Uma reflexão sobre a pobreza
Por ADRIAN FREITAS CAMPOS | 04/12/2018 | SociedadeCenário da pobreza no Brasil
Segundo a estatística do IBGE, o Brasil tem cerca de 16,2 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza. E pelo visto a situação não vai mudar tão cedo, acredito que o problema da minha pátria é mais ético do que econômico; o que falta é assumirmos uma postura mais rígida, resgatarmos direitos e valores, afinal, os brasileiros reclamam tanto de desonestidade, mas diante dos simples testes de honestidade a maioria falha. Foi realizado um teste onde colocaram vários relógios numa vitrine junto com um papel informando os valores de cada um; e ao lado um recipiente onde deveriam pagar, enquanto aqui houve dois ou três que passaram no teste (porque a maioria furtava os relógios ao invés de deixar o dinheiro no recipiente), em contrapartida nos EUA foi feito o mesmo teste e todos pagaram. Se queremos o direito de ter um governo honesto, devemos também procurar sermos honestos no dia a dia.
Outra coisa que desde criança venho ouvindo é a palavra crise, apesar de que somos ricos em recursos naturais, volta e meia nas últimas décadas ouvimos falar nisso, esse assunto não sai dos noticiários, diversos governos estiveram no comando ao longo dos anos, e ainda estamos longe de erradicar os problemas básicos dessa nação, nosso problema é cultural, ético e moral.
Temos o costume de associar a pobreza com miséria ou falta de recursos, este é um pensamento que norteia entre os brasileiros. Mas, parando para refletir podemoscompreender que pobreza vai além de escassez, afinal, algumas pessoas possuem poucos recursos e mesmo assim conseguem ser felizes, conquanto outras tendo abastança, ainda se sentem infelizes, para lhe facilitar o entendimento deixo essa frase “Tem rico que é tão pobre, que a única coisa que tem é dinheiro”(D.Helder Câmara). Existem pessoas “pobres” que vivem em palácios e pessoas que são ricas vivendo em pequenas casas de periferias. Minha reflexão é filosófica, esse texto tem a intenção de provocar você leitor a viajar comigo no campo do pensamento, aliás, pensar é uma viagem, vou mais além, pensar é uma arte essencial para a humanidade. Ao final desse texto as minhas palavras ficarão claras como a neve na mente dos que lerem.
“Pobreza, de pobre, mais o sufixo “eza”, comum na formação de palavras em português. Pobre veio do latim pauper, radicado em paucus, pouco. No conceito original, pobre não é quem tem pouco, mas quem produz pouco”.
Acho muito interessante essa ideia, pois, é um fato que haja tantas pessoas que produzem pouco: pouco respeito ao próximo, pouco carinho, pouco no trabalho, pouca admiração, pouca satisfação ao cônjuge, pouca inspiração, pouca motivação, pouca contribuição para o bem coletivo, os exemplos são diversos. Pessoas assim podem ser taxadas como pobres, porque de fato são; vale lembrar que, se voltarmos um pouco no tempo iremos recordar que foram os gregos que criaram uma moeda metálica com um valor padronizado pelo Estado(século VII a.C.), sendo assim, esqueça essa ideia de que pobreza tem a ver somente com falta de dinheiro, porque ela já existia entre as civilizações mais antigas do mundo, dinheiro surgiu depois.
Nos primórdios em que o homem passou a dominar a agricultura, houve prosperidade e fartura resultantes da produção e organização dos povos, mas nem tudo é um mar de rosas, compreendo que há também problemáticas em afirmar que a solução é apenas produzir bastante, pois enquanto uns foram prósperos produzindo muito, outros não, exemplo disso é o período feudal onde os servos produziam muito, fazendo apenas a alegria de seus senhores. Mas vamos expandir um pouco a nossa cogitação sobre este assunto, afinal, isso não é uma aula de história (risos) e sim um artigo filosófico.
Pobreza da alma
“A pior pobreza é a da alma”Theodore Dalrymple
Temos maior percepção e conhecimento a respeito da pobreza material, porém existe também um tipo de pobreza que assola a humanidade, e essa só pode ser percebida através de uma análise minuciosa. Trata-se da pobreza da alma, que o escritor e psiquiatra Theodore Dalrymple fala, a qual eu só fui saber a respeito quando despertei o meu interesse em filosofia e reflexões sobre a psique humana, toda a ideia que esse estudioso desenvolveu condiz com o que vemos diariamente. A deterioração do caráter do homem contemporâneo está em ascensão, o vazio espiritual e emocional são fatores presentes; essas são as novas chagas do momento. Grande parte das pessoas não enxergam um centímetro além de seus próprios umbigos, estão preocupados somente com seus interesses, nesse momento recordo da frase de Leon Tolstoi “Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a sua fogueira.”, e tenho a leve impressão de que o mundo caminha para esse escopo. Nossa pobreza moral é bastante visível, as pessoas não se olham, nem se cumprimentam, andam estressadas, indiferentes com o que acontece ao redor estão preocupadas apenas com seu próprio mundo; elas carregam um ar de superioridade, valorizam mais as coisas do que o próximo, não se respeitam como gente, vale destacar que muitos não enxergam o pobre como pessoa, aqueles que tem essa visão é que realmente são os pobres de alma. O escritor e Dr. Samuel Johnson dizia que o teste definitivo de uma civilização está na sua maneira de tratar os pobres. Isto nos mostra que falhamos no teste, acredito que se tem alguma coisa que podemos fazer para erguer das cinzas qualquer fracassado ou necessitado, é semear o bem, o respeito e o amor ao próximo, olharmos para o nosso semelhante com um olhar de igualdade, basicamente aquilo que cresci ouvindo os mais antigos citando “ninguém é melhor do que ninguém”. Em meio a esse declínio espiritual ainda existem pessoas que tem mantido valores dignos de aplausos, como por exemplo a mulher do jornalista Fausto Wolff, veja o que foi escrito sobre ela no jornal do Brasil:
“Minha mulher leva na bolsa R$10 em moedas para dar aos meninos que lhe pedem dinheiro para comer. Outro dia, contou-me uma história que comoveu este velho coração de granito. Um menino pretinho de cinco anos pediu-lhe dinheiro para comprar um pão. Ela disse-lhe: ‘Pois não, meu filhinho querido’. O menino ficou com olhos cheios de lágrimas. Afastou-se e logo voltou e pediu mais dinheiro, mas, em verdade, o que queria era ouvi-la dizer que ele era querido. Logo, outros se aproximaram apenas para ouvir palavras carinhosas e se sentirem seres humanos. Em dez anos estarão queimando ônibus?”
São essas as reflexões que eu pretendia expor nesse artigo. Ora, sejamos então mais produtivos. Não somente na empresa ou na faculdade, nas nossas metas pessoais e profissionais, mas principalmente no único lugar onde não devemos jamais ser miseráveis. E que lugar é este? Alma, esse é o lugar! Sigamos os poucos exemplos louváveis que ainda temos nesta vida. Afinal, as pessoas não são totalmente más, elas só estão perdidas, ainda há esperança!
REFERÊNCIAS: Olavo de Carvalho, Theodore Dalrymple, D. Helder Câmara.