UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE COMPORTAMENTOS E ATITUDES NO PERÍODO DA PANDEMIA 

 

 

*Lorena Lima Ribeiro

 

Resumo:

O artigo tem como objetivo analisar de forma crítico- reflexiva como a dinâmica social criada pela pandemia do COVID19 alterou comportamentos e atitudes das pessoas, contribuindo assim para que se possa melhor compreender os efeitos que podem causar na vida das pessoas. Pergunta-se: de que forma pode-se lidar com os efeitos nefastos causados por comportamentos e atitudes pautados em sensações e sentimentos compreendidos como mecanismos de defesa para sobreviver ao momento? Buscando compreender melhor esse percurso, buscou-se embasamento em teóricos que discutem de forma direta sobre o assunto, através de matérias publicadas em sites e revistas eletrônicas. Não pretende-se aqui dar conta de responder a todos os questionamentos que por ventura surgirem no decorrer de nossa reflexão, mas sobretudo de despertar nas pessoas um olhar pautado em uma nova perspectiva, de repensar atitudes, comportamentos os quais possam melhor nortear suas vidas e assim conseguir minimizar os impactos causados pela Pandemia do covid19. Ao final, constatou-se a partir dessa breve, porém, relevante reflexão, que os sujeitos independentemente do momento em que vivem, tendem a revestir-se de comportamentos e atitudes que demonstram suas reais necessidades, estas, vistas sob um olhar muito seu, sem contudo, tentar ver no outro os reflexos de seus comportamentos e atitudes.

 

 

Palavras-chave: Comportamentos- Atitudes – Pandemia COVID19.


 

 

Nunca o mundo assistiu atonitamente tantos comportamentos e atitudes considerados como “estranhos”. Vive-se momentos de incertezas, estes, despidos cada vez mais de ética e respeito ao próximo. Muitos são os questionamentos, como: o que está acontecendo com as pessoas? Porque estão agindo como se não houvesse amanhã? Existe a crença na ideia de que se eu faço a minha parte está tudo bem, porém, se o outro não faz é problema dele.

A sociedade que antes já se encontrava em estado febril, agora vive em temperatura máximo, com vistas a ampliar cada vez mais seu quadro sintomático de temperatura elevada, quase no limite de uma convulsão. Porque será que tudo isso acontece? O que nos falta enquanto sociedade para compreender o real sentido dos efeitos vividos hoje no mundo pela pandemia causada pelo COVID19?

São muitos os questionamentos, entretanto nenhum com a magnitude de perceber ao outro, enxergar mais que o próprio umbigo, tendo em vista, uma ampliação cada vez maior do EU em detrimento do NÓS, o que nos leva a temermos os dias que ainda serão vividos. Quantas incertezas, quantos medos, quantos receios, e aliado a tudo isso, quanta maldade, quanta crueldade, quanta injustiça, quantas perseguições e quanto mal ás pessoas vem causando umas ás outras e tudo porque não sabem lidar com os obstáculos que estão sendo impostos a partir de uma “nova” configuração de mundo e portanto de sociedade que obrigada as pessoas a despirem-se de si mesmas.

Isso é imoral e acima de tudo desumano, porque não somos feitos de ferro e ainda que fossemos precisaríamos não ter sentimentos para que pudéssemos ter tantos comportamentos e atitudes sem pensarmos no outro. Infelizmente, não é o que vem acontecendo e que não é somente uma consequência da pandemia do COVID19, mas sobretudo resultado do que as pessoas são. É impossível mensurarmos o que cada sujeito sente em seu interior, sentir sua essência, e ainda que conseguíssemos, correríamos o risco de interpretar á nossa maneira e assim de forma inadequada colocar o irreal. Afinal, porque é tão difícil ser humano uns com os outros? O que nos impede de colocarmos em prática comportamentos e atitudes que fazem bem ao outro e nos leva a vivermos melhor conosco também?

É preciso antes de mais nada pensar que na busca por resultados perfeitos acabamos nos cobrando além do que devíamos e nossas imperfeições aparecendo mais que deviam. Os grandes protagonistas de tudo isso são nossos comportamentos e nossas atitudes diante de nós mesmos e do outros. É isso que nos faz ter a necessidade de dizermos o quanto nos sentimos secundarizados diante de tudo que parece ser um nada, visto por um prisma humano. É a partir das reflexões de diferentes estudiosos que tratam sobre, que abordar-se-á a temática citada.

