PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais

Autor: Ticiano Augusto Mendonça Cardoso

UMA REVISÃO DA LITERATURA SOBRE A CURVA DE PHILLIPS E SUA APLICABILIDADE PARA O BRASIL

  Área de concentração: Macroeconomia Aplicada

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi de revisar a literatura sobre a curva de Phillips, apresentar a evolução teórica da relação entre inflação e desemprego e apresentar modelos de diversos autores que tratam da dinâmica dessas variáveis para o caso brasileiro. As principais correntes de pensamento econômico descritas foram a Aceleracionista, a Novo Clássica e a Novo Keynesiana. Os resultados descritos nos modelos avaliados para o caso do Brasil, de 1990 a 2012, diferem-se pelos métodos utilizados, pela escola de pensamento que foi levada em consideração ao se estimar a curva de Phillips, pela sensibilidade dos dados e pelos períodos de tempo avaliados. A conclusão obtida é de que não existe consenso quanto à existência da relação inversa entre inflação e desemprego no Brasil.

Palavras-chave: Curva de Phillips. Inflação. Desemprego.

ABSTRACT

The objective of this work was to review the literature on the Phillips curve, to present the theoretical evolution of the relation between inflation and unemployment and to present models of several authors that deal with the dynamics of these variables in Brazil. The main currents of economic thought described in this work were the Accelerationist, the New Classical and the New Keynesian economists. The results described in the models evaluated for the Brazilian case, from 1990 to 2012, differ according to the methods used, by the school of thought that were taken into account when estimating the Phillips curve, the sensitivity of the data and the time periods evaluated. The conclusion is that there is no consensus for the existence of the tradeoff between inflation and unemployment in Brazil.

Keywords: Phillips curve. Inflation. Unemployment.

1 INTRODUÇÃO

 

Visando entender a relação entre as variáveis macroeconômicas inflação e desemprego, foi desenvolvida a Curva de Phillips.

A primeira versão da Curva de Phillips relacionava o nível de desemprego com o montante de inflação salarial durante o tempo, sendo essas variáveis inversamente proporcionais. No entanto há muita controvérsia entre os economistas sobre a existência ou não de uma relação inversa entre inflação e desemprego no curto prazo e se isso poderia ser generalizado entre todos países, hegemonicamente, como uma relação exata e, ainda, se seria eficiente realizar políticas públicas para controlar inflação e desemprego.

A Curva de Phillips possui várias versões diferentes, de acordo com o tipo da escola econômica, com destaque para as seguintes correntes: Aceleracionista, Novo Clássica e Novo Keynesiana. Os aceleracionistas são os que seguem o modelo do economista Milton Friedman, defendem a curva de Phillips acrescida das chamadas expectativas adaptativas, o modelo Friedman-Phelps. Os economistas Novo clássicos propõe o modelo das expectativas racionais e os Novo Keynesianos defendem o modelo da Curva de Philips dada uma rigidez nominal nos preços, a Curva de Phillips Novo Keynesiana (NKPC).

É de grande valia fazer uma revisão dos modelos envolvendo a Curva de Phillips para o caso brasileiro, dado que há diversas abordagens sobre o assunto. As taxas de inflação e desemprego interferem em vários outros setores da economia, o que implica em uma necessidade de entendê-las melhor. Uma revisão de todas as correntes de pensamento sobre o tema pode proporcionar uma visão mais ampla sobre o mesmo.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é descrever os principais modelos da Curva de Phillips e sintetizar os diversos estudos desenvolvidos para verificar se a relação inversa entre inflação e desemprego se adequa ao caso brasileiro. Para alcançar esses objetivos, esta monografia foi dividida em mais três capítulos. O segundo capítulo consiste em uma revisão da literatura acerca da Curva de Phillips, é feita uma evolução histórica de como o pensamento econômico a cerca da curva de Phillips progrediu desde que a mesma foi proposta. No terceiro capítulo, a partir da seleção de diferentes autores que estudaram a curva de Phillips para a economia brasileira, são descritos os métodos utilizados e os resultados obtidos. No último capítulo, a título de conclusão, é feita uma síntese dos principais resultados encontrados para o Brasil.

 

 

2 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE A CURVA DE PHILLIPS

 

2.1 Inflação, ilusão monetária e desemprego

 

Para se entender os impactos da taxa de inflação sobre a taxa de desemprego é necessário, inicialmente, uma discussão teórica sobre cada um dos conceitos de forma isolada. Dado que o objetivo é estabelecer uma relação entre as duas variáveis, é preciso que se entenda os conceitos e, sobretudo, os mecanismos de geração de ambos. Só assim, será possível uma discussão mais detalhada sobre a Curva de Phillips.

 

A Inflação é definida como um aumento persistente e generalizado no índice de preços, ou seja, os movimentos inflacionários são aumentos contínuos de preços, e não podem ser confundidos com altas esporádicas. Esses aumentos devem também ser generalizados estando todos os bens participando dessa escalada altista. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2000, p.181).

 

De acordo com Souza (1992), pode ocorrer inflação em alguns setores da economia e em outros não. No entanto, em média, se houver aumento no índice de preços de vários setores da sociedade, com aumento inclusive no custo de vida, ocorre inflação.

Três dos principais tipos de inflação são:

 

  1.  A inflação de demanda, que ocorre quando a economia cresce rapidamente e começa a superaquecer. Essa inflação estimulada pela demanda normalmente ocorre quando a economia está crescendo mais rápido do que a taxa esperada de longo prazo. Se a demanda excede a oferta, as empresas respondem aumentando os preços.

 

A probabilidade de ocorrer inflação de demanda aumenta quando a economia está produzindo próximo do pleno emprego de recursos. Nessa situação, aumentos da demanda agregada de bens e serviços, com economia já a plena capacidade, conduzem a elevações de preços, principalmente em setores produtores de insumos básicos. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2000, p.181).

 

  1.  O aumento dos custos, que ocorre quando há um aumento no preço das matérias-primas e impostos. Isto acontece quando existe um aumento no custo de produção para as empresas de fornecimento. A inflação também pode aumentar temporariamente, como pelo aumento de taxas indiretas (um aumento da taxa sobre produtos comercializáveis). No entanto esse fenômeno não dura muito tempo.

 

Inflação de custo: ocorre quando há um aumento dos custos de produção, aumento de preço de matéria-prima, aumento dos salários – sem, conseqüentemente, aumento da produtividade da empresa. Neste caso a origem da inflação está diretamente relacionada à empresa. (GIOVANETTI, 2013, p.13)

 

  1.  A inflação inercial ocorre quando há memória inflacionária no País, em que, a inflação atual é a inflação em um tempo passado acrescida da inflação em um tempo futuro. É um tipo de inflação que não se altera e é decorrente de indexação.

 

A inflação torna-se inercial quando os contratos têm cláusulas de indexação que reestabelecem seu valor real após intervalos fixos de tempo. O ponto central da inflação inercial é o de que o reajuste do valor nominal dos contratos em 100% da inflação verificada no período prévio não garante a meta de um valor real constante. Isto porque, dada a extensão do período decorrido entre dois reajustes, o valor real médio de um determinado contrato depende da taxa de inflação vigente mesmo que o contrato contemple o pleno reajuste das perdas devidas à inflação passada. A menos que a extensão do período seja mínima, cláusulas de indexação de 100% são uma cobertura imperfeita contra a inflação. (ARIDA; RESENDE, 1986, p. 17).

 

Segundo Blanchard (2008) é desejável uma taxa de inflação constante, para manter o equilíbrio macroeconômico de um país. Esta visão está relacionada com a corrente aceleracionista da Curva de Phillips, e proporciona uma maneira de se entender a taxa natural de desemprego como a taxa necessária para manter a inflação constante, definida como taxa de desemprego não aceleradora da inflação, Non Accelerating Inflation Rate of unemployment (NAIRU).

