INTRODUÇÃO

A leitura para ser compreendida se faz necessário o domínio de diversas habilidades em diferentes contextos, onde ela é apresentada com características diferenciadas, de forma que contribua para o aprimoramento nas atividades realizadas na vida social, sendo capaz de ampliar o repertório dos estudantes com o desenvolvimento do senso crítico e o estímulo para uma competência leitora de construção de significados.

         Atualmente apenas ler não é suficiente para a inserção do leitor no mundo social, é fundamental que a leitura seja realizada de forma significativa, pois a cada dia a sociedade exige uma compreensão leitora maior na perspectiva de mudanças em relação ao grande número de sujeitos que leem e escrevem sem saber fazer uso fluente da leitura e da escrita.

            A leitura não é decodificação de letras, mas, um processo interativo de co-produção de sentidos considerado, então, como uma atividade construtivista que está sempre nos favorecendo no crescimento educacional. Portanto, se faz necessário exigir do leitor o reconhecimento do sentido das palavras e estrutura do texto.

O leitor que, diante de um texto escrito, tenha a autonomia suficiente para atuar desde a decodificação da mensagem no seu aspecto literal até o estabelecimento de um conjunto mínimo de relações estruturais, contextuais que ampliem a significação do texto a tal ponto que se possa considerar ter havido, efetivamente, apropriação da mensagem, do significado na multiplicidade de relações estabelecidas entre texto e leitor, entre textos, com o mundo. (Lajolo, 1999, pág. 105)

Nesse sentido, Solé (1998, pág. 24) afirma que “(...) para ler, é necessário dominar as habilidades de decodificação e aprender as distintas estratégias que levam a compreensão”.

Desta forma a leitura oferece ao leitor uma compreensão significativa o que implica reagir ao texto dando-lhe respostas concordantes ou não, assimilando-o fazendo seus próprios significados à vida social e acadêmica. É importante, assim, que cada professor em sua sala de aula vincule ­ através da leitura ­ conteúdos e/ou conceitos específicos da área em que atua com a vida de seus alunos, solicitando-lhes que leiam sobre aspectos de suas vivências socioculturais, propondo que esses textos sejam lidos para os colegas e discutidos em sala de aula. Cada professor lerá esses textos com interesse, pelo que querem expressar e não apenas para corrigir o Português ou verificar o acerto de suas respostas. Orientará novas leituras, sempre que necessário, para que digam com mais clareza e mais riqueza o que querem dizer.

Nas sociedades letradas, ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder as demandas da sociedade. Sendo assim, para não falar em práticas de leitura é imprescindível entender, os conceitos de letramento e alfabetização. Segundo Soares (2003, pág.18): “Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizado, mas não é letrado”.

É necessária uma nova maneira de ver, um jeito diferente de propor caminhos no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita de modo significativo tanto para crianças como para jovens e adultos.  O interesse pela leitura nasce da prática e da relação que seu conteúdo tenha com os interesses pessoais e profissionais, para isso, podemos afirmar que o leitor se forma lendo um bom livro.

Leitura boa é a leitura que nos empurra para a vida, que nos leva para dentro do mundo, que nos interessa viver. E para que a leitura desempenhe esse papel, é fundamental , em que o ato da leitura que se lê, faça sentido para quem está lendo. (Freire 2003, pág.5).

 O trabalho de leitura na escola deve começar pelo professor, que conduza a criança a aproximar-se do livro, que auxilie na superação das dificuldades de compreensão, que amplie seus conhecimentos e cultive o gosto pela leitura. O professor, então, deve também transmitir, com esse desenvolvimento cognoscitivo, o prazer da leitura e a ampliação de mundo que essa leitura favorece. Soares (2009, pág.69) ressalta que esse trabalho de leitura deve envolver os diferentes gêneros dentro dos diversos componentes curriculares no desenvolvimento das habilidades. Para aprofundar essa reflexão a respeito dos diferentes textos é importante caracterizar toda a estrutura textual de cada gênero, a tipologia pertencente e função que exerce na prática social em que está inserido.

REFERENCIAL TEÓRICO

Ensinar a ler não é uma questão simples, porem é necessário uma busca constante por parte do professor na perspectiva de mediar à compreensão leitora dos seus alunos, um processo que se torna mais fácil quando o professor utiliza estratégias de compreensão leitora e motivadora que possibilite ao aluno, desenvolver estruturas conceituais com maior vivacidade, com coerência e coesão.

