Unidades de Avaliação na Nutrição de Ruminantes
Publicado em 25 de agosto de 2020 por Emanuel Isaque Cordeiro da Silva
Unidades de Avaliação na Nutrição
de Ruminantes Leiteiros
Emanuel Isaque Cordeiro da Silva
Tecg° em Agropecuária do IPA
Acd. em Zootecnia pela UFRPE
Embrapa Semiárido
1. Ingestão
O sistema de produção animal no Brasil têm-se encaminhado consideravelmente nos últimos 20 anos, transformando-se atualmente em um sistema intensivo onde a maior parte das explorações utilizam sistemas de alimentação e nutrição únicas conhecida como Unifeed. Esse sistema produtivo é a base do desenvolvimento do sistema de formulação americano para ruminantes e monogástricos, pelo qual as equações propostas pelo NRC utilizam-se de recursos para realizar as predições de ingestão de matéria seca (IMS) em Kg MS/dia. De forma análoga, nos ruminantes, tanto em bovinos quanto em caprinos e ovinos leiteiros, as tentativas de retorno ao pastoreio foram falhas, em geral, devido a es-cassez de pastagens e a impossibilidade de manter uma biomassa vegetal de riqueza nutri-tiva durante o ciclo produtivo do animal, principalmente na época da estiagem. Na atuali-dade, é uma prática comum o emprego de rações completas do tipo Unifeed, mistas e uma ampla utilização de subprodutos agroindustriais e hortifrutis. Portanto, nesse caso utiliza-se um sistema similar ao empregado em todos os ruminantes leiteiros mediante equações de predição da IMS segundo o estado fisiológico do animal, complementadas em alguns casos com fatores de ajuste para nossas condições de produção. A unidade que expressa a IMS é Kg MS/dia.
Exemplo: uma vaca de 500 kg que necessite ingerir 3% de seu peso vivo por dia em matéria seca, seu IMS será: 500 kg x 3% (0,03) MS/dia = 15 Kg MS/dia.
2. Energia
Os cálculos das necessidades de energia em ruminantes leiteiros se dão através de unidades de energia líquida de lactação (ELlac Mcal) segundo o NRC (2001), englobando a mesma unidade das necessidades para mantença, gestação e produção e é fundamental-mente similar ao INRA (2007). Para os ovinos têm-se adotado o mesmo sistema de unidades (ELl), transformando as necessidades de energia líquida para mantença, gesta-ção e reservas a necessidades de ELl (Kcal/dia). Nos caprinos, dado que as recomenda-ções estão baseadas majoritariamente nos trabalhos com cabras da raça Saanen e Boer. Esses trabalhos empregam a energia metabolizável (EM) como unidade de medida e o Jaule (0,239 calorias) como unidade de expressão, pelo qual se tem optado por manter essas unidades como Normas.
Vale ressaltar que para os bovinos leiteiros o novo sistema de avaliação energética dos alimentos do NRC (2001) considera o impacto da ingestão sobre o trânsito e seus efeitos na digestibilidade, pelo qual os valores mudam em função da ingestão. Os valores de tabelas brasileiras para ruminantes representa uma ingestão 3 vezes a mantença, mas em animais com ingestão superiores aos valores energéticos devem ser recalculados. Caso contrário, o uso dos valores das tabelas tente a sobrestimar o valor energético dos alimen-tos para vacas de alta produção e, em consequência, produz-se uma subalimentação energética. Ademais, adverte-se que a utilização da avaliação dos alimentos segundo o INRA (2007) difere da aproximação utilizada pelo NRC (2001), e pode conduzir igual-mente, sobretudo em vacas de alta produção, a um défice energético das rações.
Devido ao uso frequente tanto do sistema NRC quanto do INRA em nosso país, a avaliação energética também se apresenta em base de Unidades Forrageiras de Leite (UFL) , que são calculadas pela transformação direta dos valores de ELl, como Mcal ELl /1,70 (1 UFL = 1700 Kcal de ELl de um kg de forragem). Quando as recomendações se estabelecem em concentração, devido a diversidade do conteúdo de MS das rações, essas recomendações são estabelecidas em unidades por kg de MS (ELl Mcal/kg MS; UFL/kg MS).
3. Proteína
Todos os sistemas de formulação utilizam a proteína metabolizável (PM) como base fundamental para avaliação proteica das necessidades (NRC e INRA). A PM é defi-nida como proteína absorvida no intestino, e é a soma do aportado pela proteína microbia-na, a ingerida presente no alimento e a não degradada no rúmen (PNDR), aplicando seu correspondente de digestibilidade intestinal. O fluxo de proteína microbiana depende da disponibilidade de energia fermentável no rúmen e sua eficácia de utilização, enquanto que a disponibilidade de proteína alimentícia no intestino delgado depende de sua degra-dabilidade ruminal, e de sua digestibilidade intestinal.
O cálculo das necessidades de proteína metabolizável dos bovinos leiteiros reali-za-se de forma paralela com o sistema do NRC e do INRA. O NRC estabelece recomen-dações de PM (g/dia) e, em função das características da ração, estabelece as reco-mendações de proteína degradável no rúmen (PDR %MS) e a não degradada (PNDR %MS). Em contrapartida, o INRA estabelece as recomendações de PM em unidades de Proteína Digestível no Intestino (PDI g/dia). Conceitualmente, esses dois valores são similares, embora os detalhes de cálculo sejam diferentes, chegando a recomendações muito similares mas não idênticos.