 

A constatação da tendência aceleracionista do nível de preços expressa pela curva de Phillips monetarista gerou outro nome para a “taxa natural de desemprego”, a chamada NAIRU (taxa de desemprego que não acelera a inflação). Ou seja, é a taxa que corresponde a um equilíbrio macroeconômico, quando a inflação efetiva é igual à esperada. Neste sentido, ela também pode ser entendida como uma taxa de “pleno emprego”, visto que políticas macroeconômicas expansionistas não podem reduzi-la sem causar inflação e, mesmo assim, sua redução teria efeito somente a curto prazo. Uma taxa de desemprego involuntária igual a zero indica o pleno emprego, segundo as teorias neoclássicas. Se a NAIRU representa uma situação de pleno emprego, ou uma “taxa de desemprego de pleno emprego”, chega-se à conclusão, portanto, que a NAIRU indica um nível de desemprego voluntário. No entanto, outra interpretação é a de que a NAIRU representa desemprego involuntário porque é uma situação de equilíbrio na qual não ocorre market clearing. De qualquer forma, sendo “natural”, a NAIRU não é um índice de crise. Pelo contrário, é considerada uma opção da sociedade que pode ser vista inclusive como positiva, uma vez que evitaria a inflação ou a aceleração da inflação. (DATHEIN, 2000, p.8).

 

De acordo com Nogueira Junior (2010), a estagflação é um fenômeno que ocorre quando se tem uma taxa de inflação alta acompanhada de uma taxa de desemprego alta. A estagflação é um fenômeno econômico que possui altos custos sociais e por vezes é de difícil resolução.

 

O termo estagflação origina-se do inglês stagflation, que por sua vez resulta da combinação dos vocábulos stagnation e inflation. A expressão estagflação representa uma condição econômica caracterizada pela presença de estagnação da economia associada à inflação alta. (NUNES, 2015, p.46).

 

O termo ilusão monetária foi primeiramente utilizado por Irving Fisher na estabilização do dólar em 1928. Foi popularizado por John Maynard Keynes no início do século XX, e Irving Fisher escreveu um importante livro sobre o assunto, “The Illusion Money”, em 1928. A existência de ilusão monetária é contestada por alguns economistas monetaristas, no sentido que a ilusão monetária não é válida no longo prazo, pois as pessoas não teriam nenhuma carência de informação no longo prazo. Monetaristas afirmam que as pessoas agem racionalmente, ou seja, pensam a preços reais, no que diz respeito à sua riqueza no longo prazo, e politicas monetárias só seriam válidas no curto prazo devido à ilusão monetária.

 

A ilusão monetária está relacionada com o fato das pessoas basearem decisões que envolvem aspectos financeiros, em valores nominais e não em valores reais. A existência desse desvio de raciocínio tem sido objeto de estudado de pesquisadores das mais diversas áreas há muito tempo, cabendo citar entre outros os trabalhos Fisher originalmente publicado em 1928, Shafir, Diamond e Tversky (1997). (CARDOSO, 2010, p.48)

 

 

Shafir, Diamond e Tversky (1997) forneceram evidências empíricas para a existência da ilusão monetária. Estes mostraram que a ilusão monetária afeta o comportamento das pessoas em uma variedade de situações experimentais e no mundo real.

Shafir, Diamond e Tversky (1997) afirmam que a ilusão monetária influencia o comportamento econômico na viscosidade do preço, sendo que a ilusão monetária tem sido proposta como uma razão pela qual os preços nominais mudam lentamente, mesmo que a inflação faça com que os preços reais ou custos aumentem. Quando contratos e leis não são indexados à inflação tão frequentemente como se poderia racionalmente esperar, a causa seria o fenômeno da ilusão monetária. Ocorrer ilusão monetária também, segundo os autores, quando os discursos sociais, nos meios de comunicação formais, refletem uma certa confusão sobre o valor real e nominal dos produtos.

A ilusão monetária, de acordo com Shafir, Diamond e Tversky (1997) em uma pesquisa estatística, também pode influenciar as percepções dos resultados dos consumidores, que geralmente percebem um corte de aproximadamente 2% na receita nominal sem qualquer alteração no valor real, mas se houver um aumento de 2% na receita nominal em um cenário no qual há 4% de inflação, os consumidores não percebem a perda do poder de compra. Ou seja, ilusão de monetária significa que variações nominais de preços podem influenciar a demanda, mesmo que os preços reais se mantenham constantes.

Segundo Carvalho (2000), o desemprego ocorre quando as pessoas que estão sem trabalho estão ativamente à procura de trabalho remunerado. De forma simplificada a taxa de desemprego pode ser calculada como um percentual, dividindo-se o número de indivíduos desempregados por todos os indivíduos empregados. Durante os períodos de recessão, uma economia geralmente experimenta uma taxa de desemprego relativamente alta.

 

As séries históricas mostram que as oscilações na taxa de desemprego acompanham as flutuações da atividade econômica: em períodos de recessão o desemprego se torna uma questão social de maior proporção; em períodos de crescimento do nível de atividade o problema tende a diminuir, atingindo apenas os grupos mais vulneráveis. (PRONI, 2016, p.64).

 

Ainda segundo Carvalho (2000), há algumas categorizações de desemprego que são usados ​​para modelar de forma mais precisa os efeitos do desemprego dentro do sistema econômico. O principal tipo de desemprego para o estudo da Curva de Phillips é o friccional.

O desemprego friccional ocorre quando as pessoas que saíram de um emprego estão em busca de outro, ou quando buscam o primeiro emprego. Uma certa quantidade de desemprego friccional seria inevitável, pois ocorre um constante processo de criação e destruição de empregos, e sempre existem novos trabalhadores entrando e saindo do mercado de trabalho. (KRUGMAN, 2007).

 

O desemprego friccional carateriza-se, em regra geral, por ser de curto prazo, não causando muita apreensão por parte dos governantes, uma vez que está relacionado com pessoas que deixam um determinado emprego para iniciar ou procurar um novo emprego. (REIS, 2014, p.6).

 

Segundo Friedman (1968), a taxa natural de desemprego, como postulou o autor, deve ser um indicador de atividade econômica. O desemprego natural representa a taxa de desemprego hipotética consistente com a produção de agregados a longo prazo. Este tipo de desemprego é consistente com a produção de agregados na ausência de vários atritos temporários, tais como ajuste de preço incompleto nos mercados de trabalho e de bens. A taxa natural de desemprego, portanto, corresponde à taxa de desemprego que prevalece sob uma visão clássica de determinação de atividade. Ela é determinada principalmente pelo lado da oferta da economia e, portanto, pelas possibilidades de produção e instituições econômicas. Se esses recursos institucionais envolvem descasamentos permanentes no mercado de trabalho ou salário real, a taxa natural de desemprego pode apresentar desemprego involuntário. A taxa natural de desemprego é uma combinação de desemprego friccional e estrutural que persiste de uma forma eficiente, ampliando a economia, quando os mercados de trabalho e de recursos estão em equilíbrio.

Segundo Friedman (1968), a ocorrência de falhas de mercado fará com que o desemprego real se desvie continuamente a partir da taxa natural, e ser, em parte, determinada por fatores de demanda agregada. A implicação política é que a taxa natural de desemprego não pode permanentemente ser reduzida por políticas de gestão da demanda ou pela política monetária. No entanto, essas políticas podem desempenhar um papel na estabilização das variações da taxa de desemprego real. Reduções na taxa natural de desemprego devem ser alcançadas através de políticas estruturais voltadas para lado da oferta da economia.

 

 

 

2.2 Curva de Phillips

 

Historicamente outros pensadores, como Irving Fisher em 1928, haviam desenvolvido a ideia de que variações salariais seriam inversamente proporcionais ao nível de desemprego, no entanto o mais importante estudo sobre o tema foi escrito por Phillips em 1958.

