidade dele decretar a excomunhão dos desafetos.

A economia europeia baseava-se na autonomia e autossuficiência dos feudos com raras trocas de mercadorias. Uma das poucas atividades comerciais era a compra de especiarias e tecidos finos do oriente.

Mas surgiu o Islamismo. A religião criada por Maomé, no século VIII. E o islamismo se expandiu rapidamente. Primeiro para difundir a fé islâmica. E também para ampliar seus mercados. Com isso expandiu, também, a aquisição e desenvolvimento de novos saberes. Em sua expansão chega à África ajudando no desenvolvimento de alguns povos africanos. Além de se instalar em quase toda a região arábica. Inclusive os muçulmanos dominaram Jerusalém, a chamada Terra Santa, que até então era um reduto dos católicos.

Com a tomada da Terra Santa os muçulmanos fizeram uma jogada que desencadeou uma sucessão de outras grandes jogadas no tabuleiro do xadrez da história: obrigou os Europeus a saírem de seu secular marasmo. Desacomodando-os e obrigado-os a olhar para o outro lado Mar Mediterrâneo.

Tudo isso, principalmente, no século XI. O papa convocou os reis e nobres e outras pessoas e lhes disse que todos precisavam se armar e retomar a Terra Santa. Disse que isso era imperativo de fé: pegar as espadas e levantar um estandarte. Ambos com o simbolo da cruz de Cristo. Estava nascendo o movimento das cruzadas. Os monarcas aderiram. Foram à guerra em oito cruzadas entre os anos de 1096 até 1270.

Essas cruzadas, entretanto, não atingiram seu objetivo religioso. Mas desencadearam várias outras jogadas no tabuleiro da História: contribuíram para o fim do feudalismo; desenvolveram a navegação pelo Mar Mediterrâneo; trouxeram novas necessidades e ajudaram a impulsionar o comércio; ajudaram no fortalecimento de uma nova classe social, a burguesia. Por causa das cruzadas aumentou a hostilidade entre cristãos e muçulmanos… mas, talvez, a principal contribuição desses atritos entre cristãos e islamitas tenha sido o desenvolvimento dos saberes. E, principalmente, para os saberes islâmicos chegarem à Europa.

Isso nos permite dizer que as cruzadas, na realidade os soldados sobreviventes, foram os ventos das mudanças que estavam chegado à Europa. No tabuleiro da História as peças estavam executando um novo e importante movimento… Estavam se tornando o solo fértil para o desenvolvimento do Renascimento.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação,filósofo, teólogo , historiador.

Rolim de Moura – RO