VEJO TUDO
Belo Horizonte, 09-12-1976

Sob um mar de águas claras,
Sob uma floresta de grandes clareiras,
Sob um sol cinzento e escuro
Eu me perdi.
Sobre um mar de verdades recônditas,
Sobre uma floresta de mentiras alumiadas,
Sobre um sol leitoso e fosco
Eu me encontrei.
Era triste o resumo de tudo que existia.
Tubarões engoliam sardinhas,
Cascavéis engoliam minhocas,
Júpiter engolia a lua.
Vi tudo como espectador
Atento a uma disputa.

Grandes engoliam pequenos,
Gordos engoliam magros,
Brancos engoliam negros,
Trágicos acontecimentos.

O sangue corria numa grande cachoeira,
A água corria nas veias dos angustiados.

Tudo era sangue, tudo era fogo.
Tudo era caos, tudo era tempestade.
Os mais fracos queriam ganhar
Mas não agüentavam lutar até o fim.