Uma Falta Maior
Por Ide Ramacini Betonico | 29/07/2009 | ContosO ar pesado da tarde
era quebrado pelo vento leve que teimava em reinar.Insetos
sobrevoavam as folhagens num vai e vem sem fim. A varanda de porte
altivo, a exibir paredes talhadas em arabescos, formando molduras
,sob paredes pintadas num rosa antigo. Do teto pendiam arandelas em
estilo espanhol, poltronas e sofás de fabricação austríacas,
cujos tecidos finos,porém puídos,davam indícios de que,outrora
gente abastada e de gosto fino, desfrutava de aconchegos, nos doces
dias, embalados por músicas clássicas, a degustar bebidas com
sabores indescritíveis
Com passos lentos e pausados, entra
Leonora, porte ereto ,olhar esguio.No rosto uma expressão
indecifrável,que nem de longe lembrava a jovem de pele
morena,cabelos negros que balançavam em ondas, acompanhados pela sensualidade de seus passos.
Acabaram-se os arroubos da juventude.
A sua volta,havia agora,uma vida lenta,silenciosa e insistente. A vastidão parecia a pausa do mundo. No silêncio o seu respirar fazia compasso com o respirar sonolento do gato de pelos macios espreguiçado a seus pés. Era uma companhia indispensável na sua extrema solidão. Leonora adormecia dentro de si. O centro dos pensamentos faziam círculos que se alargavam. Eram como pedras que se atiram nos lagos.
_Cadê meus
perfumes?Cadê meus amores?
-Embora tendo,nunca me cedi,nem um pouco de minha vida,de meu perfume,da minha alegria. Era ávida de mim .O mundo era só meu.
E ali estava agora sentada,quieta na sua varanda, com olhos fixos nas pérgolas da varanda,onde por puro amor nasciam ervas que entrelaçadas se doavam para o sentimento do mundo.
Há várias formas de se culpar,de se enfrentar e se abandonar a vida. Leonora escolheu tanto e muito. Só não escolheu amar.Num gesto pronto,levantou-se,olhou fixamente o vaso de gerânios,queixou-se sem dor.
-Cadê meus amores?
Eram ausências que lhe faziam muita falta. Uma falta muito maior que sua dor.