Utopia
Por GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA | 12/03/2011 | PoesiasUTOPIA
 Nazaré, 06-03-1995
 
 Granadas, explosões
 Os homens correm a cidade.
 Nas pernas, uma calça rota
 No peito, uma camisa broca,
 No pescoço, uma corrente
 Pendurada, uma granada.
 Seria um kamikasi?
 Não! São brasileiros
 Tomando suas casas de assalto.
 De repente surge o líder,
 Barbudo e cabeludo,
 Com uma arma pesada nas mãos
 E grita pros desgraçados:
 Abaixo a escravidão!
 Junta a elite em providencia
 E manda o exercito
 Esmagar a rebelião.
 O exercito vai fundo
 Querendo fazer da cidade
 O genocídio de Canudos.
 Gasta suas balas
 Mas são espezinhados pela Revolução.
 Não adianta exercito
 Contra um povo faminto.
 Os soldados atiram
 E a razão come as balas.
 O exército, meio perdido,
 Sem ter a quem recorrer, grita:
 A munição acabou e não matamos a todos!
 Desgraçados, vão morrer!
 Pobres coitados
 Tísicos e animalizados.
 É gente do povo
 
 Que são contratados
 Pelos donos da nação,
 Só para garantir
 A invasão em suas terras.
 A desgraça sobre seu povo.
 Eles vão em troca
 De um pedaço de pão.
 Quando ficam velhos
 Se for branco, é General
 Se for negro,
 Pobreza total...
 E me lembro que os revolucionários
 Tomaram toda a nação.
 E eu, o poeta
 Fui destacado para fazer a triagem
 Da pós-revolução.
 Ah!... foi um prazer... quase um orgasmo.
 Fuzilei quase a metade
 Dessa antiga nação.
 Só não fiz mais
 Porque derreteu o fuzil.
 Então eu fui com a mão,
 Liguei a televisão
 E vi o povo da Rússia
 Gritando por Lênin e Stalin.
 Agora é tarde...
 O desespero vai ser o mesmo
 Do começo da revolução.
 Eles entregaram o país,
 E o capitalismo passou a mão.
 Quem sabe, na terceira guerra
 Vocês se lembrem como nação?
 
 Homens de paletó e gravata não fazem a revolução.