UTOPIA
Nazaré, 06-03-1995

Granadas, explosões
Os homens correm a cidade.
Nas pernas, uma calça rota
No peito, uma camisa broca,
No pescoço, uma corrente
Pendurada, uma granada.
Seria um kamikasi?
Não! São brasileiros
Tomando suas casas de assalto.
De repente surge o líder,
Barbudo e cabeludo,
Com uma arma pesada nas mãos
E grita pros desgraçados:
Abaixo a escravidão!
Junta a elite em providencia
E manda o exercito
Esmagar a rebelião.
O exercito vai fundo
Querendo fazer da cidade
O genocídio de Canudos.
Gasta suas balas
Mas são espezinhados pela Revolução.
Não adianta exercito
Contra um povo faminto.
Os soldados atiram
E a razão come as balas.
O exército, meio perdido,
Sem ter a quem recorrer, grita:
A munição acabou e não matamos a todos!
Desgraçados, vão morrer!
Pobres coitados
Tísicos e animalizados.
É gente do povo

Que são contratados
Pelos donos da nação,
Só para garantir
A invasão em suas terras.
A desgraça sobre seu povo.
Eles vão em troca
De um pedaço de pão.
Quando ficam velhos
Se for branco, é General
Se for negro,
Pobreza total...
E me lembro que os revolucionários
Tomaram toda a nação.
E eu, o poeta
Fui destacado para fazer a triagem
Da pós-revolução.
Ah!... foi um prazer... quase um orgasmo.
Fuzilei quase a metade
Dessa antiga nação.
Só não fiz mais
Porque derreteu o fuzil.
Então eu fui com a mão,
Liguei a televisão
E vi o povo da Rússia
Gritando por Lênin e Stalin.
Agora é tarde...
O desespero vai ser o mesmo
Do começo da revolução.
Eles entregaram o país,
E o capitalismo passou a mão.
Quem sabe, na terceira guerra
Vocês se lembrem como nação?

Homens de paletó e gravata não fazem a revolução.