Em dezembro de 2019 a China informou à Organização Mundial de Saúde sobre um surto de uma nova doença, essa transmitida pelo novo Coronavírus, denominado de COVID-19. Em janeiro de 2020, novos casos da COVID-19 foram notificados fora da China, quando a OMS acabou por declarar emergência internacional em saúde pública.

No continente americano, São Paulo registrou o primeiro caso no Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020Diversas medidas de controle e prevenção da doença foram tomadas pelas autoridades sanitárias locais em diferentes esferas administrativas (governo federal, governos estaduais e municipais). Essas medidas se diferenciaram de uma região para outra do país, entretanto a medida mais difundida pelas autoridades foi a prática do distanciamento social.

Com o processo de isolamento social vivido pela sociedade, muitos hábitos, atitudes e comportamentos são alterados e com como consequências as relações sofrem mudanças, algumas traduzidas em conflitos e outras em adaptações conscientes. Isso porque a possibilidade de ficar em casa para alguns traduz-se em “privilégio”, uma vez que a maioria da população precisa sair para trabalhar.

Quando se fala na realidade de países pobres como o Brasil percebe-se a contradição de direitos e deveres em que uma pequena parcela da população pode de fato se proteger e detrimento de uma maioria que acaba ficando a mercê de adquirir o vírus. Nesse contexto, parece que não existem outras saídas, a não ser “encarar” o risco existente de adquirir o que é mais temível ou ainda os resultados do mesmo.

Acontece que a rotina seja nas casas ou nos espaços de trabalho foram alterados, protocolos surgiram e surgem a cada dia mais rígidos, cheias de exigências fazem as pessoas sentirem-se reféns de si mesmos e isso acaba por gerar sentimentos variados, desencadeando comportamentos e atitudes que levam as pessoas a se desconhecerem.

Redes de apoio e solidariedade foram criadas e algumas já existentes ampliadas. Contudo, parece ainda não ser suficiente e não é diante do contexto atual, para que a sociedade possa minimizar os impactos causados pelo COVID19 na vida das pessoas. Nesse sentido, a rotina ao ser alterada sem contudo haver uma ressignificação pode trazer danos imensuráveis para as famílias, como: surgimento de doenças psicomossomáticas, depressão, síndrome do pânico, ansiedade, dentre outras, além de comportamentos agressivos causando ainda mais dor e desespero diante do mais difícil cenário vivenciado nos últimos anos no mundo.

Uma das frases mais ditas nesse momento “vai passar” acabou por se constituir em uma válvula de escape para se pensar que logo tudo estará bem e que a vida voltará ao “normal”, ou como se pode chamar de “novo normal”. A maioria dos especialistas trabalham com a ideia de que é preciso antes de mais nada entender que tudo tem os dois lados, e agora é preciso trabalhar em cima do lado positivo do problema, afinal, as questões negativas já existem e são elas que estão adoecendo as pessoas. Então, é preciso mudar o foco, pensar que é possível vencer o “invisível”, pois, o inimigo ronda sem que seja visto.

A rotina é responsável por comportamentos e atitudes que podem ser bons ou não, que podem causar danos à nossa saúde física e mental, mas que uma vez repensada, ressignificada pode trazer nossas possibilidades, novos olhares e, portanto, novos horizontes. Para isso é necessário que haja sobretudo a doação de cada sujeito, fazendo o seu melhor, oferecendo o que é possível para transformar sua vida e a do outro.

As cidades com suas ruas vazias, escolas e estabelecimentos comerciais fechados, trazendo a sensação de habitarmos em uma cidade fantasma. Vidas que se iniciaram num mundo mais virtual que real, famílias inteiras desoladas por perdas inesperadas, a procura de explicação.

De acordo com FARIAS (2020) o isolamento social constitui-se em uma importante estratégia para evitar o avanço do COVID19, uma vez que evita o contato direto com as pessoas que possuem e que não sabem que possuem o vírus(assintomáticas). Isso acaba trazendo uma série de consequências que leva as pessoas a mudarem seus comportamentos, o que não poderia deixar de acontecer, uma vez que o isolamento tendo a causar “estranheza”.

