Uso sustentável de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa)

 

Thaís Lourençoni¹; Elisangela Dellai da Silva¹; Elizangela Soares Major Lourençoni²

( ¹* ) Licenciada em Ciências Biológicas – UNEMAT – Alta floresta - MT.

( ²* ) Especialista em Pscicopedagogia pela AJES/MT.

( ¹* ) Autor para correspondência : [email protected]

 

            A castanha-do-brasil (Bertholletia exelsa), popularmente conhecida como castanha- do- Pará, é uma planta nativa da Amazônia pertencente a família Lecythidaceae, árvore de grande porte podendo emergir até 60 m de altura e diâmetro de 100 a 180 cm (LORENZI,2000). O fruto é denominado como ouriço, tem forma esférica e varia em seu tamanho, podendo atingir de 200 g a 1,5 kg. No interior do fruto estão contidas as sementes, e em media, cada ouriço possui 18 sementes denominadas castanha-do-brasil (BEHR, 2004). Esta árvore é símbolo da Amazônia, em virtude da sua importância social, ecológica e econômica para a região (SILVA et al.,2013). Segundo Locatelli & Souza (1990 citado por Pedrozo et al,. 2011), a castanha-do-pará tem alto valor econômico devido ao aproveitamento de suas amêndoas (que contêm cerca de 60 a 70% de lipídios e 15 a 20% de proteínas). Utilizada na a alimentação humana e animal, “in natura”, ou transformadas em vários subprodutos (FREITAS et al., 2007).

            Trata-se de uma espécie com grande valor econômico, tanto por suas sementes nutritivas e ricas em selênio quanto por sua madeira (Camargo, 2010). No entanto, a exploração de exemplares nativos dessa árvore é protegida por lei nacional federal nº 4.771, que impede a derrubada, mas permite seu plantio em sistema de monocultivo ou consorciado (Locatelli et al., 2008). A Madeira é indicada para a construção civil e naval, marcenaria, carpintaria, artesanatos, brinquedos, instrumentos musicais, etc. A casca do tronco e a água da maceração dos frutos (ouriço) são utilizadas na medicina popular como tônico, diurético, anti-diabetes e micoses superficiais da pele (LIMA et al., 2002).

            As amêndoas em estudo realizado na elaboração da bebida de soja e castanha-do-brasil podem ser indicadas por ser considerada uma alternativa para o consumo de alimento à base de soja, levando-se em conta o aspecto sensorial, e o aproveitamento da castanha-do-brasil, matéria prima nacional pouco aproveitada industrialmente no mercado interno. (FELBERG, 2004).

            Segundo Homma (2004), com o fim do ciclo da Borracha a castanha-do- Brasil passou a ser o principal produto extrativista de exportação. O Brasil é o segundo país exportador de castanha-do-brasil, perdendo apenas para a Bolívia. Esta atividade sustenta milhares de extrativistas da região. Porém, com a povoação do norte do país, cresceu os impactos ao ambiente, pela implantação de novas atividades totalmente intensivas, assim, o desafio dos pequenos produtores que habitam a Floresta Amazônica, é reverter o processo de degradação para obter uma agricultura sustentável, reforçando a agricultura familiar, promovendo sua diversificação por sistemas agroflorestais (SAFs), a gestão dos recursos florestais remanescentes, limitando a expansão da pecuária bovina (BECKER e LÉNA, 2002 ).

            A prática da agricultura familiar na Amazônia, especialmente no Sudeste do Pará, tem representado muito mais que fonte de emprego e renda para as milhares de famílias instaladas no local. Apresenta a ampliação da possibilidade da reprodução social camponesa, a oportunidade de recuperar a identidade social camponesa a partir da recuperação dos vínculos com a terra e o desenvolvimento de sistemas familiares. No Brasil, a categoria social de famílias camponesas, enfrenta o processo de desterritorialização, consequência de uma estrutura agrária que privilegia a concentração de terras nas mãos de poucos, sem valorizar outras formas de uso da terra. (LASAT e MDA,2006).

            Alguns autores argumentam que o extrativismo, é alternativa viável de fonte de renda para as populações que precisam dos recursos florestais para sobreviver (Cavalcante, 2002; Bayma et al., 2009 citado por SILVA et al., 2013). Para Shackleton (et al.,2007), a castanha, além de ser um alimento, tem outro ponto positivo: o excedente da coleta é comercializado, minimizando o avanço da pobreza. Pedrozo (et al,. 2011), destacam que o extrativismo é importante, pois, além de contribuir com a renda familiar, desacelera ou impede o avanço do desmatamento.

