Maria Irani Fernandes Moreira1 e José Robério de Sousa Almeida2

1 Aluna da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

2 Professor da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

INTRODUÇÃO

A população mundial encontra-se em processo de crescimento muito acelerado e este fato traz consigo vários problemas, sendo que entre eles está a questão da produção alimentícia que precisa ser cada vez mais intensa para suprir esta demanda, mas essa produção alimentícia para ser efetuada necessita de alguns meios que pode prejudicar outros aspectos da vida dos seres e o ambiente em que vivem.

De acordo com Miller (2007) [...] para alimentar 8,9 bilhões de pessoas, número previsto para até 2050, deve-se produzir e distribuir mais alimento do que já foi produzido desde o início da agricultura há 10 mil anos e fazê-lo de forma sustentável.

Essa grande produção alimentícia requer meios como o uso de grandes extensões de terra, o uso de máquinas e equipamentos e o uso de produtos químicos, agrotóxicos e/ou fertilizantes, que irão garantir essa produção tanto pelo maior uso das terras quanto pelo serviço de controle de pragas.

Segundo Luft (2003), pragas são insetos ou doenças que atacam as plantas ou animais, são seres que importunam e segundo Miller (2007) as pragas são qualquer espécie que dispute conosco alimento, espalhe doenças, invada ecossistemas.

Para fazer o controle das pragas foram desenvolvidas várias substâncias químicas, os agrotóxicos ou pesticidas, sendo que os tipos mais comum são os inseticidas que são eliminadores de insetos, os herbicidas que são eliminadores de ervas daninha, fungicidas que são eliminadores de fungos e os rodenticidas, eliminadores de roedores.

O uso desses produtos químicos tem aumentado muito a produção, mas o seu uso indiscriminado e sem os devidos cuidados, acarretam muitos problemas tanto ambientais quanto para a saúde de animais e do próprio homem. Este artigo pretende mostrar alguns tipos de agrotóxicos, enfatizando seus efeitos negativos sobre o ambiente e a saúde, além de mostrar que existem alternativas para erradicar ou diminuir o uso dos mesmos.

Tipos de pesticidas

Inseticidas organoclorados são compostos formados por carbono e cloro, alguns dos quais são encontrados na natureza e devido a sua toxidade para algumas plantas e insetos, muita desses compostos produzidos sinteticamente tem tido um amplo uso como pesticida. São produtos que se degradam muito lentamente, tendendo a se acumular, não dissolvem facilmente em água, mas são muito solúveis em meios gordurosos como óleos e tecidos adiposos. Nos anos de 1940 e 1950 foram introduzidos grandes quantidades de novos pesticidas, especialmente inseticidas, sendo que a maioria desses são organoclorados. Um exemplo é o hexaclorobenzeno (HCB), ele é estável, fácil de preparar a partir do cloro e benzeno, sendo que foi utilizado durante várias décadas como fungicida de uso agrícola nas colheitas de cereais, mas é um produto extremamente persistente. (Colin, 2006)

Ainda segundo Colin (2006) os pesticidas do tipo ciclodieno, por exemplo aldrin e dieldrin, chegaram ao mercado por volta de 1950, mas diante de sua persistência, seu potencial de toxidade, sua tendência a se acumular em tecidos gordurosos, o uso de quase todos esses compostos está atualmente proibido ou rigorosamente restrito em muitos países. O Endossulfano é um inseticida em uso extensivo em todo o mundo com aplicações domésticas e agrícolas, sua bioconcentração e persistência ambiental são muito menores que de outros ciclodienos.

De acordo com Colin (2006), inseticidas à base de organofosforados e Carbamados são do tipo não persistente, representando uma vantagem sobre os organoclorados, contudo apresentam geralmente um efeito tóxico mais agudo (imediato) para os seres humanos e outros animais. Muitos desses produtos representam um grande perigo para a saúde daqueles que os aplica e para qualquer pessoa que entre em contato com os mesmos.

Inseticidas naturais

Muitas plantas podem fabricar certas substâncias para a sua auto-proteção, essas substâncias são capazes de matar ou de incapacitar insetos.Diante disso, os químicos começaram a isolar alguns desses compostos para serem usados no controle de pragas. Exemplos de inseticidas naturais são a nicotina, a roterona, os feromônios e os hormônios juvenis. Um grupo desses pesticidas que é usado durante séculos é o grupo das piretrinas, seus compostos originais foram obtidos através de certas espécies de crisântemos.

