UMA MÃE BEM DIFERENTE (RESENHA)
Publicado em 11 de julho de 2018 por Renato Ladeia
Escrever uma história com base na própria história foi um grande desafio para Giselle Larizzatti Agazzi. É uma história da história em que a dor está presente, mas escrever é um processo catártico, que alivia a alma e coloca compressas suaves nas feridas.
A mãe da história da Giselle é uma mãe especial, diferente, que representa o lado triste da diversidade humana. Uma mãe que às vezes se esquece dos filhos, pois não consegue lidar com seus próprios fantasmas. É a mãe que metaforicamente está na terceira margem do rio, tal como o personagem do conto de Guimarães Rosa, mas continua sendo mãe em seus momentos de lucidez ou normalidade.
Em paralelo às agruras da relação com a mãe, a menina Clara, protagonista da história, sofre bullyng dos seus colegas por ter uma mãe fora dos padrões de normalidade social. Mas ao mesmo tempo Clara não é clara e talvez seja escura, pois a mãe é negra. Assim, ela precisa lidar com dois preconceitos ao mesmo tempo.
O livro é a história de uma criança que tem uma mãe diferente, fora do eixo em que se estrutura toda a sociedade, que é também a história da Giselle, com todos os sofrimentos, preconceitos, exclusão, ausência de equilíbrio nas relações do cotidiano familiar.
Enfim, esta pequena história representa uma oportunidade para crianças e adultos entrarem em contato com a diversidade humana do ponto de vista psicológico e mental, o nosso lado mais sombrio e mais complexo.
Destaque para as ilustrações de Flávia Marinho e Melissa Ferrauche, pela criatividade e sensibilidade, dando ao livre a suavidade necessária.