 

Um outro evento a se destacar nesta área do conhecimento é o artigo de Phillips, publicado em 1958, The relation between unemployment and the rate of change of money wage rates in the United Kingdom, que culminou no que hoje é conhecido em economia como curva de Phillips. Essa curva sugere uma relação entre a taxa de desemprego e as taxas de variação dos salários nominais. Todavia, por conta da necessidade de se estabelecer os fundamentos teóricos para esta abordagem empírica, a curva de Phillips sofreu algumas transformações que possibilitaram o aparecimento de muitas das suas mais variadas versões. (ALVES FILHO, 2004, p.13).

 

É sugerido na primeira versão da Curva de Phillips que a taxa de variação da inflação salarial seria inversamente proporcional à taxa de desemprego. No entanto, apenas na década de 1960 seu trabalho se tornou importante instrumento de análise macroeconômica. Os resultados das análises feitas nesta época resultaram em diversos trabalhos, derivados da Curva de Phillips original, entre elas a análise Keynesiana (que originou a análise novo Keynesiana) e a abordagem monetarista (ou aceleracionista). (ALVES FILHO, 2004).

 

A história da curva de Phillips começou a partir de uma evidência empírica que se estendeu para a busca de uma explicação teórica. Especificamente, a curva de Phillips procura determinar se o aparente trade-off entre inflação e desemprego possui uma relação causal ou é somente uma correlação espúria. Originalmente, a curva de Phillips aparece num estudo de 1958 escrito por A. W. Phillips, que foi baseado em dados britânicos entre 1861 e 1957. Em Samuelson & Solow (1960) argumentaram que essa relação poderia ser utilizada como ferramenta de política econômica. Se o governo quer reduzir o desemprego, isso poderia ser alcançado com o custo de alguma inflação através do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. Os dados para os Estados Unidos também pareciam mostrar que de fato existia um tradeoff entre inflação e desemprego. (MENDONÇA; SACHSIDA; MEDRANO, 2012, p.476).

 

A teoria que foi base para a primeira Curva de Phillips leva em conta a teoria econômica novo clássica, sendo que, se a demanda por um produto ou serviço eleva relativamente à oferta, esperamos que o preço aumente, a taxa de aumento é maior quanto maior for o excesso de demanda. Por outro lado, quando a procura é baixa relativamente à oferta esperamos que o preço caia, a taxa de queda é maior quanto maior for a escassez de demanda. Parece plausível que este princípio deve operar como um dos fatores que determinam a taxa de inflação salarial, que seria o preço do trabalho. Quando a demanda por trabalho é alta e existem poucas pessoas desempregadas deve-se esperar que os empregadores ofereçam salários mais altos, cada empresa e cada setor sendo continuamente tentado a oferecer um salário um pouco acima dos existentes para atrair o trabalho mais eficiente de outras empresas e indústrias. Por outro lado, os trabalhadores ficariam relutantes em oferecer seus serviços à preços menores do que os existentes quando a demanda por trabalho fosse baixa e o desemprego fosse elevado fazendo com que os salários caíssem muito lentamente. A relação entre desemprego e a taxa de variação dos salários seria, portanto, muito provável de ser altamente não-linear. (PHILLIPS, 1958).

 

O trabalho empírico de Phillips é apontado como um marco na literatura acadêmica e despertou um intenso interesse normativo. Com seu estudo, Phillips mostrou que havia uma relação inversa não-linear entre os acrés- cimos nominais nos salários (ou inflação) e o nível de desemprego da economia. Tal evidência contrariou grande parte do mundo acadêmico da época. Para os clássicos, o pleno emprego era a tendência natural da economia e a inflação seria uma conseqüência automática de aumentos excessivos na oferta de moeda. Para os keynesianos, os preços eram considerados estáveis enquanto houvesse desemprego, e a inflação seria, da mesma forma que os clássicos, uma ocorrência verificada apenas no pleno emprego. Contrariando ambas as correntes, Phillips aventou a hipótese de que os preços tendem a acelerar-se à medida que a economia se aproxima do pleno emprego. Ou seja, um nível mais baixo de desemprego só seria possível às custas de inflação. Portanto, haveria um claro conflito entre os objetivos de pleno emprego e estabilidade de preços. Este conflito era desconhecido pelos clássicos e Keynesianos. (CONTADOR, 1975, p.142).

 

A conclusão de Phillips foi que a taxa de inflação salarial pode ser explicada pela taxa de desemprego, exceto após àqueles anos em que há de forma imediata um aumento suficientemente rápido nos preços de importação para compensar a tendência de um aumento de produtividade. Se forem desconsiderados os anos em que os preços de importação sobem rapidamente o suficiente para iniciar um aumento nos salários e nos preços, um aumento na produtividade anual provocaria um aumento do nível de desemprego. Por conta da forte correlação entre desemprego percentual e nível de preços do produto nominal, haveria uma taxa média mais baixa de aumento de salários, no entanto se o desemprego fosse mantido constante, este flutuaria sobre o nível de produto. Há necessidade de uma investigação mais detalhada sobre as relações entre desemprego, salários, preços e produtividade. (PHILLIPS, 1958).

 

Em 1960, dois grandes economistas americanos, Paul Samuelson e Robert Solow (ganhadores do prêmio Nobel de economia no ano de 1970 e 1987, respectivamente), aplicaram o modelo de Phillips para os Estados Unidos. Porém, substituíram a taxa de variação dos salários nominais pela taxa de inflação dos preços, alegando existir praticamente uma igualdade entre elas. Também encontraram uma relação inversa entra as duas variáveis, batizando a mesma de “Curva de Phillips”. A partir de então, a Curva de Phillips passou a ser a pedra fundamental na decisão de políticas macroeconômicas, os governos poderiam escolher entre inflação e desemprego. (VELOSO et al. 2013, p.9).

 

Como dito anteriormente Paul Samuelson e Robert Solow (1960), propuseram uma mudança de inflação salarial pela taxa inflacionária nos preços, e isso transformou completamente a curva de Phillips, pois tornou-a mais notória macroeconomicamente. Esse modelo pode ser escrito  de forma algébrica como explicitado abaixo na equação (1) e representada graficamente como na Figura 1. Sendo a taxa de inflação representada pela letra P , o desemprego representado pela letra u, os preços determinados pela taxa de inflação média esperada ( P’), considerando-se o fato da taxa de inflação esperada ser próxima de zero nos períodos analisados, sendo os fatores que afetam o salário dado o desemprego representados pela letra z, a letra m a margem de preços sobre os salários, e, finalmente, a letra a o efeito da taxa de desemprego sobre a taxa de inflação, dada a taxa de inflação, tem-se a equação fundamental encontrada por Samuelson e Solow, que serviria para o Reino Unido no período de 1861 a 1957 assim como para os Estados Unidos de 1900 a 1960.

                                                   (1) P = m+z-a*u

Figura 1

                                      

                                                                        Fonte: Elaborado pelo autor.

 

Figura 1 - Curva de Phillips Samuelson e Solow

Friedman e Phelps alteraram de forma significativa a forma de se pensar a curva de Phillips. Para os monetaristas existe uma taxa de desemprego que não afeta a inflação, e chamada de taxa natural de desemprego, que corresponderia a um desemprego sistêmico e esperado de uma economia em pleno emprego de fatores, sendo que a economia tende a um nível de renda de equilíbrio por meio dos movimentos de preços. O desemprego natural existe sempre e não afeta a taxa de inflação. A teoria monetarista impunha que, entre outros diversos fatores, a política monetária traria mais malefícios do que benefícios para um país, mas ainda assim taxas de desemprego menores poderiam ser atingidas através de politicas fiscais ou monetárias expansionistas. Friedman defendia que políticas monetárias trariam maior ineficiência no longo prazo e seria de certa forma responsáveis pela desregulação do mercado em termos de inflação e desemprego. O modelo Friedman-Phelps considera a existência das expectativas adaptativas, nesse sentido as expectativas são formuladas a partir do momento anterior, por exemplo, um aumento brusco e estável na taxa de inflação não provocaria mudanças significativas na taxa de desemprego, e a recíproca é verdadeira. No entanto mudanças constantes na taxa de inflação provocariam uma mudança expressiva na taxa de desemprego e vice-versa. (ALVES FILHO, 2004).