A aquisição da leitura deve garantir que o sujeito compreenda o que leia para que possa construir suas ideias a partir do que foi extraído e que lhe interessa em função de seus objetivos. Isto é possível mediante uma leitura individual e precisa que permita parar e pensar, recapitular e relacionar a informação com o conhecimento prévio, formular perguntas, decidir o que é importante e o que é secundário. É um processo interno, mas, deve ser ensinado dentro da sala de aula.

Freire (1989, pág.11), ressalta que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura dê continuidade a compreensão do texto a ser alcançada pela sua leitura crítica perceptiva de um contexto. Por isso, é importante que o professor tenha sensibilidade para perceber as dificuldades dos estudantes e intervenha satisfatoriamente levando-os a construção da leitura como processo de aprendizagem formando leitores capazes de aprender a partir do contato com os paradidáticos.

A compreensão de textos é uma atividade complexa e envolve múltiplos processos cognitivos, uma competência que depende de várias habilidades que incluem, dentre outras, a capacidade do leitor de criar suas próprias estratégias de compreensão adequando-as às características do texto. Esse conjunto de habilidades é conceituado como estratégia de leitura, um método que os leitores usam para adquirir a informação ou informações, atividades escolhidas para facilitar o processo de compreensão da leitura de textos. Solé (1998, pág.72) define as estratégias de leitura como procedimentos cognitivos e metacognitivos complexos, já que implicam a capacidade de refletir e planejar nossa própria atuação enquanto lemos.

Uma leitura bem orientada desperta o prazer de atribuir sentido a um texto, cada professor, na aula de sua respectiva área promoverá a leitura de textos que devem ser aprofundados e todos poderão vivenciar o encantamento da descoberta dos muitos sentidos em textos decisivos para o conhecimento produzido pela humanidade. Assim, a leitura é um dos recursos mais encantadores, mas, ainda pouco trabalhado no processo educacional.

Contudo, para formar leitores, é preciso ser leitor, pois, como afirma Machado (2001, pág.122). “(...) imaginar que quem não lê pode fazer ler é tão absurdo quanto pensar que alguém que não sabe nadar pode se converter em instrutor de natação.” A criança necessita, pois, de um exemplo de leitor, que podem ser os pais ou os professores. É com o compromisso do professor pelo que ensina que é possível despertar novos leitores para o universo literário. O professor precisa se dar conta de sua importância no processo de formação de leitores, o que implica que ele seja também um leitor, pois é o mediador entre o livro e o leitor na escola. Para reforçar a ideia da troca, Angela Rolla (1998, pág.170) afirma que:

Não se concebe a leitura como um ato solitário, pois o leitor participa de uma comunidade de leitores, onde as leituras são partilhadas como experiências vividas e, o caminho que nos conduz até o literário passa por uma predisposição individual, mas também por mediações externas como é o caso do professor de Português ou de Literatura em relação aos seus alunos. 

 

Um fator que, sem dúvida, contribui para o interesse da leitura de determinado texto é o fato de ser um texto que ofereça ao aluno certos desafios. A vida cotidiana está cheia de oportunidades de leitura, e nosso problema está mais em “encontrar tempo para tudo do que encontrar textos” Jolibert (1994, pág. 31). Assim, é necessário que se busque “motivos” interessantes para realizar a leitura de um texto, cabe ao professor criar estratégias de leitura que estimulem essa motivação.

O professor deve conhecer as diferentes necessidades de cada aluno para assim, poder intervir no processo de desenvolvimento da leitura. Tarefa esta que não é fácil, em virtude das grandes quantidades de alunos em cada sala de aula, a organização escolar e outros. Porém, a partir da realidade cotidiana nas escolas é possível introduzir práticas motivadoras e interessantes que instiguem a vontade de ler.

A escola precisa ser um ambiente acolhedor, receptivo e que neste contexto seja possível vincular o cotidiano as situações de leitura possíveis. Proporcionando o prazer do estudante em frequentar as aulas, contribuindo positivamente para o sucesso de escolarização.

Para que a leitura seja melhor sucedida deve envolver um todo significativo, e não fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto busca-se a existência de elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram o entendimento do mesmo pela boa leitura. Para Isabel Solé (1998, pág. 23): “a leitura é um processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita (...). Para ler necessitamos simultaneamente manejar com destreza as habilidades de decodificação, aportar ao texto nossos objetivos (...).” Nesse sentido Kleiman (2002, pág.13) ressalta:

A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe e o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o lingüístico, o textual, o de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto.

