Urbi et Orbi

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 02/05/2025 | Religião

Há alguns dias morreu o eminente Papa Francisco. Um homem notável, principalmente por suas posições em relação às injustiças dos sistemas econômicos e financeiros globais. E é sobre isso que as pessoas deveriam se preocupar no raiar de um novo Pontífice: tem de ser um homem com a visão social de Francisco, pois a influência do Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana sobre os líderes mundiais, nessa questão, é singular, eis que o sistema capitalista se abate, inevitavelmente, sobre mais de noventa e cinco por cento de toda a humanidade. 

Mas, em vez disso, muita gente teme que o novo Papa seja excessivamente conservador, ou liberal, nas questões de foro íntimo. Uma coisa vos digo: questões econômicas todos somos coagidos a seguir pela força impositiva do capitalismo mundial. Mas, quanto aos costumes, as pessoas seguem ou não as orientações oriundas do Vaticano se quiserem, pois é um Estado estrangeiro e uma Teocracia sem quaisquer poderes jurídicos sobre outros territórios, como o Brasil. Creio que dita situação se trate de um apego excessivo à religião, eis que os que assim se portam desejam que a Igreja se alinhe aos seus pensamentos, do contrário, segundo os próprios, se sentiriam menos católicos. Meus caros, ninguém é proibido de continuar frequentando a Instituição, salvo na hipótese de excomunhão. A Igreja abraça a todos, mas não os nossos supostos erros e pecados. Por isso existe a confissão e a consequente comunhão.

Se estamos ou não satisfeitos, temos três opções: praticar de bom grado (como eu o hoje faço, não importando qual será o novo Papa e suas posições, que seguirei, salvo se suas orientações ferirem alguma lei do Brasil), praticar seguindo somente as orientações que lhes agrade, ou, por fim, renunciar à fé católica, denunciando que ela não é democrática. Senhores, nenhuma religião, incluindo o Cristianismo Católico Romano, é democrática. Todas possuem suas hierarquias, regras e dogmas, que não podem ser quebrados por força única dos seguidores. Do contrário, não seriam religiões e perderiam suas identidades grupais, fazendo com que as Instituições que as representam desaparecessem. 

Podem alegar que a Igreja é criminosa porque matou muitos hereges na Idade Média. Como bem dizem, “matou”, não mais mata (eu mesmo, no meu livro “Medievo Violento: Reflexões sobre o Uso do Conceito de Violência para o Estudo do Período Medieval”, denuncio as barbaridades por ela cometida naquele período). Mas me reconverti, não só porque o próprio Papa João Paulo II reconheceu tais crimes e pediu perdão em nome da Instituição, mas por verificar que, nos dias de hoje, ela é essencialmente benigna. E, se forem sopesar pelos abusos sexuais há pouco e hoje cometidos, são poucos em relação ao universo de sacerdotes. E, é claro, não é a impunidade uma opção. A Igreja defende a civilização, e por isso a nossa podre sociedade pouco a ela dá ouvidos, migrando a entidades que não oferecem um desejado equilíbrio, já que pregam ser o acúmulo material a única fonte de felicidade. Uma falsa felicidade, vez que que aderem de força e alma ao sistema capitalista mundial, que o Papa tenta domar como um leão, e que hoje pode lhes parecer benéfico, mas que, na primeira turbulência, lhes joga na mais asca miséria.