Minha Sobral de velhos tempos  

Tenho saudade d’aquele tempo

De criança com pé no chão,

Brincando de chicote queimado; amarelinha.

Na imortal, Praça do São João,

Do menino travesso batendo bola.

Nas quadras do Jeromão.

 

Saudade da minha Cidade Januária

Terra de Dom José: Maior benfeitor,

De Renato Aragão: Didi Mocó

De Domingos Olímpio: escritor.

Do Barão de Sobral: José Júlio

E Visconde de Sabóia: O maior doutor. 

  

Nas noites invernosas

Da úmida calçada molhada,

Tirando o cai no poço.

Uma eterna namorada,

No cair das águas frígidas

De minha singela morada.

 

Dos vizinhos de minha rua

Na mercearia do Sr. Roseno,

No balcão: drops, cocada e quebra-queixo.

Com venda de querosene,

A quitanda tem de tudo.

Pra formiga e pernilongo: Há veneno.

 

Saudade D’aquele tempo!

De criança, só de roupão,

Das famílias nas calçadas.

Correndo só de calção,

Ouvindo as anedotas

Do Zé Madeira, Sr. Melo e Sebastião.

 

Do grupo Escolar

Da Antiga Praça do Siebra,

Ao desfile do Dia Sete,

Do português de Dona Genebra.

Vestindo calça azul e branca,

Do povo, nas praças; a espera.

 

Dos amigos Jansen, Iweltman, Gilson

No racha do casarão do Sr. Manés

Da Escola TOPO GIGIO,

Do refresco com pastéis.

Saudade desse tempo!

Da Fábrica de Mosaico do Dedéis.

 

Do tempo de banco imobiliário

De copo e caipira na mão

Feitos de carteiras de cigarro,

Outros, jogando o pião

Na calçada do Padre Gonçalo.

Os amigos, clamando em voz alta

Aos vencedores: Campeão!

 

Das oiticicas no Rio Acaraú

Na Ponte Othon de Alencar,

Nas profundezas das águas.

Matando a fome com Juá,

Descendo às margens do rio.

Nas ribanceiras a atracar.

 

Dos doutores da rua

Do farmacêutico Françoar,

Da enfermeira Matilde.

Da família do Senhor Carcará,

Das siriguelas de Dona Clotilde

Das groselhas, no muro do Baltazar.

 

Saudade! Da diretora Dona Laíz

Do Imortal Grupo Escolar,

Do cheiro e pó de madeira,

Da serraria do Senhor Ribamar.

Do compadre Luiz Aquino,

Nas férias no Caracará.

 

Das tertúlias na Rua do Oriente

Da churrascaria Curtição,

No cantinho com luz negra

Do churrasco, no CHICÃO.

Do Salão de beleza da Fátima

Do primo, Chico Lampião.  

 

Do barulho de sua ambulância 

O motorista: Chico Fonteles,

Dos coqueiros do Benedito Frota.

Do curral do Miguel Teles,

Cedinho, o leite mungido.

O capataz; caboclo Meireles

 

Do lojista, Chagas Mouta

Do Senhor Antônio capoteiro,

O Zé Ivan, amigo traquino.

Do Artur, o engenheiro,

Do pescador, Zé do Carmo

E do Zé Bode; Carvoeiro.

 

Dos Melos, o barulho dos tratores

O som do rádio, do Zacarias Sena,

Do Cerzinha, Roger, Petrônio.

Da beata Iracema,

Dos meus amigos doutores

No Cine Alvorada: Ávido Cinema. 

   

Da colossal Tamarineira

No entardecer de verão

Remanescendo as calçadas,

Da Matriz Nossa Senhora da Conceição

Nas ruas, as cavalgadas,

Dos leigos, rumos à procissão.

 

Em destaque, a eclesiástica Sobralense

Padre Lira, e Sadoc: O escritor,

De Dom Expedito e imortal Padre Osvaldo

De Zé Linhares; o mantenedor

Padre Mororó: físico, botâmico e poeta,

Do Santo Pe. Ibiapina, beatificado com fervor.

 

Saudades dos velhos tempos

Dos carnavais, a bailar,

Nos desfiles de rua

Das prosas na mesa dum bar.

Da turma do ginasial

Do famoso Grupo Escolar.

 

Do tempero da vovó

De comida caseira; do famoso baião,

Milho verde, tapioca e queijo,

Do fogo à lenha.Toucinho no fogão.

Dos feriados em família,

Na festa de São Pedro, Antônio e São João.

 

Saudade da antiga Caiçara

Na imponente Rua da Estação,

Do majestoso trem a assoviar

Na espera, a descomunal multidão.

Com destino: Ipú, Granja e Camocim,

No século XIX, era grande a emoção.