Uma nova proposta de ensino de língua portuguesa

Por Jamerson Kleber França da Silva | 31/01/2013 | Educação

FACULDADES INTEGRADAS DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

 

 

 

JAMERSON KLEBER FRANÇA DA SILVA

 

 

 

O ENSINO DE SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA: INTERFACES.

UMA NOVA PROPOSTA METODOLÓGICA NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2013

JAMERSON KLEBER FRANÇA DA SILVA

 

 

 

 

 

O ENSINO DE SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA: INTERFACES.

UMA NOVA PROPOSTA METODOLÓGICA NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA.

 

 

 

 

                                                                                           Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de                                  

                                                                                           especialização em ensino de língua portuguesa e  produ-

                                                                                           cão textual das faculdades integradas da Vitória de San-

                                                                                            to  Antão – FAINTVISA, como  requisito  parcial  pela

                                                                                                                               obtenção do título de especialista.

 

 

Orientador: Prof. José Ricardo Paes Barreto

 

 

 

Vitória de Santo Antão

2013

 

INTRODUÇÃO

Vários professores encontram dificuldades quando o assunto da aula é o estudo dos significados das palavras. Écompetência de a Semântica estudar os signos, significados, enunciados, enunciação, para que haja uma compreensão textual mais eficiente eenvolva não somente os conhecimentos textuais, mas também os contextuais, que estão em um círculo inevitável entre: sujeito, mundo e texto interagindo constantemente entre si.

O fato é que ainda não se tem a semântica como uma ciência autônoma, independente. Isso se dá porque existem inúmeras teorias conceituais sobre ela, mas o seu objeto de estudo: “o significado” não é uma coisa concreta, acabada, mas abstrata, aberta e vaga.

O que proponho nesse artigo é trazer uma nova proposta de ensino de semântica em que os professores precisam ensinar os significados lexicais partindo da prática para a teoria de maneira contextualizada, sem que haja exemplos descontextualizados e isolados, porque o texto é a base para entender os significados das palavras.

A pragmática que estuda a linguagem em uso é disciplina importante e indissociável para entendermos os significados. Ora o uso é que auxilia o entendimento dos enunciados e por isso também abordarei essa relação entre ela e a semântica que são interdependentes e cruciais para um ensino de língua materna mais eficaz, que por muito tempo limitou-se apenas ao estudo da gramática normativa. É preciso entender que várias regras morfossintáticas que a gramática normativa ensina a decorar, são facilmente resolvidas pela semântica, as quais serão mostradas ao longo deste artigo.

 

 

 

 

 

1-                 Conceito de semântica

A maioria dos semanticistas a definem como sendo a ciência que estuda os significados. Observe o conceito de semântica segundo Celso Pedro Luft em seu dicionário:

 

“ Ciência das significações dos elementos linguísticos.” (LUFT, 1990).

Por muito tempo os lingüistas e semanticistas tiveram a preocupação de apenas buscar teorias que definissem o conceito de semântica e esqueceu-se de construí-lo partindo de exercícios práticos, como acontece em qualquer ciência partindo de experimentações científicas, ou seja, da prática para a teoria.

Vejamos o que diz os semanticistas: Rodolfo Ilari e João Wanderley Geraldi no capítulo I de seu livro: Semântica:

“[...] a semântica é um domínio de investigação de limites movediços; semanticistas de diferentes escolas utilizam conceitos e jargões sem medida comum, explorando em suas análises fenômenos cujas relações não são sempre claras: em oposição à imagem integrada que a palavra ciência evoca, a semântica aparece em suma, não como um corpo de doutrina, mas como o terreno em que se debatem problemas cujas conexões não são sempre óbvias.” (ILARI & GERALDI, 1995, p.6).

