VALORES INTANGÍVEIS SÃO VOLÁTEIS
Odaci Lima
RESUMO:
O presente trabalho é uma versão melhorada e ampliada de um texto intitulado "CASTELO NA AREIA", contido no artigo "NOVA POLÍTICA PARA O NORDESTE" em que, entre outros, o autor condena o exagerado prestígio que tem sido conferido aos valores intangíveis,acreditando que isto é a causa das crises constantes que ocorrem nas bolsas de valores.

Há quem acredite ser, o capital humano, a principal fonte de valor, qualquer que seja o conceito de desenvolvimento. Valor, este, que pode ser encontrado nos bens intelectuais, nas tecnologias, no conhecimento aplicado, etc. Mas "o desenvolvimento também requer o crescimento de níveis de cooperação e confiança entre as pessoas", (PAULA)1 Sem essa rede de conexões é impossível gerar um desenvolvimento sustentável. O Brasil, por exemplo, apesar de ser uma potência econômica, esteve, nas últimas décadas, alternando períodos de estagnação econômica com outros de crescimento insuficiente, por falta de interação e reprodução, ou aproveitamento inteligente dos valores intangíveis.

Deve-se levar em conta, também, a velocidade com que as mudanças ocorrem, tal é o intervalo e a frequência das ideias e invenções É inegável que paradigmas antes inquestionáveis são derrubados,diariamente, e novos paradigmas assumem seu lugar. Consenza admite que, no terceiro milênio, os negócios empresariais estarão baseados mais em informações, conhecimento e inteligência do que em ativos tangíveis, como prédios, fábricas ou outros bens materiais.( CONSENZA)2 Isto, porém, só vem dificultar as coisas, uma vez que com o advento dos valores intangíveis nas empresas (idéias, marcas,franquias,conhecimento, crédito bancário e confiança no serviço que oferece e na qualidade do produto) os sistemas contábeis não conseguem captar esta realidade e,portanto,não conseguem avaliar os patrimônios de forma adequada. Assim sendo, o resultado dos seus "cálculos" não é confiável. No entanto, o tema vem despertando cada vez mais interesse entre os economistas, à medida que os intangíveis ampliam seu espaço na "Economia do Conhecimento". As novidades são sempre muito apreciaeis. Mas a vigilância desse espaço não permite descuido. Veja por exemplo que as dificuldades em contabilizar os intangíveis provêm do fato de que seu valor é indireto, ou seja, o intangível só é sustentável quando em função do palpável, algo que o complementa e põe em evidência, quase materializando-o.
Julgo que onde quer que se manifestem, os valores intangéveis devem ser administrados com cuidado, para não exorbitarem de sua órbita imaaginária. É evidente que os limites válidos dos valores ditos intangíveis prendem-se ao fato de nunca serem mais do que ressonâncias de ocorrências havidas com valores tangíveis. Acredito que a exacerbação destes valores é a causa primeira das grandes crises que, periódicamente, ocorrem nas Bolsas de Valores,levando as autoridades ao desespero e as economias das nações à quase falência.
É como construir castelos na areia.
Nunca é demais lembrar que ao comprar uma ação, debênture ou outro papel negociável, o investidor não estará comprando, apenas, um pedacinho de uma empresa. Certamente, no valor do título adquirido estarão embutidos os valores da expectativa dos diversos agentes envolvidos na transação, com respeito à rentabilidade, liquidez e risco de perda. Em vista disso, seria conveniente que as grandes economias mundiais criassem mecanismos de controle do mercado de capital, considerando que valores intangíveis têm estado revestindo, diretamente, os valores reais dos papéis negociados, e, indiretamente, os valores reais da estrutura econômica, tornando-os voláteis e sensíveis às emoções da coletividade.
Compreendo que o cidadão tenha o direito de por em risco a sua própria riqueza, quando assim o desejar; mas não que o tenha quando o que está em jogo é a riqueza da Nação.
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Referências bibliográficas
PAULA, Juarez de: Desenvolvimento é coisa séria" In: Aaminoá-ci-dos, AED, Brasília,DF, 2000.
CONSENZA, José Paulo: "Perspectivas para a profissão contábil num mundo globalizado".RBC, Brasilia, DF,2001