            Segundo Embrapa (2011) o sistema agroflorestal (SAFs) é uma forma de uso da terra na qual se combinam espécies arbóreas lenhosas “frutíferas e madeiras” com cultivos agrícolas ou animais, de forma simultânea que interagem economicamente e ecologicamente, minimizando os impactos ambientais. A coleta da amêndoa da castanha-do-brasil, por exemplo, é feita principalmente entre os meses de dezembro e janeiro, e praticada por pequenos produtores que moram na área rural e por povos indígenas. Sua utilização é mais frequente nas áreas medicinal, alimentar e cosmética. Os maiores castanhais estão presentes nos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso. Além da importância social que a castanheira tem para os povos da Amazônia a sua venda produz um grande valor para a economia local.

            Noventa per cento (90%) da castanha-do-brasil produzida, é exportada para os seus maiores compradores, sendo eles: EUA, Inglaterra, França, Alemanha e Itália. Contudo sua comercialização interna é importante fonte de renda para agricultores e povos indígenas que vivem na Amazônia (OLIVEIRA et al.,2010).

            Devido ao agradável sabor e reconhecido valor nutricional, a castanha-do-brasil pode alcançar o consumo considerável e ser incorporada ao cotidiano alimentar da população brasileira. Pois, a obtenção de produtos derivados de castanha-do-brasil vem sendo estudada há algum tempo. Relembrando que a busca por alimentos mais nutritivos e saudáveis, tem crescido, levando a população a consumir alimentos de baixo teor calórico, com menor teor de gordura e sem colesterol, seja por razões médicas, filosóficas ou religiosas (CARDARELLI e OLIVEIRA, 2000).

            A castanha-do-brasil é uma oleaginosa, considerada alimento funcional com sua grande quantidade de gorduras poli-insaturadas, que protegem o coração e trazem outros benefícios à saúde. São ricas em vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio, zinco, selênio e biotina, sendo um poderoso antioxidante (REZENDE, 2013). Rica em gordura vegetal de boa qualidade, as quais auxiliam na oxidação de gorduras ruins como o LDL colesterol. Reduzem o nível de colesterol ruim e aumenta o HDL, o “bom” colesterol, responsável por limpar as artérias, prevenindo doenças cardíacas. Conta com a presença de selênio, um potente antioxidante que protege as células contra os radicais livres, além de conter bons níveis de Vitamina E (CHAVES, 1967, citado por PAULA, 2013; ROCHA et al, 2014).

            Em uma pesquisa preliminar realizada com a população ribeirinha de Porto Velho, para identificar plantas medicinais utilizadas contra a malária, teve como pré resultado a utilização do chá da casca da castanheira-do-brasil, no combate a malária . Deste modo, foi avaliado a citotoxicidade da planta frente às células de defesa (macrófagos), a atividade in vitro frente à cepa do Plasmodium falciparum e a atividade in vivo frente à cepa Plasmodium berghei. A Bertholletia excelsa demonstrou bons resultados que merecem sua continuação no seu isolamento, purificação e na confirmação de ser um promissor antimalárico (SOUZA, 2010;  2013).

            O ouriço da castanha-do-brasil pode ser usado como combustível e na confecção de variados objetos, como cofres, farinheiras, vasos, porta-joias, cinzeiros, etc. (Müller, 1981). O chá de sua casca também é empregado para o tratamento de males do fígado, na Amazônia brasileira (Brandão, 2014). A infusão de suas sementes é utilizada para problemas estomacais e o seu óleo é atualmente usado na composição de sabonetes, shampoos e produtos para cabelos (PETRY et al., 2005).

            Em estudo realizado por Mendes ( et al.,2007), a casca da amêndoa e o ouriço da castanha expressaram resultados expressivos de matéria orgânica, presença de micronutrientes: cálcio, magnésio fósforo e ferro, assim, mostrando uma nova alternativa para o melhoramento do solo do que a própria natureza dispõem.

            A partir destas considerações, percebe-se que, a castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) deve ser mais estudada no âmbito medicinal, alimentício e rural, por se destacar entre os três pontos básicos da sustentabilidade. Visto que cresce a procura por alimentos mais saudáveis e atividades sustentáveis que atinjam três pontos básicos o econômico, o social e o ecológico.

 

Referencias

 

BECKER, B.K.; LÉNA, P. Pequenos Empreendimentos Alternativos na Amazônia. UFRJ, 2002.

BEHR.C.S. Efeito de uma dieta enriquecida com castanha-do-brasil (Bertholletia exelsa, L.) no estado nutricional relativo ao selênio de idosos não institucionalizados. Dissertação (mestrado) Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. São Paulo, 2004.

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