RESUMO

O presente trabalho objetivou analisar como ocorreu a transição da modalidade de Ensino Seriado para a modalidade do Ciclo de Formação Humana sob a perspectiva de professores da Escola Estadual Professora Maria Esther Peres no município de Vila Rica, estado de Mato Grosso, enfatizando as disciplinas da área de ciências humanas e sociais. Para alcançar tal objetivo foi realizada pesquisa bibliográfica em material específico editado e publicado pela Secretaria Estadual de Educação do estado (SEDUC) e aplicou-se questionário aberto para verificação por meio de pesquisa de campo, referente à perspectiva dos profissionais envolvidos no processo e sujeitos fundamentais do processo educacional realizado pela instituição. Por meio da pesquisa realizada pode-se afirmar que há divergências em relação à perspectiva de implantação do Ciclo de Formação Humana por parte da Secretaria Estadual de Educação e por parte dos professores, atuantes e mediadores do processo educacional. Tais divergências expõem as dificuldades vivenciadas pela transição de um modelo educacional operante por um modelo educacional inovador e com conceitos opostos. Porém enfatiza-se que apesar das dificuldades apontadas pelos profissionais, hoje o Ciclo de Formação Humana remeteu a instituição pressupostos que tornaram-se práxis pedagógica, fundamentais e que dão a instituição uma postura mais flexível e compatível com a atualidade.

Palavras chave: Processo educacional. Mediadores. Transição.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi aplicada na Escola Estadual Professora Maria Esther Peres com o objetivo de analisar como ocorreu a transição da modalidade de ensino seriado para a modalidade do Ciclo de Formação Humana sob a perspectiva de professores da Escola Estadual Professora Maria Esther Peres no município de Vila Rica, estado de Mato Grosso, enfatizando as disciplinas da área de ciências humanas e sociais. Considera-se de fundamental importância compreender esta etapa e os desdobramentos promovidos por ela no contexto interno da instituição de ensino, pois desta forma o fazer pedagógico torna-se mais contextualizado e diante das fragilidades percebidas por meio da pesquisa torna-se possível projetar ações realizáveis e promover futuras proposições buscando avançar em termos de proficiência dos discentes. Para tanto a pesquisa iniciou-se por meios bibliográficos e desta forma foi possível contextualizar a proposta e conhecer como a modalidade foi implantada no estado de Mato Grosso por volta do ano 2000 (dois mil) nos primeiros municípios. Quanto a perspectiva dos profissionais sobre esta implantação, para conhecela, realizou-se levantamento in loco sobre os profissionais que trabalham atualmente e que pertenciam ao quadro no período de implantação. Logo após aplicou-se questionário aberto com os mesmos e apresenta-se neste trabalho analise das respostas obtidas. Por fim apresenta-se as considerações a respeito do assunto atingindo assim o objetivo proposto. 