A sociedade vive hoje um de seus maiores dramas desde os últimos tempos, que é o processo de isolamento social, pregado tão necessário para que tudo volte ao “normal”. Esse pensamento, faz com que todos se mobilizem ou tentem para a manutenção desse isolamento. Acontece que as pessoas não estavam preparadas para viverem de uma forma diferente, longe de seus entes, isoladas umas das outras. Isso, acabou trazendo reações inesperadas para todos, uma vez que se foi “obrigado” a manter-se assim para manter-se inclusive vivo(a).

Com o isolamento, seja ele voluntário ou involuntário, as pessoas tiveram que se reinventar, obrigações domésticas foram redistribuídas, famílias precisaram unir-se para manter-se isolados, o que parece uma contradição, porém, tão necessária e tão real, que talvez já não cause mais tanto espanto. Desprendimentos foram observados, a tecnologia se refez, novas formas de se relacionar foram experimentadas, e com isso o mundo iniciou-se num processo de adaptação que para alguns traduziu-se em sofrimento enquanto que para outros em novos rumos, poderia se dizer salvaram-se casamentos antes ausentes, relações antes distantes, foram obrigadas a aproximarem-se.

Como tudo, sempre tem os dois lados da moeda, o isolamento social trouxe prós e contras, alguns com possibilidade de escolhas outros sem nenhuma, mas que de alguma forma tiveram que ser repensados para que pudesse haver a tal sobrevivência. A referência aqui está pautada nas relações, mas não se pode deixar de lembrar que os impactos do isolamento social trouxeram consequências econômicas, sociais e políticas incalculáveis e que precisará de muito tempo para se reestruturar.

Vive-se hoje na incerteza do amanhã, se antes isso era uma projeção, hoje tornou-se uma realidade a qual propicia uma corrida na busca pela sobrevivência, a exemplo da ciência busca-se o antídoto para o mal que assola de forma indiscriminada o mundo. Mas, existem outros maus talvez piores, que em consequência dos anteriores que já era praticados tornou-se invisível aos olhos da sociedade, como: a fome, a miséria, a impunidade, a corrupção, a falta de respeito ao próximo, a falta de amor, dentre tantos outros.

De acordo com a psicanalista Vera Iaconelli, “muitas pessoas estão aproveitando para rever muitas coisas, mas isso é trabalho pessoal. Alguns viram, que, talvez não precisem de tanta coisa, possam cuidar mais de si, não precisem consumir tanto e também não precisem levar uma vida tão demandada”. Isso nos leva a pensarmos sobre as várias “faxinas” que podemos fazer nesses tempos, pensando que não podemos achar que tudo se resolve como nos contos de fada num passe de mágica, mas que demanda tempo, paciência, tolerância e acima de tudo amor naquilo que realizamos, acreditando sempre que é possível melhorar.

É tudo muito novo para que seja entendido de forma tão rápida como queremos enquanto sociedade, afinal faz parte de nossa condição humana o imediatismo. Será que de fato precisamos de respostas rápidas? Será que não podemos esperar para que essas respostas sejam amadurecidas e nos sejam dadas de forma mais segura? Isso requer ser resiliente, mas evitar as comparações, percebendo que também pode ser uma oportunidade de sermos pessoas melhores conosco e com o outro.

O que muda para mim necessariamente não muda para o outro, pois, temos percepções diferentes, onde somos capazes de pensar em saídas inteligentes para vencermos as dificuldades que não são somente nossa, mas do outro também, portanto, nossas. Cuidar de si e do outro pode ser também uma maneira de reconhecer que o momento atual requer pensar em possibilidade também de aprendizado sobre a vida.

Em verdade, acabou por proporcionar um novo olhar sobre as relações humanas, forçando a um maior reconhecimento e valorização das relações cotidianas, á medida em que fez com as pessoas pensassem mais fora da caixa, deixassem de olhar para seu umbigo e começasse a enxergar outras possibilidades, outras condições de perceber o mundo que as cerca. Isso acabou trazendo á tona uma série de questionamentos, inclusive um dos mais antigos feito pelos filósofos gregos, quem sou.