O conceito dessa ciência ainda é muito complexo e incompleto, pois não se tem um objeto de estudo totalmente definido. O significado é algo subjetivo por isso requer um estudo delicado e minucioso. Essa situação é uma das causas de os estudos teóricos semânticos serem tão limitados e contraditórios. Uma boa parte de semanticistas prefere não considerá-la como ciência, pelo simples fato de não poderem comprovar seu conceito com teorias “movediças” ou por não conseguirem descobrir a melhor maneira de ensiná-la no ensino de língua materna. Outros também se negam a dar uma continuidade aos estudos semânticos, simplesmente pelo fato de ter que recorrer a outras ciências como: a Linguística, a psicolinguística, a sociolingüística e a filosofia. Esse estudo transdisciplinar acaba fazendo os semanticistas desistirem de pesquisar a descoberta de novos caminhos para se chegar ao estudo dos significados.

1.1-           Objetivos da Semântica

 

“[...] Uma teoria semântica deve: (I) fazer referência, de modo preciso, à estrutura sintática; (II) representar sistematicamente o significado das palavras isoladas (ou, mais genericamente, dos elementos léxicos, que incluem também frases lexicalizadas como idiotismos, compostos isolados, etc.); e (III) mostrar como interagem a estrutura do significado das palavras e as relações sintáticas para construir a interpretação de orações. Finalmente, deve mostrar como tais interpretações relacionam-se com as coisas de que se fala.” (BIERWISH, 1976, p. 163 apud CASTIM, 1983, p. 8).

Essa citação mostra-nos alguns objetivos básicos e tradicionais da semântica. Perceba que se têm uma proposta de estudo do significado de palavras isoladas. Será que isso realmente funciona em sala de aula ou torna-se apenas uma mera perca de tempo tentar utilizar exercícios que busquem compreender os significados lexicais isoladamente?

Outro objetivo citado é uma referência precisa à estrutura sintática. Como podemos na condição de semanticistas, falar de precisão se estamos trabalhando com um objeto de estudo (o significado) completamente subjetivo e relativo? Indiscutivelmente, deve haver um estudo sintático-semântico, pois é através da organização dasfrases que chegamos a uma compreensão mais eficaz do enunciado. Portanto, esse critério é insuficiente, já que temos outros interdependentes como: o contexto e o uso, que são cruciais para que se tenha uma melhor compreensão de um texto e um abrangente estudo das significações.

2-        Conceito de pragmática

“O uso do termo Pragmáticacomo ramo da linguística teve início com Charles Morris, em 1938, significando o estudo da linguagem em uso. Rudolf Carnap, que trabalhara com Morris, definiu-a como sendo a relação entre a linguagem e seus falantes.” (NASCIMENTO, 2010,p.19).

 

A pragmática é um dos ramos da linguística que estuda a linguagem em uso, ou seja, envolve os atos de fala de um sujeito e a compreensão desses, partindo do contexto de enunciados comunicativos

    Essa disciplina é nova em estudos lingüísticos, mas já existe desde que o primeiro homem começou a interagir com o uso da linguagem. Seu principal objetivo é estudar os significados implícitos de uma conversação e explicar a importância da linguagem em uso com a capacidade de informar, convencer ou iludir.

    Ao longo desse artigo veremos a relação interdependente existente entre a semântica e a pragmática que muito nos ajudará a compreender os significados de palavras, frases e enunciados de um texto. Esse novo critério do estudo funcional da língua será chamado de pragmático-semântico.

2.1- Objetivos da pragmática

 

O professor Marcos Nascimento,das faculdades integradas da Vitória de Santo Antão - FAINTVISA, Mestre em Linguística pela UFPB, faz um comentário relevante acerca de alguns objetivos da pragmática, no livro:Pragmática- compreensão e violação das máximas conversacionais em gêneros textuais:

“[...] A pragmática está além da construção da frase, estudada na sintaxe, ou do seu significado, estudado pela semântica. A pragmática estuda essencialmente os objetivos da comunicação. (NASCIMENTO, 2010, p.19).

Partindo do raciocínio apresentado por Nascimento, podemos afirmar que a preocupação da pragmática é estudar os processos comunicativos da linguagem em uso, ou seja, o processo de interação que ocorre entre o sujeito e o contexto na busca da construção do significado, produzido por diferentes linguagens.

