Uma Certa Menina Do Interior
Por Eurico de Andrade | 04/09/2006 | Contos
Ozária morava no Tabuí. De família pobre, como pobre era a cidadezinha. Mas Ozária tinha um sonho e resolveu colocá-lo em prática para mudar de vida. Decidiu ir pra capital. Ganhar a vida como empregada doméstica. Ser doméstica na capital não era coisa pra qualquer uma não. E lá se foi Ozária, vestidinho de chita, precata roda, trança no cabelo preto amarradinho na ponta com palha de milho e uma maletinha de papelão com umas bugigangas variadas.
Ozária batalhou na capital. Passou um ano. Passaram dois. No terceiro, não resistindo às saudades, resolveu voltar à terrinha. Dia marcado, tava Tabuí em peso esperando por ela naquilo que era um arremedo de rodoviária. Um frejo danado. Todo mundo queria ver Ozária que, segundo se dizia a boca pequena, tinha mudado na vida.
Quando chegou a jardineira do Valdino tudo se fez silêncio. Cada um queria ser o primeiro a avistar a Ozária. Parece que a cidade só tinha homens. Cada qual se virava como podia. Os de trás na pontinha dos pés, pescoço esticadinho, mãos apoiando nas costas do companheiro da frente. E ela, só para fazer suspense, foi a última a descer da jardineira. Tão diferente estava a moça! Cabelinho curtinho tingido de amarelo. Ruge no rosto. Batom vermelhão nos beiços. Brincos com argolões nas orelhas. Pinta pintada bem grandona na bochecha esquerda. Vestidinho decotado, deixando livre mais da metade da peitaria e, curtinho, quase mostrando as coisas de baixo. Alguns da platéia depois juraram que a roupa de baixo era vermelha. Nas costas um ziper, daqueles que abrem de cima a baixo rapidinho. No peito esquerdo o desenho de um coração com uma setinha e uma frase estranha, desconhecida daqueles olhos gulosos: "I love you". E para completar, Ozária usava uns sapatos com saltos dessa altura. E aquele bumbum empinado, que tinha já provocado muitos sonhos entre a machaiada de Tabuí, estava mais arrebitadinho ainda. Era outra Ozária. Pelo jeito, tinha mesmo mudado de vida...
O povão começou a gungunar baixinho, uns a olhar para ela com olhos de fome, outros com um risinho de gaiato brotando no canto da boca até que um mais animadinho resolveu, sob o olhar curioso e angustiado de todos, num suspense danado, perguntar o que queriam saber, mas não tinham coragem para dirigir a palavra a uma donzelice tão distinta:
- Oi Ozária, cê tá tão diferente, né?
E ela, candidamente, dando uma empinadinha, ajeitando a bolsinha no ombro e olhando pro alto, com desdém para todos os machões, respondeu:
- Hã! Hã!... Emputeci!...
Ozária batalhou na capital. Passou um ano. Passaram dois. No terceiro, não resistindo às saudades, resolveu voltar à terrinha. Dia marcado, tava Tabuí em peso esperando por ela naquilo que era um arremedo de rodoviária. Um frejo danado. Todo mundo queria ver Ozária que, segundo se dizia a boca pequena, tinha mudado na vida.
Quando chegou a jardineira do Valdino tudo se fez silêncio. Cada um queria ser o primeiro a avistar a Ozária. Parece que a cidade só tinha homens. Cada qual se virava como podia. Os de trás na pontinha dos pés, pescoço esticadinho, mãos apoiando nas costas do companheiro da frente. E ela, só para fazer suspense, foi a última a descer da jardineira. Tão diferente estava a moça! Cabelinho curtinho tingido de amarelo. Ruge no rosto. Batom vermelhão nos beiços. Brincos com argolões nas orelhas. Pinta pintada bem grandona na bochecha esquerda. Vestidinho decotado, deixando livre mais da metade da peitaria e, curtinho, quase mostrando as coisas de baixo. Alguns da platéia depois juraram que a roupa de baixo era vermelha. Nas costas um ziper, daqueles que abrem de cima a baixo rapidinho. No peito esquerdo o desenho de um coração com uma setinha e uma frase estranha, desconhecida daqueles olhos gulosos: "I love you". E para completar, Ozária usava uns sapatos com saltos dessa altura. E aquele bumbum empinado, que tinha já provocado muitos sonhos entre a machaiada de Tabuí, estava mais arrebitadinho ainda. Era outra Ozária. Pelo jeito, tinha mesmo mudado de vida...
O povão começou a gungunar baixinho, uns a olhar para ela com olhos de fome, outros com um risinho de gaiato brotando no canto da boca até que um mais animadinho resolveu, sob o olhar curioso e angustiado de todos, num suspense danado, perguntar o que queriam saber, mas não tinham coragem para dirigir a palavra a uma donzelice tão distinta:
- Oi Ozária, cê tá tão diferente, né?
E ela, candidamente, dando uma empinadinha, ajeitando a bolsinha no ombro e olhando pro alto, com desdém para todos os machões, respondeu:
- Hã! Hã!... Emputeci!...