Roberto Miguel Silvério

Urbanização, Qualidade de Vida e Bem-estar das Comunidades: Estudo de Caso - Bairros Janeiro e Chirangano na Cidade de Quelimane (2011-2015)

Licenciatura em Ensino de História com Habilitações em Ensino de Geografia

Resumo

A presente pesquisa intitulada:Urbanização, Qualidade de Vida e bem-estar das comunidades: Estudo de Caso - Bairros Janeiro e Chirangano na Cidade de Quelimane (2011-2015)tencionou compreender a relação da urbanização na qualidade de vida e no bem-estar das comunidades. Para tal, houve a necessidade do uso do método qualitativo que pela sua natureza, exige que o pesquisador dirija-se ao local de estudo com vista a obtenção dos dados que só obter-se-ão graças a interacção entre o pesquisador e o pesquisado. Foi neste contexto que o pesquisador se dirigiu até aos bairros de Janeiro e de Chirangano onde graças a entrevista tida com os moradores daqueles dois bairros obteve dados que o permitiram concluir que os bairros de Janeiro e Chirangano são dois bairros da cidade de Quelimane desprovidos da urbanização facto que nos fez concluir também que a falta de urbanização faz com que a comunidades destes dois bairros não tem qualidade de vida e bem-estar.A exemplo disso, anualmente são registados casos de doenças diarreicas e malária, inundações dos bairros, acumulação dos resíduos sólidos devido a fraca capacidade das autoridades municipais na recolha dos mesmos, cortes no fornecimento da corrente eléctrica e de água, problemas que conjugados com o fraco poder económico das comunidades locais assim como os assentamentos informais e a construção de habitações precárias faz com que os mesmos não tenham o bem-estar que é um dos desafios das sociedades actuais.

Palavras-chave:Urbanização, Qualidade de Vida, Bem-Estar, Comunidades.

1 INTRODUÇÃO

Urbanização, qualidade de vida e bem-estar das comunidades, é o tema que se tenciona abordar na presente monografia científicacujo seu desenvolvimento foi mediante a um estudo de caso a realizadonos bairros de Janeiro e de Chirangano na Cidade de Quelimane. A urbanização é tida como o acesso mínimo de “água potável e canalizada, electrificação das casas e iluminação das ruas, disposição de ruas e avenidas, existência de serviços como saúde, segurança e educação”(GASPAR;2007:285). Facto que a realidade das nossas urbes que nasceram do surgimento e ampliação das cidades contemporâneas nos faz indagar sobre a qualidade de vida que elas dispõem para as suas comunidades.

É comum em muitas cidades a coexistência de diferentes espaços historicamente formados por diversas relações e factores sendo sociais, políticos, económicos, entre outros. E a história da Cidade de Quelimane demonstra esta coexistência, pois, este é um lugar onde a diferenciação espacial tem a sua génese no período colonial, agravado com o advento da Guerra Civil que devastou Moçambique durante um período de 16 anos. Assim, construída e projectada a partir do estabelecimento de uma igreja ainda na margem do rio dos Bons Sinais, rio que banha a parte sul desta cidade, a expansão da cidade se realiza continuamente num movimento de inclusão de áreas rurais que são circunscritas dentro dos limites da cidade e de exclusão no que concerne a certos princípios do urbanismo; pois, alguns princípios do urbanismo,não atingem todas as camadas da população residente nesta urbe incluída pelo processo de expansão, ou seja se atinge, isso ocorre de forma deficitária.

Notam-se nesta urbe, enchentes nas salas de aulas fruto da fraca distribuição da rede escolar, longas filas em sectores como saúde e bancos, acumulação de resíduos sólidos resultante da deficiente recolha dos mesmos, insegurança pública, fruto de construção desordenada que não permite uma mobilidade mais eficiente nos bairros, daí a urbanização desigual, que não é interesse nosso abordar neste estudo. Mas, de salientar que as transformações resultantes da urbanização desigual revelam-se pela periferização de algumas infra-estruturas de comércio e lazer, de saúde, de educação, de segurança e muito mais, assim como, da habitação de grupos sociais com baixa renda; a proliferação de mercados locais precários de venda e compra de produtos (mal conservados) para o consumo dos habitantes das periferias, que constitui o nosso centro de atenção no presente estudo de caso.

