Feito por Aline Morgan de Queiroz Dias, Edilce Teresinha de Barros Miercalm e Mariane Damke*

UMA DIDÁTICA DO ENSINO DE ARTES

[...] se a arte não é tratada como conhecimento, mas somente como um “grito da alma”, não estaremos oferecendo uma educação nem no sentido cognitivo, nem no sentido emocional. Por ambas a escola deve se responsabilizar” (Barbosa, 2003, p. 23)

Este capítulo traz as necessidades de uma educação rica e bem trabalhada, assim como alguns de meus anseios que trazia já desde minha formação inicial, lá na educação básica. Estes anseios eram referentes a conhecer a historia da arte mais a fundo e não de ter como ditas “aulas de arte” ou “educação artística” mera repetições de conceito já ultrapassados. Demontrando que existe uma necessidade latente com relação à formação dos professores de artes nas escolas de Ensino Fundamental e Médio.

É comuns ouvir relatos de alunos decepcionados com seus professores de artes, sempre esperando algo a mais em suas aulas, alguns buscam novos conhecimentos, contudo a maioria se limita a dizer que não gosta de arte devido a experiência com a mesma na sala de aula, portanto se faz necessário um estudo mais aprofundado sobre como o professor de artes pode se tornar o “herói” na sala de aula, e resgatar a paixão que as crianças trazem desde a infância pela arte.

Libâneo (1991) afirma com relação à realização de uma aula de artes de qualidade, não ser suficiente o aluno dominar os conceitos, é preciso que o professor investigue os métodos eficientes e eficazes para que estes possam assimilar os conceitos e métodos; uma aula só será bem aproveitada por alunos e professores quando os mesmos objetivos de estudo forem alcançados, ou seja que os alunos pensem como os professores e os professores pensem como os alunos. O professor deve ser mediador deste aprendizado cognitivo.

Neste sentido, Barbosa acrescenta:

Se pretendemos uma educação não apenas intelectual, mas principalmente humanizadora, a necessidade da Arte é ainda mais crucial para desenvolver a percepção e a imaginação, para captar a realidade circundante e desenvolver a capacidade criadora necessária à modificação desta realidade (BARBOSA, 2007, p.5).

 

O processo de ensino-aprendizagem se faz em uma via de mão dupla, ao mesmo tempo em que o aluno apreende o conteúdo, o professor de artes se re-significa em suas aluas, criando uma nova metodologia, para inspirar a prática docente no campo artístico, envolvendo seus alunos, para um desenvolvimento pleno de capacidades, priorizando a subjetividade na integração com o mundo, tornando dessa forma este processo algo prazeroso para ambas as partes.

Para tanto, é necessário que em cada aula o professor se prepare e procure contextualizar as informações que leva para a sala, tornando-as significantes e significativas. Como o pensamento se constrói na arte e posteriormente se faz em raciocínio e ação?

Para Japiassu (2007), o pensamento se dá de acordo com as experiências do sujeito. Refletindo sobre isso, o sujeito só pode reagir de acordo com as experiências vividas. O campo perceptivo do sujeito se volta às experiências passadas, o que minimiza as possibilidades de reações instantâneas.

Como esclarece Vygotsky (2001, p.39), ‘a forma primária da atividade intelectual é o pensamento efetivo, prático, voltado para a realidade e constituinte de uma das formas fundamentais de adaptação às novas condições, as situações mutantes do meio exterior. (JAPIASSU, 2007. p.141)

O pensamento em forma de ação se faz de acordo com as vivências de cada indivíduo, podendo variar em gênero, número e grau a percepção que o mesmo tem com relação a determinada situação ou, no caso, com seu encontro com determinada obra de arte, seja ela literária , arquitetônica, teatral ou mesmo plástica. Por isso, Japiassu (2007) coloca ainda a arte como conhecimento efetivo que se mantém em movimento permanente. A arte faz o sujeito se movimentar, ela não estimula apenas o pensar, mas o agir.

