É indiscutível que, o padrão de acumulação capitalista, já demonstrava novas características desde o final da segunda grande guerra, com maior concentração e centralização de capitais, trazendo consigo desemprego estrutural e a concorrência de oligopólios. No final da ‘era de ouro’, surge a Grande Empresa Moderna horizontal (G.E.M.), que é caracterizada por processos de transnacionalização e descentralização.  Ao mesmo tempo, ocorrendo em paralelo a financeirização da economia mundial, neste momento o padrão de acumulação de capital passa a ser “dirigido” pelas finanças.  Com isso começam a  se formar, conjuntos de empresas sendo gerenciadas por uma única “empresa mãe”, denominada de Holding, cujo objetivo não é a produção para atender a demanda dos consumidores, gerando riqueza nova , mas ter uma conduta que maximize seu valor acionário e focar no mercado secundário de títulos. E é com esta base de novo padrão de acumulação que o capitalismo globalizado irá proceder, ou seja, baseado em capital e lucro fictício. Agora, o capitalismo da contradição entre capital e o trabalho, impregnado em seu âmago, é combinado com as contradições financeiras, a lenta acumulação e a indomável finança no nível de suas funções. 

  O capital fictício sendo desvinculado do mais-valor, pois em seu processo autônomo, não passa pela produção, D-D’. Mesmo distanciado do mais-valor, o processo de acumulação financeiro, exige um agravamento da taxa de exploração da força de trabalho, sendo explícitos nas características desta acumulação, como a redução dos salários e o desemprego estrutural, o conhecido exército industrial de reserva, e em contrapartida o enorme crescimento do valor dos ativos financeiros. Ativos estes que podem sofrer mudanças em seus valores, se simplesmente os investidores acreditarem que irá desvalorizar, e de fato despenca, uma profecia autorrealizável.

 Obviamente, que a esfera financeira atinge também o campo da política, que desde meados da década de 80 tem sido pregado adoção de doutrinas liberais pelos  EUA e Inglaterra. Doutrinas que levaram ao aumento do trabalho informal, precarizado, autônomo e temporário, principalmente com o pleno emprego, não sendo mais uma meta dos governos. Com esta diminuição no nível da renda dos trabalhadores, juntamente da contínua dessindicalização e os cortes dos gastos sociais, uma drástica redução na demanda agregada, a desigualdade de renda se tornou cada vez mais crescente. 

 Acerca dos lucros auferidos no final do século XX, a participação dos mesmos no PIB, vinha crescendo até a segunda metade dos anos 90, quando sofreu uma redução e na mesma época ocorreu uma recuperação da parcela salarial, tais fatos podem ser os causadores da queda na taxa de lucros, somados à sobreacumulação que elevou os custos salariais e a maior concorrência. Podendo este último, ter sido mais agravante,  devido à crescente produtividade que ocorreu no período. Vale ressaltar que, posteriormente, houve um aumento na taxa de lucro, mais especificamente entre 1990-1997.

Partindo para uma ótica político-social, é notável a precarização da integração social, devido tanto à  esfera financeira, quanto às doutrinas políticas do período, como a austeridade que retira dos Estados-nação a capacidade de intervir nos requisitos do padrão acumulativo sobre os direitos dos trabalhadores. Os “mercados” adquiriram capacidade de comandar e ditar as vias sem quaisquer precedentes. Com os Estados-nação  agora  ‘não soberanos’, a massa os vêem como vassalos de entidades internacionais, tais como o FMI, Banco Mundial e a União Europeia. E para continuarem “navegando” pelos mercados,os Estados serão obrigados a impor severa austeridade, ao “sacrifício” de seus cidadãos, sendo exigido deles que se comprometam fielmente com a consolidação fiscal. Segundo tal doutrina, a nação deve proteger as ‘finanças sadias', a fim de evitar o aumento do custo do serviço da dívida.

 

Bibliografia: 

CINTRA, Marcos Antonio M. & FAHRI, Marise. A Crise Financeira e o Global Shadow Banking System, Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n.82, 2008; 

PAULANI, Leda Maria. A crise do regime de acumulação com dominância da valorização financeira e a situação do Brasil. Estudos avançados, v. 23, 2009; 

DATHEIN, Ricardo. Crise Econômica e Taxa de Juros nos EUA. Revista Econômica Contemporânea,  Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 322-341, mai./ago. 2011.

HOBSBAWM, Eric J. E. A Era dos Extremos: O Breve Século XX 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.