Friedman (1968) questionou a existência do tradeoff entre inflação e desemprego, sendo que, para o autor, a relação estudada por Phillips só ocorreria se os fixadores de salários cometessem erros em relação à medida de inflação de forma contínua. E ainda, se o governo fizesse com que o desemprego ficasse baixo à troca de uma alta inflação, os dois atingiriam um nível mínimo que seria a taxa natural de desemprego. Na década de 1970 houve nos Estados Unidos, assim como no Brasil, um período de inflação e desemprego altos simultaneamente, o que consolida a teoria de Friedman sobre a simplicidade do modelo. No longo prazo a curva de Phillips, proposta por Friedman, seria vertical no longo prazo, ou seja, inelástica. Isso se deve aos trabalhadores, no longo prazo, começarem a perceber e esperar uma elevação de preços, o que faria com que estes começassem a demandar reajustes salariais maiores em um montante equivalente à inflação. (BLANCHARD, 2008). 

 

Os trabalhos de Edmund Phelps e Milton Friedman estabeleceram modificações na interpretação original da curva de Phillips. Assim, taxas de desemprego menores podiam ser alcançadas por intermédio de políticas expansionistas às custas de inflação dos salários nominais. Tomando os salários como componentes importantes dos custos, as conseqüências dessas políticas seriam, também, a inflação de preços. Ou seja,  fundamentam a idéia da existência de uma escolha, trade-off, a curto prazo, entre inflação e desemprego. Isso, por conta de que o aumento no emprego é resultado da percepção imperfeita dos trabalhadores quanto ao verdadeiro efeito das citadas políticas. (ALVES FILHO, 2004, p.27).

 

Contador (1975) descreve bem a dinâmica aceleracionista, como demonstrado na figura 2. Uma inflação intencional pode ser uma política atraente, pois a revisão de expectativas do governo é mais lenta, para reduzir momentaneamente o desemprego e elevar a taxa de crescimento do produto.

 

Figura 2

Fonte: CONTADOR (1975, p.144).

 

 

 

Figura 2 - O trade-off aceleracionista

 

Se o governo persiste na busca do menor desemprego u1 ele tentará elevar ainda mais o crescimento da demanda efetiva. Momentaneamente a economia deslocar-se-á do ponto A para E, às custas de um aumento na taxa de inflação efetiva de 10% para, digamos, 20%. Mas tão logo as expectativas sejam revistas, o desemprego retornará novamente ao seu nível natural u*. Em resumo, a insistência em reduzir o desemprego terá efeitos apenas transitórios e apenas enquanto as expectativas de inflação são superadas pelos acontecimentos. (CONTADOR, 1975, p.144).

 

Friedman (1968) afirma que a relação entre inflação e desemprego é de natureza complexa e varia entre países, o que evidencia a complexidade do assunto. Se a inflação esperada for igual à inflação do ano anterior e a taxa natural de desemprego for igual aos fatores que afetam o salário, teríamos a equação (2). No qual, a letra z representa a margem de preços sobre os salários, a letra m é a margem de preços sobre os salários, a letra a representa a razão da variação da taxa de desemprego sobre a taxa de inflação e u' é o desemprego natural de um país.

 

                                                                                           (2) u' = (m+z) / a

 

Sendo assim tem-se a versão aceleracionista da Curva de Phillips. Neste modelo proposto por Friedman (1968), a inflação não iria alterar-se imediatamente, mas sim progressivamente durante os anos dada a variação no desemprego, e esse modelo, representado algebricamente pela equação (3).

 

                                                                                             (3) P-P' = -a*(u-u')

 

De acordo com Friedman (1968), a curva de Phillips só se verificava a curto prazo devido à assimetria de informação entre trabalhadores e empregadores, não havia ilusão monetária. A longo prazo, os agentes promovem um ajustamento que não deixaria que se estabelecesse uma relação entre a taxa de desemprego e os salários nominais, o que tornaria a curva de Phillips vertical sobre o desemprego natural. Ou seja: a longo prazo, a economia se encontraria com a taxa de desemprego natural. (CORTE; CASSUCE; GALANTE, 2009, p.6).

 

Segundo Alves Filho (2004), a versão novo clássica da curva de Phillips foi determinada por Lucas e Sargent. O objetivo desses autores era fornecer uma visão alternativa à teoria Keynesiana dos ciclos econômicos, de forma que o equilíbrio tenha como referência uma teoria dos ciclos que não tenha como base a rigidez dos salários. Os preços são extremamente flexíveis e movem-se para estabilizar os mercados. Os postulados básicos, que são o ponto de partida da teoria novo clássica são que os mercados se equilibram através dos preços e que os agentes econômicos maximizam suas funções de utilidade e de lucros. O que diferencia o equilíbrio clássico do novo clássico é o fato de que cada escola de pensamento propõe formas diferentes de acesso à informação. O equilíbrio novo clássico pressupõe que os preços se alteram de forma a regular os mercados e os indivíduos otimizam suas funções de utilidade com base nas informações disponíveis a eles. Em contrapartida os clássicos partem da premissa de que todos indivíduos têm acesso a todas informações quando maximizam suas utilidades.

O modelo de Lucas e Sargent introduzem a ideia de expectativas racionais, então qualquer choque exógeno, como um aumento no estoque de moeda, provoca efeitos que seriam antecipáveis pelos agentes econômicos. O modelo de Lucas e Sargent condiz com as condições de equilíbrio walrasiano. (ALVES FILHO, 2004).

 

O pensamento “novo clássico” americano tem como principais expoentes as figuras de Robert Lucas e Thomas Sargent, cujo surgimento e difusão ocorreram na década de 1970.  O objetivo dessa concepção teórica é oferecer uma visão alternativa ao paradigma keynesiano sobre os ciclos econômicos, de tal forma que a noção de equilíbrio tenha como referência uma “teoria dos ciclos” que não esteja baseada na rigidez dos salários; pelo contrário, concebe salários e preços como flexíveis e movendo-se exatamente para equilibrar os mercados. (ALVES FILHO, 2004, p.32).

 

Existe ainda a Curva de Phillips Novo Keynesiana (NKPC), esta interpretação da curva de Phillips assume que a relação entre desemprego e inflação é estrutural e não gera problemas quando as politicas fiscais ou monetárias são tomadas para controle de inflação e desemprego, segundo Hornstein (2008). Após os episódios de inflação elevada experimentadas por muitas economias na década de 1970, esta interpretação estrutural da curva de Phillips foi desacreditada. No entanto, após um período de baixa inflação na década de 1980 e início de 1990, os economistas voltaram a trabalhar sobre novas interpretações estruturais da curva de Phillips.

 

Uma equação análoga à curva de Phillips, mas aumentada pelas expectativas, compõe a base dos modelos de equilíbrio geral estocástico dinâmico mais recentes de cunho Novo Keynesiano. Nesses modelos com preços que não se alteram imediatamente, existe uma relação positiva entre a taxa de inflação e o nível do produto e, portanto uma relação negativa entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego. Esta relação é denominada na literatura de “curva de Phillips novo keynesiana”. (MENDONÇA; SACHSIDA; MEDRANO, 2012, p.476).

