INTRODUÇÃO

O presente artigo é parte de um capítulo de minha dissertação, o principal objetivo desta é socializar a pesquisa de campo realizada na cidade de Valença- Rio de Janeiro. Nesse trabalho também abordarei o símbolo da circunferência e a importância do mesmo para a Dança do Jongo. Dessa forma, utilizamos a metodologia etnográfica com a técnica da entrevista, posteriormente análise da documentação disponibilizada, juntamente com outras fontes históricas que retratam essa cultura.

Valemos-nos da entrevista informal e a formal através de um questionário pré- estabelecido e da observação, também podemos dizer que utilizamos a categoria de analises etnográficas abordadas por Roberto Cardoso de Oliveira (1996), no que se refere às práticas da observação e da escuta das narrativas dos informantes. Outra técnica utilizada de forma indireta foi a bibiografia de material já produzido em torno da cantora.

No primeiro momento ao chegarmos á cidade buscamos fazer o levantamento de área, uma forma de conhecer melhor a cidade, pois era a primeira vez que visitávamos a mesma, procuramos a Secretaria de Cultura e formos orientados a procurar à senhora Dilma Dantas Moreira Mazzêo, que a época era secretária, em seguida o contado com a senhora, quando fizemos a apresentação que pertencíamos ao Programa de Pós-graduação da Universidade do Estado do Pará, especificamente em Ciências da Religião, e que estava ali para entender melhor a religiosidade do meu objeto de pesquisa, a referida senhora ficou muita surpresa e maravilhada por poder estar contribuído, pois disse que “uma das ações enquanto esteve na gestão foi dar visibilidade a uma parte dessa história que estava ficando para trás, apresentava interesse, pois a cidade historicamente foi o inicio de construção cultural de um povo que contribui para a nossa diversidade cultural”.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA:

O presente texto faz parte de um tópico da pesquisa intitulada como, Clementina de Jesus: Uma representação Simbólica e Empoderamento da Religião afrobrasileira, tecemos uma breve biografia a respeito da cantora, uma forma de entendermos o contexto da mesma e a proposta a ser discutida nesse artigo.

Clementina de Jesus nascida em 25 de agosto de 1901,   no bairro de Carambita na cidade Valença- RJ, que fica localizada na região do Vale do Paraíba, região considerada o tradicional reduto dos jongueiros, filha de Amélia de Jesus dos Santos e Paulo Batista dos Santos, a cantora era descendente de escravos livres com a Lei do Ventre Livre, no ano de 1871, também conhecida como a Lei Rio Branco. Foi descoberta na década de sessenta, já residindo na capital do Rio de Janeiro pelo autor e compositor Hermínio Bello de Carvalho. Clementina de Jesus teve seu primeiro contato com a música quando ouvia a mãe cantar cânticos de origem africana num dialeto yorubá e posteriormente repetia as músicas como parte de seu cotidiano, o que marcariam sua vida com o Jongos, incelências e pontos de trabalhos. Ainda criança estudou como semi interna no Orfanato Santo Antônio, onde tinha aula de canto, já na adolescência foi convidada por João Cartolina - liderança da comunidade, mestre festeiro, a participar como pastora do grupo de Folia de Reis, mais tarde foi diretora da escola de samba Unidos do Riachuelo, onde o diretor  de harmonia era Aniceto que viria posteriormente ser o fundador do Império Serrano. A partir então o canto passou a ser seu companheiro até ser descoberta por Hermínio de Carvalho, a partir daí não deixou mais o canto.

A Cantora em seus depoimentos sempre afirmou que sua religiosidade era proveniente do catolicismo, negando a religião de matriz afro-brasileira e é nesse sentido que parto para uma discussão, de que a referida cantora mesmo se auto afirmando com a religião católica nunca deixou suas raízes culturais, especificamente sua religiosidade africana, levando em consideração que os amigos os quais contribuíram mais tarde para essa afirmação praticavam culto afro-religioso, encontrava-se entre os amigos presente Tia Ciata. O autor Grande Ottelo, ressalta no documentário a verdadeira história do samba recorte de Janine Houard, publicado por Gabriela Souza em 10/05/2014, que as músicas que o grupo da rapaziada batucavam, posteriormente deram origem ao samba, onde o mesmo tem sua raízes culturais atreladas nas danças do Jongo, Caxambu, Lundu, Maxixe, cujo gênero musical é a legitima representação da cultura africana e que foi inventada no Rio de Janeiro. Por volta de 1911, esses grupos já se encontravam com uma identidade construída, o ponto de referência localizava na cidade nova – Bairro Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, diz Ottelo, lá morava a tia Ciata, tia Carmem, eram tias baianas, eram visitadas pelos “vagabundos”, (denominação dada por policiais da época aos rapazes que se expressavam através da música, batucavam). Tia Carmem era chefe da casa e João Abala – pai de santo vindo da Bahia, a mãe Ciata na religião era mãe pequena da casa do referido sacerdote. Especialista na arte de curar através da religiosidade afro-brasileira, em sua casa era encontro dos amigos como Pixinguinha, Donga da Baiana, Clementina de Jesus, mestre Candeia, dentre outros. Os amigos se reuniam e tinham os grupos de capoeira que ficavam fora da casa, o grupo do Batuque se localizava atrás da casa e dentro ficava o grupo do chorinho, o qual Pixinguinha se encontrava, o interessante que o choro não era proibido. No entanto, quando a policia chegava o grupo de capoeira se escondia, bem como o grupo do batuque, “Jongo”, ficando somente a rapaziada do choro, rapaziada a maneira como se cumprimentavam, pois esse grupo era permitido, levando em consideração que atendia a uma demanda de pessoas da classe média que gostavam desse estilo musical.

Dessa forma, evidenciamos na dança do Jongo uma parte dessa cultura que me proponho aqui discutir. Para tal abordagem me utilizei da pesquisa de campo, e na oportunidade estive no dia 26 de outubro de 2017, na cidade de Valença onde pude comprovar através de relatos e documentações disponibilizadas pela Secretária de Cultura, a Senhora Dilma Mazzêo, a mesma no ano de 2001, quando esteve á frente da secretaria, promoveu uma Homenagem ao Centenário á Clementina de Jesus, na ocasião, também foi realizado o VI encontros de Jongueiros, o evento fazia parte da homenagem à cantora. As comunidades jongueiras que participaram do encontro eram: Valença, Campelo, Santo Antonio de Pádua, Miracema, Guaratinguetá, Pinheiral, Barra  do Piraí , Serrinha e Angra dos Reis, bem como as comunidades em torno. Sendo assim, possibilitando a preservação de seus valores culturais.  (Documento, Boletim Oficial nº 04, 16 de novembro de 2001).