Herbicidas

Os herbicidas são compostos químicos que destroem plantas, são frequentemente empregados para matar ervas daninha sem causar prejuízo a vegetação desejada. O uso agrícola de herbicidas substituiu a ação humana de capina. Sua ação é feita principalmente por alguns sais que matam as plantas extraindo sua água ou seja desidratando-a.

Segundo Colin (2006) [...] herbicidas inorgânicos e organometálicos foram em grande parte gradualmente eliminados devido a sua persistêncianos solos, sendo o mercado atual dominado pelos herbicidas totalmente orgânicos, onde sua principal vantagem é o fato de serem muito mais tóxicos para certas espécies de plantas do que para outras, sendo usado para erradicar algumas sem prejudicar outras.

Agrotóxicos e seus efeitos para a saúde e o ambiente

Praticamente desde sua introdução, os pesticidas sintéticos constituem um problema, devido ao seu impacto potencial sobre o ambiente e a saúde humana, principalmente em virtude da ingestão de alimentos contaminados com esses produtos e como alguns cientistas afirmam que as próprias plantas produzem inseticidas para se defenderem de insetos e fungos, então estamos expostos a concentrações muito maiores de pesticidas, sejam naturais ou sintéticos. (Colin,2006)

Os agrotóxicos são muito perigosos para a saúde no sentido de que alguns tipos aumentam sua concentração quando avança na cadeia alimentar, esse processo é chamado biomagnificação, como exemplo, a maioria dos organoclorados tem esse poder de biomagnificar-se.

De acordo com Miller (2007) estudos da Academia Nacional de Ciências, afirma que a exposição e resíduos de pesticidas permitidas por lei em alimentos provoca de 4 mil a 20 mil casos de câncer por ano nos Estados Unidos.

Um relatório publicado recentemente pela Organização Mundial de Saúde estimou que a cada ano milhões de pessoas tem problemas devido a exposição a pesticidas.

Com relação ao ambiente, além de muitos desses produtos se acumularem, muitas vezes não atingem somente o local desejado, espalhando-se em outros ambientes contaminando fontes de águas e outros biomas.

Alguns cuidados ao usar agrotóxicos

Todos os produtos químicos orgânicos, inorgânicos ou naturais precisam ser usados seguindo os devidos cuidados e orientações para se obter um bom resultado e diminuir riscos e problemas futuros.

Segundo Castelo (2001) os agrotóxicos no momento da aplicação pode penetrar no corpo do aplicador por quatro vias: a pele (mãos, braços, pernas e pés), o aparelho respiratório, a boca e os olhos, por isso é muito importante o uso de EPI (equipamento de proteção individual), esses são: o protetor para o rosto, luvas, óculos de proteção, botas, macacão ou calças compridas e camisa de mangas longas, chapéu ou boné e máscara respiratória. Depois de usadas as embalagens dos agrotóxicos não podem ser reutilizados, nem Jogadas em qualquer lugar, devem ser colocadas em locais apropriados para lixos tóxicos, esses locais podem ser indicados por um técnico. O aplicador não pode também lavar as mãos, as roupas e o aparelho que usou nas fontes de água, para evitar o risco de envenenamento de pessoas e animais.

Ainda segundo Castelo (2001) os recipientes, latas, vidros ou caixas dos agrotóxicos têm uma faixa colorida que indica o grau de toxidade do produto: Os de faixa vermelha indicam que o produto tem alto grau de toxidade, sendo extremamente perigoso, os de faixa amarela são menos tóxicos que os de faixa vermelha, os de faixa azul tem toxidade média e os de faixa verde são os menos tóxicos. O agricultor precisa estar bem informado sobre os perigos, sobre os tipos de defensivos indicados para cada tipo de praga e para isso é muito importante a ajuda de um técnico especializado.

Vantagens e desvantagens dos pesticidas sintéticos

Miller (2007) diz que aqueles que são contra o uso disseminado de pesticidas acreditam que seus efeitos nocivos superam seus benefícios e argumentam principalmente que:

  • Esses produtos aceleram o desenvolvimento de resistência genética a pesticidas nas pragas, pois através da seleção natural as pragas sobreviventes darão origem a pragas mais potentes;
  • Alguns inseticidas matam predadores e parasitas naturais que ajudam a controlar as populações de espécies pragas;
  • Os pesticidas não permanecem no local, se espalham para outros ambientes, prejudicando a vida selvagem e a saúde humana;

Miller (2007) também afirma que aqueles que defendem o uso de pesticidas argumentam o seguinte:

·Eles podem salvar vidas, eliminando insetos transmissores de doenças;

·Aumentam a provisão alimentar;

·Elevam os lucros dos agricultores;

·Trabalham rápido e melhor que as alternativas;

·Quando utilizado adequadamente, seus riscos a saúde são muito baixos se comparados a seus benefícios;

·Pesticidas mais recentes são mais seguros e eficazes do que muitos antigos.

