Uma luz recente - O rabino Ashlag 

Apesar do crescimento e da influência do chassidismo, e de seu interesse renovado pela Cabala, ainda constitui-se em verdade a afirmação de que a maioria dos Judeus continuam tão ignorantes em relação aos ensinamentos da Cabala, como antes. No entanto, esta situação começou a mudar, quando o rabino Yehuda Aslag (1886-1955) propôs um novo sistema que facilitasse o entendimento dos trabalhos do Ari. Na sua obra de dezesseis volumes, conhecido como O Estudo das Dez Emanações Luminosas (Talmud Eser Ha-Sefirot), ele idealizou um sistema lógico, através do qual a essência do domínio transcendente era transmitida por meio de uma variedade imensa de símbolos e ilustrações. Estes, segundo seu entendimento, descreveria melhor aqueles aspectos dos ensinamentos do Ari que estivessem além da capacidade de aprender do intelecto. As Dez Emanações Luminosas referem-se aqueles conceitos que têm iludido os sábios mais perspicazes e determinados, ao longo dos séculos. A relação íntima existente entre os reinos físico e o metafísico é apresentada de maneira simples, juntamente à descrição de uma série de evoluções que culmina no mundo que atualmente conhecemos, e mais, uma apresentação detalhada das razões que podem ser atribuídas ao Criador.

Para além desses volumes, a obra monumental do rabino Ashlag sobre Zohar, tem exercido uma grande influência nos estudos Judaicos, e deve ser considerado como um ponto decisivo na tentativa de tornar a Cabala compreensível para os estudantes contemporâneos. Ele foi quem fêz a primeira tradução de todo o Zohar para o Hebraico moderno. E, por compreender que uma tradução interpretativa não seria o suficiente por si mesmo, ele também produziu comentários sobre as passagens mais difíceis daquela obra. Ele também organizou um volume com diagramas, descrevendo o processo de evolução do Sefirot em todas as suas manifestações, até o nível deste mundo.

De uma maneira geral, os Cabalistas na mesma posição e estatura do rabino Ashlag receberam o seu conhecimento por meio da revelação divina. A tendência é que eles sejam homens com uma ampla educação rabínica, sendo que o rabino Ashlag não era uma excessão a esse respeito. No entanto, o seu conhecimento sobre o espectrum da Cabala era ainda muito mais profundo, e sua tradução do Zohar demonstra muito claramente, que ele era versado em toda a ciência conhecida.

Eu fiquei conhecendo sobre sua vida e personalidade através de meu mestre, o rabino Yehuda Z. Brandwein, o qual foi seu discípulo. O rabino Ashlag nasceu em Varsóvia, e foi educado em escolas Chassídicas. Em seus primeiros anos de escola foi aluno de Shalom Rabinowicz, de Kalushin, e de seu filho Yehoshah Asher, de Porissor. Ele emigrou para a Palestina em 1919, e se radicou na Cidade Velha de Jerusalém. O rabino Brandwein falava de um homem possuidor de imensos poderes de meditação, um homem a quem os mundos da metafísica e do misticismo eram tão familiar quanto o mundo da física para Einstein. Uma tal comparação não é de todo sem significado, pois foi durante o tempo de vida do rabino Ashlag que avanços e descobertas de grande porte foram sendo desenvolvidas no mundo da ciência, destruindo deste modo muitas das teorias científicas tradicionais que tratavam da estabilidade, permanência e propósitos do universo. A Teoria da Relatividade de Einstein, a grande revolução do pensamento científico de nossa era, confirmou uma convicção que os Cabalistas sabiam ser verdade desde muitos séculos: que o tempo, o espaço, e o movimento não são constantes imutáveis, mas uma função de energia.

A crescente consciência reinante entre os cientistas sobre as limitações da metodologia analítica da ciência, bem como o seu reconhecimento sobre a unidade e as interrelações dos sistemas físico e biológico, tem provocado um grande impulso no mundo do misticismo, e particularmente à Cabala. Com respeito a este problema, as obras do rabino Ashlag se distinguem por sua apresentação única e notável quanto a fatos relevantes relacionados à estrutura do universo, junto à uma descrição profunda e penetrante sobre as razões de existência do indivíduo, no interior deste sistema.

A restauração do enfoque místico que se observa no mundo da Cabala toma uma grande parte de sua força, dos laços existentes entre os conceitos expressados e a consciência mística do autor, em oposição ao estudo árido de rituais e cerimoniais religiosos por si só. O profeta Elijah, com os seus ensinamentos profundos, tem sido identificado com a Cabala, desde os seus primórdios. Ele apareceu tanto para o rabino Shimon, quanto para o Ari. O rabino Ashlag, no entanto, não considerou Elijah como fonte de sua inspiração mística. Uma linda estória, contada a mim por meu mestre, sublinha a conexão íntima que existia entre a alma do rabino Ashlag e o mundo superior das Alturas:

Uma noite, relembrou o rabino, após a complementação de um dos volumes do Zohar, eu fui tomado por um sono profundo. Uma voz aproximou-se de mim e disse que toda a Criação me seria revelada, desde o início até o fim, o que incluiria a vinda do Messias. Então eu perguntei porque não me seria mostrado tudo o que os profetas tinham visto. E como resposta eu ouvi: “Por que tu te contentarias com o nível visionário dos profetas, quando tu poder ver a tudo”?

As circunstâncias desta revelação estão contidas em uma carta que o rabino Ashlag endereça a um tio, na qual ele relata o encontro que ele teve com seu mestre, e a aura egocêntrica que ele desenvolveu, depois de conhecer os mistérios mais profundos da Cabala. Por ter desenvolvido tal orgulho, seu mestre suspendeu os ensinamentos até que o rabino Ashlag viesse a adotar uma atitude correta de humildade, a partir de quando o seu mestre, um estranho, cujo nome ele fora proibido pronunciar, lhe revelou um Sod (um segredo, ou sentimento profundo), relacionado ao Mikveh (banho ritual). “Isto, relata o rabino Ashlag, produziu em mim um êxtase de tamanha intensidade que ele criou literalmente um Devekut total, uma divisão da Essência Divina, uma separação completa das contigências corporais, e um despedaçar do véu que me separava da vida eterna”. Logo após esta revelação o seu mestre faleceu, deixando-o com o coração partido. Ante sua tristeza profunda e desespero, a revelação também o abandonou por um certo período, até que ele recuperasse sua capacidade e novamente pudesse devotar sua vida ao Criador, “Após o que, as fontes da sabedoria divina se abriram repentinamente; com a graça do Todo Poderoso, eu relembrei todas as revelações que eu havia recebido de meu mestre, de abençoada memória”.

Atualmente, como na Idade de Ouro de Safed, a fonte invisível da Cabala retornou à superfície; se observa, no entanto, em nossos dias, uma diferença significativa, a ciência, por muito tempo a inimiga jurada de toda e qualquer religião, pode ser agora contemplada em sua verdadeira luz, como aliada e companheira da Cabala.