A pragmática também estuda as pressuposições e as implicaturas que estão além do plano semântico da lógica, por se tratar de significações contextuais, construídas e compreendidas apenas pelo contexto das práticas conversacionais. Isso permite dizer que essa disciplina é responsável pelo estudo dos significados implícitos.

No próximo capítulo desse artigo veremos como ocorre essa interdisciplinaridade entre a Semântica e a Pragmática, ambas em busca de um mesmo objeto de estudo, a construção do significado.

3-   Uma nova proposta de ensino dos significados:

Por muito tempo o estudo dos significados limitou-se apenas à estrutura funcional da língua, ou seja, do ponto de vista morfossintático-semântico. Esse método de ensino acabou limitando a evolução de novas propostas metodológicas de ensino de língua materna, detendo-se apenas a entender uma parte da língua: a estrutura.

Graças às “explosões” dos estudos lingüísticos e uma preocupação mais voltada para a semântica é que se teve o início de novos caminhos para se entender melhor o texto, bem como o sujeito e o contexto que estão em processo de interação constantemente.

O estudo semântico teve mais intensidade partindo dos critérios: sintático-semântico. O grande problema é que não se teve subsídios suficientes para construir uma teoria que desse conta do estudo prático. Tentar entender os significados dos enunciados, tendo como base apenas estruturas sintagmáticas isoladas não progrediu em quase nada, o ensino de língua materna. Ora as provas do Enem, de concursos públicos, vestibulares exigem que o candidato responda as questões de qualquer disciplina, não apenas língua portuguesa, utilizando a semântica e a pragmática que são interdependentes para a construção do significado. E por que não virar nosso olhar para essa perspectiva de associarmos a estrutura ao contexto, de forma que possamos assim aproximar o texto, o sujeito e a realidade deste, no objetivo de formarmos verdadeiros leitores críticos, que saiam das “linhas e entrelinhas do texto” e consigam atingir a leitura “além das linhas”.

 

3.1-  O estudo das metáforas e das comparações:

Vejamos os seguintes exemplos que trata de dois recursos lingüísticos bastante utilizados em diversos textos: a metáfora e a comparação.

1. Pedro é um cavalo.

2. Pedro é forte como um cavalo.

3. Pedro come igual a um cavalo.

Se analisarmos isoladamente a frase 1, teremos grandes dificuldades para construir o seu significado. Ora não conhecemos Pedro, só sabemos o seu nome. Essa informação é insuficiente para entendermos porque ele é um cavalo. Na frase 2, temos uma relação de sentidos equivalentes, entre a força do animal e a de Pedro. o significado está explícito, de forma que facilita o entendimento do enunciado. No enunciado 3, temos também uma relação equivalente de sentidos, comparando explicitamente, o apetite de Pedro ao do eqüino. Em 1 temos a metáfora e em 2 e 3 temos a comparação.

A frase 2 e 3 é parte de um contexto que pode construir o significado da frase 1. Isso é afirmado porque tomando como base, as informações que estão explícitas em 2 e 3 (estudo semântico) e fazendo uma associação às implicaturas que estão em 1 (estudo pragmático) teremos uma interdependência dessas duas disciplinas. Elas se interagem no estudo de um mesmo objeto de estudo: o significado. A semântica ou a pragmática sozinha não consegue atingir uma análise abrangente do campo das significações. O significado não é construído apenas pelo enunciador, ele é completado pelo enunciado e pelo receptor. Este último é o principal responsável pela criação de uma polissemia textual, ou seja, as diversas compreensões e interpretações que um texto pode apresentar.

3.2- O estudo das ambigüidades:

“Ambiguidade: duplicidade de sentido, quer seja de razão lexical ou estrutural[...]” (ILARI e GERALDI, 1995, p. 86). 