Ainda segundo Miller (2007) diante desses argumentos, surge a idéia de que seria necessário um tipo de pesticida ideal, que tivesse no mínimo essas qualidades:

·Mataria somente a praga desejada;

·Não causaria resistência genética;

·Desapareceria ou seria decomposta em substâncias inofensivas depois de realizar sua tarefa;

·Custaria pouco dinheiro... Mas até o momento essa substância ainda não foi encontrada.

Métodos alternativos para substituir ou diminuir o uso de agrotóxicos

Controle biológico é um procedimento que envolve a manipulação dos inimigos naturais de pragas. Os insetos tem sido os principais agentes de controle biológico contra insetos-praga e ervas daninha. Mas embora essa sela uma opção plausível, essa técnica precisa ser bem avaliada e acompanhada para evitar que acabe se transformando em um novo problema.

Agricultura Orgânica que tem como base a manutenção de fertilidade do solo, evitando poluição, usando a técnica de rotação de culturas, leva em conta o bem estar animal e aspectos ambientais e não utiliza herbicidas e pesticidas sintéticos, apenas naturais. Assim como outras técnicas precisa ser bem planejada dispor de conhecimento acerca de seu processo.

Uso do MIP (Manejo Integrado de Pragas) é semelhante ao controle biológico, ele combina controle físico (Ex: Manter as pragas longe das lavouras), controle cultural (Ex: fazer rotação de culturas, para as pragas não se estabelecerem), controle biológico e químico, bem como a utilização de variedades resistentes, mas esse processo necessita de administradores ou consultores especializados em pragas. A essência do MIP é adotar as medidas de controle ajustadas ao problema das pragas, pois cada uma tem suas peculiaridades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o que foi exposto neste artigo e outras informações consultadas, pode-se concluir que o do uso de agrotóxicos envolvem muitos prós e contras. Olhando essa problemática do uso ou não de agrotóxicos ou de alternativas para se conseguir uma produção alimentícia em grande escala, muito voltada para os interesses econômicos, esses interesses não levam em conta a qualidade em termos de saúde e ambiente do que é produzido, apenas o lucro que é gerado por esta ação. Quando se fala em substituir o uso de agrotóxicos por alternativas mais naturais e ecológicas os interesses econômicos também estão à frente, pois essa mudança pode significar a princípio uma diminuição na produção e um gasto inicial maior, principalmente no sentido de se fazer um acompanhamento mais rigoroso destas técnicas.

Acredita-se que o uso de alternativas para diminuir o uso dos agrotóxicos é algo que precisa realmente ser colocada em prática, principalmente a agricultura orgânica, mas é um processo lento e precisa ser bem avaliado para não provocar problemas futuros como é o caso dos agrotóxicos.

Outro ponto que gostaria de destacar é que os agrotóxicos seriam bem menos agressivos se fossem usados de maneira correta, com os cuidados e acompanhamento necessários levando em conta o alvo e o ambiente onde será aplicado e seus efeitos imediatos e a longo prazo.

REFERÊNCIAS

BAIRD,Colin. Produtos Orgânicos Tóxicos in Quimica Ambiental, 2ª Ed.Porto Alegre:Bookman,2002.Reimp. 2006.

CASTELO,Celina Maria Montenegro. Construindo a cidadania no ceará – Educação Agrícola. Secretaria de Educação do Ceará.Fortaleza,2001.

MILLER, G. Tyler. Alimento, solo e Manejo de Pragas in Ciência Ambiental.11ª Ed.São Paulo: Thomson Learning,2007.

PERES, Frederico; MOREIRA,Josino Costa.Artigo: Saúde e Ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em pólo agrícola de estado de Rio de Janeiro, Brasil. Disponível em www.scielo.br

ROCHA,Júlio César.Introdução à Quimica Ambiental.Porto Alegre:Bookman,2004.

TOWSEND,Colin R.Fundamentos em Ecologia. 2ª Ed.Porto Alegre:Artmed,2006.