 

A Curva de Phillips Novo Keynesiana (NKPC), de acordo com Hornstein (2008), assume a existência de rigidez nominal de preços e as flutuações econômicas são vistas como respostas não Pareto eficientes às variações nas preferências e tecnologia e refletem falhas de mercado de larga escala. A equação (4) determina a Curva de Phillips Neokeynesiana para uma economia fechada, em que, a letra k representa o preço da demanda nominal da economia, a letra B representa um parâmetro que multiplica a esperança matemática (que é dada pela letra E) da inflação no próximo ano é representada por   P+1 e, finalmente, a letra X representa PIB corrente menos o PIB potencial do país em questão.

 

                                                                                  (4) P = k*X*B*E(P+1)

 

No caso de uma economia aberta, para se estabelecer uma Curva de Phillips Novo Keynesiana e sua equação básica, é necessário se considerar um vetor, representado por V, que não é correlacionado com os termos de erro econométricos e determina os impactos de outros países sobre o país de origem e um parâmetro que multiplica o quão impactado será o país em questão, representado por S, assim tem-se a equação (5):

 

                                                                         (5) P = k*X*B*E(P+1)*(S*V)

 

Os novo Keynesianos, de acordo com Hornstein (2008), afirmam que as discussões sobre a curva de Phillips foram o cerne da formulação de política monetária. A compreensão da correlação entre o desemprego e a taxa de inflação, e o que estas taxas significam para a formulação de política monetária mudou ao longo dos anos. Muitos economistas e formuladores de políticas econômicas levaram a relação estatística como um menu fixo de escolhas entre inflação e desemprego, que buscavam taxas baixas de desemprego. No final do período de alta inflação e alto desemprego no mundo, surgiram economistas descrentes no tradeoff entre inflação e desemprego, e alguns pensadores acreditavam que o objetivo da política monetária deveria ser a inflação baixa e estável. Depois, alguns economistas voltaram a estudar esse tradeoff a partir do modelo de expectativas racionais e modelos quantitativos de equilíbrio geral.

 

 

3 APLICAÇÕES DA CURVA DE PHILLIPS NO BRASIL

 

3.1 Estudos selecionados

 

Foi feita uma investigação de bibliografia e assim escolhidos os modelos mais robustos em termos de estrutura lógica e tamanho da base de dados. Os modelos propostos foram o de Sachsida Ribeiro e Santos (2009), Schwartzman (2006), Corte, Cassuce e Galante (2009), Veloso e outros (2013), Machado e Portugal (2014), Oliveira, Portugal e Abrita (2016), Mendonça e Santos (2006) e Fasolo e Portugal (2004) para discutir o caso brasileiro. Todos esses modelos têm premissas aceleracionistas, neoclássicas ou novo Keynesianas. Os diversos modelos tratam da curva de Phillips no Brasil entre anos de 1990 a 2012.

Segundo Sachsida Ribeiro e Santos (2009), é difícil de verificar uma Curva de Phillips que seja estimada de forma simples (relacionando somente inflação e desemprego) para o Brasil, pois não se vê uma mudança estrutural na economia devido às políticas econômicas dos últimos anos. Ocorreu também o sistema de metas de inflação e renda foi redistribuída. Além de tudo isso, a abertura econômica brasileira é restrita, o Brasil é protecionista em vários sentidos, o que também impacta no tradeoff entre inflação e desemprego. Sendo assim, para obter uma curva de Phillips mais robusta e menos viesada este trabalho propõe o estudo de modelos que se adequam de forma mais eficiente ao caso brasileiro.

 

Apesar de possuir uma representação simples, a curva de Phillips apresenta razoáveis dificuldades para sua estimação e implementação. A primeira dificuldade refere-se a qual conjunto de variáveis devem-se adotar como proxies para inflação, expectativa de inflação e custo marginal da empresa. Esta escolha não é trivial. Vários estudos escolhem diferentes conjuntos de variáveis, não havendo ainda uma metodologia de escolha que sugira quais variáveis devem ser adotadas. No caso brasileiro, tal dificuldade é maior ainda devido à precariedade de várias séries estatísticas, aliada à grande instabilidade econômica que caracterizou o começo da década de 1990. (SACHSIDA; RIBEIRO; SANTOS 2009, p.12).

 

Além disso, Schwartzman (2006) discute os problemas estatísticos relacionados à obtenção de dados para a Curva de Phillips:

 

A estimativa de equações macroeconômicas estruturais para países em desenvolvimento apresenta problemas particulares. De forma geral as séries de dados são mais curtas e menos detalhadas do que em países desenvolvidos e têm quebras estruturais freqüentes. Dito de outra forma, tanto pela disponibilidade de dados quanto pela abundância de transformações institucionais ocorridas é difícil para esses países projetar o futuro a partir de informações passadas. Entretanto, a política econômica e as decisões empresariais requerem essas projeções, de tal forma que o pesquisador não pode simplesmente se recusar a realizá-las, devendo fazê-lo no melhor de sua capacidade. (SCHWARTZMAN, 2006, p.138).

 

Schwartzman (2006) estima uma curva de Phillips usando dados de utilização da capacidade industrial de 1997 a 2003 para abordar o fato de que o hiato do produto não é observável, o hiato do produto é a diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial. O autor argumenta que há baixa disponibilidade de dados na economia brasileira sobre a dinâmica da inflação, por esse motivo ele opta por realizar estimativas da Curva de Phillips pelo método dos mínimos quadrados em três estágios. O autor ainda testa a imposição existente da verticalidade de longo prazo da curva de Phillips, a qual não é possível de ser rejeitada de acordo com a pesquisa feita pelo mesmo. Esse autor defende que a curva de Phillips ser vertical implica que existe paridade de poder de compra, no mínimo a preços livres, na economia brasileira.

Ainda de acordo com o Schwartzman (2006), seria de grande valia a investigação da premissa da verticalidade de longo prazo da curva de Phillips, se houver disponibilidade de dados estatísticos mais específicos para a medição da mesma, o que contraria a ideia Novo Keynesiana.

O método de estimação de Schwartzman foi o de mínimos quadrados em três estágios, que consiste em adicionar aos dois estágios um terceiro estágio, no qual a matriz de variância dos resíduos das diferentes equações estimada no segundo estágio é utilizada novamente e, estimada pelo método dos Mínimos Quadrados Generalizados. Dessa forma obtêm-se estimadores mais eficientes. Esse método permite incorporar a ideia de que choques de oferta nos diferentes grupos de preços tendem a possuir correlação. Assim, a informação do comportamento de um grupo de preços pode ser utilizada para entender melhor o comportamento do outro. (SCHWARTZMAN, 2006).

 

Fonte: SCHWARTZMAN (2006, p. 146).

 

 

 

Quadro 1 - Modelo de estimativa de inflação

 

 

O IGP-DI citado no quadro 1 implica em índice geral de preços disponibilidade interna (O IGP-DI é o indexador das dívidas dos Estados com a União) e o PPI, citado no quadro 1, é a inflação de preços ao produtor.

As variáveis explicativas de cada equação do quadro 1 são distintas. Na primeira equação do quadro não se incluiu a taxa de câmbio, e na terceira equação do quadro não se incluiu a utilização da capacidade produtiva. A especificação do modelo proposto é de uma economia com equilíbrio interno e externo. A utilização da capacidade produtiva é incluída como desvio do seu equilíbrio de longo prazo. (SCHWARTZMAN, 2006).

Segundo Schwartzman (2006) a utilização da capacidade industrial do brasil é uma alternativa eficiente para medidas de hiato do produto como medida econométrica, pois esta medida se mostra em geral pouco significativa. O hiato do produto mostra o quanto a demanda da economia está distante de sua capacidade máxima de produção. Ao atingir esta capacidade máxima, teríamos mais inflação, pois a demanda seria maior que a oferta de produtos.