Os dois bairros (Janeiro e Chirangano) onde foi desenvolvido este estudo são bairros que se localizam ao longo do mangal que também, separa aqueles bairros com o bairro de Icídua. Maior parte das pessoas ali residentes são de várias origens que vieram para a cidade com o intuito de melhorar as suas condições de vida, numa primeira fase eram trabalhadores dos antigos centros fabris que operavam nesta cidade e outros eram trabalhadores das obras de construção civil no centro da cidade, outros eram negociantes dos mercados central da cidade de Quelimane, mercado de Chirrangano, mercado de Akima e o antigo mercado de roupa usada que se localizava no bairro Torrone Velho o famoso “Dubaningue”. O primeiro grupo construía as suas palhotas usando materiais precários como caniço e estacas de madeira onde as paredes eram revestidas de areia (maticadas)e passados alguns anos este tipo de casa foi substituída por casas ainda feitas de madeira e revestidas de areia mas agora coberta de chapas de zinco. Já para o segundo grupo, constituído por comerciantes informais, em princípio arrendavam casas e até quartos para residirem e no final do ano voltavam para as suas zonas de origem.

Outro grupo de moradores daqueles bairros é constituído por pessoas que fugiram da Guerra Civil e que vieram para a cidade a procura de sobrevivência, dado que durante a guerra civil que devastou o país durante 16 anos, as capitais provinciais eram locais muito bem fortificados com pelas forças de defesa e segurança. 

Para o caso doscomerciantes informais, e porque as suas actividades exigiam cada vez mais responsabilidade e presença, sentiram-se obrigados a terem uma habitação própria que estivesse perto das suas áreas de trabalho. A única solução vista por estes foi fazer entulhos no mangal o que era antecedido pelo corte das árvores destas áreas cujas estacas eram usadas para a construção das casas. Esta prática, não foi apenas realizada pelos negociantes, pôs, também os refugiados de guerra realizaram a mesma prática, e como nos relatavam aos poucos uma área aproximadamente a 200 metros do mangal já tinha sido ocupada pelas populações.

É importante ressaltar aqui que tais casas eram feitas usando material precário e sem olhar para as questões como a ordenamento territorial do bairro, sem prever a existência de ruas que assegurariam o acesso a serviços de abastecimento de água canalizada, rede eléctrica e outros serviços básicos e como consequência assistimos hoje problemas de saneamento do meio, deficiente mobilidade de pessoas assim como de viaturas, deficiente escoamento das águas negras e pluviais e outros problemas que apesar dos esforços das autoridades governamentais, não tem garantindo sucesso destes. Em consequência dos problemas é notório em quase todos os anos, o registo de casos de doenças resultantes do fraco saneamento do meio o que inibe com certeza a qualidade de vida e principalmente do bem-estar das comunidades residentes naqueles bairros.

Constituindo um tema actual, esta pesquisa se enquadra no contexto da História Social, onde procuramos abordar questões que envolvem e que apoquentam as sociedades contemporâneas. Assim, procuramos com este tema melhorar ou seja trazer sugestões que possam melhorar o problema aqui apontando.         

No que se refere a estrutura da monografia, de salientar esta foi dividida em três (3) principais capítulosa saber: No primeiro capítulo, faz-se a revisão bibliográfica, onde apresentam-se as abordagens dos diferentes autores no que se refere ao tema emalusão; o segundo capítulofaz-se a localização e caracterização dos bairros onde se realizou o estudo, e por último, terceiro capítulo que é parte da apresentação, analise e interpretação dos dados colhidos, onde através destes, o autor faz uma apresentação, análise e interpreta os mesmos de forma sistemática para depois tirar suas conclusões. 

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