2 A ESCOLA CICLADA EM CONTRAPOSIÇÃO A ESCOLA SERIADA

Segundo a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (2000) buscouse implementar uma proposta educacional que pudesse alterar o cenário das escolas públicas do estado, afastando do interior das instituições as elevadas taxas de evasão e/ou abandono escolar, reprovação, e baixos índices de proficiência. Conforme legislação em vigor, o processo educacional ser deve garantido como direito de cada membro da sociedade brasileira, conforme expresso no trecho abaixo: Numa visão democrática e progressista, a educação escolar é entendida como parte integrante da sociedade (Viega, 1995), refletindo as contradições da estrutura social e evidenciando compromisso na divulgação de uma nova concepção de mundo, trabalhando em favor das camadas menos favorecidas da população. O objetivo de uma educação escolar nessa perspectiva é a construção da cidadania, mediante a preparação do educando para a vida sócio-política e cultural. Embora em nível de discurso haja unanimidade entre os educadores com relação a necessidade de transformar a escola, ainda são muitos os obstáculos que impedem a passagem de uma escola conservadora para uma escola que atenda os princípios apontados. (MATO GROSSO, p.16, 2000). Destaca-se do trecho acima a referência aos princípios constitucionais da continuidade e da terminalidade garantidos a todos os cidadãos brasileiros e dificultados pelo sistema de ensino seriado, que vigorou no estado (nas escolas estaduais de Mato Grosso) até o fim do ano de 1999, quando a Secretaria Estadual de Educação implementou o Ciclo de Formação para todo o Ensino Fundamental que apresentou-se como continuidade de projetos anteriores em que o ensino se dava apoiado em proposta pedagógica de Ciclo Básico de Aprendizagem (CBA). Comprova-se a afirmação feita através do trecho abaixo: O objetivo maior na ampliação do sistema de Ciclos é garantir aos educandos o direito constitucional à continuidade e terminalidade dos estudos escolares. Assim, dando a continuidade à sua política de reorganização de sistema de ensino, a SEDUC passa a orientar as escolas públicas na implantação gradativa de Ciclos de Formação e, consequentemente, na extinção do sistema seriado. (MATO GROSSO, p.17, 2000). Segundo o texto citado, o processo de implantação ocorreu gradativamente e baseado em diagnósticos frequentes dos desafios e obstáculos vivenciados pelas unidades escolares. Objetivando construir diagnósticos compatíveis com a realidade, durante esse processo houve encontros e aplicação de questionários e outros instrumentos para coletar os dados, além de oportunizar aos sujeitos diversos o direito da participação democrática. E desta forma concretizou-se a construção do Projeto da Escola Ciclada (PEC) que teve sua primeira versão em 1999. Após essa fase o projeto passou por alterações diversas mas evidenciou-se como pontos positivos da proposta, “o destaque para a valorização do aluno em sua individualidade, com oportunidade para avançar e elevar a autoestima; para a redução da repetência e a adequação idade-Ciclo.” (MATO GROSSO, p.19, 2000). Quanto à escola seriada que ao longo da história caracterizou-se por apresentar aos educandos uma longa e cruel história de fracasso e exclusão, com a produção do analfabetismo funcional, bem como, com o comodismo do aceitar naturalmente a deserção ou a não aprendizagem (pouca aprendizagem), pela postura assumida de prestadora de serviços que utilizou por tantos anos a avaliação como instrumento de classificação, enquadramento, rotulação e retenção, ou ainda, uma escola que fragmenta o conhecimento e concebe o sujeito em seu aspecto cognitivo, apenas, e que acredita que o aprender antecede o fazer, entende-se como desafiadora a sua superação, porém possível e necessária. (MATO GROSSO, p.21, 2000). Para reafirmar o exposto acima cita-se: A Escola Ciclada pretende operacionalizar uma visão de totalidade no que se refere ao Ensino Fundamental, apontando como a escola, nesta modalidade de ensino, pode ser organizada, evitando a fragmentação e a mudança parcial da estrutura curricular, pois a História da Pedagogia mostra-nos que as formas de mudanças parcelares não levaram a uma real alteração da lógica da escola. (...) A ideia do Ciclo esta baseada na dimensão formativa, na diversidade de ações pedagógicas como condição necessária ao aprimoramento do trabalho educativo para atender as características e necessidades dos educandos. Provoca o educador a buscar instaurar, na sua pratica, novos estilos de ensinar, fazer escolhas e tomar decisões, visando adequar seu esquema de trabalho às características próprias dos alunos, no sentido de instiga-los para o conhecimento. (MATO GROSSO, p.25, 2000). Acredita-se portanto, que com o Ciclo de Formação Humana possibilita aos estudantes a oferta de um ensino mais adequado, considerando os aspectos cognitivos, sociais, morais, éticos e afetivos. Evidencia-se também a mobilidade e a possibilidade de diversos avanços na aprendizagem e construção da cidadania por meio da educação escolar. Quanto ao tempo de escolarização do Ensino Fundamental, a escola ciclada diferencia-se por amplia-lo para 9 anos e por inicia-lo com 6 anos, tornando-o mais amplo e oferecendo 1 ano mais cedo o acesso a alfabetização e ampliando essa etapa para três anos, ao invés de graduá-la de um em um ano como ocorre no modelo seriado. Estando em conformidade com a LDB (Lei 9394/96) e com o Parecer do CNE nº 004/1998 item IV, que garantem uma Base Nacional Comum e uma Parte diversificada nos currículos, a organização estabelece relação entre a Educação Fundamental e: a) A vida cidadã articulando aspectos como a saúde, sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e linguagens. b) Áreas de conhecimento que envolvem disciplinas como língua portuguesa, língua materna, matemática, ciências, geografia, história, língua estrangeira, educação artística, educação física e ensino religioso. A modalidade de ensino estrutura-se em três ciclos com três fases cada um, totalizando 800 horas cada fase, distribuídas em 200 dias letivos e com carga horária de 20 horas aulas semanais, organizadas em conformidade com o Projeto Político Pedagógico de cada escola. Para o acompanhamento e superação das dificuldades é disponibilizado para as escolas a contratação de professores de articulação da aprendizagem que trabalham em parceria com os professores regentes e buscam contribuir para o processo educacional das escolas. [...]