Corte, Cassuce e Galante (2009) desenvolveram um modelo de Curva de Phillips baseado na taxa de inflação anual da economia brasileira (πt) mostrado na equação 6, no qual β0, β1, β2 e β3 são parâmetros a serem estimados, v­t é a taxa de desemprego, D é a variável Dummy (que é utilizada para seleção de dados) e µt é o termo de erro aleatório. No entanto, para esse modelo o D e o µ são desconsiderados pelos autores.

 

                                                 πt = β0 + β1 πte + β2/v­t + β3D + µt                                (6)

 

Os dados referentes a taxa de inflação foram obtidos através do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e os dados da inflação esperada foram obtidos através do Banco Central do Brasil e desemprego para a economia, sendo esses dados referentes ao período de novembro de 2001 a julho de 2008.

 

Para representar a taxa de inflação anual da economia brasileira observada (πt), utilizamos Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). O IGP-M registra o ritmo evolutivo de preços no período entre os dias 20 do mês de referência e 21 do mês anterior como medida síntese da inflação nacional. É composto pela média ponderada do Índice de Preços por Atacado (IPA) (60%), Índice de Preços ao Consumidor (IPC-FGV) (30%) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC) (10%). Para taxa de desemprego (vt) foi utilizada a taxa de desemprego - RMS: Referência: 30 dias - RMs. Esta série é elaborada pelo IBGE e reflete o resultado de pesquisas nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Para a taxa de inflação esperada (πte), foi utilizada a média das previsões disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil. (CORTE; CASSUCE; GALANTE, 2009, p.11).

 

Veloso e outros (2013), para estudarem a curva de Phillips, partem do pressuposto de que as expectativas adaptativas são as que melhor se assemelham à realidade, com o intuito de verificar a existência ou não da relação inversa entre inflação e taxa de desemprego para o Brasil no período de estudo. Para isso, foram utilizados dados obtidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Banco Central do Brasil (BACEN). Foram coletadas 123 observações entre janeiro de 2002 e março de 2012.

 

Segundo a Hipótese das Expectativas Adaptativas (HEA), os agentes econômicos estimam a inflação futura com base na expectativa sobre a inflação presente, levando em conta, a uma dada velocidade, os erros entre inflação estimada e a efetiva no presente. Ou seja, existem tanto efeitos imediatos como mediatos, que se expressam ao longo do tempo como um mecanismo de propagação. (DATHEIN, 2000, p.5).

 

Foi desenvolvida uma versão alternativa da equação algébrica de curva de Phillips, proposta por Machado e Portugal (2014), pesquisadores do banco central do Brasil, como alternativa Novo Keynesiana às outras pré-existentes como tentativa de adequar uma nova curva de Phillips ao Brasil. Sendo que, esses cientistas utilizaram somente o fato da inflação no Brasil ser cíclica, ou recorrente. A equação pode ser representada pelas as variáveis já apresentadas nesse trabalho, sendo somente acrescida da variável t (representando o tempo), tem-se a equação (7):

 

                                                                                     (7) P = m^(t)+(B*u)^(t)+u^(t)

 

Algumas questões poderiam ser objeto de investigação de pesquisas futuras. Por exemplo, uma comparação entre o desempenho do hiato do produto com o de outras medidas, tais como o custo unitário do trabalho ou desvio da taxa natural de desemprego. Pode-se também olhar para uma outra abordagem que considera diferentes dinâmicas de mercado e dos preços administrados, e até mesmo possíveis distinções entre bens comercializáveis ​​e não comercializáveis. Finalmente, as comparações com países que têm estruturas semelhantes, utilizando uma abordagem parecida, também poderia ser útil. (MACHADO; PORTUGAL, 2014).

Machado e Portugal (2014) estimaram uma Curva de Phillips de 2000 a 2011, e dadas as dificuldades empíricas claras de corte em torno da Curva de Phillips, o artigo trata a dinâmica da inflação utilizando uma metodologia econométrica diferente das outras utilizadas anteriormente para calcular a Curva de Phillips. Sendo assim, tem-se a vantagem adicional de uma equação que permite uma interpretação mais direta dos dados e, destacam-se, a variabilidade sazonal da inflação no Brasil, mesmo dentro de uma amostra de poucos anos. A redução relativa nessa variabilidade inflacionária nos últimos anos sugere que o sistema de metas de inflação contribuiu para reduzir não só as taxas de inflação, mas também a sua volatilidade dentro de cada ano. Isso até o momento em que os efeitos da crise do subprime vieram se instaurar, sendo que o subprime é um crédito de risco cedido a um tomador que não oferece nenhuma garantia, e foi o que levou à crise de 2008, havendo uma dramática queda na economia e na volatilidade da inflação após o ano de 2008.

No artigo escrito por Oliveira, Portugal e Abrita (2016) são desenvolvidas estimativas da Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação (NAIRU) para a economia brasileira. Sendo que, a NAIRU será alcançada a partir de uma estimação da Curva de Phillips. As estimativas são feitas com dados trimestrais de 2000 até o segundo trimestre de 2013, para isso são utilizados dados da taxa de desemprego aberta no período de referência de 30 dias obtidos do departamento intersindical de estatística e estudos socioeconômicos (DIEESE) e para a taxa de inflação utilizou-se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

O artigo proposto por Mendonça e Santos (2006) avalia se uma medida de credibilidade na política monetária influenciaria diretamente sobre a previsibilidade da Curva de Phillips brasileira após a implementação do regime de metas de inflação no período de 2000 a 2005.

Fasolo e Portugal (2004) estudaram a relação entre inflação e desemprego no Brasil sobre as premissas novo Keynesianas. Essas premissas são que os agentes econômicos não apresentaram racionalidade perfeita, que a inflação possuiria um componente inercial autônomo, que a imperfeição na formação de expectativas poderia ser determinante no componente inercial da inflação brasileira e que relações não lineares entre inflação e desemprego forneceriam os melhores resultados para a economia.

 

3.2 Resultados econométricos

 

Sachsida Ribeiro e Santos (2009) tentaram estimar uma Curva de Phillips para o Brasil utilizando dados de 1995 a 2008. O índice nacional de preços ao consumidor amplo (IPCA) foi utilizado para representação da inflação no modelo dos autores e, a taxa de desemprego utilizada foi a do estado de São Paulo. É pertinente se questionar sobre a taxa de desemprego utilizada no modelo e a taxa de desemprego efetiva no Brasil, os próprios autores chamam atenção para o mesmo:

 

Uma pergunta pertinente que pode ser feita refere-se ao fato de este estudo não adotar a taxa de desemprego do Brasil para estimar a curva de Phillips brasileira. Isto ocorre porque a série de desemprego para o Brasil, calculada pelo IBGE, sofreu alterações metodológicas; a série nova de desemprego foi calculada somente a partir de outubro de 2001, e a série antiga de desemprego foi interrompida em 2002. Assim, os estudos que adotam a taxa de desemprego para estimar a curva de Phillips brasileira usam como proxy a taxa de desemprego de São Paulo, calculada pela Fundação Seade em conjunto com o Dieese. (SACHSIDA; RIBEIRO; SANTOS, 2009, p.13).

 

Sachsida Ribeiro e Santos (2009) chegam à 42 especificações econométricas que apontam para o mesmo resultado, que seria de que a Curva de Phillips não seria de forma alguma válida se fosse calculada através de parâmetros lineares e que seria inadequada a utilização da Curva de Phillips para estimar-se de forma eficiente a dinâmica da inflação brasileira.