No caso dos ovinos e caprinos leiteiros, as necessidades proteicas são calculadas em PDI a partir de uma aproximação fatorial que particulariza as equações propostas pelo INRA e NRC a nossas raças a sistemas de produção. As recomendações estabelecidas para ovinos e caprinos assumem que a PDI é equivalente a PM. Para facilitar seu uso, os valores de PDI podem ser expressados também como concentração de proteína bruta (PB) na alimentação, a partir do conteúdo estabelecido em PB não degradável da ração. Para isso se propõe a utilização da equação proposta por Sahlu et al. (2004) para raças de pequenos ruminantes (ovinos, Caprinos etc.):
PB (%) = PDI (%) / ((64 + (0,16 x PBND (%)) / 100
Igualmente para a energia, quando as recomendações de PM ou PDI sejam estabe-lecidas em concentração, e devido a diversidade do conteúdo em MS das rações, essas recomendações se estabelecem em porcentagem a respeito da MS (g PM/kg MS; g PDI/kg MS).
4. Carboidratos fibrosos e não fibrosos
A ingestão de energia é, com frequência, um dos fatores mais limitantes da produ-ção leiteira, uma vez que a mesma é uma forma de gordura e que a vaca, a ovelha ou a cabra pode utilizar 1 kg de gordura presente para produzir cerca de 1 litro de leite. O incremento da ingestão de energia depende do IMS e da concentração energética da ração. A concentração energética da ração depende do nível máximo de incorporação das gorduras e da relação entre os carboidratos fibrosos (CF) e os não fibrosos (CNF). O equilíbrio entre essas duas frações é fundamental para o mantimento da saúde ruminal e a prevenção de acidose. O aporte de CF para garantir o funcionamento ruminal requer considerar a quantidade, a natureza (forrageira ou não forrageira) e o tamanho da partícula da fibra detergente neutra (FDN) ou CF. A combinação desses fatores permite o desenvol-vimento do conceito de fibra forrageira (FDN-f) ou efetiva (FDN-e).
O NRC estabeleceu as recomendações mínimas de FDN-f, embora permita valo-res inferiores se por cada unidade de porcentagem por debaixo da recomendação seja incrementada em duas unidades de porcentagem na FDN total. Essa aproximação reconhece um valor FDN-e da fibra não forrageira de 50% para todos os alimentos. No entanto, o NRC não aporta soluções de avaliação numérica da efetividade da fibra em função do tamanho da partícula forrageira, logo, em qualquer caso, existe o risco de sobrestimar a efetividade da fibra quando o tamanho da partícula for pequena. A aproxi-mação do Cornell Net Carbohydrate qnd Protein System (CNCPS, Sniffen et al., 1992) é distinta, e reconhece explicitamente o valor da fibra efetiva não forrageira mediante a atribuição de valores estimativa de FDN-e. Embora a dificuldade de determinar um valor preciso para a FDN-e para cada alimento seja um dos fatores mais limitantes em sua aplicação prática, o uso dos valores tabulados propostos é possivelmente a melhor opção disponível.
Por outra parte, os aportes de CNF são calculados mediante a equação:
CFN = 100 – (FDN + PB + extrato etéreo + cinzas)
É necessário indicar que o cálculo preciso dos níveis de CFN deve ser realizado considerando que a FDN se analisa com amilases termoestáveis e sulfito, com o objetivo de eliminar contaminantes de amidos e proteínas da FDN. Caso contrário, o valor do CFN pode subestimar-se e conduzir a um maior risco de acidose. Ademais, o amido e os açúca-res livres são a fração de mais risco de acidose, pelo qual frequentemente também se estabelecem níveis máximos de incorporação em função do tipo de amido.
5. Minerais e vitaminas
Os aportes de minerais e vitaminas são estabelecidos como recomendações gerais e incluem uma ampla margem de segurança com o objetivo de cobrir possíveis variações no conteúdo desses minerais nos ingredientes utilizados para a fabricação de rações. As recomendações de macrominerais consideram os aportes dos ingredientes, mas os níveis de microminerais e vitaminas se referem a incorporação através do corretor vitamínico-mineral. Essa consideração tem como objetivo evitar erros derivados da avaliação impre-cisa do conteúdo em microminerais e vitaminas dos ingredientes. As recomendações de minerais são estabelecidas em quantidades totais, mas as necessidades de minerais se calculam em unidades de mineral absorvível, pelo qual a recomendação final dependerá não somente do estado fisiológico e nível produtivo do animal, e sim da disponibilidade do mineral aportado nos ingredientes. Tanto o NRC quanto o INRA aportam tabelas de disponibilidade de minerais nos ingredientes e suplementos minerais.
Para os ruminantes leiteiros os principais minerais são o cálcio e o fósforo e as principais vitaminas são as do complexo B e a D.
Emanuel Isaque Cordeiro da Silva
Belo Jardim - 2020
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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