Para uma pessoa se envolver ativamente em uma atividade de leitura é necessário sentir-se capaz de ler, de compreender o texto, tanto apoiados em leitores mais experientes que levam a motivação, quanto de forma autônoma, já que também se é capaz de refletir diante da leitura.

Formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão [...] questionar seu conhecimento e modificá-lo. Estabelecer generalizações que permita transferir o que foi aprendido para outros contextos. (SOLÉ, 1998, pág. 72)

É necessário compreender que para dominar o uso da leitura e da escrita em sua função social, é preciso desenvolver um conjunto de habilidades que, segundo Kato (1985, pág. 87) depende de “vários tipos de estratégias de leitura, tais como a de estabelecer relações de sentido, a de avaliar a consistência das informações extraídas e a de inferir o significado pretendido pelo autor. Nesse caso, o texto detém um sentido anterior à leitura daí, cabe ao leitor recuperá-lo”. A leitura é um processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita, sendo, o leitor um sujeito ativo que interage com o texto e necessita de uma compreensão leitora consciente, pois não basta somente estar alfabetizado, é preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em diferentes contextos.

Quando o estudante houve uma história e aprecia suas ilustrações, o sentimento passa a fazer parte do seu desenvolvimento intelectual. O professor tem a partir de sua prática a maneira correta de prender a atenção do aluno durante a leitura, estratégias de trabalho que fazem parte da sua  função, fazendo com que o estimule no universo da leitura cada vez mais.

A escola deve ser preparada de modo que a sala de aula seja um lugar de efetiva aprendizagem, de experimentação de sentidos e não de descontextualização da linguagem. Também é importante que todo professor tenha consciência, independentemente de sua área de atuação, de provocar a leitura nos mais diversos contextos, cabendo a este buscar novas metodologias.

É importante frisar que para ensinar a ler, contar e interpretar  é necessário que o professor reconheça e compreenda este conjunto de informações previamente, a fim de que possa transformá-las em recursos para planejar situações didáticas que atenda às reais necessidades de aprendizagem. Ferreira e Palácio (1990, pág. 273) afirmam que “ler não equivale a reproduzir com a boca o que os olhos reconhecem visualmente”. Fica explícito que para a criança não basta estar alfabetizada na leitura, tem que haver compreensão do que esta lendo seja verbal ou não-verbal.

Isabel Solé (1998, pág. 165) sugere algumas ações que o professor pode utilizar para mediar à leitura:

         O aluno deve saber o que irá fazer, conhecendo os objetivos estabelecidos para a leitura;

         Os conhecimentos prévios do grupo devem ser ativados, pois contribuem para a compreensão do material a ser trabalhado;

         Os alunos precisam ser motivados a estabelecer previsões sobre o texto a ser lido;

         O texto lido deve ser discutido a partir de perguntas que favoreçam a compreensão;

         As previsões iniciais e os conhecimentos prévios devem ser verificados para regular a atividade de compreensão.

 

A sala de aula é o lugar de criação de vínculo com a leitura, de inserção do leitor na tradição do conhecimento.  O professor deve questionar seus alunos, interpretá-los constantemente, ser um elemento de guia nessa interação. [...] É ele quem deve discutir e colocar as questões essenciais das atividades propostas, levando a criança a refletir sobre suas concepções e procedimentos de ação (Silva, 1990, pág.18).

O fator primordial para dar início à leitura deveria ser, sem dúvida, a busca do prazer, entretanto, não percebemos isso com relação ao aluno, daí a necessidade de se criar condições propícias ao encantamento do leitor. “Para formar leitores devemos ter paixão pela leitura” (Kleiman, 2000, pág.15). Sendo assim, somente um professor encantado com a leitura consegue motivar seus alunos. Cabe ao professor promover a interação entre o aluno e os textos, criando uma relação de cumplicidade, transformando assim o ato da leitura em um desafio estimulante.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa é de abordagem qualitativa, enfatizando uma metodologia que engloba aplicação de questionários, oficina literária e pesquisa bibliográfica acerca de livros paradidáticos utilizados nas séries iniciais.