 

De maneira geral, são três os principais resultados encontrados neste estudo. Em primeiro lugar, tem-se que, ao contrário do que ocorreu nos resultados anteriores, ao adotarem-se especificações não lineares para a curva de Phillips, o coeficiente da expectativa de inflação torna-se superior ao coeficiente da inflação passada. Isto sugere que artigos que estimam a curva de Phillips por modelos lineares podem estar subestimando o papel das expectativas na dinâmica inflacionária. Apesar de ser um resultado novo para a economia brasileira, a maior importância da expectativa de inflação já havia sido ressaltada por Galí, Gertler e López-Salido (2005) em seu estudo para a economia americana. Em segundo lugar, os testes realizados neste estudo sugerem fortemente a rejeição da hipótese de linearidade nos parâmetros da curva de Phillips. Isto é, a estimação da curva de Phillips por métodos lineares seria viesada e ineficiente. Por fim, os resultados econométricos mostram pouca robustez, e alta sensibilidade, dos parâmetros às diferenças nas especificações de não linearidade ou mudanças no conjunto de proxies adotadas. (SACHSIDA; RIBEIRO; SANTOS, 2009, p.18).

 

Pode-se observar, a partir dos resultados, que o modelo de Schwartzman fornece parâmetros que não são muito robustos. Os preços desagregados e a metodologia utilizada pelo autor não permitem que se chegue a uma conclusão definitiva. Sua metodologia não foi eficiente em obter parâmetros consistentes para todas as variáveis analisadas, o que não inválida qualquer hipótese sobre a obtenção de uma Curva de Phillips para o Brasil. Vários dos parâmetros se mostraram pouco sensíveis a variações no tamanho da amostra no modelo de Schwartzman, o que indica ausência de de multicolinieradade prejudicial, ou seja, as variáveis explicativas do modelo não possuem correlação significativa prejudicial, o que faz com que as estimativas de dados sejam consistentes e não viesadas. (SCHWARTZMAN, 2006).

Para verificar se o tradeoff entre inflação e desemprego para o Brasil, Corte, Cassuce e Galante (2009) utilizaram-se de vários métodos econométricos. Primeiramente, por se tratar de séries temporais, foi testada estacionariedade das séries mediante teste de raiz unitária pelo método de Dickey-Fuller Aumentado – ADF. Depois, foi utilizado a estatística F (para aceitação de todos os valores calculados para β) e o método de Mínimos quadrados ordinários (MQO). E, finalmente, foram realizados os testes de Durbin Watson (DW) e de White, para detectar a autocorrelação dos resíduos e verificar a presença de heterocedásticidade, respectivamente.

Corte, Cassuce e Galante (2009) concluíram então que existe tradeoff entre inflação e desemprego, de forma que uma elevação do nível de desemprego provocaria uma redução do nível de desemprego e vice e versa, com base nas estimativas. Assim:

 

O modelo apresentou resultados satisfatórios, as variáveis estimadas apresentaram probabilidades próximas de zero podendo ser atribuído ao modelo nível de confiança de 99%. Através do teste Dickey-Fuller podemos constatar que as séries são estacionárias, não apresentando risco de resultados espúrios. E o modelo apresentou presença de autocorrelação e heterocedásticidade. (CORTE; CASSUCE; GALANTE, 2009, p.13).

 

O modelo econométrico utilizado por Veloso e outros (2013) parte também da equação 6. A partir do modelo estima-se uma curva de Phillips para a economia brasileira, para verificar a existência ou não de uma relação de longo prazo entre as variáveis analisadas, bem como a relação de curto prazo através da estimação do vetor de correção de erros (VECM), podendo, assim, definir se existe ou não uma curva de Phillips para o Brasil.

 

Um primeiro passo para a análise de séries temporais consiste em avaliar se as séries são ou não estacionárias ao longo do tempo. Uma série estacionária é aquela cujas médias, variâncias e covariâncias permanecem as mesmas, independentemente do período de tempo em que são medidas. A não-estacionariedade de um processo estocástico é a consequência da existência de raiz unitária no processo autoregressivo gerador da variável. Para testar a estacionariedade das séries, analisando a possível presença de raiz unitária, usa-se o teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) e o KPSS, verificando a ordem de integração I(n) de cada série. A ordem de integração de uma variável significa quantas diferenciações foram necessárias para que a série se tornasse estacionária. Logo, I(0) diz que a série é estacionária em nível, I(1) diz que a série é estacionária com a primeira diferença, e assim por diante. (VELOSO et al. 2013, p12).

 

 

Além das análises já descritas, Veloso e outros (2013) utilizam a estimação do modelo de correção de erros (VECM) e a cointegração de Johansen que consistem em verificar se existe uma relação de longo prazo entre as variáveis.

 

O teste de cointegração permite testar se as variáveis envolvidas no estudo possuem efetivamente relação de longo prazo e, ainda, se a integração entre elas pode ser dita como perfeita, ou seja, se uma variação em uma das variáveis independentes realmente é transmitida à variável dependente no longo prazo. (VELOSO et al. 2013, p.13).

 

Os resultados obtidos indicam que existe tradeoff entre inflação e desemprego no longo prazo. Pode-se dizer então que foi encontrada uma curva de Phillips para o Brasil de acordo com Veloso e outros (2013).

               O trabalho de Machado e Portugal (2014) avaliou a dinâmica da inflação introduzindo um modelo de expectativas inflacionárias. O modelo foi estimado através do método da máxima verossimilhança e consegue expressar de forma eficiente a relação dinâmica entre inflação e produção. Com a vantagem adicional do resultado gráfico, que permite uma interpretação econômica mais direta das variáveis, destaca-se a variabilidade da componente sazonal da inflação, mesmo dentro de uma amostra de poucos anos. A redução relativa desta variabilidade nos últimos anos sugere que o sistema de metas de inflação contribuiu para reduzir não apenas as taxas de inflação, mas também a sua volatilidade a cada ano.

            Os resultados de Machado e Portugal (2014) foram consistentes e não viesados, a variância entre os erros de previsão foram relativamente baixos. Dado que o método da máxima verossimilhança produz resultados absolutos e cumulativos o modelo apresentado é relevante.  É apontado pelos autores que os resultados de outras estimativas para a curva de Phillips no Brasil são questionáveis.

Pode-se perceber em azul, mostrada na figura 3, a curva de Phillips Novo Keynesiana para o Brasil no período de 2000 a 2011, segundo Machado e Portugal (2014). Mesmo que a declividade da curva ocorra somente até o ano de 2009, a tendência é que o modelo multivariado tenha inclinação negativa, representado por todas as outras linhas de tendência negativamente inclinadas, o que indica que a Curva de Phillips seria válida e que os parâmetros temporalmente variantes são importantes para a modelagem da mesma.

Machado e Portugal (2014) citam o trabalho de Schwartzman escrito em 2006 e de outros autores como incompletos. Segundo os autores não existia até 2014 trabalhos acadêmicos sobre Curva de Phillips no Brasil que levassem em conta a dinâmica inflacionária como foco primordial de análise, o que comprometeria qualquer tentativa de se estimar uma Curva de Phillips que fosse significativa.

O modelo de Machado e Portugal (2014) leva em conta vários outros modelos para chegar a uma modelagem final, acumulada, a qual permite um estudo do que seria o gráfico da Curva de Phillips para o Brasil que apesar de não ser um gráfico sempre decrescente em si, possui, no entanto, retas de tendência, para os parâmetros, negativamente inclinadas, indicando que o tradeoff entre inflação e desemprego ainda é nítido.

Fonte: MACHADO; PORTUGAL (2014, p. 810).

Figura 3 - A Curva de Phillips Novo Keynesiana

 

Oliveira, Portugal e Abrita (2016), para calcular a inflação esperada utilizaram a metodologia de modelos de series temporais univariadas e um modelo ARMA.

