Escrever pode até ser um dom, porém, um dom que se manifesta na experiência da vivência com a inspiração. O que seria de um poeta, do pintor e do escultor sem sua musa inspiradora? Assim vivem os que a todo custo busca tirar literatura dos movimentos e processos cotidianos, ninguém pode afirmar que é fácil tirar a beleza dos momentos de stress, onde podemos “ver” de tudo, menos um ponto de luz no caos, porém, é correto afirmar que as mais belas cartas de amor foram escritas nos fronts de guerra, onde soldados armados e com o coração cheio de ódio e temor, buscavam no meio de bombas e estilhaços, um fragmento de beleza para o conforto de sua amada, que, em casa aguardava ansiosamente por suas palavras cheias de amor, esperança e fumaça.

E assim segue-se a vida, não somos todos poetas, muito menos teóricos revolucionários, porém, somos todos soldados numa guerra que por vezes parece não ter rumos certos, e por que não fazemos como os soldados do front, e vamos buscar nos estilhaços de esperança os fragmentos que precisamos para nos sustentar na caminhada rumo ao nosso ideal? Mas tem que ter um ideal né!? Lewis Carroll dizia que: “para quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve”. Seriamos nós as pessoas que seguirão qualquer caminho, pelo simples fato de não sabermos onde queremos ir? Logo nós? Cheios de sonhos e brilho nos olhos... se sim, para onde foram os sonhos, e quem ofuscou o brilho de nossos olhos? Podemos afirmar que jamais deixaremos de sonhar, mas, o tal sonho vai se alterando aos poucos com a dinâmica de nossa vida, e o brilho dos olhos segue essa dinâmica de quedas e levantes, de sofrer e conciliar-se consigo mesmo, de sorrir e alegrar-se com os fragmentos de esperança que colhemos diariamente.

Mas o que tudo isso tem a ver com “escrever”? Ora, nós só entregamos ao outro aquilo que nosso coração tem de sobra, se eu tenho rancor e ódio sobrando, será rancor e ódio que entregarei a aqueles que me leem, mas, se sou uma pessoa que consegue enxergar luz e colher os pequenos fragmentos de esperança em meu dia-a-dia, mesmo sendo complexo exercer essa função, será fragmentos de luz que irei entregar a aqueles que se aventuram em ler minhas linhas, mas, ainda assim é nas entrelinhas que fica a maior parte da poeira da esperança. E é no caminho que escolho seguir que encontro minha paz, com outrem não seria diferente, somos donos de nossas escolhas, mas, escravos das consequências de tais escolhas, por fim, não deixaria de citar o ilustre escritor russo, cuja máxima rege minhas palavras: “Nem indivíduo, nem sociedade sobrevive sem uma ideia sublime” – Dostoiewisky.

Richard Batista Silveira