Uma Escola Pública Possível: Perspectivas e Possibilidades.

Yago Felipe Campelo[1]

Clebson Morais de Assunção[2]

Na definição de muitos verbetes de dicionários, a escola é definida como: estabelecimento onde se ensina algo (Dicionário online de português), como uma casa ou estabelecimento em que se ministra ensino de ciências, letras ou artes (Michelis). E ainda no Aurélio, como um estabelecimento público ou privado onde se ministra ensino coletivo. Tais definições estão corretas, mas não acreditamos que a escola seja apenas o que foi proposto por tais definições.

            Acreditamos em uma escola que é sobretudo gente/ser humano, embasados na concepção Freiriana de escola. Pois, segundo Freire a escola é:

o lugar onde se faz amigos
Não se trata só de prédios, salas, quartos,
Programas, horários, conceitos.
Escola é, sobretudo, gente,
Gente que trabalha que estuda,
Que alegra, se conhece se estima...

É conviver É se “amarrar nela”!
Ora é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil
Estudar, trabalhar, crescer, 
Fazer amigos educar-se, ser feliz.

Fonte: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&rlz=1C1RLNS_pt-BRBR673BR673&ion=1&espv=2&ie=UTF-8

Partindo desse entendimento de escola, discorreremos sobre uma escola pública. Não sobre uma escola aspirante a perfeita, mas uma escola possível. Tentaremos nesses escritos, expor experiências vivenciadas no âmbito de uma escola pública municipal, seu nome será dito no fim desta conversa, mostrando que a educação pública, tão desacreditada por seus pessimistas e “sanguessugas”, pode ser efetiva do ponto de vista do fazer, do ensinar. Explicitaremos como o professor Rubem Alves, histórias de quem gosta/curti o ato de ensinar, histórias de quem exerce à docência com competência, profissionalismo e satisfação pessoal.

Vamos à nossa escola!

            Esses dias e sempre temos visto/ouvido Drs. sem títulos e contadores que nunca pisaram em uma escola pública ou em uma sala de aula, discursarem de forma preconceituosa/equivocada e medíocre sobre nossas escolas e alunos.
            O último comentário em resumo era basicamente assim: "aluno de escola pública é pobre, logo inferior, logo menos preparado. Estão em desvantagem. São mal educados... futuros incertos..." Os autores de tais comentários julgam-se "esclarecidos", um por sinal filósofo rsrs, aspirante a melhor do mundo! A outra pobre, perguntamo-nos : que concepções pedagógicas/históricas embasam sua fala altamente preconceituosa e desumana? Quem dera de fato eles conhecessem a ESCOLA PÚBLICA! Quem dera eles conhecessem não através dos estigmas, mas a partir da experiência, as pérolas que encontramos a cada dia nestas escolas que descredibilizam!

Quem dera eles conhecessem os sorrisos, as histórias, os dramas, a relação aluno-professor, os abraços, as esperanças, a gentileza, o profissionalismo (de muitos, não de todos), a vida da escola pública. Mas é compreensivo, eles não sabem o que é EDUCAÇÃO, como saberão o que é a escola pública?  Por isso decidimos escrever em forma de diálogo, sobre uma escola pública possível, a nossa, a que atuamos como professores.

Lembramo-nos que em um dia desses, em uma primeira reunião pedagógica do ano, uma gestora escolar se apresentou com uma fala de humanidade e possibilidades. Ela usou uma frase do texto do Paulo Freire: “a escola é lugar de ser gente, precisamos ser gente.” Aquilo soou em nossos ouvidos como um começo de possibilidades dentro daquela escola tão desacreditada.  Seu discurso nos causou simpatia e sobretudo esperança. Dizemos esperança por que acreditamos na ideia Freireana, de que não se é possível uma educação sem esperança. Uma educação da descrença.

A partir daquele dia as coisas começaram a mudar, não confundam aqui mudanças com perfeição, pois como todo espaço humano temos nossos conflitos, embates e problemas. Mas entendam mudança no sentido humano e pedagógico. Era a professora Luciana Queiroz que se apresentava como gestora. Ela dividiu gostos e opiniões, mas era inegável sua competência e profissionalismo.

Vimos no decorrer do ano letivo, docentes, discentes e demais coordenadores se envolveram em ações, anteriormente planejadas neste espaço escolar. Estas, têm características conceituais, procedimentais e atitudinais. Os resultados, por sua vez, estão voltados primariamente ao aspecto qualitativo sobre os quantitativos. Se busca o novo, se busca à criticidade, a formação humana como primazia.

Esta escola situada em Caruaru-PE, embora carente de certos recursos, os agentes do processo ensino/aprendizagem e didático-pedagógico, não os enxergam como barreiras para promoverem ações que trazem benefícios ao seu alunado e comunidade em geral. Por vontade e empenho, mesmo em meio às angústias, as ações acontecem. Daí o dizer: ensinar com amor.

O que está em lócus, para muitos desta escola, não é o ensinar por  ensinar, mas o ensinar por acreditar na mudança dos alunos, enxergados como seres de potencialidades e complexidades, no que se refere à promoção do conhecimento, partilhado, diga-se de passagem. Este ambiente escolar, tem sido, nos últimos dois anos um contexto de práticas educativas, que vêm estimulando e favorecendo muitos docentes e discentes ao que chamamos de feed back, Uma  troca incessante de conhecimentos.