A ambiguidade é outro recurso lingüístico utilizado nos estudos semânticos. O problema da ambigüidade é muitas vezes complexo de ser resolvido porque a semântica sozinha não pode explicar os significados que estão implícitos em uma determinada conversação. Veja o seguinte exemplo:

(1 )Paulo pediu  a João para sair.

  De forma descontextualizada é impossível determinar quem realmente saiu, se foi Pedro ou João. Essa dupla interpretação acontece por causa da estrutura sintática. O verbo pediu tem um sujeito expresso, já o infinitivo sair tem um sujeito implícito, e pode ser referido tanto a Pedro quanto a João.

(2) Paulo é filho de João.

(3) Paulo é um filho que sempre pede ao pai, quando deseja sair.

Agora, se associarmos a estrutura sintático-semântica de 1 ao contexto(pragmática) presente em 2 e 3, podemos conseguir, a partir do processo de inferência, a construção de um significado, nos levando à conclusão de que quem realmente saiu foi Paulo em vez de João.

Esse estudo isolado de frases limitou a capacidade de o aluno inferir em outro critério, no das estruturas contextualizadas. O exercício de sempre associarmos as informações que estão implícitas (pragmática) às explícitas (semântica) facilita o entendimento de palavras, frases e textos. A coerência conceitual e a coesão seqüencial das frases são indispensáveis para uma compreensão textual, mas torna-se muitas vezes limitadas a explicar as situações em que os significados estão implícitos, podendo ser explicado apenas pelo contexto que é onde se localiza a maior parte das informações para conseguir chegar à construção de significações lingüísticas. Por isso a pragmática é tão importante quanto a semântica no estudo dos signos. 

Essa aproximação dos textos à realidade do sujeito é que proporcionará uma competência comunicativa, capaz de estabelecer uma situação de compreensão e interpretação textual eficaz. Nossos alunos precisam desenvolver essa competência de fazer associações de sentidos e entender de maneira clara o que está implícito nos enunciados lingüísticos, que atualmente tem sido a maior dificuldade no ensino de língua materna. Ora as competências comunicativas que o discente precisaria desenvolver nas séries finais do ensino fundamental II, muitas vezes ele conclui o ensino médio e as não consegue. Isso acontece porque a maioria dos professores de língua portuguesa não estão sendo preparados de forma adequada a transpor as teorias lingüísticas à prática de ensino, prendendo-se apenas ao ensino estrutural e tradicional da língua.

Na contemporaneidade não podemos pensar em um ensino de língua de maneira unilateral. Devemos acompanhar as diversas transformações educacionais que atingem não apenas a disciplina de Língua Portuguesa, mas todas as outras em um processo de interdisplinaridade e interação constante.

O critério semântico-pragmático é essencial para preencher algumas lacunas deixadas pelos estudos morfossintáticos que isoladamente não são capazes de desenvolver competências comunicativas indispensáveis ao entendimento dos signos lingüísticos. Ser um conhecedor de uma língua, não é apenas dominar sua estrutura funcional, mas desenvolver diferentes linguagens em diferentes contextos, compreendendo seu funcionamento e a construção de diferentes interpretações significativas.       

 

Considerações finais

 

 

Referências bibliográficas

NASCIMENTO, Marcos Soares do; SANTOS, Gilberlande Pereira dos & outros. Pragmática – compreensão e violação das máximas conversacionais em gêneros textuais diversificados. Recife-PE, Libertas, 2010.

MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. 5ª ed., Jorge Zahar editor Ltda, 2001.

CASTIM, Fernando. Princípios básicos de semântica. FASA editora, 1983.

ILARI & GERALDI. Princípios de Semântica. 7ª ed., EditoraÁtica S.A., 1995).

LUFT, Celso Pedro. Minidicionário LUFT da língua Portuguesa. 8ª ed.,ScipioneLtda, 1990.

VANIN, Aline Aver. A construção do significado inferencial sob o prisma da interface Semântica/Pragmática. ReVEL, vol. 7, n. 13, 2009. Disponível em:      http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_a_construcao_do_significado_sob_o_prisma.pdf.