A arte entendida como conhecimento do ser humano- e o mundo cultural historicamente (co)laborado por crianças, jovens e adultos- articula, de modo único, as dimensões teórica e prática da atividade criadora. A dimensão teórica abrange a abstração generalizante, a planificação, a intencionalidade do fazer/trabalhar/construir artístico, a reflexão, o saber cognitivo. A dimensão prática traduz-se na ascensão do abstrato ao concreto, pela fluência em determinadas técnicas, pelo domínio de um certo fazer artístico.(JAPIASSU,2007. p.140) grifos do autor.

             É fundamental que o professor conheça as características do desenvolvimento expressivo das crianças, ainda que algumas fujam à regra e tenham um desenvolvimento em um tempo diferente, pois saber isso  favorece o seu trabalho.

            Segundo Japiassu, (2007) o conhecimento artístico se dá entre o intelecto e a afetividade, ou a intuição de cada um, o que desafia os positivistas a reconhecer que ele é uma cultura de “pensament(o)ação”. Sendo então uma cultura de movimento, que permite uma contextualização, deixando em aberto as possibilidades de trabalho e produção.

A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca (BARBOSA, 2007, p.34).

 

Barbosa (2207) afirma que a Arte deve ser consumida de tal maneira que não possa separar o apreciar do contextualizar. Dessa forma ela ganha significado e a criança vivencia verdadeiramente uma linguagem artística.

O professor de arte precisa resgatar a identidade docente, guiada por uma conduta libertária, que se fortaleça nas próprias intervenções pedagógicas. Pareyso (2001, apud GERSON, 2010) nos mostra que depende do artista fazer da arte seu sustento ou no mínimo fazer dela algo significativo em sua vida, para desta forma poder re-significar-se como educador da área que se propôs lecionar.

Além de se estruturar em sua Poética, o professor de Arte precisa desenvolver, sobretudo, uma postura conciliadora, em relação ao conteúdo e ao método que constituirão suas aulas, e também em relação ao seu convívio no ambiente escolar, com outros professores, com pedagogos e os discentes – no relacionamento com esses se desenvolve a mediação “ética” e “política”, no sentido de mediar em prol da valorização da Arte como disciplina. (Guerson, 2010. p.10)

 

Para Lowenfeld & Brittain (1997), a educação escolar deve abordar em seu currículo a arte como parte importante do processo educativo, afinal, o ensino de artes contribui para o desenvolvimento das capacidades emocionais, assim como auxilia a distinguir os avanços e as dificuldades de cada educando. Para o autor exemplificar esta diferença, ele cita duas características de indivíduos, onde um mostra-se criador e flexível, enquanto o outro é carente de soluções íntimas e com problemas para se relacionar na sociedade em que está inserido. O papel da escola é sem dúvidas muito importante no desenvolvimento da consciência estética do aluno, no entanto essa não tem sido sua função primordial, tendo em vista os rumos que a escola ocidental tomou, valorizando mais as disciplinas de exatas, a escrita, enfim tudo o que diz mais respeito às operações lógicas da mente, desmerecendo as criativas.

A proposta do desenho cultivado desenvolvida por Barbosa na década de 1980 tem em sua natureza o fazer artístico, o consumo de obras de arte e a reflexão sobre as mesmas, de forma sistematizada possibilitando uma significação no cotidiano dos alunos e a ampliação das capacidades cognitivas sociais e estéticas. Os PCNs de arte são marcados por esta proposta demonstrando assim seu caráter positivo, difundido por todo o país e adotado em diversas escolas.

Além do conhecimento artístico como experiência estética direta da obra de arte, o universo da arte contém também um outro tipo de conhecimento, gerado pela necessidade de investigar o campo artístico como atividade humana. Tal conhecimento delimita o fenômeno artístico: — como produto das culturas; — como parte da História; — como estrutura formal na qual podem ser identificados os elementos que compõem os trabalhos artísticos e os princípios que regem sua combinação. (BRASIL, 1996 -PCN-Arte.p.31)

 

O professor deve proporcionar a seus alunos uma verdadeira experiência de produção cultural de arte, dentre outras possibilidades, a releitura, sem impor os padrões já construídos através dos tempos, mas sim para despertar sua criatividade. Este contato vai ajudar o educando a criar seus próprios trabalhos, deixando sua marca individual, buscando uma expressão própria.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) propõem um ensino significativo integrando, a escola com as produções históricas e sociais desenvolvidas na Arte, para que desta forma o aluno use sua liberdade imaginativa, edificando propostas artísticas pessoais ou grupais com base em suas próprias interações, tudo isso integrado aos aspectos lúdicos e prazerosos que se apresentam durante sua atividade artísticas. 

Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte estaria se organizando de maneira que a criança, suas necessidades, seus interesses e seu desenvolvimento estariam sendo respeitados e, ao mesmo tempo, estaria sendo respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua estrutura e sua contribuição específica para a cultura. (BARBOSA, 2001, p.35 – grifo nosso)

 

            O texto acima esclarece o que já comentamos nessa pesquisa, a proposta triangular de uma didática do ensino de artes: a produção, o consumo de arte e a reflexão sobre esta. Por essa razão, vemos como essencial a pesquisa por parte do arte-educador, não somente do legado do passado, mas também de todas as linguagens artísticas que surgem, com as tecnologias de informação, para que o aluno possa produzir, com releituras e reflexões sobre as mesmas.

 

COMO PLANEJAR AS AULAS DE ARTE?

 

Compreende-se que a arte é uma prática humana construída historicamente.

Por este motivo é necessário que se estabeleçam estratégia e procedimentos distintos na organização do ensino de artes. Lippamann (2008) traz listados alguns aspectos que devem ser observados, e a partir das interpretações criadas o professor possa elaborar seu plano de ação. Ao planejar o cronograma de conteúdos é indispensável lembrar:

 

1. Os documentos oficiais, que direcionam o Ensino Fundamental[...];

2. A série que os alunos estão;

3. O que em arte deve ser ensinado (conteúdos);

4. Qual a finalidade destes conteúdos que serão desenvolvidos na série (objetivos gerais e específicos);

5. Quais as estratégias que serão utilizadas (metodologias);

6. Quais os recursos necessários para o desenvolvimento desses saberes em arte (tecnologias, espaço, materiais);

7. Número de aulas disponíveis para a aplicação das experiências artísticas (tempo);

8. Critérios para averiguar a aprendizagem dos alunos (formas de avaliação);

9. Referências, pesquisadas e utilizadas. (LIPPAMANN 2008, p.16)

 

A proposta triangular defendida por Barbosa é sem dúvidas a mais coerente a se praticar, por este motivo é de suma importância manter claros os objetivos que temos em relação à arte na Educação Básica, em especial no Ensino Fudamental.

 

Sobre isto, Lippamann (2008) discorre a respeito da opinião de diversos autores:

Identificar algumas características plásticas e visuais observáveis (cor, forma, textura...) em elementos naturais e em manifestações artísticas presentes no meio, e estabelecer relações de semelhanças e diferenças com as próprias produções. (Hernández, 2000. In: LIPPAMANN 2008, p.17)

Familiarizar o aluno com a produção artística à qual não tem acesso pela mídia ampliando seu repertório artístico. (Miriam Cornélia Bonk, 2002, Curitiba)

Representar idéias e sentimentos por intermédio de imagens (visuais, musicais, cênicas e movimentos corporais), que reflitam a observação da realidade circundante, a pesquisa e a compreensão das obras de Arte realizadas por outros povos, outras épocas, outras culturas. (Duarte Junior, 1998. In: idem

Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro..., posicionando contra qualquer descriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. (PCNs de Arte de 5ª a 8ª série, 1998).

Promover conhecimento sobre diversas áreas de Arte, possibilitando ao aluno a experiência de um trabalho de criação total e unitário. (DCes de Arte, 2008. In: ibidem

 

Acreditamos que, seguindo estas orientações, nas quais se prioriza o planejamento contendo aspectos fundamentais como o conhecimento dos conteúdos obrigatórios, e dos documentos oficiais, sabendo aplica-los de acordo com as potencialidades dos envolvidos e a estrutura disponível assim como o tempo a ser desempenhado, tendo as finalidades claras que proporcionem de fato as ferramentas necessárias para que as atividades desenvolvidas não deixem carências na aprendizagem. Contemplando essas características defendidas não só Babosa mas também por diversos estudiosos da área, serão possíveis encontros construtivos e significativos, para a formação dos alunos.

*Professoras efetivas da rede municipal de Rondonópolis-MT