Ouve-se constantemente de algumas pessoas o quanto ficar em casa isolado trouxe males para si, depressão, angústia, ansiedade, tudo isso causado pela incerteza de decisões, de comportamentos, de pensamentos. Por outro lado, existem aqueles que agradecem o fato de terem tido a oportunidade de ao isolar-se conseguir visualizar situações vividas no dia a dia que antes não conseguiam detectar, por conta do famoso e imensurável tempo. Todas as desculpas possíveis eram dadas para não responder a questionamentos tão necessários outrora. Assim, o mundo foi aprendendo a lidar de forma positiva e também negativa com os reflexos que a pandemia do covid19 trouxe para a vida das pessoas.

De acordo com o psicanalista Marcelo Veras, “Veio um sentimento que o mundo vinha perdendo um pouco... de reflexão sobre o vazio, sobre o correr do tempo. Algo que foi tão negado pela sociedade do consumo. É claro isso vai trazer angústia para as pessoas. Acho um grande despertar”. Isso se reflete sobretudo na antiga convicção de que cada sujeito busca aquilo que é melhor para si conforme suas possibilidades e limites.

Conforme a professora de antropologia na USP (Universidade de São Paulo) Laura Moutinho, "Aquela anestesia social, que evitaria a empatia pela dor do outro, se desfez". O que acabou promovendo a condição de não negação do que está acontecendo, levando as pessoas á buscarem um pouco mais compreender o porque de atitudes e comportamentos, estes atormentados por sentimentos variados, os quais são impossíveis de serem ignorados.

Nunca se falou tanto em saúde mental como nos últimos 06(seis) meses. Isto porque as pessoas começam a despertar mais para discussões que outrora eram deixadas de lado e até negadas, a exemplo disso a temática morte ganha no atual contexto um outro olhar, o que antes parecia isolado e até desprezado, hoje ganha maior atenção, no sentido de que é preciso rever atitudes e comportamentos que estão deixando a sociedade acomodada, impedindo-a na verdade de compreender melhor seu papel e nisso o Estado deixa de se eximir de suas responsabilidades, tendo que atender as demandas que surgem com o fenômeno da pandemia do covid19.

As mídias e grupos sociais percebendo o caos que foi proporcionado com o processo de isolamento reage colocando á prova toda uma sociedade, suas necessidades e anseios. Usam-se as redes sociais com uma frequência maior, onde passa-se a exibir mais a vida privada e suas dificuldades. Com a alteração na rotina das pessoas, veio também inúmeros problemas, como: violência doméstica, desemprego, doenças mentais, dentre outras que acabaram por mostrar a sociedade o quanto é vulnerável, o quanto precisa mudar seu olhar e sua escuta sobre a vida e sobre o mundo. A solidariedade parece tornou-se mais praticada e o reconhecimento a profissionais antes invisíveis, a exemplo dos motoboys, que tiveram a missão de levar alimentos a muitas famílias quando estas não podiam sair de suas casas e ainda o fazem passou a ser visto como um ato de solidariedade. Profissionais da saúde como enfermeiros, médicos, maqueiros, passaram a ser vistos como peças essenciais, reverenciados como “heróis” em um mundo que não sabia mais a quem acreditar.

É uma crise coletiva que dispensa o EU e aprimora o NÓS de um jeito nunca antes sentido e ou vivido, salvo em momentos anteriores na história da humanidade, a exemplo da gripe espanhola. Nesse sentido, a lição que se aprende no decorrer de todo esse processo de sofrimento, se é que se pode usar esse termo é de é preciso haver a preservação da vida, que já não é mais minha, mas nossa, se um adoece, todos adoecem. Portanto, a responsabilidade é coletiva e é com esse olhar e essa compreensão que o mundo pode minimizar os impactos vivenciados pela pandemia do covid19.


Referências

FARIAS, HSF. O avanço da Covid-19 e o isolamento social como estratégia para redução da vulnerabilidade, Espaço e Economia. [Online], 2020, posto online no dia 08 abril 2020. [acessado 2020 julho 11]. Disponível em: http://journals.openedition.org/espacoeconomia /11357 [ Links ]

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/isolamento-pode-ajudar-a-reconstruir-relacionamentos-e-repensar-a-vida-diz-colunista.shtml.

https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/coronavirus-afeta-as-relacoes-humanas-e-muda-nosso-conceito-de-normal/#page2