Os projetos desempenhados nesta escola, vale ressaltar, são documentados, contendo suas atribuições e cronogramas, assim como seus referenciais teóricos e sua culminância nas datas previstas.

Temos como carro chefe como diz nossa gestora, o Projeto 5S baseado na experiência japonesa, que após a Segunda Guerra Mundial reconstruiu as cidades assoladas de Hiroshima e Nagasaki. Este projeto baseia-se na ideia de cinco sensos: Ordenação, Utilização, Saúde, Limpeza e Autodisciplina. E isso foi ensinado, foi difundido em nossa escola a nossos alunos. Aos poucos e com dificuldade o lixo, a sujeira, os maus comportamentos não condizentes com o espaço escolar foram diminuindo. Embora em muitos momentos pensássemos que o projeto não ia dar certo. Porém a ideia tem dado certo, hoje temos uma outra escola, não a ideal, mas estamos no caminho, isso é inegável.

            Nesta escola pública municipal a elaboração/execução do Projeto Político Pedagógico acontece. Isso nos admira, uma vez que em muitas e muitas escolas ele só existe dentro de um fundo frio, de uma gaveta. Não só participamos da elaboração do PPP como o executamos. Cumprimos aquilo que foi acordado e planejado no início do ano letivo, acabando com aquela ideia ingênua de que Projeto Político Pedagógico é só um acessório de enfeite de nossas escolas.

Sobre os professores desta escola - coração de todo esse processo- , as palavras são escassas para dizê-los. Os professores desta instituição de ensino faz tanto com tão pouco. Fazem com uma competência e profissionalismo tão grande que chega a assustar. Temos aprendido tanto entre conversas e diálogos, entre nossas trocas de experiências. Entre nossas discordâncias e conflitos. Até porque como disse Rubem Alves: dentro de uma mesma escola há diferentes olhares, diferentes maneiras de ser.  Esta escola, tem sido uma escola para nós.

Estes professores fazem a escola caminhar e cumprir uma de suas finalidades: formar cidadãos críticos e humanos, preparando-os para suas futuras atividades profissionais. Vejo nos professores desta escola um compromisso com o que fazem, que não encontram nas dificuldades enfrentadas, um motivo para a desculpa esfarrapada, do não querer fazer. Do cruzar os braços. Eles nos ensinam a superar dificuldades em prol de um bem maior: a educação.

Temos alcançado resultados positivos nestes últimos dois anos, notas consideráveis e até acima da média municipal e estadual nos sistemas de avaliação externa, SAEPE e SAEBE.  Assim como temos as aprovações de nossos alunos no IFPE (Instituto Federal de Pernambuco) e sobretudo um aprendizado humano para aqueles que por ela passa.

 Nossa escola produziu escritores e diga-se de passagem, muito bons, através do Projeto Magia de Ler e o Carulit que foram incentivos a produção de dois livros escritos pelos próprios alunos, únicos do município a terem seus escritos publicados.

No campo da arte, uma das pioneiras em exposição em um dos  principais museus da cidade de Caruaru, o Museu do Barro.

No esporte, os jogos inter-classes o objetivo não são os primeiros lugares, mas a aproximação com as demais disciplinas apostando na interdisciplinaridade.

Nas ciências biológicas um trio de professores competentes fazem a diferença.

Nas linguagens, produções diversas: produção de livros, curso de aperfeiçoamento linguístico para docentes, eventos literários, artísticos e culturais.

Nas humanidades, professores politizados e críticos apostam em uma pedagogia libertária, que emancipe o ser, que faça de nossos alunos um ser que pode ser mais.

Nas ciências exatas- especificamente Matemática- uma forma lúdica/divertida de se aprender.

No acompanhamento aos nossos alunos, uma psicóloga séria e comprometida com o bem- estar e o desenvolvimento psíquico discente.

Na biblioteca profissionais que trabalham com seriedade, esta não é apenas um espaço para passa tempo.

É possível fazer muito com o pouco, quando existe um comprometimento com a causa da educação. É possível “fazer” uma escola pública de qualidade quando acreditamos nela. Quando nos comprometemos.        E quase esquecíamos de mencionar, o nome de nossa escola: Escola Municipal Professor Rubem de Lima Barros. Localizada na Cidade de Caruaru, município do Estado de Pernambuco. Sejam bem- vindos a uma escola pública possível.

REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. Campinas, SP: Papirus, 2013.

Consulta ao dicionário Online de Português.

Consulta ao dicionário: Aurélio.

Consulta ao dicionário: Michelis.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

Referência da mensagem A escola é, de Paulo Freire: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&rlz=1C1RLNS_pt-BRBR673BR673&ion=1&espv=2&ie=UTF-8.



[1] Graduado em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru- FAFICA. Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande- UFCG. Professor da rede municipal de ensino de Caruaru-PE. E-mail: [email protected].

[2] Graduado em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba- Campina Grande.

Pós-Graduado em Letras/Língua espanhola pela FIJ. Professor da rede pública e privada de ensino na cidade de Caruaru-PE.

E-mail: [email protected]