 

Os modelos ARMA compreendem uma classe de modelagem que combinam termos autorregressivos (AR) e/ou médias móveis (MA), sendo que MA consiste em uma combinação linear dos termos de erro ruído branco. Desta forma, atinge-se um modelo ARIMA (p, d, q), em que p é o número de termos autorregressivos, q é o número de termos de média móvel e d é a ordem de integração. (OLIVEIRA; PORTUGA; ABRITA, 2016, p. 500).

 

A figura 4, desenvolvida por Oliveira, Portugal e Abrita (2016), mostra a relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação ao longo do tempo. A partir dela é possível observar que durante o período de adoção do regime de metas de inflação a relação negativa entre inflação e desemprego se dá de forma clara (período entre 1995 e 1999). Contudo, após a implementação do regime de metas (período entre 2000 e 2013), a taxa de desemprego instala tendência de queda e a taxa de inflação permanece praticamente estável. Esse comportamento também foi descrito por Silva (2008), como:

 

Dados brasileiros trazem a complicação adicional de que não houve nenhum trade-off entre inflação e desemprego desde a estabilização. Pelo contrário, a correlação foi positiva. Esta evidência aponta fortemente para a importância dos choques de oferta sobre a dinâmica da inflação recentes no Brasil. (SILVA, 2008, p. 26).

Fonte: OLIVEIRA; PORTUGAL; ABRITA (2016, p. 506).

Figura 4 - Taxa de inflação (INPC), taxa de desemprego (U) e tendências

 

Os polinômios U e INPC descritos na figura 4 são linhas de tendência polinomiais elaboradas pelos autores. Enfim, os autores concluem que:

 

As principais conclusões deste artigo dizem respeito à mudança do coeficiente de correlação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação, que passou de negativo para positivo e da permanência da taxa NAIRU acima da taxa de desemprego no período em questão. Considerando que a taxa de desemprego não aceleradora da inflação mostrou-se acima da taxa de desemprego, é interessante que medidas de elevação a produtividade da economia sejam tomadas, com o propósito do país poder apresentar uma taxa de desemprego cada vez mais baixa, sem que isso cause, como contrapartida, uma externalidade negativa em termos de aceleração do nível de preços. (OLIVEIRA; PORTUGAL; ABRITA, 2016, p. 500).

 

Para elaborar o modelo proposto Mendonça e Santos (2006) se utilizam de uma versão da curva de Phillips com expectativas ampliadas, na qual, a inflação no período depende da inflação esperada e do hiato do desemprego.

 

De acordo com o modelo, as consequências inflacionárias devido a choques de demanda ou oferta dependerão do grau de credibilidade da politica. Assim, em uma situação de credibilidade elevada, períodos de persistentes excessos de demanda resultarão em uma menor pressão inflacionária do que normalmente seria observado no caso de uma baixa credibilidade.

No caso de a política monetária ter uma credibilidade nula, o aumento temporário no hiato do desemprego resulta em um aumento permanente na taxa de inflação. Em todos os outros casos, o aumento no hiato do desemprego resulta em uma elevação temporária na inflação devido ao fato das expectativas inflacionárias estarem parcialmente ancoradas aos objetivos de longo prazo da autoridade monetária. (MENDONÇA; SANTOS, 2006, p. 296).

 

Mendonça e Santos (2006) utilizaram-se do desemprego do estado de São Paulo como variável de medida da taxa desemprego e utilizaram-se do IPCA, dados obtidos pelo Banco Central do Brasil, para a medida da inflação.

A conclusão de Mendonça e Santos (2006) é de que a utilização de uma medida de credibilidade na política monetária pode promover um modelo estátistico de tradeoff de inflação e desemprego mais robusto e superior aos modelos que apresentam uma relação estável entre a inflação passada e a expectativa de inflação.

 

Os resultados encontrados indicam que a utilização de uma medida de credibilidade da política monetária para a economia brasileira, tal como proposto por Laxton e N’Diaye (2002), pode prover um modelo estatístico com uma qualidade de previsão para o trade-off entre inflação e desemprego superior àquelas obtidas por modelos que impõem uma relação estável entre a inflação passada e as expectativas de inflação. Ademais, a introdução da credibilidade da política monetária na analise mostrou-se relevante, pois indica que há uma redução na inflação sem implicar aumento na taxa de desemprego. Em outras palavras, de acordo com os resultados obtidos, a incorporação da credibilidade no modelo leva a uma redução no trade-off supracitado (MENDONÇA; SANTOS, 2006, p.303).

Sendo assim os autores verificaram que a partir da medida de credibilidade o tradeoff entre inflação e desemprego diminui indicando que não se pode verificar a curva de Phillips para o Brasil.

O artigo de Fasolo e Portugual (2004) utiliza-se de dados mensais no período de 1990 a 2002. As variáveis adotadas são o índice nacional de preços ao consumidor amplo (IPCA) para medir inflação, o desemprego aberto, ajustado a cada 30 dias, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fasolo e Portugal (2004) concluem que a curva de Phillips deve ser estimada para o caso do Brasil a partir de modelos não lineares. Os autores ainda afirmam que mesmo com as inerentes dificuldades de se obter uma curva de Phillips para o Brasil, a relação de tradeoff entre inflação e desemprego ainda é significante e pode guiar as políticas econômicas. Sendo assim a curva de Phillips, ao incorporar certas premissas teóricas e econométricas, pode ter um grande poder de explicação para os fenômenos econômicos.

 

 

4 CONCLUSÃO

 

A proposta deste trabalho era estudar a evolução teórica dos principais modelos de Curva de Phillips. Além disso, apresentar e discutir modelos de Curva de Phillips que fossem relevantes para o Brasil.

          Primeiramente, foi realizado uma revisão de literatura discriminando os conceitos de inflação, desemprego e ilusão monetária. Após isso, foi descrito de forma detalhada o modelo original de Phillips de 1958, o modelo de Samuelson e Solow de 1960, o modelo aceleracionista de Friedman e Phelps e, finalmente, foi apresentado o modelo Novo Keynesiano. Cada um desses modelos é descrito de forma teórica e, além disso, é atribuído a cada um deles uma simplificação algébrica para facilitar o entendimento dos mecanismos de funcionamento da Curva de Phillips.

         Posteriormente, foram analisados trabalhos que buscaram testar a relação empírica entre inflação e desemprego no Brasil. O trabalho de Sachsida Ribeiro e Santos em 2009 apontam que a Curva de Phillips não linear não é eficiente para explicação da dinâmica inflacionária brasileira como um todo, o que não invalida a existência da Curva de Phillips no Brasil. O trabalho de Schwartzman escrito em 2006 chega a resultados inconclusivos sobre a curva de Phillips, mas não descarta a possibilidade de que a mesma possa existir para o Brasil. Corte, Cassuce e Galante em 2009 concluem que existe um tradeoff entre inflação e desemprego. Veloso e outros em 2013 estimaram uma curva de Phillips válida para o Brasil. Oliveira, Portugal e Abrita em 2016 concluem que existe uma correlação negativa entre inflação e desemprego de 1995 a 1999 que passa a ser positiva de 2000 a 2013. Mendonça e Santos em 2006 concluem que não se pode afirmar que existe a relação de tradeoff entre inflação e desemprego no Brasil. Fasolo e Portugal (2004) chegam à conclusão que a curva de Phillips no Brasil pode ser verificada. Machado e Portugal em 2014 explicitam que até o ano de 2014 nenhum trabalho havia utilizado a dinâmica inflacionária como foco primário de análise para o caso brasileiro, por isso, utilizando-se de modelos auxiliares e baseando-se na dinâmica da inflação brasileira, estimaram com sucesso um modelo de curva de Phillips para o Brasil, indicando que a relação de tradeoff entre inflação e desemprego é válida.

         Sendo assim, não existe um consenso sobre a aplicabilidade da curva de Phillips para o Brasil.

REFERÊNCIAS

 

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