Para a realização da pesquisa foram selecionados dez livros:

  • A Árvore Generosa;
  • A Rainha da Bateria;
  • As Paredes tem Ouvidos;
  • Dudu e a Tagarela Bac;
  • Festival Primavera: Aventuras do Araquã
  • O Livro das Combinações;
  • O Livro Estreito;
  • Os Dez Sacizinhos;
  • Se o Lixo Falasse;
  • Tempo, Tempo, Tempo: Quem Pode com Ele

A partir destes livros realizou-se oficinas com os alunos do 3º ano, utilizando estratégias distintas para cada livro. Tais como: acolhidas de integração grupal e respeito de opiniões, acolhida de participação em grupos, pesquisa bibliográfica sobre reciclagem e sobre as estações do ano, produção textual narrativa e de opinião, leitura de fábulas de Esopo e de La Fontaine, atividades de cruzadinhas e caça-palavras geradas a partir dos temas estudados, construção de palavras derivadas a partir de uma palavra dada, construção coletiva de novas regras dos jogos vivenciados, leitura e criação de ilustrações de parlendas, pseudoleitura de imagens.

Após a realização das atividades citadas foi aplicado um questionário na Escola Mestre Laurindo Seabra, localizada no município de Bom Conselho, aos alunos de uma turma de 3º ano. Um total de vinte alunos responderam a duas perguntas, baseadas nas atividades desenvolvidas com os alunos.  A primeira foi a seguinte: Escreva o nome de dois livros que você leu e gostou bastante. A segunda: Através da leitura destes livros o que você aprendeu?

A partir das respostas dadas pelos alunos, foram realizadas as análises acerca dos livros mais interessantes e das aprendizagens adquiridas a partir da leitura dos mesmos.

RESULTADOS ESPERADOS

Inicialmente serão descritas algumas das características dos livros, em seguida apontados os preferidos pelos alunos do 3º ano e por fim as aprendizagens que os alunos expuseram ter adquirido acerca dos livros escolhidos por eles.

1 - A árvore generosa = Traz um ensinamento de que as pessoas devem ser boas umas com as pessoas. Havia um menino que cuidava da arvore, ao ficar adolescente sumiu por um tempo, voltando já idoso. Abandonada  e sentindo muito frio a árvore pediu que a cortasse para fazer um barco e viajar para um lugar longe e ser muito feliz com sua família.

2 – As paredes têm ouvidos = O tal ouvido mencionado no livro é imaginário, mas que significa algo pra gente falar tudo baixinho para que o outro não escute e saia comentando. Traz imagens onde aparecem crianças conversando silenciosamente.

3 - Se o lixo falasse = Mostra algumas soluções que devemos ter no cuidado com o meio ambiente, quando se refere ao destino do lixo e sobre a reciclagem que são importantes pra natureza. Trata também da coleta seletiva  e de como o aluno pode levar a ideia pra sua própria casa.

4 - Tempo, tempo, tempo: quem pode com ele = Aborda que o tempo é algo sempre presente na nossa vida. Traz a ideia de tempo, em que pra tudo no mundo existe um tempo certo. Há tempo pra tudo, pra comer, pra estudar, pra dormir, pra trabalhar, pra tudo temos que ter um tempo.

5 - Festival primavera = Este livro trata de uma estação do ano, a primavera, na qual os pássaros cantam com mais alegria.

6 – O livro estreito = Apresenta pouco conteúdo e bastante imagem entre as páginas.

7 - Os dez sacizinhos = Pra gente aprender registrar números na ordem decrescente. Aborda um ensinamento matemático simples e muito bom pra gente levar pra toda vida.

8 – A Rainha da Bateria = Fala de uma menina da favela que com muito esforço chegou a ser rainha de bateria, mesmo a família não gostando que ela seguisse a carreira de dançarina, ela foi insistente e conseguiu vencer os desafios.

9 - O livro das combinações = O ensinamento do livro é a combinação, ou seja, brincar com amigos é diferente de brincar sozinho, porque é sempre bom combinar para não virar confusão. Mostra que temos que combinar tudo, sempre que o trabalho ou a atividade for em grupo.

10 - Dudu e a tagarela bac = Dudu é um menino muito curioso, ele procura descobrir tudo, inclusive as bactérias na porta da geladeira, na pia... transforma seu pensamento em desenho e cola pelas paredes da casa que é pra mãe se assustar e fazer a limpeza da casa direitinho.

A Árvore Generosa, foi o livro que mais os alunos gostaram de ler. Segue no gráfico as preferências dos alunos em percentuais:

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