A educação superior no Brasil, quando foi introduzida (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1920), tinha caráter elitista, com predomínio do interesse das classes mais abastadas, e a inserção era restrita aos mais ricos. Quase cem anos depois, numa curtíssima trajetória (se comparada, por exemplo às escolas da Grécia, Roma e, num outro plano, França, Inglaterra e demais países importantes da Europa), é importante e necessário traçarmos uma análise de seu desenvolvimento e abrangência.

     O Brasil possui uma das mais baixas de escolarização superior da América Latina: algo em torno de 9% da população brasileira entre 18 e 24 anos estuda em Instituições Superiores Públicas. Nos últimos dez anos, a matrícula nessas instituições girou em torno dos 28%, e nas instituições de ensino superior o número acompanha 86%, talvez devido à redução significativa do orçamento destinado às instituições públicas, embora os governos situacionistas tenham dito o contrário.

     A desigualdade no acesso ainda perdura, e as classes menos favorecidas continuam assoladas com as inúmeras dificuldades. A começar pelo preparo para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio): por ser de resultado classificatório, os mais preparados conseguem melhor colocação; para se preparar, os mais ricos conseguem cursos “pré ENEM” em instituições particulares, destinadas somente a esse fim, ou o próprio fato de estudarem em escolas particulares de renome, garantem uma boa prova e, consequentemente, o ingresso em instituições públicas, mormente federais. Sobra, para os menos favorecidos, o ingresso em instituições particulares de ensino superior, quando, na verdade, esperava-se o contrário!

     A má distribuição dos recursos, que, segundo apontamentos, concentram-se mais nas regiões centro-sul e sudeste, acabam por desfavorecer as regiões mais necessitadas.

A qualidade do ensino está, nesse bojo, diretamente ligada ao preparo docente e o campo de atuação desses profissionais. É muito comum a crítica voltar-se ao despreparo de profissionais docentes, sem analisar a fundo o âmago do problema. Ora, a formação superior fora do âmbito das instituições públicas é cara, e seu investimento torna-se inviável, dadas as baixas perspectivas de ganho salarial por parte dos professores de maneira geral. A Lei de Diretrizes e Bases prevê a contratação de um terço de seu corpo docente para Mestres e Doutores, ao passo que, para chegar nessa titulação fora das instituições financeiras, o custo é quase astronômico.

     É certo que o sistema de cotas ajudou na inserção dos menos favorecidos em instituições públicas superiores, mas ainda temos muito o que fazer para a melhoria do ensino superior no Brasil. Se começarmos pela extirpação da ideia de que a primeira fonte de redução de gastos devem ser cortes no sistema de educação, já seria um grande avanço. A valorização do profissional docente e o estímulo à pesquisa e ao aperfeiçoamento da prática docente, melhoras nas condições de trabalho e acesso aos instrumentos tecnológicos que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, bem como o fomento ao aumento de instituições públicas voltadas à formação de profissionais qualificados nas mais diversas áreas do saber científico, são basilares para se pensar em progresso.

     Não existe avanço em um país onde as instituições superiores são sucateadas e/ou elitizadas. Não existe desenvolvimento em um país cujas instituições de ensino superior são colocadas em segundo plano, numa ideia de “se der”. É necessário um olhar mais crítico e, talvez, socrático, para o sistema de ensino superior no Brasil.

Aproveitando a oportunidade, que tal começarmos, nós mesmos, docentes e afins, pelo voto?